DA CANA SOU ALMA DOCE &
FEL – A
cana sou doce e fel. Nela sorrio, nela me mato e me embriago, viro copo, passo
a foice, vivo dias, varo noites sangue no plantio pra limpa e o chão pra
queimadas, morto-vivo no barro dos conflitos fundiários, latifúndio, terra alguma:
tudo é tão contraditório e desigual, a seca-verde, a soca e a sacarose e eu
mãos limpas lisas confundindo botada com pejada, só a alma calejada como quem
fala muito pra aliviar suas dores até quando o corte e a folha afiada no talho
frio traiçoeiro, sou fera e arranco até raiz. Aj, é preciso sorrir pra não
chorar e chupo gomo, rolete, caldo de cana, embolo sangue no bagaço – bom demais!
Ah, fazer festa porque a vida é tão dura diante do gosto e o gostar, se pensar
se mata de desgosto: é tão difícil viver! E resisto na miséria, cumpro a pena
de escravo pra açucarocratas serem felizes, enquanto sem voz, sem valor, sem. E
retorno depois da expropriação - o meu poema interminável: toda poesia é falsa
porque é a vida, outro lado de Deus, a vida é cada um e todos. Cada um, cada
um, e todos. E quando apenas choro não faço nada, não convivo com a catinga do
suor de quem madruga até o ocaso a se danar eito afora quase lixo aos ventos
incontroláveis pelos cotovelos ao saber da boca no coração, futuro algum pra
não ter nada agora, só a luta, tão somente e a cana tudo e nós. E sinto que sou
nela todos eles, quanta miséria, maior a minha que só sei chorar cônscio de mim
e neles por serem tempo afora sem saber do mundo e a me ensinar o que não sei
das tristes partidas e a algazarra no frêmito das chegadas. Assim como são as
coisas e tudo e nada, açúcar ou álcool, apesar dos pesares, viver é bom demais.
© Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
LIGAS CAMPONESAS
[...] a partir da década de cinquenta, ocorreu uma
expulsão em massa do morador e a expropriação dos lotes arrendados aos
foreiros. Esses contingentes expropriados ou se deslocaram para as terras menos
férteis e afastadas da Zona da Mata, nas linhas limítrofes com o Agreste,
recriando assim um campesinato marginal com a sua dupla função de produtor de
alimentos e exército agrário reserva; ou se proletarizaram de maneira
irreversível, migrando para as cidades e vilas circunvizinhas aos engenhos e
usinas, onde tornaram-se trabalhadores volantes.
Trecho extraído
da obra As ligas camponesas (Paz e
Terra, 1982), do sociólogo, professor e pesquisador Fernando Antônio Azevedo.
Veja
mais sobre:
O doce voo no sangue das andorinhas
invisíveis do canavial, o pensamento de Padre
Antônio Vieira, a coreografia de Ekaterina Krysanova, a pintura de Iryna Yermolova, a arte visual de Arthur Brouthers, a poesia de Vera
Salbego, a música de Silvério Pessoa & Jacinto Silva aqui.
E mais:
A lenda
do açúcar e do álcool, A educação de Anísio Teixeira, a História da
Filosofia de Wil Durant, a música de Yasushi
Akutagawa, a pintura de Madison
Moore, Cumade Fulôsinha & Menelau
Júnior, a coreografia de João Pirahy & Oração da Cabra Preta aqui.
Salmo da
cana, Os doze trabalhos de Peisândro de Rodes, Os trabalhos e os dias de Hesíodo, O informe de
Brodie de Jorge Luis Borges, a escultura de Auguste Rodin, a música de Chico Buarque, a literatura de Émile Zola, O
operário em construção de Vinicius de Moraes, o Teatro de Nelson Rodrigues,
Tempos Modernos de Charlie Chaplin, a arte de Magda Mraz, Heracleia & Hércules, Monteiro Lobato, Psicologia
Social & Formação Huamana aqui & aqui.
A cana
dos coronéis aos mamoeiros aqui.
A cana,
os caetés & Sardinha aqui.
A cana
& a escravaria toda, Hegel, Mário Quintana, Debret & Pauley Perrette aqui.
A cana
& o século XVI aqui.
A cana
& o Brasil holandês aqui.
O Brasil
na festa do Fecamepa, a literatura
de Anna Bolecka, a música de Marlos Nobre com Leonardo Altino & Ana Lúcia Altino, a pintura de Sophia Monte Alegre & a arte de Adriana Varejão aqui.
A literatura
de Adolfo Bioy Casares, a poesia de Guillaume
de Poictiers, a música de Charles
Mingus, a pintura de Pierre
Bonard, Cabra marcado para morrer, a fotografia de John Watson, Estética Teatral & a arte de Louise
Cardoso aqui.
A biblioteca
nossa de cada dia, História
do Amor de Nicole Krauss, a poesia de Carles Riba, o pensamento de Lloyd
Motz, o cinema de Yasujirō Ozu & Shima Iwashita, a música de Carla Bruni, a
pintura de Mauro Soares, Notícias Cariocas, Aprendizagem, Tributo & Imposto
aqui.
Psicologia
Infantil, a música de Béla Bartók, o
teatro de Gerd Bornheim, a literatura de Nilto Maciel, a poesia de Leila
Diniz & Clotilde Tavares, a pintura
de Gutzon Borglum o cinema de David Lean & Sarah Miles aqui.
A
lágrima de Neruda & prelúdio, A divisão do mundo de Jiddu Krishnamurti, O destino do homem de Goethe,
Elogio ao amor de Alain Badiou, a entrevista de Márcio
Borges, a música de Tchaikovsky & Elena
Bashkirova, a pintura de Pierre
Alechinsky & Roy Lichtenstein, o teatro de Clarice Niskier, o cinema de Neville de Almeida & Christiane
Torloni, a arte de Debra Hurd, a poesia de Alvaro Posselt, a fotografia de Harrison
Marks, as gravuras de Jerzy Drużycki & Palavra Mínima aqui.
A
solidão de Toulouse, A mulher celta, a literatura
de Elfriede Jelinek, a entrevista de Gilberto
Mendonça Teles, a música de Jonatha Broke, a pintura de Henri
Toulouse-Lautrec, a arte de Paulo Mendes da Rocha & Michael
Aaron Williams, a fotografia de Marcos Vilas Boas, Salgadinho &
Psicologia Ambiental aqui.
Lavratura, O pensamento de Antonio Quinet, Os megálitos
de Orens, a música de Bach & Hilary Hahn, A maternidade de Francisca Praguer Fróes, a pintura de Joan Miró & Peggy Bjerkan, a arte de Mário Zanini & Luciah Lopez, Por um
novo dia, A vida começa no final de semana & O que sei de mim é só de você aqui.
&
CANAVIAL, CANAVIEIROS
(Foto: Cícero R. C. Omena)
[...] seria um ledo engano imaginarmos que os
trabalhadores canavieiros são completamente submissos e resignados em relação à
exploração-dominação da força de trabalho. Ainda que envolvidos em uma
correlação de forças extremamente desfavorável, os trabalhadores canavieiros
resistem, tanto em ações individuais e ocultas (boicotando os padrões do corte,
sabotando o canavial, abrindo roçados em suas fendas, etc.), quanto em formas
de lutas coletivas e públicas. Apesar dos limites dessas ações, que combatem os
efeitos da exploração-dominação da força de trabalho, mas não as suas causas, essas
práticas de resistência são fundamentais para minimizar a degradação do
trabalho e para possibilitar que as lutas sejam elevadas a um patamar que
questione o próprio trabalho assalariado e seus fundamentos. [...].
Trecho
da dissertação de mestrado Trabalhadores
nos canaviais de Alagoas: um estudo sobre as condições de trabalho e
resistência (UFSCar, 2012), defendida pelo sociólogo e pesquisador Lúcio Vasconcellos de Verçoza.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra: “Vejo à frente um tempo em que o
homem deverá caminhar para alguma coisa mais valiosa e mais elevada do que seu
estômago, quando haverá maiores estímulos para levar os homens à ação do que o
incentivo de hoje, que é o incentivo do estômago”.
Trecho
do conto O que a vida significa pra mim,
extraído de Contos (Expressão
Popular, 2001), do escritor, jornalista e ativista estadunidense Jack London (1876-1916).
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.