TODO
DIA É DIA DA MULHER - A
campanha todo dia é dia da mulher nasceu em 2006 – na verdade, em 1996 quando
escrevi a Crônica de amor por ela e se transformou em Folia
Tataritaritatá em 2013 -, e tem duas razões muito simples. A primeira
delas, é que não apenas se reduz à comemoração de dois dias, o 08 de março –
Dia Internacional da Mulher, e o 30 de abril – Dia Nacional da Mulher, que se
deve prestar homenagens a esse ser tão maravilhoso. Em segundo, é que também
não é apenas a atitude estúpida masculina a responsável pela totalidade da injustiça
cometida contra todas as mulheres. Evidente que o machismo idiota representa a
maior parcela e mais representativa violência no âmbito da injustiça, contudo
deve ser acrescentada, também, a responsabilidade cometida pela estrutura em
que foi formada toda humanidade, notadamente aquela assentada no patriarcalismo
– e nesse balaio entra toda sociedade, desde autoridades, sistema de saúde,
educação, enfim, a sociedade como um todo também é responsável pelas
atrocidades que são cometidas contra as mulheres. É evidente que isso está
assentado na trajetória da mulher desde as mais remotas eras até o momento
atual, registrando uma série de acontecimentos que vão desde a imposição da sua
submissão ao homem na sociedade patriarcal, à sua fragilidade na questão de
gênero, à sua exaltação ao posto de musa e rainha de poetas e sonhadores, à
determinação dos seus afazeres domésticos e criação dos filhos, afora
discriminações, ultrajes e violências. Ao longo dos tempos, a mulher sempre foi
encarada religiosamente como a culpada pelo pecado, foi submetida a ser apenas
a costela do homem e sua fiel companheira na criação dos filhos, na manutenção
dos afazeres domésticos e condução da família. Não raro, a mulher se dedicou à
luta da sua autonomia contra as discriminações de gênero e na busca por uma
igualdade de condições. Dentro dessas lutas ela também se envolveu com outras
questões democráticas, como o direito de voto, justiça social, anistia,
melhores condições de trabalho, entre outras, engajando-se, inclusive, nas
lutas dos homens e de toda humanidade. As lutas das mulheres não só
reivindicavam os seus direitos, incorporavam o direito de todos, crianças,
idosos, analfabetos, natureza, enfim, todo ser humano e planeta Terra. No meio
dessas manifestações, a mulher foi, mesmo nas mais legítimas reivindicações
gerais de suas propostas e da sociedade em geral, sempre discriminada,
desafiada, ultrajada, maltratada e até violentada pelas mais torturantes
iniciativas totalitárias e opressoras. Vítima de uma violência das mais
trágicas, a mulher perseguiu ao longo dos milênios com seus anseios e lutas por
sua afirmação, pelo feminismo, pela democratização, pelo direito de todos e
pela justiça social. Esta é a prova inconteste de que existem diversas formas
de violência praticadas contra a mulher, desde a discriminação social, até o
espancamento físico, estupros, maus tratos, assédios e assassinatos. É essa a violência
que parte da própria sociedade e é mais terrível no seio da família, quando
praticada nos domínios do lar pela supremacia de mando do seu marido. Com o
passar dos tempos, a violência contra a mulher começou a ser combatida no mundo
inteiro e seus direitos passaram a ser exigidos nas sociedades democráticas. A
partir da Revolução Francesa, com o surgimento dos direitos, a luta das
mulheres direcionou-se entre as reivindicações de classe e questões políticas
que se adensaram na Revolução Industrial, articulou-se com o Marxismo, fez
frente aos movimentos sufragistas e se delinearam nos movimentos feministas. No
Brasil, a luta das mulheres não foi diferente dos cenários europeus e
norte-americanos, culminando com a promulgação da Constituição Federal de 1988,
quando esta estabeleceu a igualdade de gêneros, o principio da dignidade humana
e o exercício da cidadania pela instituição do Estado Democrático de Direito,
quando a mulher viu-se contemplada com seus direitos garantidos. A partir dessa
Carta Magna, muitos institutos legais regulamentaram suas previsões, visando
coibir a violência contra a mulher. Estes institutos podem ser constatados a
partir da instituição das Delegacias de Defesa da Mulher, do Conselho Nacional
dos Direitos da Mulher e a edição da Lei Maria da Penha, esta exclusivamente
voltada para coibir a violência, entre outros tantos diplomas legais atinentes
ao atendimento dos direitos da mulher. Mesmo com esse aparato legal, o problema
ainda persiste – é porque não é só de lei que vive a Justiça e o Direito, muito
menos o ser humano, mas de educação, consciência, respeito à diferença e
solidariedade. (Luiz Alberto Machado).
Veja mais:
SAMIRA, A RUIVINHA SARDENTA SULINA, A OPULÊNCIA DA BELDADE
PICADINHO
Imagem: Female nude, do pintor austríaco Hans Temple (1857-1931)
Curtindo o álbum Brazilian Breath (Aosis Records, 2001), da saxofonista, flautista,
compositora e arranjadora Daniela Spielmann.
EPÍGRAFE
– Os homens usam o
pensamento só para justificar suas injustiças, e o discurso para esconder seus
pensamentos, frase recolhida do livro Dialogues d'Euhémère
(1777), do
escritor, dramaturgo e filósofo iluminista francês Voltaire (François Marie Arouet/1694-1778). Veja
mais aqui, aqui e aqui.
COMUNICAÇÃO
– No livro O que é comunicação (Nova
Cultural/Brasiliense, 1986), do intelectual paraguaio que estudo a comunicação,
Juan
Diaz Bordenave (1926-2012), encontro que: Alguém fez, uma vez, uma lista dos
atos de comunicação que um homem qualquer realiza desde que se levanta pela
manhã, até a hora de deitar-se, no fim do dia. A quantidade de atos de
comunicação é simplesmente inacreditável, desde o bom dia à sua mulher,
acompanhado ou não por um beijo, passando pela leitura do jornal, a
decodificação de números e cores do ônibus que o leva ao trabalho, o pagamento
ao cobrador, a conversa com o companheiro de banco, os cumprimentos aos colegas
no escritório, o trabalho com documentos, recibos, relatórios, as reuniões e
entrevistas, a visita ao banco e as conversas com seu chefe, os inúmeros
telefonemas, o papo durante o almoço, a escolha do prato no menu, a conversa
com os filhos no jantar, o programinha da televisão, o dialogo amoroso com sua
mulher antes de dormir, e o ato final de comunicação num dia cheio dela: boa
noite. A comunicação confunde-se, assim, com a própria vida. Temos tanta
consciência de que comunicamos como de que respiramos ou andamos. Somente
percebemos a sua essencial importância, quando, por um acidente ou uma doença,
perdemos a capacidade de nos comunicar. Pessoas que foram impedidas de se
comunicar durante longos períodos enlouqueceram ou ficaram perto da loucura. A
comunicação é uma necessidade básica da pessoa humana, do homem social. Veja
aqui.
O CABOCLO, O PADRE E O ESTUDANTE
– No livro Contos tradicionais do Brasil
(Itatiaia/Edusp, 1986), do
historiador, antropólogo, advogado e jornalista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), encontro a narrativa sobre O
caboclo, o padre e o estudante: Um
estudante e um padre viajavam pelo sertão, tendo como bagageiro um caboclo.
Deram-lhe numa casa um pequeno queijo de cabra. Não sabendo como dividi-lo,
mesmo porque chegaria um pequenino pedaço para cada um, o padre resolveu que
todos dormissem e o queijo seria daquele que tivesse, durante a noite, o sonho
mais bonito, pensando engabelar todos com seus recursos oratórios. Todos aceitaram
e foram dormir. À noite, o caboclo acordou, foi ao queijo e comeu-o. Pela
manhã, os três sentaram à mesa para tomar café e cada qual teve de contar o seu
sonho. O frade disse ter sonhado com a escada de Jacob e descreveu-a
brilhantemente. Por ela, ele subia triunfalmente para o céu. O estudante,
então, narrou que sonhara já dentro do céu à espera do padre que subia. O
caboclo sorriu e falou: - Eu sonhei que via seu padre subindo a escada e seu
doutor lá dentro do céu, rodeado de amigos. Eu ficava da terra e gritava: - Seu
doutor, seu padre, o queijo! Vosmincês esqueceram o queijo. Então, vosmincês
respondiam de longe, do céu: - Come o queijo, caboclo! Come o queijo, caboclo!
Nós estamos no céu, não queremos queijo. O sonho foi tão forte que eu pensei
que era verdade, levantei-me, enquanto vosmincês dormiam, e comi o queijo... Veja
mais aqui, aqui e aqui.
ESPARADRAPO
– No livro Da preguiça como método de
trabalho (Globo, 1987), do poeta, tradutor e jornalista Mário Quintana (1906-1994), encontro o
poemeto em prosa Esparadrapo: Há palavras
que parecem exatamente o que querem dizer. “Esparadrapo”, por exemplo. Quem
quebrou a cara fica mesmo com cara de esparadrapo. No entanto, há outras, aliás
de nobre sentido, que parecem estar insinuando outra coisa. Por exemplo:
“incunábulo”. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
HORÁRIO DE VISITA
– Tive oportunidade em 2003, de assistir em São Paulo, no Teatro do Centro da
Terra, à montagem do espetáculo O horário
de visita, de Sérgio Roveri, com direção de Ruy Cortez, contando a história
de um casal sob o impacto de um trauma recente esperando a visita que poderá
proporcionar o alivio para eles. Mas o inesperado traz, além dessa pessoa, uma
segunda visita. A reunião, que deveria ser apaziguadora, transforma-se assim em
um conturbado confronto de interesses. O destaque da peça teatral vai para a
atriz Tuna Dwek. Veja mais
aqui.
JULES ET JIM
– O drama Jules et Jim (Uma Mulher para
Dois,
1962), dirigido pelo cineasta francês François Truffaut (1932-1984),conta a história da amizade de dois
homens e o amor de ambos pela mesma mulher na Paris do início do século XX. Trata-se
de um judeu-alemão tímido e um francês extrovertido que se tornam grandes
amigos. Eles têm muitos dos mesmos interesses, entretanto procuram alcançá-los
de forma bastante diferenciada. Em uma viagem para uma ilha um pouco distante
da Grécia, eles veem uma estátua com um sorriso sem igual e quando voltam à
Paris conhecem uma mulher que se parece com a escultura. Logo os três boêmios
se tornam um trio inseparável e eles têm muitos momentos agradáveis em passeios
de bicicletas ou idas à praia, enquanto o cenário político mundial estremece
com a possibilidade da Primeira Grande Guerra, estando o trio determinado em
aproveitar a vida ao máximo e viver para o momento. O destaque do filme é para
a atriz e cantora francesa Jeanne Moreau. Veja mais aqui, aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte da pintora,
desenhista, gravadora e professora Anita
Malfatti (1889-1964). Veja mais aqui.
DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à escritora
pernambucana Gerusa Leal & Flor
de Gelo. Veja aqui.
Veja aqui.
Veja as homenageadas aqui.