segunda-feira, dezembro 02, 2024

KARIMA ZIALI, ANA JAKA, AMIN MAALOUF & JOÃO PERNAMBUCO

 

Poemagem – Acervo ArtLAM. Veja mais abaixo & aqui.

Ao som de Sonho de magia (1930), do compositor João Pernambuco (1883-1947), na interpretação da violonista, educadora e autora britânica Rosie Bennet. Veja mais abaixo.

 

Um dia noutro qualquer... - A vida vinha pela janela e apenas. Não fossem os pássaros eu morreria em silêncio. O mundo girava e sequer saía do lugar de espera, tudo havia feito e o recorrente choque aversivo nas recepções. Vôte! A esperança titânica servia como risada à morte e continuo sorrindo sob o fogo, o que sei: daqui os melhores se foram e não voltaram, nunca voltarão! Vejo-me uma arvore e me autoconheço, desdobro a reaprender o mundo e a vida, vulnerável às surpresas e pelo desconto hiperbólico, o cotidiano às reviravoltas, o paradoxo do enforcamento inesperado, incógnitas frívolas, lógicas refutáveis, vieses e impulsividade. E por que deu errado? Estamos em guerra desde sempre, sem mitigação. O feitiço funcionava como um veneno, o interdito no semáforo: a religião será sempre um engodo, que não ouçam os decaídos e sonolentos. Esquecia a armadura indestrutível, vulnerável com a ciência de que sou o meu próprio monstro, a criatura repulsiva, um reles sujeito comum, a face irreconhecível. Poderia até saber algo de alguma coisa, nada valeria. Acredito que um dia as coisas ainda saiam bem, mesmo que seja apenas uma fumaça escapando pelas sinistras chaminés. Sentia-me Prometeu aprisionado a um rochedo no Cáucaso repassando amargas lembranças e a odienta ave, com sua língua de gárgula bovina, devorava meu fígado. Ah, meu martírio. Ela até me fez uma declaração de amor e vi que era cega. Diante da ilusão do indulto dei a cara à tapa na pantera! Sobre a cidade o pássaro abriu as asas... Com o passar dos dias estendi a mão e a memória se fez parte de mim... E era tudo que tinha de meu: os olhos incertos, o coração na mão, a vontade esfarrapada. Até mais ver.

 

Zlata Filipović: Infelizmente, percebi que não podemos apagar completamente todo o mal do mundo, mas podemos mudar a maneira como lidamos com ele, podemos superá-lo e permanecer fortes e fiéis a nós mesmos... Veja mais aqui.

Alyson Noël: A única coisa que uma pessoa pode realmente fazer é seguir em frente. Dê esse grande salto para a frente sem hesitação, sem olhar para trás. Simplesmente esqueça o passado e fuja em direção ao futuro... Veja mais aqui, aqui & aqui.

Morgan Llywelyn: A poesia flui através de mim, mas se origina na fonte da criação que é a fonte de todos nós... Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

 

TRÊS POEMAS

Poemagem – Acervo ArtLAM. Veja mais aqui.

I - Dizem que há vida atrás da estação \ mas este expresso esqueceu seu coração \ Eu continuo perseguindo as batidas da sua voz \ porque a última coisa que ouvi foi seu adeus \ os castanheiros se perguntam quando ele voltará \ Eles estão ansiosos para ver você dançar \ e eu digo a eles que talvez \ Claudia e Costello encontraram sua liberdade.

DEIXE O VERÃO - Saia do último ou penúltimo banheiro \ com o sol atrás das árvores \ piscando e as ondulações da água \ nas costas e vencer uma corrida \ contra o frio com a pele tudo colorido.

BORBOLETA DA NOITE - Adoro a carícia de suas asas. \ Você mede, galho resignado, e o segundo, muito louco \ Você queima quando derrete em meus braços. \ Delicado milagre de bronze e veludo, \ Não há nada mais doloroso do que se queimar.

Poemas da escrtitora basca Ana Jaka García, autora de obras Mero amor / Línea discontinua (Everest, 2009), Ez zen diruagatik (Elkar, 2014), Marimutila naiz eta zer? (Elkar, 2016), Loaren inbasio isila (Elkar, 2016), Ixon (Elkar, 2017) e Mujeres y niñas (Balas trazadoras, 2017).

 

ORAÇÃO SEM DEUS - […] Fechou os olhos por um segundo, esboçou uma careta estática que deformou seu rosto. Deixou-se levar no tempo, respirou fundo com um suspiro suave escapou por sua boca. A festa de ontem, a eterna repetição de todas as festas. Como era habitual neste tipo de comemoração, rações até o vazio. O álcool deixou-o tonto, conversas aqui e ali, como se cada rosto foi o verdadeiro destino de seus discursos diletantes […] o mundo vinha até ele com seus paradoxos absurdos. [...]. Trechos extraídos da obra Una oracion sin dios (Esdrujula, 2023), da escritora e filósofa marroquina Karima Ziali, que assim se expressa sobre a atualidade: A Europa aceita diversidade desde que não cause problemas... Quando o medo entra, não somos capazes de enfrentar tudo isso que nos é dado como um bloqueio: tradição, religião, identidade, e você fica sem saber o que fazer. A liberdade é o que permite que você o decomponha, destrua e reconstrua; é o que permite que você entre nesses assuntos sem sentir que está transgredindo algo, mas que é sua obrigação moral como indivíduo...

 

O NAUFRÁGIO DA CIVILIZAÇÃO - [...] Quando já não podemos exercer as nossas prerrogativas como cidadãos sem nos referirmos às nossas filiações étnicas ou religiosas, é porque toda a nação embarcou no caminho da barbárie. [...] O pior para um perdedor não é a derrota em si, é a ideia da síndrome do eterno perdedor. Acabamos odiando toda a humanidade e nos destruindo. [...] Muitas vezes, quando um país trai os seus valores, também trai os seus interesses.[...] Preservamos piedosamente a lenda segundo a qual a transmissão ocorre “verticalmente”, de uma geração para outra, dentro de famílias, clãs, nações e comunidades de crentes; enquanto a transmissão real é cada vez mais “horizontal”, entre contemporâneos, quer se conheçam ou não, quer se amem ou se odeiem. [...] A tragédia, para os europeus, é que, no mundo cruel que é o nosso, se desistirmos de nos tornarmos uma potência muscular, acabaremos sendo empurrados, maltratados e mantidos como reféns. Você não se torna um árbitro respeitado, você se torna uma vítima em potencial e um futuro refém. [...]. Trechos extraídos da obra Le naufrage des civilisations (Hachette, 2020), do escritor libanês Amin Maalouf. Veja mais aqui.

 

A ARTE MUSICAL DE JOÃO PERNAMBUCO

[...] Ele fazia pequenos serviços na feira da Torre, junto da fábrica, para ganhar alguns trocados que usou para comprar um violão usado. Ele ia de bonde até o pátio de São Pedro e o mercado de São José para ver os violeiros, foi dessa maneira inusitada que João aprendeu tudo com seus mestres nas ruas, sem saber ler partitura ou cifras. E foi assim que estabeleceu e definiu a linguagem do violão brasileiro, sendo o primeiro brasileiro a compor música para exclusivamente para violão. [...].

Trecho extraído da obra Raízes e Frutos da Arte de João Pernambuco: Uma infinita viagem (IAPJP, 2023), do pesquisador carioca José Leal (José de Souza Leal - 1946-2023), também autor do livro João Pernambuco, arte de um povo (Funarte, 1983), tratando sobre a vida e obra do compositor, músico e violonista João Pernambuco (João Teixeira Guimarães – 1993-1947). Veja mais aqui & aqui.

&

FLIARP

 

OFERECIMENTO: MJ PRODUÇÕES ARTÍSTICAS & AMIGOS DA BIBLIOTECA

Apresentam:

Dareladas – Centenário de Darel Valença Lins na Fliarp, dia 05/12, às 19h, na Biblioteca Fenelon Barreto. Veja mais aqui.

Tem mais:

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Diário TTTTT aqui.

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segunda-feira, novembro 25, 2024

MARÍA NEGRONI, LEILA MOTTLEY, ELIZABETH BLACKBURN & SOLANO TRINDADE

 

 Imagem: Zineblog – Acervo ArtLAM.

Ao som do Live concert (2024) e do álbum First Prize (Contrastes Music, 2023), da premiada violonista russa Vera Danilina.

 

O sorriso no enredo das reminiscências... - Tudo se repete e é como se cada vez fosse inaugural. Ora dum jeito, ora de outro no álbum de fotografias empoeiradas, a divagar pela meninice dos quase 10 anos: um sorriso largo, mãos aos quartos e a pose do olho de peixe. E era tudo fascínio pelas águas pretas do brejo dos avós, ou no terreiro de casa com o cardume inquieto na beira do rio. Não podia mexer em nada dos móveis da casa, nem saber dos segredos de família, as cenas inexplicáveis, as músicas do rádio, de gente que teimava em não morrer e jogavam terra na cova dos que se foram e, cá comigo, o que os adultos faziam uns aos outros – e me assombravam como se fossem corvos criados para arrancar meus olhos e eu morresse na escuridão com cada uma delas. Era sempre quase e nem ligava, ia para algum lugar, só tinha o quintal e ali o mundo e os invisíveis se tornavam reais, a tagarelar inventando hestórias da imaginação tirada dos livros. E me deixava levar pelo ditado aprendendo novas palavras, soletrando as sílabas e fazendo força para que tudo sorrisse apesar dos pesares e das botas marchando pelo corredor da casa. Era de verdade e fazia de conta, pronto pra voar do primeiro galho pelos olhos de Maisie na mirada aguda da órfã Ana de Cria Cuervos, quando a gente só queria brincar com Machuca pelas ruas de Santiago do Chile. E parava o tempo arrancando os ponteiros do relógio louco dos pais e fugíamos pelos zis dias de noites intermináveis. Quantas vezes essa criança despregava de mim fugindo perdida pelas trevas imensas, não sabia o que dizer e o que era a inocência escapava sobrevivente a cada novo infortúnio marcado nos cabelos grisalhos em desalinho. Depois do desespero solitário reencontrava a me abraçar como se fosse o menino do Guardador de Rebanhos e era o que me dava a plenitude da eterna ressurreição. Até mais ver.

 

Millôr Fernandes: O dinheiro é a mais violenta das invenções humanas... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

Graça Machel: É o significado da minha vida desde a juventude: tentar lutar pela dignidade e pela liberdade do meu próprio povo... Veja mais aqui.

Teresa Cárdenas: O pior tipo de escravidão, hoje, dispensa algemas e cativeiros: é a que impomos a nós mesmos... Veja mais aqui.

 

UM RIO CORRE POR ELE

Imagem: Acervo ArtLAM.

O rio é um nascer do sol de peixes voadores. (Isto é um presente.) Mas há dias em que o rio entrega uma mensagem contaminada, ou nenhuma mensagem: nenhuma linguagem para a estrada que flui, nenhum peixe escuro para acalmar a velocidade. (Isto também é um presente.) Havia algo aqui, antes de algo estar aqui? Ninguém responde. Mais cedo ou mais tarde, todas as coisas convergem, e o rio as leva, saltando sobre as rochas, para o porão ondulante da eternidade.

Poema da premiada escritora e tradutora argentina María Negroni. Veja mais aqui.

 

CRIATURAS NOTURNAS – [...] Mamãe costumava me dizer que sangue é tudo, mas acho que estamos todos aqui desaprendendo esse sentimento, esfregando os joelhos e pedindo a estranhos para nos consertar. [...] A ideia de afogamento não me incomoda, no entanto, já que somos feitos de água de qualquer maneira. É como se seu corpo transbordasse de si mesmo. [...] Ela é o fundo do oceano, onde toda a magia se esconde sob muitas camadas de escuridão, água e sal. [...] a arte é a maneira como nos imprimimos no mundo, então não há como nos apagar [...] O silêncio nos mata de fome, chile. Alimente-se. [...] Estou dizendo a ela como essas ruas nos abrem e removem a parte de nós que mais vale a pena manter: a criança que resta em nós. [...] A escola tem tantos buracos quanto as ruas, sempre lascando, sempre nos fazendo tropeçar. [...] Estamos sempre mostrando nossas mãos às pessoas como se fosse uma prova de que somos humanos. [...]. Trechos extraídos da obra Nightcrawling (Random House, 2022), da escritora estadunidense Leila Mottley.

 

EFEITO TELÔMERO & REJUVENESCIMENTO LONGEVO & SAUDÁVEL– [...] Até certo ponto que nos surpreendeu e ao resto da comunidade científica, os telômeros não simplesmente executam os comandos emitidos pelo seu código genético. Seus telômeros, ao que parece, estão ouvindo você. Eles absorvem as instruções que você lhes dá. A maneira como você vive pode, na verdade, dizer aos seus telômeros para acelerar o processo de envelhecimento celular. Mas também pode fazer o oposto [...] Não seja muito tímido ou exigente com suas ações. Toda a vida é uma experiência. Quanto mais experimentos você fizer, melhor. [...] As extremidades dos nossos cromossomas podem alongar-se e, como resultado, o envelhecimento é um processo dinâmico que pode ser acelerado ou retardado e, em alguns aspectos, até mesmo revertido. [...] Foi demonstrado que diversas técnicas de mente e corpo, incluindo meditação e Qigong, reduzem o estresse e aumentam a telomerase, a enzima que repõe os telômeros.[...] Ruminação é um ciclo de pensamentos repetitivos e improdutivos sobre algo que está incomodando você. Se você não tem certeza de quantas vezes rumina, agora você pode começar a notar. A maioria dos gatilhos de estresse tem vida curta, mas nós, humanos, temos a notável capacidade de dar a eles uma vida vívida e prolongada na mente, deixando-os preencher nosso espaço mental muito depois que o evento passou. Ruminação, também conhecida como melancolia, pode escorregar para um estado mais sério conhecido como ruminação depressiva, que inclui pensamentos negativos sobre si mesmo e seu futuro. Esses pensamentos podem ser tóxicos. [...]. The Telomere Effect: A Revolutionary Approach to Living Younger, Healthier, Longer (Grand Central, 2017), da bióloga Prêmio Nobel australiana, Elizabeth Blackburn, que ao ser demitida do Conselho Presidencial em Bioética, pela Administração Bush, ela assinalou que: Há uma grande sensação de que a pesquisa científica – a qual, acima de tudo, é definida como uma busca pela verdade – está sendo manipulada para fins políticos. Há evidências de que tal manipulacão vem sendo realizada a partir da sobreposição de membros nos conselhos consultivos e do atraso e da deturpação de seus relatórios. Hoje ela é membro da Science Advisory Board of the Regenerative Medicine Foundation. Veja mais aqui.

 

A POESIA DE SOLANO TRINDADE

Eu ia fazer um poema para você \ mas me falaram das crueldades \ nas colônias inglesas \ e o poema não saiu \ ia falar do seu corpo \ de suas mãos \ amada \ quando soube que a polícia espancou um companheiro \ e o poema não saiu \ ia falar em canções \ no belo da natureza \ nos jardins \ nas flores \ quando falaram-me em guerra \ e o poema não saiu \ perdão amada \ por não ter construído o seu poema \ amanhã esse poema sairá \ esperemos.

Poema do escritor, pintor, ator, teatrólogo, cineasta, folclorista e ativista Solano Trindade (1908-1974). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

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terça-feira, novembro 19, 2024

PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

 

Imagem: Foto AcervoLAM.

Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira.

 

Lua de Maceió... - Não era a desejada de Morango, ah, tem nada não. Fazer o quê? Inadvertido quase deixei passar a do Castor que fugia das nuvens naquela manhã quase nublada. A surpresa: nela a deusa Ya-cy levada pelo raio de Aram e quase escondida pelos galhos abundantes. Era ela, sim. E me viu ali, vigilante. Fez a volta e lá vinha em minha direção. E eu: prestes a me sentir levado pelo estrondoso impacto do asteroide Apophis dentro de mim. Aproximou-se rutilante a levitar lenta e elegantemente, como quem desce emoldurada pela constelação da Anta, um convite para a festa. Achegou-se como se fosse a bela estrela Naiá incendiando a solidão primaveril dos meus sonhos insensatos – um frio na barriga, vertigem nas ideias e agora o que poderia fazer, sei lá. E dei fé ali, olhos nos meus e o sorriso ensolarado: Awê! Tudo fiz para manter a lucidez, segurava a onda como podia. Abriu-me os braços como quem regia a vida marinha no meu sangue em pororoca. Já quase amanhecia e ali chegou para danação de tudo nas minhas entranhas, revolvendo as mais remotas memórias do que sequer sabia. Retribuí seu efusivo contentamento. Fiz-lhe as honras e já me tinha por Jáxi, o caçula irmão do Guaraci, embalado por verdadeira celebração de ritual pataxó. Logo o clarão do dia e ela então deitou-se nua, minguante, na palma da minha mão. E me reluzia crescente para ser nova todo dia. E a palavra nela fez-se vela acesa e no seu corpo escrevi o tempo inventando de nunca se extinguir. Só tinha um lugar para levá-la no meio das minhas clandestinas emoções – era ela todo espaço, onde mais afora meu coração desamparado. Dei-lhe meu sorriso como se fosse a flor que não tinha às mãos e nela a vindoura consagração estival da mulher avalovara no perigeu. Por gratidão fez-se amor na Alvorada. Até mais ver.


Arundhati Roy: Não existe realmente algo como "os sem voz". Existem apenas os deliberadamente silenciados, ou os preferencialmente não ouvidos.... O problema é que, uma vez que você vê, não consegue deixar de ver. E, uma vez que você viu, ficar quieto, não dizer nada, se torna um ato tão político quanto falar. Não há inocência. De qualquer forma, você é responsável... Veja mais aqui.

Marjane Satrapi: A vida é absolutamente insuportável. E nós vamos morrer... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, & aqui.

Connie Palmen: A cada nascimento, uma morte é dada... Veja mais aquí.

 

LIÇÃO

Imagem: AcervoLAM.

A minha vizinha no amor \ disse-me: \ Por que há tanta janela iluminada \ no teu corpo? \ Por que tantas flores as envolvem? \ Que são essas numerosas luas? \ Quem te ofereceu esses céus? \ A minha vizinha no amor \ ignora \ o amor.

Poema da poeta, artista plástica e repórter marroquina Widad Benmoussa, autora de obras como: Tenho uma raiz no vento (2001), Entre duas nuvens (2006), As janelas que abri sobre ti, Rabat (2006) e Tempestades do corpo (2008).

 

TENHAM CUIDADO, CRIANÇAS… - […] Uma pergunta que começa com o porquê é uma pergunta preguiçosa. […] Há algo de gentil no movimento das obsessões à medida que elas se deslocam para o mar. Eles param de incomodar você noite e dia. Isto não é uma capitulação nem um abandono. Eles estão ganhando tempo. [...]. Trechos extraídos da obra Soyez imprudents les enfants (Thélème, 2017), da escritora francesa Véronique Ovaldé. Veja mais aqui.

 

NEUROFILOSOFIA & FILOSOFIA DA MENTEO que posso e não posso imaginar é um fato psicológico sobre mim. Não é um fato metafísico profundo sobre a natureza do universo. Pensamento da filósofa canadense Patricia Smith Churchland, que no seu livro Touching a Nerve: The Self as Brain (W. W. Norton & Company, 2013), ela expressou que: […] Você se tornou consciente exatamente do que inconscientemente pretendia dizer apenas quando o disse. Você modifica seu discurso dependendo se está falando com uma criança, um colega, um aluno ou um reitor. Não conscientemente, provavelmente. Paradoxalmente, a fala é geralmente considerada um caso de comportamento consciente – comportamento pelo qual responsabilizamos as pessoas. Certamente, requer consciência: você não pode conversar durante o sono profundo ou em coma. No entanto, as atividades que organizam a produção da sua fala não são atividades conscientes. Falar é um negócio altamente qualificado, que depende do conhecimento inconsciente de precisamente o que dizer e como [...]. Já em El cerebro moral: Lo que la neurociencia nos cuenta sobre la moralidad (Paidós, 2020), ela considera que: […] A hipótese predominante é que o que nós, humanos, chamamos de "ética" ou "moralidade" é uma estrutura de comportamento social em quatro dimensões que é determinada pela inter-relação de diferentes processos cerebrais: (1) cuidado ou atenção aos outros (enraizado no apego aos membros da nossa família e preocupação com o seu bem-estar),11 (2) reconhecimento dos estados psicológicos dos outros (com base nas vantagens de prever o comportamento de terceiros), (3) resolução de problemas num contexto social (por exemplo, como devemos distribuir bens quando eles são escassos, como resolver disputas territoriais [...]. E no seu livro Neurophilosophy: Toward a Unified Science of the Mind/Brain (Bradford, 1986), ela conclui que: […] Se você se enraizar no chão, poderá se dar ao luxo de ser estúpido. [...]. Veja mais aqui.

 

PERIFERIA DAS PERIFERIAS, DE GIVA SILVA

[...] Reconhecer que os povos indígenas estão periferizados historicamente e que muitos corpos indígenas estãos periferizados e periferizados das suas identidades e que sofrem todo tipo de violências do colono-capitalismo, sem sequer ser estatística – já que formalmente não existem, logo, não fazem parte dos indicadores negativos aos quais a classe trabalhadora tem exposto as mazelas que sofre de um sistema perverso -, e são encarcerados e enterrados sem sequer ter tido acesso à sua memória ancestral [...].

Trecho de Na periferia das periferias, de territórios e corpos: povos indígenas e corpos indígenas, uma luta de mais de 500 anos!, do educador e comunicador Givanildo M. da Silva, extraído do volume Periferias no plural (Fundação Perseu Abramo, 2023), organizado por Paulo Cesar Ramos, Jaqueline Lima Santos, Victoria Lustosa Braga e Willian Haverman. Veja mais aqui.

&

USINA DE ARTE: EXPO ROBÓTICA

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segunda-feira, novembro 11, 2024

LAUREN ELKIN, AKSINIA MIHAYLOVA, VANESSA NAKATE & BRENDA BAZANTE

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Fruto (2004), Candeias (2009), Faces (2016) e Inzu (2019), da pianista, compositora e pesquisadora Heloísa Fernandes.

 

O que dizer nada a mais... - Uma palavra dentro da outra a tecerem ventos peito aberto às verdades que nunca disse: o que restou da pedra o pó à face lívida dos olhos dilatados. Onde estou perdi a hora e uma só palavra salvou o poema da alma no porão pelas ruas ermas de invisíveis refúgios tortos e tortuosos. O que havia depois de feito combatia a secura com esperança de chuva, o que admito talvez: a minha vida é o escombro da casa destruída. Ainda bem que não há pústulas na janela perdida nem a alma remendada no telhado que desabou. Restam passos pelas esquinas crepusculares com suas vidraças espelhadas: haverá tempo para indecisões e enfrentamentos, ao que parece, a máquina do mundo emperrou enferrujada, parece mesmo, quebrou-se cediça no lixo rente às paredes revogadas. E haverá tempo adivinhando caminhos na penumbra entre o legado e o estorvo, pesares de suspensos rumos vazios, só porque mãos trêmulas titubeiam afeto à espera do milagre duma chuva draconídea trazendo ouro e kyawthuite. E as sereias cantam luzes e ofertas, são muitas e me afogam, porque pertence a mim o dia e nada se anuncia no terreno baldio do ridículo. Pertence a mim esta tarde e o que é demais no regresso inquieto de quantas maçanetas se perderam da memória. Pertence a mim esta noite de quantos remorsos insepultos pelos sortilégios lunares, amontoando entulhos e retalhos por aí afora. Tempos loucos. Epistemicídios e quantas práticas desumanizadoras de violentar destinos dissipados, com todos delitos cínicos de postiças virtudes, o sorriso vacilante de reputações enlameadas, pusilanimidades, tudo porque o escravo serviu a rainha e ela o desdenhou. Nem havia por aí quem escutasse com atenção o lampejo de um drama no sangue das palavras, somente a órbita de espedaçado vórtice. Nunca tive medo e isso pouco importa. Graças à vida encontrei pessoas dois espíritos pelo trajeto perdido, a me falar de Indeus e que me dizem respeito poéticos mistérios, para quem perdida mestiçagem a bendizer das quedas, com louvores aos martírios da morosa morte. Não acredito na vingança de Gaia, mas no revide de nossa própria estupidez. O que passou está presente há muito tempo para todos amanhãs, porque o que foi é e continuará sendo infinitamente. Até mais ver.

 

James Baldwin: Há tantas maneiras de ser desprezível que dá até dor de cabeça. Mas a maneira de ser realmente desprezível é desprezar a dor dos outros... Veja mais aqui.

Liane Moriarty: Aqueles que amamos não vão embora, eles sentam-se ao nosso lado todos os dias... Veja mais aqui.

Carol Ann Duffy: A poesia, acima de tudo, é uma série de momentos intensos – o seu poder não está na narrativa. Não estou lidando com fatos, estou lidando com emoções... Veja mais aqui.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

1 - Nós extraímos as paisagens mais profundas e escondidas \ de nós mesmos, empilhá-los sobre a mesa\ como duas pessoas se encontrando pela primeira vez\ e da última vez—libertado do futuro.\ Nós fumamos meio maço,\ procure na pilha,\ conte os ossos\ criando raízes em nossas almas,\ e ainda não consigo encontrar\ a palavra que faz isso.\ Talvez seja culpa\ das diferentes profundidades dos nossos abismos,\ como eles ressoam com uma linguagem \ ininteligível para a pele.

2 - Então compramos toranja, \ passeie pelo bairro judeu\ becos estreitos, e ele me leva\ pela mão, ele me esquece\ nas livrarias, ele diz olha,\ há tanto céu nas janelas esta noite,\ me apertando contra seu peito\ então não consigo ler em seus olhos:\ a palavra,\ a palavra que faz isso\ As toranjas rolam pela calçada.\ Suas mãos tão febris—\ como se tivesse medo de me perder,\ como se tivesse medo de que eu pudesse ficar.

Poemas da escritora, educadora e tradutora húngara Aksinia Mihaylova, autora dos livros Ciel à Perdre (Gallimard, 2014) e Le Baiser du Temps (Prix Max-Jacob, 2020), e é a fundadora do jornal literário Ah, Maria.

 

MULHERES CAMINHAM... [...] Eu caminho porque isso confere - ou restaura - um sentimento de lugar... Eu caminho porque, de alguma forma, é como ler. Você tem acesso a essas vidas e conversas que não têm nada a ver com as suas, mas você pode ouvi-las. Às vezes está superlotado; às vezes as vozes são muito altas. Mas sempre há companheirismo. Você não está sozinho. Você anda na cidade lado a lado com os vivos e os mortos. [...] Todos nós temos nossos próprios sinais que estamos atentos ou tentando não ouvir. [...] Caminhar é mapear com os pés. Ajuda a juntar as peças de uma cidade, conectando bairros que, de outra forma, poderiam ter permanecido entidades discretas, planetas diferentes ligados uns aos outros, sustentados, mas remotos. Gosto de ver como, de fato, eles se misturam, gosto de notar os limites entre eles. Caminhar me ajuda a me sentir em casa. [...] Queremos fazer escolhas, e ter alguma agência para nos perdermos, e sermos encontrados. Queremos desafiar a cidade, e decifrá-la, e florescer dentro de seus parâmetros. [...]. Trechos extraídos da obra Flâneuse: Women Walk the City in Paris, New York, Tokyo, Venice and London (Farrar, Straus and Giroux, 2017), da escritora, ensaísta e tradutora francesa Lauren Elkin, que no seu livro No. 91/92: A Diary of a Year on the Bus (Semiotext(e)/Les Fugitives, 2021), ela expressou que: […] Com o tempo, o Evento se entrelaça ao cotidiano. Pessoas que vemos no ônibus podem ter estado no Bataclan ou conhecer alguém que esteve; a mulher no canto pode ter sofrido um aborto espontâneo no mês passado. Outras pessoas são um imenso mistério. Não podemos clicar com o botão direito nelas e baixar seu histórico. Não sabemos onde elas estiveram ou para onde estão indo. Mas que elas estejam indo juntas, enquanto se ignoram amigavelmente, parece de suma importância. Acredito que isso se chama comunidade. […]. No seu livro Art Monsters: Unruly Bodies in Feminist Art (Chatto & Windus/FSG, 2023), ela menciona que: […] Ser gênero feminino é ser pego entre a beleza e o excesso: obrigado a escolher. Ser um monstro é insistir em ambos [...]. E no seu livro Scaffolding (Chatto & Windus/FSG, 2024), ela expressa que: […] é menos sobre você criar uma narrativa que explique e cure seus sintomas e mais sobre o que pode ser sugerido durante o processo terapêutico, como a maneira como falamos sobre nossas vidas codifica a maneira como pensamos sobre elas, as coisas que queremos, nossos desejos, como podemos aprender a viver com eles em vez de sermos guiados por eles. Você nunca será curado, por assim dizer. Não há cura para ser humano. [...].

 

É HORA AGORA... - Chega de promessas vazias, chega de cúpulas vazias, chega de conferências vazias. É hora de nos mostrar o dinheiro. É hora, é hora, é hora. E não se esqueçam de ouvir as pessoas e os lugares mais afetados... Sempre acreditei no poder de uma ação, de uma voz e de uma história para mudar o mundo, mas aprendi que a verdadeira transformação é uma responsabilidade coletiva; estamos trabalhando juntos para tornar este mundo um lugar melhor... Pensamento da ativista ambiental ugandesa Vanessa Nakate, que ainda se expressa: Você não pode se adaptar à extinção. Por quanto tempo vamos vê-los morrer de sede nas secas?

 

A ARTE DE BRENDA BAZANTE

Quando fui aprovada eu vibrei e me emocionei, pois percebi a importância de minha presença numa pós-graduação no campo das artes. Momento no qual poderei cooperar com a erradicação dessa ausência de visualidades que representem os corpos trans e consequentemente causar impressões inclusivas em outras visitantes trans. Pessoas que, ao adentrarem museus ou outros espaços destinados às artes visuais, poderão encontrar corpos como os seus retratados entre as peças expostas. Mas além destes lugares pretendo adentrar locais como ONGS, expandindo o alcance do conhecimento que produzi para além dos espaços institucionais. Desta forma, chegando mais perto do público que pretendo atingir, as pessoas pertencentes à comunidade LGBTIAP+.

Palavras extraídas da entrevista concedida à jornalista Andrea Sobreira de Oliveira (UFPE), no periódico Cartema - Revista do Programa de pós-graduaçăo em Artes Visuais UFPE/UFPB (2021), pela artista visual e professora de Arte, Brenda Bazante, em referência à sua dissertação de mestrado sobre a temática Trava Transcorpocinética: narrativas (auto)biográficas e práticas artísticas de/sobre travestis, transexuais e dissidentes sexuais e de gênero (UFPE, 2022), pela qual obteve o título de mestre em Artes Visuais pelo PPGAV (UFPE/UFPB). Ela também é especialista em Metodologia do Ensino de Arte pela Faculdade Educação de São Luís e Licenciada em Artes Visuais pela UNOPAR, trabalhando na produção de múltiplas linguagens nas quais destacam-se as técnicas do bordado, papietagem, escultura, pintura e desenho. Veja mais aqui.

 

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