TODO
DIA É DIA DA MULHER: SOLIDARIEDADE
- Quando publiquei aqui as histórias de Gersoca, Samira, Sulina, Derluza,
Elvira, Gilvanícila e Sulamita, não previa que tantos mails e mensagens me
chegassem, dando conta de que estava contando a vida de uma pessoa ou irmã, ou
prima, ou familiar ou conhecida. Fui surpreendido com a avalanche de
manifestações e as mais diversas. Algumas que me pediram que as mantivesse anônimas
fizeram questão de me contar as suas desventuras. Confesso, chorei, choramos
juntos. Outras lamentaram a sua própria sorte e das demais personagens das
minhas histórias. Manifestei meu gesto solidário. Uma ou outra me detratou
alegando que eu não tinha o direito de expor problemas dessa natureza, pois eu
estava sendo um intruso por trazer ao público uma questão de foro íntimo e que
eu não tinha o direito de invadir a privacidade alheia. Compreendi e manifestei
minha gratidão. E mais outras tantas que me chegaram com apoio e solidariedade.
O que me deixou deveras feliz foi que a grande maioria se tocaram com o
problema, alguns tomaram ciência de que precisam de acompanhamento médico e
psicológico para que possa reencontrar a vida, como o caso que narrei da
Gilvanícila: ela seguiu sua vida enfrentando as suas sombras – inclusive,
transformei essa historieta numa peça teatral e logo logo publicarei aqui. Outras
fizeram questão de criticar o alheamento, o distanciamento, a falta de
sensibilidade do ser humano para os mais diversos problemas graves que grassam
na vida. Sei 1ue são casos tristes e inaceitáveis. São injustiças cometidas em
nome da honra, do mando, do poder, da arrogância, da inumanidade. Aconteceram há
milênios atrás, estão registrados na história até hoje e são cometidos da mesma
forma agora, neste instante, e viram manchetes pra sanguinolência dos
noticiários e, uma hora depois, foi-se, tudo esquecido. Até que um dia acontece
com a gente ou com pessoas próximas ou de nossas relações, aí nos damos conta
de que cada um de nós está sujeito a ser vitimado por tais sandices. O que
pretendi com essas historietas, croniquetas e noveletas, foi trazer à tona
casos que passaram e ainda hoje estão na pauta dos dias à margem da sociedade e
da Justiça, entre os anônimos e invisíveis que vivem, respiram e lutam na vida.
E que ocorreram e ainda ocorrem hoje sem que ninguém sinta a calamidade pública,
ignorando o sofrimento alheio por completa ausência de alteridade e
solidariedade. Infelizmente a tônica do umbigocentrismo é pra lá de
perturbador, o descartável impera e incluem as relações pessoais e sociais
nesse contexto. Surgem, viram escândalos, todo mundo se consterna, mas se
esvaem para logo em seguida agonizarem no que passou. Namoros, casamentos e
amizades são descartados ao bel prazer, levados pela mecânica da lata do lixo, como
se jamais tivessem existido. Pessoas trocam de relações como quem troca de
roupa, dentro da conveniência e do desejo. Tem gente que acaba uma relação
amorosa de manhã e de tarde já desfila com outro sem nenhum remorso: basta um
clique e tudo é deletado, imagens, momentos, passado. E quem doer que morra ou
pegue o beco. É tudo na base da fila que anda. Este o reino da frivolidade e da
veleidade das relações líquidas, da hipermodernidade. Foi-se, já era; que venha
um novo e melhor – ou não. E se não der certo, reposição na hora, simplesmente
a substituição. E ainda arranjamos culpados nos outros para nossos desatinos. A
culpa é sempre do outro. E a cada dia fica mais difícil de encarar o espelho,
de dialogar consigo próprio, de ver que é a partir de nós mesmos que todo bem
ou mal se manifesta. Da minha parte eu digo: o prazer só tem valor porque
sabemos o tamanho e a dimensão da dor. Ao contrário, não haveria prazer algum. E
vamos aprumar a conversa com a solidariedade. (Luiz Alberto Machado).
Veja mais aqui.
PICADINHO
Imagem: Female Nude in the Mirror, do pintor alemão Paulo Paede (1868-1929).
Curtindo o cd/dvd Joyce ao vivo (EMI, 2008), da cantora, compositora e instrumentista
Joyce.
EPÍGRAFE – Bonus
nocet qui malis parcet, sentença do tragediógrafo e filósofo estoico latino
Lúcio Aneu Sêneca (4ac-65), que quer
dizer: quem o inimigo poupa, nas mãos lhe morre. Veja mais aqui, aqui e aqui.
A
MULHER MEDIEVAL – No
livro O
feminismo uma abordagem histórica (Zahar,1979),
de Andreé Michel, encontro que os homens dos séculos XII e XIII, implantaram
uma sociedade patriarcal que proporciona às mulheres uma nova forma de
enclausurá-las, legitimada nesse momento por lei. Portanto, a sociedade reserva
a elas o espaço privado, responsabilizando-as pelo afazeres domésticos, e o
conforto dos maridos e dos filhos. Algumas mulheres resistiram a essas novas
formas de enclausuramento, como por exemplo: as parteiras que foram cruelmente
castigadas por não aceitarem as condições impostas a elas, que recebem o titulo
de feiticeiras, devido ao fato de na hora do parto – quando complicado – fazerem
uso da escolha pela vida de um ou outro, e que nesta situação as parteiras
escolhiam pelas vidas das mães como meio de resistirem ao enclausuramento. Os
comerciantes da classe média, junto à igreja e os novos burocratas, não
aceitavam a opção das parteiras e muitas eram condenadas a serem queimadas
vivas. A esse respeito, expressa o autor que [...] no seio da Igreja, a inquisição celebrizou-se enviando à fogueira
muitas dezenas de milhares de mulheres acusadas de feitiçaria. As feiticeiras
estavam sempre sendo de atacar a força sexual dos homens e de agir com o
objetivo de exterminar a fé. Pelo visto, a mulher na Idade Média estava submetida ao fato
de que a maioria das ideias e dos conceitos eram
elaborados pelos eclesiásticos e esses possuíam acerca da mulher uma visão
dicotômica, ou seja, ao mesmo tempo em que ela era tida como a culpada pelo
Pecado Original, a Virgem Maria foi a mulher que deu ao mundo o salvador e
redentor dos pecados. Na sua análise, encarando diversos desafios em
prol do jovem salvador, essa mulher determinava a constituição de outro olhar
sobre o feminino. Não por acaso, vê-se que o culto mariano, a canonização de
mulheres e a reclusão nos conventos se elevam significativamente com esse tipo
de reinterpretação. Além do mais, sendo um período histórico tão extenso, as
mulheres assumiram papéis que extrapolaram os antigos preconceitos ainda
reservados ao medievo. Sem dúvida, as mulheres medievais são muitas, variadas e
dinâmicas, como as manifestações do tempo em que viveram. Veja mais aqui.
O
FLORISTA – No livro O florista (Massao Ohno, 1997), da
escritora e professora Nilza Amaral,
destaco o trecho: O dedo indicador
penetra cuidadosamente o interior da flor, permanece ali por instantes, deixa o
intimo morno, acaricia com o dedo médio o pistilo saliente, sente a extremidade
rija, esconde a flor na palma de uma das mãos e com os dedos da outra,
deslizando pétala por pétala, tenta adivinhar a forma aveludada e enigmática
daquele ser flexível, daquele corpo cósmico. O som de um suspiro ecoa no ar. A
açucena brilha revivida pelo toque daquela mão. O florista, de olhos cerrados,
cego de extase por desvirginar a flor, acaricia as pétalas por mais um momento,
fecha novamente os dedos ao redor de seu caule, dessa vez para depositá-la no
ramalhete das demais açucenas que esperam no balde defronte à barraca de
flores. Como as outras, já não é mais virgem mas ainda é fresca e bela.
Coloca-a em destaque para atrair olhares de possíveis compradores, e começa a
trabalhar com o restante das flores da barraca, retirando folhas mortas,
escuras e pegajosas dos caules mergulhados na água dos demais baldes [...].
Veja mais aqui e aqui.
AO
MEU TRISTÃO – Entre os
poemas da poeta e psicóloga Dilercy
Adler, destaco a poesia Ao meu Tristão: Quisera
ser pra ti / Isolda bela / no que ela tem em si / de mais divino / quisera ser
também / a outra Isolda / que seu fio tece / e se enternece / ao satisfazer-te
/ da exigência mais premente fescenina / ao teu mais puro desejo de menino / e
nós enfeitiçados atearíamos / o fogo da paixão em nossas almas / que embora
para o humano inacessível / pra nós possível e aceso impagável! / Me olha dessa
maneira / que s´[o os amantes sabem fazer / me enxerga fundo na alma / na
intimidade maior de mim / me inala sentindo o cheiro / de amor no cio no
amanhecer / me sente voluptuosamente / com mãos devassas / qual argamassa / nas
mãos do artista / me sente inteiramente tua / na fantasia da poesia / que me
inebria / por vir de ti! Veja mais aqui.
A
PREFERIDA DE MOLIÈRE - A
atriz francesa Ane-Françoise-Hyppolite Boutet, mais conhecida como Mademoiselle Mars, foi a maior intérprete do teatro cômico no século XIX e a
atriz mais refinada de Paris. Entrou para a Comédie Française em 1795 e fez-se
primeiro notar em papeis de ingênua, que interpretava com perfeição, como
Isabelle, em A escola de maridos e Angélique, em Doente imaginário, do
dramaturgo, ator e encenador francês Molière
(Jean-Baptiste Poquelin – 1622-1673). No auge da beleza
e da fama, tornou-se a autoridade absoluta na Comédie, pelo prestigio que
desfrutava junto a Napoleão. Contribuiu para os primeiros sucessos do
repertorio romântico, com sua recriação controlada pela inteligência e pelo
charme, que era a antítese do estilo passional e espontâneo de Mme. Dorval. Veja
mais aqui e aqui.
BREAKFAST
ON PLUTO – O filme Breakfast
on Pluto (Café da Manhã em
Plutão, 2005), dirigido por Neil Jordan, é uma adaptação do livro
homônimo de Patrick McCabe, contando a história do fruto de um relacionamento
entre um padre e uma doméstica e de um homossexual que vive a procura da mãe
desaparecida desde o seu nascimento. O filme é superinteressante e destaco a
participação da atriz etíope Ruth Negga. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
A
belíssima e talentosa cantora Julia
Crystal, eleita por
unanimidade como a Musa Tataritaritatá Janeiro/2016. Veja mais aqui, aqui e
aqui.
DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à Claudinha Cabral &
E veja mais Tereza Costa Rego, Franz
Peter Schuber, Maria João Pires, Tunga, Zygmunt Bauman, Ken Wilber, Kenzaburo Oe, Kate Beckinsale & muito mais
aqui.