O DISCURSO DO DOUTOR MARCA
BOSTA - Gente como a praga naquela noite no auditório do Clube
Alagoinhandubense das Artes e Cultura. Quando eu cheguei o cerimonialista já
saudava os presentes, um por um dos magníficos destacados na plateia. A claque
em polvorosa se rasgava aos aplausos efusivos ao se anunciar o nome de cada
personagem pelo locutor. Mais de hora depois, era a hora do palestrante com
toda filiação, currículo, serviços prestados, laureado assim como se fosse um
PhD desses Prêmio Nobel de qualquer porra dessa. Aos aplausos ele surge de um
dos cantos do tablado improvisado para se dirigir à tribuna, não antes um
comentário risível que surgiu não sei de onde: - O doutor Batatinha mais parece
com o Pinguim do Batman. Maior risadagem. Pudera, o homem era de baixa estatura,
atarracado, buchudo, charutão nos beiços, vez em quando espremia os flancos com
os braços pra levantar o cós das calças, todo embecado como exigia o figurino.
Fixei o olhar na figura, apurei o ouvido e me dispus a presenciar um discurso
no qual ele repuxava pelas palavras escalafobéticas e trocadilhos infames, me
dando a impressão de que estava pronto pra testemunhar o maior entre todos os
paradoxos que a loucura humana fosse capaz de produzir, vez que ele começou a
misturar teoria da relatividade com ovos fritos e chutes no quiba, mecânica
quântica com despacho na encruzilhada do cu dele, holística com a maçonaria de
esquina dos boateiros deslavados, pós-modernidade com sermão paralinguístico
dos pastores da tradição judaico-cristã, desenvolvimento com o caminho da casa
da peste e a poética visual dos locutores tragicômicos das emissoras de rádio,
filosofia com as sacadas dos rabiscos das pichações dos invisíveis que vêm da
periferia e que, pra ele, deveria ser exterminada por uma pena de morte
legalizada na geral; sociologia com as manobras das organizações criminosas que
comandam das penitenciarias todas as maledicência sociais e deveriam ser
implodidas com toda superlotação dentro pro bem da humanidade e da Lei de
Execuções Penais; antropologia com a sovaqueira dos pendurados nos ônibus
suburbanos no final da tarde, depois de um dia de trabalho e que
inquestionavelmente deveriam ser estornados pra campos dos nazistas pro bem de
todos e felicidade geral da nação; psicologia com o controle da natalidade e
todas as coerções e sanções para excomungar pobres condenados pelo deus dos
vencedores do capitalismo; educação como programa de auditório vendendo saber
como quem premia com troféu abacaxi a quem responder as curiosidades duma
maratona de inutilidades sobre as celebridades televisivas e salvadores da
pátria; solidariedade com a hipocrisia da filantropia granfinista para ver quem
é o bom e o melhor entre eles para humilhação e expulsão dos vulneráveis
excluídos como cancro da sociedade; direitos humanos com grupos de extermínios
no serviço público feito festa de aniversário de compadre no salão de eventos
entupido de sósias e meninas seminuas só pros achegados que furam semáforos e
filas pros privilégios do hedonismo de umbigos com suas neuras de exibição pra
encher os vazios de copos e corpos; nação como cemitério de automóveis usados
para assaltos, remoção de obstáculos, inadimplência e prêmios de seguradoras no
fundo dos rios, lagoas e praias; política como dares e tomares senão o bicho
pega e a bala come no centro para resolver qualquer quizília; direito como as
contestações dos funks nas raves da tevê só para dizer que só quem não tem é
que bate as línguas nos dentes pra rezar o que o deus omisso nunca ouvira e
dizer pra ele que procurem outro lugar pras suas farofadas e delinqüências; e
justiça como arranjado nos porões dos gabinetes públicos só pros amigos e aos
inimigos a guerra dos intestinos do Oriente Médio para onde deveriam ir todos
os pobres, bichas, putas, bandidos inimigos e chatos de galocha, e teitei e
patatá, lengalenga, saravá. Haja confusão no rebuscamento, quase ia embora
antes da hora por tantos disparates, mas quis conferir o cinismo de perto,
quando, ao final, segui a fila dos babaovos que felicitavam sua erudição na
maior babacada. Depois de um bocado de espera pacientemente, chegou a minha
vez, ele me cumprimentou, apertou-me a mão, enquanto eu lhe disse: - Curiosa a
sua exposição, jamais ouvira certos autores citados, nem muitas das teorias
mencionadas. E ele, tão sarcástico quanto, respondeu: - Nem eu. Mas que
impressionei a plateia, isso sim, impressionei mesmo, num foi não? © Luiz
Alberto Machado. Veja mais aqui.
A arte
do escultor italiano Richard Senoner.
Veja mais aqui.
Veja
mais sobre:
Alguma
coisa assim..., a música de Ken
Burns, a pintura de Jules Joseph
Lefebvre, O cinema de Esmir Filho & poemiudinho aqui.
E mais:
A divina
encrenca de Juó Bananére, a
Personologia de Murray, O sexo na história de Reay Tannahill, o teatrod e Borná
de Xepa, a música de Zeca
Baleiro, a pintura de Adélaide Labille-Guiard, Brenda Starr de Dale Messick,
Brooke Shields & a poesia de Marcia Lailin aqui.
Gestão Tributária
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de Chagas Lourenço aqui.
Falange, falanginha, falangeta, a
literatura de Lou Andres-Salomé, O
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Wilson Sheppard, a música de Arthur
Honegger, Dafne & Chloe & a pintura de Louis Hersent, Olivia Wilde, as crônicas de Luiz Eduardo Caminha & o Programa
Tataritaritatá aqui.
Fecamepa,
a literatura de Georges Bataille, a
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Mosé, a música de Ástor
Piazzolla, o cinema de Bernardo Bertolucci, & Dominique Sanda, a arte de Wanda Gág & Mary
Louise Brooks aqui.
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a canção, a poesia de Gabrielle
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de Benício, Kristen Stewart, a pintura de José Antônio da Silva & Edgar Rice Burroughs aqui.
Big Shit
Bôbras, a psicanálise de Carl Gustav
Jung, a poesia de Giórgos Seféris & Cacaso, a música de Fito Páez, Anne Rice & Dana Delany, a pintura de Alexej von Jawlensky, Antônio
Conselheiro & Canudos aqui.
Aventureiros
do Una, Maurice Merleau-Ponty, Castro
Alves & Eugênia Câmara, a literatura de Carlos Heitor Cony,a música
de Sergei Rachmaninoff & Yara
Bernette, a pintura de Jules
Joseph Lefebvre & a arte deDiane Kruger aqui.
O brinde
do amor, Paulo Freire, A
música de Vanessa da Mata, Luciah Lopez & Havia mais que desejo na paixão feita do amor aqui.
Sexta
postura, a poesia
de Manuel Bandeira, a música de
Al Di Meola, a escultura de Ambrogio Borghi, a arte de Juli Cady Ryan & Quando
amor premia o sábado aqui.
Desencontros
de ontem, reencontros amanhã, a música de Gonzaguinha, a poesia de William
Blake & Gleidstone Antunes, a pintura de Duarte Vitória & Alô,
Congresso Nacional, ouça quem o elegeu aqui.
O que é
ser brasileiro, Hannah Arendt, a pintura de
Alex Grey, a música de Carol Saboya & Quem faz e não sabe o que fez
é o mesmo que melar na entrada e na saída e nem se lembrou de limpar, que
meladeiro aqui.
Pra quem
nunca foi à luta, está na hora de ir, a música do Duo Graffiti,
a escultura de Phillip Piperides, a pintura de
Tracey Moffatt & a arte de Tanise Carrali aqui.
A lição de cada amanhecer, a
música de Anne Schneider, a lenda da
origem do Solimões, a pintura de Alice Soares, a escultura de Lorenzo Quinn, O
Lobisomem Zonzo & Edla Fonseca aqui.
O cordão dos a favor & os do contra, a música
de Jorge Ben Jor, a arte de Hélio
Oiticica, Vampirella & Forrest J. Ackerman, a poesia de Eliane Queiroz Auer & Lia Kosta aqui.
O certo & o errado no reino das
ideologias, a poesia de Hélio Pellegrino, a música de Nobuo Uematsu, a pintura de Raoul Dufy, a arte de Mat Collishaw & Danicleci
Matias Souza aqui.
Versos à flor da pele na prosa de um poema, o
cinema de Jean-Luc Godard, a
escultura de Bertel Thorvaldsen, a
música de Sharon Corr, a poesia de Elke
Lubitz & a arte de Luciah Lopez aqui.
Vivo & a vida com tudo e todos, Helena Antipoff, a música de Dominguinhos, a pintura de Angel Otero, a escultura
de Gutzon Borglum, a fotografia
de Roman Pyatkovka
& Nayana Andrade
aqui.
&
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra: curtindo Folk Is the New Black
(Rude Girl Records, 2006), Billie's Bones
(Rude Girl Records, 2004), Breaking
Silence (Morgan Creek Records, 1993) e Night
Rains (CBS, 1979), da cantora, multi-instrumentista, colunista e
compositora estadunidense Janis Ian.
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.