ÁLBUM DE FOTOGRAFIAS - Entre o
espelho e a foto, a vida por um fio: do cordão umbilical ao esquecimento,
quantas lembranças de menino do quintal nas rodagens de Badalejo: o carro de
boi trazia novidades. Quando não, o olho nas fechaduras e nos manequins de
mulher nua, quanta correria. parece que foi ontem, paisagens outras: quintais e
troços que nem existem mais. A Rua do Rio se perdeu no tempo, o ginásio
municipal ainda incendeia o moleque que queria atravessar o rio Una e o
Pirangi, o canavial até o pescoço, coisas de mãos dadas e a vista no chão.
Ainda sou no carinho de Pai Lula e Carma nos brinquedos da tarde por manhãs e
noite, na garupa do cavalo de vô Arlindo e na reinação pela bodega de vó
Benita, vou como sou: ambulante de Deus. Tudo era mais que zorra no rádio de
pilha colado ao pé do ouvido cantando de tudo e a imaginação na fantasia do
artista nos palcos da vida e aplausos. Não menos me metia nas peladas dos campinhos
e o perna de pau no futebol como se fosse um craque da seleção de 70. Queria
tudo, tudo ao alcance da mão e o reino do faz de conta desde o teatro no
colégio, a música na varanda de Gulu, a filosofia nos copos, a vida pelas
calçadas das ladeiras, o cinismo bobo de todas as errâncias, a arte a pulso e
contra tudo e todos: fragmentos de mim, pedaços de quimeras que ruíram do tédio
e das lassidões, simulacros, parafilias. Ah, entre cães raivosos e mugidos, eu
seguia a toda pelos matagais entre estampidos, caçotes, mosquitos, piparotes. Muitos
alaridos que vinham de longe pras galhofas, pedradas nas vidraças e pés na bunda,
maior bagaceira! Coisas que não aprendi a lidar entre moitas, chãs e capoeiras.
Seria mané-gostoso, não fossem tantas travessuras e maloqueragens na expectativa
do improvável e solos de violas pras aspirações impossíveis, quantos sonhos no
horizonte flutuante, esmurrando ventos, chutando lata, olhando pro relógio a
hora de ir e achar a tabela periódica um tabuleiro de jogo, a invasão de
domicilio por cima do muro, o quase não se conter em si na Festa do Dia 8,
presepadas e carrosséis. Dos garranchos pra péssima caligrafia havia o tombo
das sentenças, registro de processos e protocolos de intimação – o direito nem
passava pela cabeça, um destro cabeça nas nuvens e anjo torto às esquerdas. Quase
sempre correria me safando dos pintos na gaveta, as noites insones, as
queimações de filme, a fotografia 3x4 e tantas perguntas adivinhando respostas,
closes e poses, caras e lugares. Em qualquer esquina eu me valia do que desse
com as mulheres da rua, cocô de pombos, louco varrido no meio de pilhérias pelo
lamaçal do barro, as rieiras e trilhas no capinzal, o arame farpado e avelois,
putas, caboetas e cheleleus. Haja vista os que se foram pra nunca mais, outros
se perderam nos atalhos e vielas, amigos que se tornaram inimigos e eu nem
sabia disso – a gente nunca se lembra do que faz aos outros, só ao se dar conta
de que todos sumiram, ou se afastaram de fininho e não sobrou ninguém pra
servir de ombro ou mão em socorro. Parece até que tudo foi pro beleleu, quantas
rememorações no travesseiro tentando fugir do Hades, como quem se esquece do
ruim e só lembrar das boas no clique do tempo que para pro Dorian Gray. Quantos
risos, choros esquecidos, o pior é ter que recuperar o tempo perdido e correr
atrás, a reconstrução das perdas nas imagens distorcidas: lembranças vivas nas
molduras da memória, sensações recorrentes de que tudo parou, apesar de tudo
mudado, déjà-vu: sonhos e pesadelos reais na data da carteira de identidade,
bilhetes e cartas perdidas, quantas extraviadas, tantas segredadas que não seguiram
pros destinatários, gente da mais alta estima, as recordações e o abandono, eu acho,
envelheci. Dentro de mim a criança teima em brincar e fugir. O espelho diz que
não, nem vi o tempo passar na condenação de esquecido. Parece que tudo foi
ontem, mesmo. Eu nem sabia, até. Ah, se tenho passado é porque vivo, estou
perdido e vou adiante. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
AMAR A CIDADE
O
musical Amor em Sampa (2016),
dirigido por Carlos Alberto Riccelli e Kim Riccelli com roteiro da Bruna
Lombardi, vale mais as cinco histórias que transitam com pano de fundo: a
campanha de amor à cidade. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruzo a Ipiranga e Avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi da dura poesia concreta de tuas esquinas, da deselegância discreta de tuas meninas.
Que só quando cruzo a Ipiranga e Avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi da dura poesia concreta de tuas esquinas, da deselegância discreta de tuas meninas.
Ainda não havia para mim Rita Lee, a tua mais
completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e avenida São João.
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e avenida São João.
Quando eu te encarei frente a frente e não vi
o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho, nada do que não era antes quando não somos mutantes e foste um difícil começo
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho, nada do que não era antes quando não somos mutantes e foste um difícil começo
Afasto o que não conheço e quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva
Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba mas possível novo quilombo de Zumbi e os Novos Baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa.
Aprende depressa a chamar-te de realidade porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva
Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba mas possível novo quilombo de Zumbi e os Novos Baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa.
Sampa, música do álbum Muito – dentro da estrela azulada (Universal
Music, 1978) compositor, cantor, produtor, arranjador e escritor Caetano Veloso. Veja mais aqui, aqui e
aqui.
Veja
mais sobre:
Dois
quentes & um fervendo, a poesia de James Joyce, A música viva de Koellreutter & Carlos
Kater, a pintura de Jan Sluijters, a arte de Karel Appel, a música de Brahms & Giorgia Tomassi aqui.
E mais:
Exercício de admiração de Emil Cioran, Abril
despedaçado de Ismail Kadaré, o teatro de Meyerhold, a arte de Fridha
Khalo, a música de Badi Assad,
a pintura de Karel Appel, o cinema de Carla
Camurati & Marieta Severo, Carlota
Joaquina & Clube Caiubi de Compositores aqui.
Doro na
Caixa do Fecamepa aqui.
Constitucionalização
do direito penal
aqui.
Literatura
Infantil, a poesia de Hermann
Hesse, o teatro de Constantin
Stanislavski, Leviatã de Thomas
Hobbes, o cinema de Krzysztof Kieslowski & Juliette Binoche, a música
de Tom Jobim & Lee Ritenour,
Tiquê: a deusa da fortuna, a arte de Bette
Davis, a pintura de Jean-Honoré
Fragonard & Alexey Tarasovich Markov aqui.
O lado
fatal de Lya Luft, a literatura
de Marcia Tiburi, Afrodite & o julgamento de Páris, a
música de Diana Kral, o teatro de
Cacilda Becker & José Celso Martinez Corrêa, o cinema de Krzysztof
Kieslowski & Julie Delpys, a arte de Jeanne Hébuterne, a pintura de Débora Arango & Enrique
Simonet aqui.
A
salvação bidiônica depois da bronca, o pensamento de István
Mészarós, Mal de amores de Ángeles Mastretta, Horror econômico de Viviane Forrester,
A gaia ciência de Friedrich Nietzsche, a pintura de Auguste
Chabaud, a música de Tatjana Vassiljeva, a arte de Lia
Chaia & Wesley Duke Lee aqui.
Colocando
os pingos nos iiiiis, A teoria da viagem de Michel Onfray, Discurso &
argumentação de Débora Massmann, A gaia ciência de Friedrich Nietzsche, Neurofilosofia
& Neurociência, a música de Natalia Gutman, a poesia de Viviane Mosé, a fotografia de Cris
Bierrenbach, a arte de Mira Schendel, Conversa de bar & filho não reconhece
pai & Quando se pensa que está abafando, das duas, uma: ou contraria ou se
expõe ao ridículo. Cadê o simancol, meu aqui.
A gente
tem é que fazer, nunca esperar que façam por nós, O enigma
do artista de Ernest Kris & Otto Kurz, Os catadores de conchas de Rosamunde Pilcher, As viagens de Marco
Polo, A gaia ciência de Friedrich Nietzsche, Respeito aos idosos, a música de Silke
Avenhaus, a arte de Beth Moyses & Antonio Saura, Os passos desembaraçados
nos emaranhados caminhos & Quando os ventos sopram a favor, tudo fica mais
fácil aqui.
Que
coisa! Quando eu ia, todos já voltavam, a poesia de Sylvia Plath, Estruturas sociais da economia
de Pierre Bourdieu, Rede e movimentos sociais de Maria Ceci Misoczky, Gravidez
na adolescência de Laura Maria Pedrosa de Almeida, A gaia ciência de Friedrich
Nietzsche, a música de Coeur de Pirate, a arte de
Luciah Lopez, O feitiço do amor & Quando algo der errado, não adianta
chilique: cada um aprende mesmo é com suas escolhas aqui.
No reino
da competição todo mundo tem de ser super-homem – o ser humano não é nada, As causas
da pobreza de Simon Schwatzman, A crise da educação de Hannah
Arendt, a literatura de Abraham B. Yehoshua, Aprender e suportar o
equivoco de Clemencia Baraldi, A gaia ciência de Friedrich
Nietzsche, A primeira paixão de Ximênia, a música de Ernesto Nazareth & Maria
Teresa Madeira, a pintura de Arturo Souto & Mikalojus
Konstantinas Ciurlionis aqui.
História
da mulher: da antiguidade ao século XXI
aqui.
Palestras:
Psicologia, Direito & Educação aqui.
A
croniqueta de antemão aqui.
Livros
Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda
de Eventos aqui.
ARTE
arte da
bailarina, atriz, coreógrafa, diretora e professora Ruth Rachou.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra: Quando agredida, a natureza não se
defende: apenas se vinga, pensamento do físico teórico alemão Albert Einstein (1879-1955).
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.