TODO
DIA É DIA DA MULHER: SULINA, A OPULÊNCIA DA BELDADE - Nasceu Sulina da família dos Cabongos,
menina sapeca dos olhos agateados e de saia na cabeça. Foi crescendo, tomando
corpo e espichando o pixaim, de estreitar convivência no espelho. Na
adolescência foi-se distinguindo por sua esguia e assimétrica distribuição
corporal, a ponto de crescer quase dois metros, afora os saltos altos que lhe
realçavam ainda mais as pernas torneadas. Daí pra diante, aquela formosura de nariz
adunco e empinado: sabia onde tinha as ventas, não bastando a sua compleição
valorizando as formas sedutoras: as ancas proeminentes, cinturinha de pilão,
seios salientes e tentadores, coxas volumosas, rebolado estonteante. Não houve
marmanjo que não virasse a cabeça perdendo o juízo por sua espetacular presença
em qualquer recinto: brilhava por luz própria. Muitos investiram mundos e
fundos, findaram na bancarrota. E ela nem, nem. Até que apareceu Tudílio, um
pé-rapado novo rico, estibado e destamaínho de mal chegar um pouquinho acima do
umbigo, servindo pra ela mesmo de muleta: granjeou-lhe a simpatia, montando
casa e negócio. De cobiçada bandoleira sonsa, tornou-se empresária de tino e de
gabarito no ramo de peças femininas. Até as invejosas vítimas de maridos do
queixo caído, se fizeram freguesas para que pudessem ser poupadas do seu charme
pro bico deles. Prosperou de virar a Tieta da província. Ele, casado que era,
sustentava a família e os caprichos grã-finos da amante amada. Não deu outra:
baqueou, quebrou na junta. E ela? Nem aí, inexorável aos prantos dele. Menos de
mês depois, um disparo desfez a maquiagem de ficar irreconhecível a sua
fisionomia. Virou manchete de jornal, chororô dos Cabongos enlutados. E ele
passional vingado e de peito lavado, num aguentou os prantos até dois dias
depois da missa de sétimo dia: foi fulminado por um ataque cardíaco. (Luiz
Alberto Machado).
Veja mais:
SAMIRA, A RUIVINHA SARDENTA
PICADINHO
Imagem: Female nude, do pintor francês André
Derain (1880-1954). Veja mais aqui.
Curtindo o álbum Cais (Dubas, 1989), reunindo parcerias do compositor Ronaldo Bastos, nas vozes de Tom Jobim,
Chico Buarque, Gal Costa, Simone, entre outros nomes da música brasileira.
EPÍGRAFE
– Est modus in rebus: sunt certi denique
finis, quae ultra citraque nequit consistere rectum, recolhido de um verso
das Sátiras (Ediouro,
1964), do
filósofo e poeta lírico e satírico romano Quinto
Horácio Flaco (65-8aC), no qual o autor não escondeu o seu propósito de dar à
literatura de Roma uma posição igual aos clássicos atenienses e, concentrando
seus esforços no lirismo, o poeta trouxe para o acervo literário de Roma toda a
variedade de metros líricos gregos. A tradução do verso: Há uma medida em todas
as coisas, e esses limites não os podemos ultrapassar, nem ficar aquém deles.
Veja mais aqui, aqui e aqui.
A MULTIPLICIDADE E HIBRIDIZAÇÃO
MIDIÁTICA NA CULTURA - No livro A cultura da mídia (Edusc, 2001) do educador Douglas Kellner, encontro que: Na
economia, as sedutoras formas culturais modelam a demanda dos consumidores,
produzem necessidades e moldam um eu-mercadoria com valores consumistas. Na
esfera politica, as imagens da mídia têm produzido uma nova espécie de política
de frases de impacto descontextualizadas, o que lhe confere posição central na
vida política. Em nossas interações sociais, as imagens produzidas para a massa
orientam nossa apresentação do eu na vida diária, nossa maneira de nos
relacionar com os outros e a criação de nossos valores e objetivos sociais. [...].
Veja mais aqui.
POBRE POVO SOFREDOR
– No livro de crônicas Viventes da
Alagoas (Martins, 1962), do
escritor e jornalista Graciliano Ramos
(1892-1953), encontro a pequeníssima crônica Pobre povo sofredor: É uma interessante classe de contribuintes,
módica em número, mas bastante forte. Pertencem a ela negociantes,
proprietários, industriais, agiotas que esfolam o próximo com juros de judeu.
Bem comido, bem bebido, o pobre povo sofredor quer escolar, quer luz, quer
estradas, quer higiene. É exigente e resmungão. Como ninguém ignora que se não
obtém de graça as coisas exigidas, cada um dos membros desta respeitável classe
acha que os impostos devem ser pagos pelos outros. Veja mais aqui, aqui e
aqui.
ALITERAÇÃO
– No livro Rede de arame (1986) da
poeta, jornalista e professora Wanda Cristina
da Cunha, destaco o poema Aliteração: Eu
quero dançar contigo / dentro do poesia, / como dança o povo dentro do Estado.
/ Eu quero rebolar contigo em cada rima, / como rebola o povo dentro do
salário. / Eu escolho uma aliteração / para a nossa vida: / filhos, felicidade,
família, feijão, farinha... / como o povo, em fé, faz folia, forra a fome com
futebol e fantasia. Veja mais aqui.
PROMISCUIDADE
– Tive oportunidade de assistir em 1997, no Porão do Centro Cultural, em São
Paulo, à montagem da pela Promiscuidade,
de Pedro Vicente, com direção de Marcia Abujamra. A peça teatral conta a
história de um rapaz e duas moças que vivem um triângulo amoroso. Contudo, a
promiscuidade sugerida pelo título não se refere à vida sexual deles, mas ao
caos gerado pelo cruzamento incessante de informações no mundo atual.
Insatisfeito, o trio planeja transformar o mundo por meio de terrorismo, como a
explosão de shopping centers durante a madrugada. No elenco, destaque para Lavinia Pannunzio e Regina França ao lado de Fernando Alves
Pinto. Veja mais aqui.
GATTACA
– O filme de ficção científica Gattaca
(Experiência genética, 1997), dirigido pelo neozelandês radicado na Inglaterra,
Andrew Niccol, trata das preocupações sobre as tecnologias reprodutivas que facilitam a eugenia e as possíveis
consequências de tais desenvolvimentos tecnológicos para a sociedade,
observando que chegará no futuro a situação de que os seres humanos serão
escolhidos geneticamente em laboratórios e as pessoas concebidas biologicamente
são consideradas inválidas. O destaque do filme vai para a belíssima e premiada
atriz estadunidense Uma Thurman.
Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
Imagens da fotógrafa estadunidense Cindy Sherman.
DEDICATÓRIA
A edição é dedicada à cantora e
compositora Thaís Motta.
Veja aqui.
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