O QUE PARECIA SER NÃO É MAIS
PORQUE NUNCA FOI OU DEIXOU DE SER – Art by John Jinks
- Nesse tempo
de felicidade urgente e a qualquer preço, esse mesmo em que o umbigo dá
trombada contra tudo e todos a torto e a direito, fica valendo uma coisa: todo
mundo quer ser feliz sem considerar que para isso depende de outras pessoas e
outras coisas. É isso mesmo e não adianta ficar com a cara atarantada de quem
não sabe o que estou dizendo, não há dissimulação já que não dá pra ser feliz
com uma tuia de infelizes arrodeando a ilha umbilical por todos os lados. Tome tento.
Pra quem só ajeita o seu roçado, fica o aviso: vai que um dia a praga que
dizimava o vizinho pula o muro e faz a maior desfeita, feito moléstia compartilhada
a contragosto, aí toda vaca vai pro brejo. Quem é doido de querer dividir
prejuízos se o quintal dos outros não foi feito só pra se jogar lixo: de lá
pode vir porcarias também, a recíproca é quase sempre verdadeira,
principalmente quando pisa no rastro da desgraça ladeira abaixo. Quantos não estão
sorrindo deslavadamente sobre a dor que dói como chaga aberta coração adentro de
parecer não ter mais cura e a supurar por mais que se queixe ou proteste. No fim
das contas, se não tiver na onda da hora ou com bolso abonado, não dá outra:
será mais desprezado que aquele sonho antigo que virou vergonha de tão velho e
mais abominado que um acometido de pestilência contagiosa. Se conseguir se
salvar do fundo do poço, palmas pra que lhe quero soarão, valendo a precaução
que de inocente mesmo hoje nem o nome, desconfia-se até das astúcias de recém-nascido.
Doa em quem doer, ninguém quer mais saber do paradeiro de quem tomou um cachete
e virou fumaça do tempo ou se picou a mula no meio do primeiro embuste que
estalou o dedo da dinheirama ou pegando o corujão com o esnobismo desbocado dos
que se arrumaram de saco cheio com a babaquice e mandando tudo às favas, afinal,
tudo é só manipulação nos corredores e portas trancadas dos andares e do que
vem do subsolo pelo térreo até a cobertura: o vocabulário passou a ser o mesmo,
tudo com teor de calúnia barata ou de brebote de quinta categoria, seja para quem
está no alto do arranha-céu perguntando o que vai levar ou embaixo da ponte
pedindo pra ser feliz enquanto alisa o polegar no indicador e vice-versa, em tudo
os mesmos sonhos de mordomias e ventos a favor no rego da bunda, as mesmas
posturas e modelos nas balançadas pra cair por cima de cédulas e fortunas, os
mesmos fetiches e condutas nas neuras das lacunas sedentas pelo paraíso e um
auê dos diabos debaixo do maior toró de coisas irrelevantes ou de pouca monta quando
o circo pega fogo e vira o maior pega pra capar – há mais impostura entre o que
distingue uma da outra, esse daquele e aquilo daquilo do que possa caber vossa
vã miopia: o que se parecia truculência de gato e rato, agora é quase briga de
comadres aos pipocos de bala U e perdões com abraços e beijos pra tudo ter um
final feliz na fita. Ainda bem, pois se parece grandeza de espírito harmônico ou
sapiência magnânima de virtuosos que enfim tomaram jeito, não é não, haja
falsidade, é só mudança de ringue pra desaforos e tapas depois que cansaram de
bater no gongo assanhando o penteado, baixando o decoro, arruinando a elegância
e se tornarem inimigo figadais de plantão, chegando a hora de rever as viagens do
que foi feito e fazer as pazes com outras velhas já superadas, tudo na
conveniência e acomodação. É assim: quando aqui não dá mais, é só ir prali ou
pracolá. Lavou, está novo. Se nessa não deu, só na outra. Quando chegar a hora,
mande ver. Só que tem aquela de sempre: cuspiu pra cima e não saiu, o cuspe na
cara caiu. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
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os álbuns com o talento musical da cantora estadunidense Paula Cole.
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A arte do
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DESTAQUE: A LENDA DA MANDIOCA
Entre as tribos dos parecis ou aritis, suas
tabas ou malocas eram cobertas de folhas de palmeiras e à noite estendem as
redes de dormir e acendem embaixo uma pequena fogueira. Andam vestidos, pois
vivem em contato com os brancos. Não dispensam as pulseiras de algodão, ou de
borracha de mangabeira. Dentre as muitas lendas dos Parecis, encontra-se a da
mandioca, de quem um dia Zatiamare e sua mulher Cocoterô tiveram um casal de
filhos: um menino chamado Zocooiê e uma menina, Atiolô. O pai amava o filho,
mas desprezava a filha. Quando ela chamava, ele respondia com assobios e nunca
lhe dirigia a palavra. Muito triste, Atiolô pediu à mãe que a enterrasse viva,
porque assim seria útil aos seus. Depois de longa resistência, Cocoterô acabou
cedendo ao pedido da filha e enterrou-a no meio do cerrado. Mas Atiolô,
sentindo muito calor rogou à mãe que a levasse para o campo. Lá também ela não
se sentiu bem. Mais uma vez suplicou a Cocoterô que a mudasse para a mata. E aí
ela se achou à vontade. Pediu, então, à mãe que se retirasse, recomendando-lhe
que não olhasse para trás quando ela gritasse. Depois de muito tempo, Atiolô
começou a gritar. Cocoterô voltou-se, então, rapidamente e viu no lugar em que
enterrara a filha um arbusto muito alto. Logo que ela se aproximou, o arbusto
se tornou rasteiro. Cocoterô passou a tratar com todo o cuidado a sepultura,
limpando o solo e molhando a planta, que crescia cada vez mais viçosa. Depois
de algum tempo Cocotero arrancou do solo a raiz da planta — era a mandioca. O
casal chámou-a Ojacorê. Os Parecis deram-lhe depois o nome de Quetê.
Lenda
recolhida da obra Estórias e lendas de
Goiás e Mato Grosso (Literat, 1962 – Revista Terra e Gente, 1946). Veja
mais aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Arte do
fotógrafo Damir Simic.
DEDICATÓRIA:
A edição
de hoje é dedicada à escritoramiga Edna
Fialho. Veja mais aqui.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra: arte do escultor italiano Giovanni Duprè (1817-1882).
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.