ALTAS HORAS DA MADRUGADA - Imagem: Maceió, foto de Gustavo Rocha. - Chove lá fora meu coração, há tempo falo sozinho
no trâmite da solidão, há tempo que eu mesmo não sei. Aos quatro ventos me
molharia até onde a chuva do meu choro levar. Quero apenas um copo d’água, nem
isso, um copo d’água apenas e suas mãos, muito obrigado. Apesar de saudável,
fui examinado e condenado porque minha doença é estar vivo: açoitado por todos,
fui declarado imundo e me lançaram fora do arraial. Estrangeiro eu sou, previ a
insônia: querem levar meu futuro roubando meu sono. Tenho a casa e a glória no
vento, meus bolsos estão vazios. Roto, mutilado, desfaleci e tive que apodrecer
para reconstruir meu mundo. Fui até o fundo do inferno e estou armado de luz.
Anjo algum avisou e só me acrescenta às perdas, Quixote dos meus ideais. Por
vontade própria optei pela solidão, vou só, coração a bombordo, lutando contra
meus próprios moinhos de vento. Na minha morte me recusarão o chão, não terei
nada e serei feliz noutra hora em que a abstração não veja que lá vai o tempo sem
compaixão a me asfixiar na mordaça do não. Pelo menos, servirá pro arremesso do
amor que virá represar esta chuva no peito a me afogar. Servirá pro começo do
amor que brotar da demora e ter de esperar é uma tortura ultrajante, como se
todo sigilo atrevesse revelar o amor ao abandono, brindando um ermo agreste que
me fatia no meio da procela agitada. Deixo ao mundo o meu
caleidoscópio de lembranças e sonhos, como se eu desfiasse meu rosário e não
restasse mais nada dos meus pedaços. Não estou arrependido, nem quero ser
perdoado, nenhum céu me salvará. Se um dia eu tiver a canção, uma apenas seria
bastante pra cantar acalanto enquanto a criança de sono impelido não cresce de
repente. A noite é cheia de surpresas, todo momento é cilada, o castigo de quem
persevera à vigília no silêncio do ermo, o frio da quietude, as luzes das ruas,
prédios e veículos como se contasse carneirinhos enquanto estalidos estranhos,
o cricrilar dos grilos, os rumores longínquos e o ronco dos motores roubando a
calmaria, a alucinação da minha lucidez de alcançar a lua à palma da mão e a
noite é cada vez mais íntima na minha solidão. © Luiz Alberto Machado. Veja
mais aqui.
CÃO SEM DONO
É nas noites que eu passo sem sono
Entre o copo, a vitrola e a fumaça
Que ergo a torre do meu abandono
E que caio em desgraça
É nas horas em que a noite faz frio
E a lembrança ao castigo me arrasta
Solidão é o carrasco sombrio
E a saudade a vergasta
Se eu cantar a alegria sai falsa
Se eu calar a tristeza começa
E eu prefiro dançar uma valsa
Que ouvir uma peça
E eu recuo, eu prossigo e eu me ajeito
Eu me omito, eu me envolvo e eu me abalo
Eu me irrito, eu odeio, eu hesito
Eu reflito e me calo.
Que ergo a torre do meu abandono
E que caio em desgraça
É nas horas em que a noite faz frio
E a lembrança ao castigo me arrasta
Solidão é o carrasco sombrio
E a saudade a vergasta
Se eu cantar a alegria sai falsa
Se eu calar a tristeza começa
E eu prefiro dançar uma valsa
Que ouvir uma peça
E eu recuo, eu prossigo e eu me ajeito
Eu me omito, eu me envolvo e eu me abalo
Eu me irrito, eu odeio, eu hesito
Eu reflito e me calo.
Cão sem dono, música
da cantora e compositora Sueli Costa
e do poeta, letrista e
compositor Paulo César Pinheiro, incluída no álbum ao vivo Transversal
do Tempo (Phonogram/Philipps, 1978), da cantora Elis Regina (1945-1982). Veja mais aqui, aqui, aqui. e aqui.
Veja
mais sobre:
Uma canção de amor,
a literatura de Geoff
Dyer & Victor Hugo, a música
de Miles
Davis & O Jazz de New Orleans, a fotografia de Robert Mapplethoppe, a arte de Debra Hurd & Lisa Lyon, a pintura de C. Vernet & Pedro Cabral aqui.
E mais:
Corações
solitários, Hipócrates, Isaac Newton & Catherine Barton
Conduitt, O homem & pós-homem de Fernanda Bruno, a literatura de Carlos
Castañeda, a poesia de William Wordsworth, a música de Elena Papandreou, O
teatro do Bharata, a arte de Luis Fernando Veríssimo, a entrevista de Claudia
Telles, a pintura de Cristina Salgado, o cinema de Júlio Bressane & Josie
Antello aqui.
Solilóquio
na viagem noturna do sol, A Educação no
Brasil, o pensamento de Sêneca,
a música de Maria Esther Pallares, a coreografia de Paula
Águas, a pintura de Terry Miura
& Amenaide Lima aqui.
Solilóquio
das horas agudas, O mito de Sísifo de Albert Camus, Neurofilosofia &
Neurociências, a música de Meg
Myers, a pintura de José
Manuel Merello, Hipócrates & Luciah Lopez aqui.
Solilóquio do umbigocentrismo,
Rio São Francisco -
Velho Chico, Richard Bach, Quando todo dia é segunda-feira, Chamando na grande
& mandando ver no lero aqui.
O trâmite da solidão, O espectro da fome de Josué de
Castro, Ilíada de Homero, a música de Mercedes
Sosa & Martha Angerich, a pintura de Frida Kahlo & Tamara de Lempicka, a coreografia
de Ana Botafogo, Eliezer Augusto & Genesio Cavalcanti aqui.
Quem
desiste jamais saberá o gosto de qualquer vitória, A
ciência da linguagem de Roman Jakobson, a literatura de Marcel Proust, a música
de Secos & Molhados & Luiza Possi, a pintura de Henry
Asencio, a arte de Regina José Galindo,
a fotografia de Thomas Karsten & Tortura é crime aqui.
Boa
noite, Penedo, às margens do São Francisco, a
literatura de Adonias Filho & Georges
Bataille, A história social do Brasil de Manoel
Maurício de Albuquerque, a música de Bach & Rachel
Podger, a arte de Marcel Duchamp, a pintura de Jaroslav
Zamazal, a fotografia de Karin van der Broocke, Vanguard & Kéfera
Buchmann aqui.
E a dança revelou o amor, a literatura de Manuel Scorza, A busca fálica de James Wyly, a música de Gabriel Fauré & Ina-Esther Joost, a pintura de Francisco Soria Aedo, a coreografia
de Merce Cunningham, a arte de Yves Klein & a fotografia de Richard
Rutledge aqui.
Três
poemas & a dança revelou o amor...,
a pintura de Andrew Atroshenko & Ton
Dubbeldam, a fotografia de Klaus Kampert & a
arte de Jeremy Mann aqui.
Quando
ela dança tangará no céu azul do amor, A condição pós-moderna de Jean-François Lyotard, A estética da desaparição de Paul
Virilio, a música de Anna-Sophia
Mutter, a pintura de Alex Alemany & Eloir Junior, a arte de David Peterson & Luciah Lopez, Carlos
Zemek & & Isabel
Furini aqui.
A
dança dos meninos, a poesia de Manuel Bandeira
& Amiri Baraka, A bailarina de João Cabral de Melo Neto, O Kama Sutra
de Vatsyayana, A dançarina de Yasunari
Kawabata, a música de Isabel Soveral
& António Chagas Rosa, a pintura de Jose Manuel Abraham, a fotografia de M.
Richard Kirstel, Pas de deux & Ary
Buarque aqui.
O voo da
mulher, Dicionário de lugares imaginários, o teatro de Federico Garcia
Lorca, a música de Duke Ellington, o cinema de Lars von Trier & Nicole Kidman, a arte
de Tatiana Parcero & Caco
Galhardo, Rô Lopes & Como veio a primeira chuva aqui.
Saúde no
Brasil, O Fausto de Goethe, o pensamento de Terêncio,
Ética & Fecamepa, Os sentidos da integralidade de Ruben Araújo de Mattos & Remexendo as catracas do quengo e
queimando as pestanas com coisas, coisitas e coisões aqui.
Todo dia é dia de dançar o amor aqui.
O alvoroço do poema na horagá do amor & a pintura de Oscar Sir Avendaño aqui.
Literatura de cordel : quebra pau no STF,
de Bob Motta aqui.
A pingueluda aqui.
A arte
de Marcya Harco aqui.
O pensamento de Georg Lukács, A psicanálise de Jacques Lacan, o teatro de Samuel Beckett,
a literatura de Henry James, a música de Morton Subotnick, o cinema de Jane Campion & Nicole Kidman, a pintura de Aurélio D'Alincourt, a arte de Fady Morris
& As poesias
pontilhadas de Dorothy Castro aqui.
Pindura
aí, meu! O negócio tá ficando feio, Cidadania insurgente de James Holston, a poesia de Sérgio Frusoni, A cidadania de Maria de
Lourdes Manzine Covre, a música de Sol Gabetta, a fotografia de Mara Saldanha, a
arte de Stanley Borack & a pintura de Fernando
Rosa aqui.
&
A DANÇA DE DRUMMOND & DEGAS
A dança? Não é movimento, / súbito gesto
musical. / É concentração, num momento, / da humana graça natural. / No solo
não, no éter pairamos, / nele amaríamos ficar. / A dança – não vento nos ramos:
/ seiva, força, perene estar. / Um estar entre céu e chão, / novo domínio
conquistado, / onde busque nossa paixão / libertar-se por todo lado… / Onde a
alma possa descrever / suas mais divinas parábolas / sem fugir à forma do ser,
/ por sobre o mistério das fábulas.
Poema A dança e a alma, extraído da obra Viola de bolso (José Olympio, 1952), do
poeta, contista e cronista Carlos Drummond Andrade
(1902–1987), ilustrado pelas esculturas do pintor, gravurista, escultor e
fotógrafo francês Edgar Degas
(1834-1917). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra: Todo dia é dia de dançar!
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.