CRÔNICA
DE AMOR POR ELA: DESEJO - Foi
nela que a canção se fez semente como o que brota da terra pro sabor de todas
as satisfações. Foi dela que nasceu a canção: dos seus olhos brilhantes a me
criar visões de tudo e de nada na mais plena paisagem de todas as belezas do
mundo, a me dar o universo para que eu me embriague com seus olhares e me tenha
cada vez mais cioso do seu encanto na minha fortaleza e esperança. Foi de suas
faces boas de beijar todo dia e o dia todo pela maciez e requinte de beleza
além de todas as mais mimosas coisas do mundo, que a canção se fez solfejo no
dia. Foi dos seus lábios que beijam e me fazem refém de seu carinho no mais
prazeroso hálito de perfume de todas as rosas, que a canção se fez compasso. Foi
do seu beijo que me ensina todos os caminhos de ir e voltar para recolher a
panaceia de todos os meus males e sofrimentos, que a canção se fez estribilho. Foi
do seu riso ensolarado que ilumina a minha vida e me faz mais que refeito
pronto para viver os desafios de toda a existência, a canção se fez refrão. Foi
de sua boca abrasada e abraçadora de todas as volúpias que me recolhe do nada
para ser-me inteiro na posse de todas as posses, que a canção se fez melodia
completa para embalar a minha alma. Foi da sua voz que me encanta a alma e me
alcança para fazer-me doce e mel no seu paladar, que a canção se fez harmonia
na minha para cantar seus atributos generosos. Foi do seu jeito benévolo de me
dar a fragrância do mundo com todas as diversões profusas e a se esforçar em
reter minhas tresnoitadas indômitas de todas as premências e quedas, que a
canção chegou à minha voz para ser plena aos seus ouvidos. Foi do seu coração
de amada que me guarda errante solitário com todos os meus navios e naufrágios para
eu navegar e dormir; foi do meneio dos seus ombros que me levam amiúde à
devassidão impávida de devaneios do amor na sua sensualidade extrema; foi da sua
aparição repentina com todos os encantos de céu e terra a me deixar a sua mercê
para ajeitar o proposito do artífice na arte da poesia pra cantá-la todos os
louvores e seus feitos pormenorizados nas entregas e lascívias. Foi dos seus
seios que me abrigam além de maternal e me ilumina com as duas luas do seu
decote augurando o amor eterno; foi dos seus braços com o abraço mais acolhedor
onde tudo o que existe se torna real para que eu viva sem ter que ir tão longe
além da sua entrega a me dar o mar de todas as ondas, o brilho de todas as
estrelas, a queda de todas as cachoeiras e toda a festa de toda natureza. Foi do
seu andar cativante de aprazível elegância a bulir com meu coração que se
agiganta ao seu convite de seguir seus passos por todas as veredas do universo
a cometer os versos mais audazes. Foi da candura dos seus movimentos de requintada
beleza e pompa singular para júbilo das minhas querências de querer acariciar
todos os seus pendores de bem-amada na maior experiência do amor. Foi da forma
como encara a vida a vê-la revirada para que dê tudo certo mesmo que nada por
satisfeito de tudo; foi dos seus sonhos de menina que alentam a maturidade de
sua eterna infância quando me tem por menino travesso e virado da breca; foi das
vestes que compõem sua indumentária cotidiana e me encanta a se ajeitar toda
formosura de fêmea mais que gueixa na minha predileção; foi seu modo de me
fitar com atenção e um não sei quê de perdão sempre guardado a cada desatino
meu de maluco beleza; foi do pensar que tudo pode ser melhor e que há de haver
uma forma de felicidade possível na vida; foi do agir muitas vezes sem ter que
ficar repisando os erros de ontem e os acertos de nunca; foi da entrega, ah,
sobretudo da entrega de sua alma e corpo na carne de quem nada detém as
fantasias do seu inebriante jeito de gozar e dar prazer, a vê-la nítida e clara
completamente arrebatada com minhas investidas ao se revelar a aproximação
sensual dos nossos corpos com a turgência do meu sexo, as loas de nossas juras,
o aranzel dos meus galanteios na minha poesia estupefata a desfrutar de sua
graça e todos os amanheceres carentes e manhosos que guarda todas as minhas insônias
selenitas. Foi por todos os entardeceres de ebriez erótica por todas as formas
de me dar a vida com seu sexo quente; por todos os anoiteceres que me agasalha porque
conhece o ardor da minha luxúria que atravessa a noite a buscar dos palpitantes
aromas caprichosos da sua perfeita noite a oferecer o infinito e sou maior que
a mim mesmo a devorar sua vastidão; por todos os madrugares dos seus prazeres nos
leitos esplêndidos de todas as suas querências; e por todos os novos
amanheceres com seus desejos intensos como quem tudo quer de novo outra vez e
todas as vezes para dar-me a poesia e a canção que cantarei pro seu coração.
(Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui).
PICADINHO
Imagem: Labandon Italian female nude, do pintor da
Renascença italiana Piero Della Francesca
(1415-1492). Veja mais aqui.
Curtindo a música Aqui Alagoas e o álbum Cabelo
de Milho (Carambola, 2002), do violonista, cantor e compositor Ibys Maceioh. Veja mais aqui.
EPÍGRAFE – Les
vertus sont à pied, le vice est à cheval, verso de um epigrama anônimo
francês que se tornou proverbial por satirizar que as virtudes estão a pé e o
vício está a cavalo. Veja mais aqui.
ESPÍRITO
APOLÍNEO E DIONISÍACO –
No livro A origem da tragédia
(Guimarães, 1954), do filósofo alemão Friedrich
Nietzsche (1844-1900), destaco o trecho em que: Teremos dado um grande passo, e promovido o processo da ciência
estética, quando chegarmos não só à indução lógica, mas também à certeza
imediata, deste pensamento: a evolução progressiva da arte resulta do duplo
caráter do espírito apolíneo e do espírito dionisíaco, tal como a dualidade dos
sexos gera a vida no meio de lutas, que são perpetuas e por aproximações que
são periódicas. Tais designações, fomos nós busca-las aos gregos. Foram eles
quem tornou inteligível ao pensador o sentido oculto e profundo da concepção
artística, não por meio de noções abstratas, mas com auxilio das figuras
altamente significativas do mundo dos seus deuses. É, pois, às suas duas divindades
das artes, a Apolo e a Dionisos, que se refere a nossa consciência do
extraordinário antagonismo, tanto de origens como de fins, que existe no mundo
grego entre a arte plástica ou apolínea e a arte sem formas ou musical, a arte
dionisíaca. Estes dois instintos impulsivos andam lado a lado e na maior parte
do tempo em guerra aberta, mutuamente se desafiando e excitando para darem
origem a criações novas, cada vez mais robustas, para com elas perpetuarem o
conflito deste antagonismo que a palavra arte, comum dos dois, consegue
mascarar, até que por fim, devido a um milagre metafísico da vontade helênica,
os dois instintos se encontrem e se abraçem para, num amplexo, gerarem a obra
superior que está ao nosso tempo apolínea e dionisíaca – a tragédia ática. [...].
Veja aqui e aqui.
SÓROR
FILOMELA – No conto Soror Filomela (Cultrix, 1962), do escritor
do Modernismo nicaraguense Rubén Darío,
destaco o trecho: - Já está feito, com
todos os diabos! – rugiu o gordo empresário, dirigindo-se à mesinha de mármore
onde o pobre Tenório afogava sua amargura no opalino corpo de absinto. O
empresário, esse famoso Krau – não conhecia por acaso o seu soberbo nariz, uma
joia de coral pintado de um ruivo alcóolico? – pediu o seu absinto com pouca
água. Depois, enxugou o suor da teste e, dando um murro na mesa, que fez tremerem
a bandeja e os copos, deu à língua: - Sabe, Barlet? Estive lá durante toda a
cerimonia; presenciei tudo. Para dizer a verdade, foi uma coisa comovedora... a
gente não é feita de ferro... Contou-lhe o que tinha visto: a bonita pequena,
que era a joia de sua companhia, tomar o ver, sepultar a beleza num convento,
professar, com o vestido escuro de religiosa, a vela de cera na mão branca.
Depois os comentários daquela gente: - Uma cômica feito freira! Isto é difícil
de engolir! Barlet – o namorado romântico – olhava o teto e bebia a pequenos
goles. [...]. Veja mais aqui.
SONETO
LUXURIOSO – Entre os Sonetos luxuriosos (Companhia das
Letras, 2011), do poeta Pietro Aretino
(1492-1556), destaco: I - Mais que
sonetos este livro aninha, / Mais que éclogas, capítulos, canções. / Tu, Bembo
ou Sannazaro, aqui não pões / Nem líquidos cristais e nem florinhas. / Marignan
madrigais não escrevinha / Aqui, onde há caralhos sem bridões, / Que em cu ou
cona lépidos dispõem- se / Como confeitos dentro da caixinha. / Gente aqui há
que fode e que é fodida, / De conas e caralhos há caudal / E pelo cu muita alma
já perdida. / Fode-se aqui com graça sem igual, / Alhures nunca assaz
reproduzida / Por toda a jerarquia putanal. / Enfim loucura tal / Que até dá
nojo essa iguaria toda, / E Deus perdoe a quem no cu não foda. Veja mais
aqui, aqui e aqui.
TEATRO
RENASCENTISTA – O poeta
italiano Ludovico Ariosto
(1474-1533), é autor da obra capital Orlando furioso (1516), epopeia feérica e
tragicômica, publicada a principio em 40 cantos, acrescidos de outros seis
posteriormente. Em Morgante (1481), os elementos do enredo cavalheiresco são
pretexto para fazer como o povo, ridicularizando sua credulidade nas façanhas
da gesta medieval. Em suas obras ele confessa suas inclinações pessoais para a
vida familiar e meditativa, ironiza os costumes da época e exprime, ainda que
sem rancor, seu descontentamento pelas espinhosas funções que lhe haviam
destinado o cardeal Ippolito e o duque Alfonso. Suas comédias Os supostos
(1509) e O necromante (1520), calcadas em Plauto e Terencio, tem o mérito de
iniciar a assimilação convincente dos modelos clássicos ao ambiente da
Renascença, constituindo a primeira manifestação relevante do gênero na Itália.
Veja mais aqui, aqui e aqui.
UN
LONG DIMANCHE DE FIANÇAILLES
– O filme Un long dimanche de fiançailles
(Amor Eterno, 2004), dirigido pelo cineasta e roteirista francês Jean-Pierre
Jeunet, conta a história ocorrida após o fim da primeira guerra mundial, quando
uma jovem aguarda notícias sobre seu noivo e fica sabendo que ele fez parte de
um grupo de cinco soldados que, individualmente, provocaram a sua própria mutilação,
para que deixassem a frente de batalha da guerra. Os cinco são condenados à
morte pela corte marcial e, após serem levados para uma trincheira francesa,
são deixados à morte no território existente entre o local em que estavam e a
trincheira alemã. Apesar de todos serem considerados mortos pelo exército
francês, ela acredita que ele está vivo e inicia, por conta própria, uma busca
por pistas que confirmem isso. O destaque do filme fica por conta da atriz
francesa Audrey Tautou. Veja aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte de Maria Luisa Persson. Veja mais aqui e aqui.
A edição é dedicado à lindamiga e
maravilhosa atriz, cantora e escritora Kiki Sudário. Veja aqui.
TODO
DIA É DIA DA MULHER
Veja as homenageadas aqui.