segunda-feira, abril 06, 2015

SUELY ROLNIK, ELIZABETH BLACKBURN, BETTE MIDLER, CACILDA BECKER & AFRODITE

 


O SÁBIO SORRISO DE SUELY ROLNIK – Pela primeira vez o seu sorriso apaixonante, inadvertidamente tornei-me sapiossexual na hora! Tinha eu lá meus 20 e poucos anos e, diante daquela bela mulher recém-chegada da França, onde se exilara por conta da perseguição sofrida durante a horrenda ditadura militar, inevitavelmente me senti como o garoto apaixonado pela professora da escola primária. As mesmas sensações. Avidamente, dela bebi toda sapiência filosófica e psicanalítica, seus escritos, suas curadorias, suas críticas de arte e cultura, sua atuação no campo da arte contemporânea criando o Arquivo para uma obra-acontecimento com as proposições de Lygia Clark e a caixa dos filmes de entrevistas. E, sempre que podia, não perdia por nada suas exibições no Núcleo de Estudos da Subjetividade. Essa linda professora havia trabalhado na Clínica Experimental com Guattari – com quem publicou Micropolítica: Cartografias do desejo -, e que estudou com Deleuze, Foucault, Clastres e Barthes. Estava atento a tudo que ela fizesse. Quando ela foi embora para a Espanha, lecionar no Museu de Arte Contemporânea de Barcelona, bateu-me a inquietação. Aí corria as vistas pelas publicações da Documenta e da Manifesta, bem como pelo Manifeste Anthropophage / Anthropophagie Zombie , Archivmanie, Cartografia Sentimental: Transformações contemporâneas do desejo e das Esferas da insurreição: notas para uma vida não cafetinada. Lia e prestigiava tudo que tivesse sua rubrica, imperdível. Mantenho-me atento e aguardo ansioso seu retorno para folgar de emoção e matar as saudades desta grande mulher presencialmente. Veja mais abaixo e mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS – Eu fiz um pacto comigo mesma há muito tempo: nunca veja nada mais estúpido do que você. Isso me ajudou muito. Aprecie para sempre o que te faz único, porque você é realmente um bocejo se for. Se pudesse receber um desejo, eu brilharia no teu olho como uma joia. Depois de trinta, um corpo tem uma mente própria. Eu me sinto um milhão esta noite - mas um de cada vez. Pensamento da cantora, atriz, roteirista e comediante estadunidense Bette Midler. Veja mais aqui e aqui.

 

ALGUÉM FALOU: Os genes carregam a arma e o ambiente puxa o gatilho. O envelhecimento envolve muitas coisas diferentes, e a capacidade das células de se autorrenovar faz parte do processo, mas não é tudo. Às vezes, a biologia revela seus princípios fundamentais por meio do que pode parecer, a princípio, misterioso e bizarro. Eu apenas promovi ativamente o que sempre esperamos que seja boa ciência. Pensamento da bióloga australiana Elizabeth Blackburn, Prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina de 2009.

 

UMA COISA QUE EU DISSE - A arte se realiza com o leitor (plateia) que a identifica e por sua experiência - que é única - transcende. O artista indaga; o leitor a identifica, interage e responde. Assim a arte se torna verdadeiramente arte. Por consequência, assim mesmo a arte se define e cumpre a sua função. (LAM).

 

A GEOPOLITICA DO PROXENITISMO - [...] a mesma singularidade que deu tanta força aos movimentos contraculturais no Brasil tendeu também a agravar a clonagem desses movimentos levada a cabo pelo neoliberalismo. O savoir-faire antropofágico dos brasileiros dá-lhes uma facilidade especial de adaptação aos novos tempos. As elites e as classes médias do país estão absolutamente deslumbradas por serem tão contemporâneas, tão atualizadas no cenário internacional das novas subjetividades pós-identitárias, tão bem equipadas para viver essa flexibilidade pós-fordista (que, por exemplo, as torna campeãs internacionais da publicidade e as posiciona em posições elevadas no ranking mundial das estratégias de mídia). Mas esta é apenas a forma tomada pelo abandono voluptuoso e alienado ao regime neoliberal na sua versão local brasileira, tornando os seus habitantes, especialmente os citadinos, em verdadeiros zumbis antropofágicos. [...] Foram cinco séculos de experiência antropofágica, e quase um de reflexão sobre ela, desde o momento em que os modernistas a circunscreveram criticamente e a tornaram consciente. Neste contexto, o savoir-faire antropofágico dos brasileiros – especialmente como foi atualizado nas décadas de 1960-70 – ainda pode ser útil hoje, mas não para garantir seu acesso aos paraísos imaginários do capital; pelo contrário, para ajudá-los a problematizar a confusão vergonhosa entre as duas políticas de subjetividade flexível e a separar o trigo do joio, essencialmente com base no lugar ou não-lugar que é atribuído ao outro. Este conhecimento ofereceria as condições para uma participação fértil no debate que se reúne internacionalmente em torno da problematização de um regime que agora se tornou hegemônico, e também na invenção de estratégias de êxodo para fora do campo imaginário cujas origens estão em seu mito mortal. A arte tem uma vocação especial para realizar tal tarefa, na medida em que, ao trazer as mutações da sensibilidade para o reino do visível e do dizível, pode desvendar a cartografia do presente, libertando a vida em seus pontos de interrupção e liberando seu poder de germinação – uma tarefa totalmente distinta e irredutível ao ativismo macropolítico. Este último se relaciona com a realidade do ponto de vista da representação, denunciando os conflitos inerentes à distribuição de lugares estabelecida na cartografia reinante (conflitos de classe, raça, gênero etc.) e lutando por uma configuração mais justa. São dois olhares distintos e complementares sobre a realidade, correspondendo a dois diferentes potenciais de intervenção, ambos participando a seu modo na formação de seu destino. No entanto, problematizar a confusão entre as duas políticas de subjetividade flexível para intervir efetivamente nesse campo e contribuir para quebrar o feitiço da sedução que sustenta o poder do neoliberalismo no próprio cerne de sua política do desejo, implica necessariamente tratar a doença que surgiu da infeliz confluência, no Brasil, dos três fatores históricos que exerceram um efeito negativo sobre a imaginação criadora: a violência traumática da ditadura, o proxenetismo do neoliberalismo e a ativação de uma antropofagia de base. Essa confluência claramente exacerbou o rebaixamento da capacidade crítica e a identificação servil com o novo regime. [...]. Trechos extraídos do ensaio A geopolítica do proxenetismo (Transversal, 2006), da filósofa, escritora, psicanalista e professora Suely Rolnik, autora do ensaio A memória contagiosa do corpo: O retorno de Lygia Clark ao museu (Transversal, 2007), no qual ela expressa: [...] A força poética é uma das vozes na polifonia paradoxal através da qual se delineiam os devires heterogêneos e imprevisíveis da vida pública. Esses devires se reinventam continuamente para libertar a vida dos impasses que se acumulam nas zonas infecciosas onde o presente se torna insuportável. Os artistas têm um ouvido apurado para os sons inarticulados que nos chegam do indizível, nos pontos onde a cartografia dominante se desfaz. Sua poesia é a encarnação de tais sons, que então podem ser ouvidos entre nós. [...]. Veja mais aqui e aqui.

 

O LADO FATAL – No livro Lado fatal (Record, 2011) da escritora e tradutora gaúcha Lya Luft, encontrei dois entre os belíssimos poemas da obra. O primeiro deles o III: Aquele de quem hoje falam e escrevem / (ou aos poucos vão-se esquecendo) / é muito menos do que este, deitado em meu coração, / meu amante e meu menino ainda. E também o XIV: Estranha a vida: / fico tangendo meus dias / como um rebanho de ovelhas desordenadas / nessa triste e fria cidade de Porto Alegre / onde ele gostava de estar / olhando o pôr-do-sol e vendo amigos. / "Morrer é tomar um porre de não-desejo" / dizia o meu amado, que era um homem desejoso: / desejava a vida, desejava a morte, desejava / [a justiça, desejava a eternidade e a paz. / Estranha a vida: / quando releio uma frase sua, / "viver é modular a morte", / em sangue e dor preparo a minha ida. / Estranho também esse amor, / com hora marcada para a mutilação / da morte, o minuto acertado, / e o fim consultando o relógio / para nos golpear. / Estranho esse amor de agora, / com meu amado atrás de um espelho baço / onde às vezes penso divisar seu vulto / como num aquário. / Enrolado em silêncio, / mais que nunca o meu amor comanda a minha vida. Veja mais aqui, aqui, aqui, aquiaqui, aqui e aqui.

Imagem sem título da artista visual colombiana Débora Arango (1907-2005). Veja mais aqui, aquiaqui.

Ouvindo o álbum Glad Rag Dol (Verve, 2012) da cantora e pianista canadense de jazz Diana Krall. Veja mais aqui, aqui & aqui.

AFRODITE: O JULGAMENTO DE PÁRIS – Imagem: Julgamento de Páris – Afrodite acompanhada de Eros, Atena e Hera (1904), do pintor espanhol Enrique Simonet (1866-1927) - Afrodite é a deusa grega do amor, da beleza e da sexualidade, contando ainda com atributos como a da fertilizada, do prazer e da alegria. Em Roma ela é representada pela deusa Vênus, além de receber outros nomes como Cytherea ou Cypris na atinguidade. O Julgamento de Páris, conforme relatos da Ilíada de Homero e Heróides de Ovídio, é o prelúdio da Guerra de Troia, é um mito que surgiu no sec. VII aC., descrito por Pausânias, indicando o aparecimento inesperado da deusa da discórdia Eris, com uma maçã de ouro do Jardim das Hespérides, desafiando a mais bela. Tal fato gerou um requerimento de Afrodite, Atena e Hera a Zeus para julgar qual delas era a mais merecedora da tal maçã. Zeus, por sua vez, livrando-se de tal empreitada, repassa para o pastor-príncipe mortal de Troia, Páris para fazê-lo. Assim foi, sobre o Monte Ida, ele começou a inspeção quando cada uma usa seus poderes para suborná-lo. Entre as ofertas, Páris aceita o presente de Afrodite: desposar Helena de Esparta, esposa do rei grego Menelau e este, por sua, condecora a deusa com a maçã. Tal fato proporciona a revolta dos gregos e de Hera, dando inicio às expedições que redundam na Guerra de Troia. Veja mais sobre Afrodite & suas servas aqui, aquiaqui, aqui, aqui e aqui.


OS FATOS E O INSETO DE MAGNÓLIA – O premiado livro Magnólia: 100 fatos e um voo de inseto (Bertrand Brasil, 2005 – Prêmio Jabuti de 2006) da filósofa, escritora, professora universitária e artista plástica gaúcha Marcia Tiburi, é o primeiro volume da Trilogia Íntima da autora, do qual destaco o trecho Escuridão: Podemos empilhar o mundo no chão e tirar-lhe o pó de anos. Ora, não podemos saber se o pó é de anos, semanas, dias; não é possível interpretar os sinais; o a priori das conclusões sempre vem cheio de empáfia; por azar sempre existem cartas remetendo o tempo em letras. E preciso parar para ver. Ou esquecer de vez, mas é impossível quando não houve lembrança. É das cartas que vem toda a dúvida sobre conhecer a si mesmo. Eu, porém, não tenho mais nenhuma dúvida, ainda que existam cartas, e, como estas, tão incógnitas. Veja mais aqui, aquiaqui.


ODISSEIA CACILDAS! – Em uma tetralogia denominada Odisseia Calcildas, o dramaturgo e ator José Celso Martinez Corrêa homenageia os trinta anos de carreira de um dos maiores mitos dos palcos brasileiros e considerada a mãe do teatro moderno brasileiro, a atriz paulista Cacilda Becker (1921-1969), que encenou cerca de sessenta e oito peças teatrais, três filmes e uma telenovela, afora participações em teleteatros televisivos. Essa tragicomediaorgya é a primeira das quatro peças que foi desenvolvida com a bolsa de dramaturgia Oswald de Andrade da SEC/SP, em 1990, e ganhadora do prêmio Flávio Rangel de melhor peça teatral e peça do ano pela crítica especializada, durante a temporada que ficou no Teatro Oficina, além de ganhar os prêmios Shell, Mambembe, Apetesp e da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). A homenageada era responsável por provocar paixões avassaladoras que transitaram entre os seus três casamentos, o último deles com o saudoso ator Walmor Chagas (1930-2013). Em 2009, a tetralogia Odisseia Calcildas foi apresentada como um festival no Teatro Oficina Uzyna Uzona, sendo a personagem interpretada pela atriz Anna Guilhermina (foto acima). Veja mais aqui, aquiaqui e aqui.

TROIS COULEURS: BLANC – O drama Trois Couleurs: Blanc (A igualdade é branca, 1994) é o segundo filme da Trilogia das Cores do cineasta polonês Krzysztof Kieslowski (1941-1996), conta a história do emigrante polaco Karol Karol que vive na França e é casado com uma francesa que quer separar-se dele pela não consumação do matrimônio. Humilhado, mas ainda amando-a, o marido acaba por mendigar no metrô parisiense até encontrar um outro polaco que o leva de volta à terra natal. Ao retornar ele retoma o trabalho de cabeleireiro até se envolver em diversos fatos que o levam fazer fortuna na Polônia, tramando uma vingança contra sua ex-esposa. Destaque para o papel desempenhado pela atriz, cantora, compositora e diretora de cinema francesa Julie Delpys no filme. Veja mais aqui, aqui, aqui, aquiaqui.



HOMENAGEM DO DIA
JEANNE HÉBUTERNE
Todo dia é dia da pintora francesa Jeanne Hébuterne (1898-1920), a eterna musa do artista plástico e escultor italiano Amedeo Modigliani (1884-1920). Veja mais aqui, aquiaqui e aqui.


Veja mais sobre:
O Brasil na festa do Fecamepa, a música de Marlos Nobre, a literatura de Anna Bolecka, a arte de Adriana Varejão & Sophia Monte Alegre aqui.

E mais:
Numa roda de choro, Chorinho brejeiro de Dalton Trevisan, Almanaque do choro de André Diniz da Silva, a música d’O Charme do Choro, a pintura de Marina Bonifatti & Sérgio Marques da Silva Júnior aqui.
O jacaré & a princesa, Catxerê, a mulher estrela, a Metafísica de Immanuel Kant, Lolita de Vladimir Nabokov, a música de Bach & Yehudi Menuhin, o teatro de Thomas Stearns Eliot, o cinema de Éric Rohmer, a arte de Mae West. a pintura de Paul Sieffert, Domingo com Poesia & Natanael Lima Júnior aqui.
Aurora nascente de Jacob Boehme, a Teoria Quântica de Max Planck, o teatro de William Shakespeare, a música de Pixinguinha, o cinema de Michael Moore, a pintura de Marcel René Herrfeldt, a arte de Brigitte Bardot & a Biopoesia de Silvia Mota aqui.
Educação & direito ambiental porque todo dia é dia da terra aqui.
Eu & ela naquela noite todas as noites aqui.
O evangelho de José Saramago aqui.
Günther Jakobs & o direito penal do inimigo e do cidadão aqui.
Educação Infantil, a psicologia de Abraham Maslow, a música de Sergei Rachmaninoff, a poesia de Nauro Machado, a pintura de Edgar Leeteg, A pesca das mulheres, a arte de Luz del Fuego & Lucélia Santos aqui.
O teatro de William Shakespeare, a literatura de Émile Zola & Hans Christian Andersen, Casanova de Fellini, a música de Emmylou Harris, a escultura de Harriet Hosmer, a Rainha Zenóbia, a pintura de Max Ernst & Contos de Magreb aqui.
Até onde o amor levar, Sidarta Gautama, o teatro de Constantin Stanislavski, a música de Maria Rita, a escultura de Carlos Baez Barrueto, a pintura de Clare Rose, Luciah Lopez & a poesia de Ieda Estergilda de Abreu aqui.
Da vida, meio a meio, O suicídio de Karl Marx, a poesia de Mário Quintana, a música de Girolamo Frescobaldi & Jody Pou, A estrutura do todo de Andras Angyal, a fotografia de Mário Cravo Neto, a pintura de Mario Zanini & Arna Baartz aqui.
O poema nasce na solidão, a poesia de Adélia Prado, a psicanálise de Carl Gustav Jung, a psicologia educacional de David Ausubel, a arte de Salvador Dali & Cristiana Reali, a música de Cynthia Makris, a pintura de Catherine Abel & Luciah Lopez aqui.
Andejo da noite e do dia, O caminho interior de Graf Dürckheim, A cultura da educação de Jerome Bruner, a poesia de Giuseppe Ungaretti, a música Ricardo Tacuchian, a fotografia de Ana Carolina Fernandes, a coreografia de Célia Gouvêa, a pintura de Tess Gubrin & Kerry Lee aqui.
Nunca fui e quando inventei de ir não era pra ter ido, A pedagogia do sonho de Paulo Freire, O narratário de Vitor Manuel de Aguiar e Silva, a literatura de Tessa Bridal, a música de Quinteto Violado & Dominguinhos, a escultura de Pedro Figueiredo, a arte de Marcela Tiboni & a pintura de Victoria Selbach aqui.
Lasciva da Ginofagia aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
História da mulher: da antiguidade ao século XXI aqui.
Palestras: Psicologia, Direito & Educação aqui.
A croniqueta de antemão aqui.
Fecamepa aqui e aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Veja mais aquiaqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja os vídeos aqui & mais aqui e aqui.


TUNGA, ALICE WALKER, JOHAN ROCKSTRÖM, ÅSNE SEIERSTAD & SETÍGONO

  Ao som do álbum Pacífico (YB Music, 2022), da flautista, clarinetista, arranjadora e compositora, Aline Gonçalves , que é bacharel em fla...