quinta-feira, abril 30, 2015

LORCA, ELLINGTON, TRIER, PARCERO, GÊNESE AFRICANO, GALHARDO, MEIMEI CORRÊA, RÔ LOPES & TERRA DAS CABRAS.


COMO VEIO A PRIMEIRA CHUVA – Na reunião de histórias denominadas O gênese africano (Cultrix, 1962), encontrei a lenda Como veio a primeira chuva: Uma vez, há muito tempo, nasceu uma filha a Obassi Osaw e um filho a Obasi Nsi. Quando ambos chegaram à idade de casar, Nsi mandou uma mensagem e disse: - Troquemos os filhos. Eu te mandarei meu filho para que despose uma das tuas jovbens e tu manda-me tua filha para que seja minha mulher. Obasi Osaw aceitou. Assim o filho de Nsi foi para o céu, levando consigo muitos e belos presentes e Ara, a jovem do céu, veio ficar cá embaixo, na terra. Com ela viera sete escravos e sete escravas, que o pai lhe deu, para que trabalhassem para ela, e assim ela não fosse obrigada a fazer nada. Um dia, de manhã cedo, Obasse Nsi disse à nova esposa: - Vai trabalhar na minha fazenda! Ela respondeu: - Meu pai deu-me os escravos para trabalharem por mim. Por isso manda-os a eles. Obassi Nsi se irritou e disse: - Não ouviste eu dar-te as minhas ordens? Tu mesma tens de trabalhar na minha fazenda. Quanto aos escravos, eu lhes direi o que eles têm de fazer. A moça foi, se bem que de má vontade e quando voltou à noite, mal se aguentando em pé, Nsi disse-lhe: - Vai imediatamente ao rio e traz água para todos. Ela respondeu: - O trabalho na fazenda me deixou exausta. Os meus escravos não poderão, pelo menos, fazer isso, enquanto eu descanso? Nsi recusou novamente e a empurrou para fora e ela andou muitas vezes de um lado para outro com as bilhas pesadas. Quando caiu a noite, não tinha ainda acabado. Na manhã seguinte, Nsi mandou-a fazer serviços ainda mais humildes e durante o dia inteiro a fez trabalhar, cozinhar, ir buscar água, acender o fogo. Também naquela noite ela estava cansadíssima, quando finalmente pôde dormir. Na madrugada do terceiro dia, Nsi disse-lhe: - Vai cortar lenha e traz-me um feixe grande. – Ora, a moça era hovem e não estava acostumada a trabalhar, por isso, enquanto caminhava chorava e chorava ainda quentes lágrimas, quando voltou com o seu pesado fardo. Apenas Nsi a viu entrar chorando, a chamou: - Vem aqui e deita-te a meus pés... Quero envergonhar-te na presença de toda a minha gente... Então a moça chorou ainda mais amargamente. Não lhe deram de comer até ao meio-dia do dia seguinte e mesmo então não lhe deram o bastante. Quando ela acabou de comer, Nsi lhe disse: - Vai e traz-me um grande punhado de erva para estontear os peixes. A moça foi para o bosque a procurar a planta, mas quando entrava na mata, um espinho lhe entrou no pé. E ela ficou caída por terra, sozinha. Durante todo o dia ali ficou sofrendo, mas depois do pôr do sol começou a sentir-se melhor. Levantou-se e conseguiu arrastar-se, coxeando, até casa. [...] Dali a pouco um dos escravos desceu até ao rio. Perguntou-lhe: - Mandaram-te esta madrugada buscar água. Por que não voltaste para casa? A jovem respondeu: - Não voltarei. [...] Pôs-se então, a procurar a estrada por onde Obassi Osaw a mandara para a terra. Chegou a uma árvore muito alte e viu que dela pendia uma longa corda. Disse para si mesma: “É esta a estrada por onde meu pai me mandou”. Agarrou a corda e começou a trepar nela. Não chegara ainda à metade do caminho e já se sentia muito cansada e seus suspiros e suas lágrimas subiam até ao reino de Obassi Osaw. Parou a meio do caminho e descansou um pouco. Depois recomeçou a subir.Depois de muito tempo, chegou ao cimo da corda e encontrou-se nos limites do país de seu pai. Chorando sempre, sentou-se aqui, quase morta de cansaço. [...] Obasse ouviu, mas não podia crer, contudo disse: - Toma dez escravos e, se por acaso, como dizes, encontrares minha filha, trá-la para casa. [...] Quando os membros da associação Angbu deceparam as orelhas do filho de Obassi Nsi, levaram-nas a Obassi Osaw e abandonaram o rapaz na estrada que conduz à terra, como fora condenado. [...] O rapaz avançava, meio cego pela chuva e, enquanto caminhava, pensava: “Obasi Isaw pode fazer-me o que quiser. Até agora nunca fez nada de mal. Somente por culpa da crueldade do meu pai, tenho de suportar tudo isto”. Assim as suas lágrimas se juntaram às de Ara e caíram sobre a terra, sob a forma de chuva. Até aquele momento nunca, sobre a terra, havia caído chuva. Caiu a primeira vez, quando Obassi Osaw fez desencadear aquele vento forte que arrastou o filho do seu inimigo. Veja mais aqui.

Imagem: Cartografia íntima, nº 35, da artista visual mexicana Tatiana Parcero.

Ouvindo no Dia Internacional do Jazz o álbum Such Sweet Thunder (Columbia/Legado, 1957), do compositor, pianista de jazz e líder de orquestra estadunidense Duke Ellington – The Duke (1899-1974), inspirado na obra de William Shakespeare.

O VOO DA MULHER & MULHERES NO MUNDO – o Dia Internacional da Mulher é comemorado no dia 08 de março; o Dia Nacional da Mulher é comemorado hoje, todo dia 30 de abril. Para mim, já há alguns anos, adotei o pensamento e ação de que, no final das contas, não são apenas dois dias para se comemorar a trajetória da mulher na história da humanidade e, sim, advogo a ideia de que Todo dia é dia da mulher. E assim faço, afinal, todo dia é dia de reconhecer a importância da mulher na construção da humanidade. E aproveito o ensejo dessa data comemorativa para, ao mesmo tempo, homenagear a todas as mulheres de forma ampla e generalizada e, por tabela, dedicar este espaço, também, ao reconhecimento do trabalho determinado, da dedicação, da parceria, da persistência e perseverança, da comunhão de sonhos e desejos desempenhados pela querida Meimei Corrêa ao longo dos últimos anos, seja na convivência diária, nas campanhas e promoções, no trabalho desenvolvido na programação do Projeto MCLAM, na atualização do seu sensacional Baú de Ilusões – o amor leva à vida, com a sua disposição em divulgar novos e consagrados talentos e em difundir além da arte, o amor e a valorização do ser humano. Aqui a minha homenagem e minha eterna gratidão. Veja mais aquiaquiaqui e aqui.

TERRA DOS ADORADORES DE CABRAS – No Dicionário de lugares imaginários (Tinta-da-China, 2013), do historiador e escritor italiano Gianni Guadalupi (1943-2007) e do escritor argentino Alberto Manguel, trata de lugares tais como O País das Maravilhas, de Lewis Carrol e a Eudoxia, de Ítalo Calvino, tornando-se uma pequena enciclopédia de cidades, reinos e referencias geográficas que só existem na imaginação. Nela encontrei a Terra dos adoradores de cabras, a qual trata de uma: vasta planície delimitada por uma cordilheira de montanhas no sudeste da Rússia. É parcialmente coberta de pinhais e de cabanas primitivas feitas de ramos e juncos, algumas agrupadas em aldeias rudimentares, outras disseminadas entre os pinheiros. O único mobiliário das cabanas são esteiras de juncos. Os Adoradores de Cabras são primitivos e vestem‑se com peles de cabra. No entanto, usam lanças com pontas de ferro e machados de metal, que sugerem ter estado em contacto com raças mais sofisticadas. São afáveis e hospitaleiros, sempre dispostos a partilhar com os visitantes a sua parca dieta de leite, carne seca e queijo. Quando chegam desconhecidos, os chefes de família tiram à sorte com seixos pretos e brancos. Aqueles que tiram seixos pretos do toucado do chefe dão aos desconhecidos uma cabra que lhes fornecerá leite e mandarão as mulheres dormir com eles. Recusar esse favor é um insulto grave e tanto as mulheres como os maridos ficarão profundamente ofendidos. Se os visitantes permanecerem durante um período longo, outras mulheres casadas substituirão as primeiras. A língua dos Adoradores de Cabras é áspera e gutural, semelhante ao coaxar das rãs. A felicidade manifesta‑se emitindo gritos e uivos penetrantes e são usados gritos semelhantes para expressar encorajamento e gratidão. Quando os desconhecidos levam as mulheres para as cabanas, os homens reúnem‑se no exterior e emitem brados de encorajamento e de felicidade. Como resposta a uma manifestação de gratidão, cospem no rosto do seu interlocutor reconhecido e depois limpam‑lhe a cara com as barbas. De vez em quando, os Adoradores de Cabras desfilam até à floresta, conduzidos por homens armados e seguidos de quatro mulheres que levam ao colo filhos pequenos. As crianças são coroadas com folhas. Depois, pintam‑lhes os corpos e esventram‑nas ritualmente em frente de um grande carneiro, enquanto o povo observa, ajoelhado com devoção. Veja mais aqui.

A CASA DE BERNARDA ALBA – O drama de três atos A casa de Bernarda Alba (1936), que juntamente com os textos Bodas de Sangue (1933) e Yerma (1934), é a terceira peça teatral da trilogia de dramas folclóricos do escritor e dramaturgo espanhol Federico Garcia Lorca (1898-1936). A peça se passa no interior da casa da matriarca dominadora com suas cinco filhas em um povoado no interior da Espanha, sob pesado luto de oito anos, submetendo-se a todos à reclusão de janelas fechadas. Dela destaco o trecho do segundo ato: (A Criada limpa. Soam os sinos.) CRIADA (Elevando o canto.) – Blim, blim, blão. Blim, blim, blão. Que Deus lhe tenha perdoado! MENDIGA (Com uma meninazinha.) – Louvado seja Deus! CRIADA Blim, blim, blão. Que espere por nós muitos anos! Blim, blim, blão. MENDIGA (Forte e com certa irritação.) – Louvada seja Deus! CRIADA (Irritada.) – Para sempre! MENDIGA Venho para levar as sobras. (Cessam os sinos.) CRIADA Pois podes ir. As de hoje são para mim. MENDIGA Tu tens quem ganhe para dar-te, mulher. Eu e minha filha estamos sós! CRIADA Também os cães estão sós, e vivem. MENDIGA Sempre me dão as sobras. CRIADA Fora daqui! Quem lhes disse que entrassem? Já me deixaram as marcas dos pés no chão. (Vão-se. Põe-se a limpar.) Chão polido com azeite, armários, pedestais, camas de ferro, para que bebamos fel as que como nós vivemos em choupanas, com um prato e uma colher. Espero em Deus que nem um só de nós fique para semente. (Voltam a soar os sinos.) – Sim, sim, venham clamores! Venha o caixão com fios dourados e coberto com enfeites de luto para o levar! Como estás agora, estarei eu um dia! Amofina-te, Antônio Maria Benavides, esticado na tua roupa nova, com as tuas botas perfeitas! Amofina-te! Já não voltarás a me levantar as saias atrás da porta do curral! (Pelo fundo, de duas em duas, começam a entrar Mulheres de Luto, com grandes lenços, vestidos de cauda e leques pretos. Entram lentamente até encher a cena. A Criada rompe os gritos.) – Ai! Antônio Maria Benavides, que já não verás estas paredes, nem comerás o pão desta casa! Fui a que mais te quis bem entre aquelas que te serviram. (Desgrenhando-se.) – E hei de viver depois de teres partido? Hei de viver? (Acabam de entrar as duzentas Mulheres e aparecem Bernarda e suas cinco Filhas.) BERNARDA (Para a Criada.) – Silêncio! CRIADA (Chorando.) – Bernarda! BERNARDA Menos gritos e mais obras. Devias ter procurado limpar mais tudo isto para receber o cortejo. Vai-te. Não é este o teu lugar. (A Criada se vai chorando.) – Os pobres são como os animais; parecem feitos de outras substâncias. 1 ª MULHER Os pobres também têm seus sofrimentos. BERNARDA Mas logo esquecem diante de um prato de grãos-de-bico. MOÇA (Com timidez.) – Comer é preciso para viver. BERNARDA Na tua idade não se fala diante das pessoas mais velhas 1 ª MULHER Cala-te, menina. BERNARDA Nunca deixei que ninguém me desse lições. Sentem-se. (Sentam-se. Pausa. Forte.) – Não chores. Madalena. Se queres chorar, vai para debaixo da cama. Ouviste? 2 ª MULHER (A Bernarda.) – Já iniciaste os trabalhos na eira? BERNARDA Ontem. 3 ª MULHER O sol está que nem chumbo. 1 ª MULHER Faz anos não sinto um calor igual. (Pausa. Todas se abanam) [...].Veja mais aqui e aqui.

PÉTALAS DO SILÊNCIO - A poeta, advogada e administradora pública e de empresas – especializada em Administração Pública, Rosângela Lopes Bezerra – ou simplesmente Rô Lopes, é também especialista em direito civil, processual civil, direito eleitoral e direito do consumidor. Ela é membro da Academia Itapirense de Letras e Artes (AILA), tem textos publicados na antologia Alimento da Alma e reúne seus trabalhos literários no Recanto das Letras e no blog Art Pop. Entre seus versos, destaco inicialmente Pétalas do silêncio: Como o despetalar das flores ao vento / As horas passam lentas... Silenciosas... / Meu quarto – um mundo! / Um céu de estrelas / espargindo luz cor de rosa / As plumas se perderam na imensidão / As brumas emudeceram / O sol tornou-se frio de repente / A lua se escondeu na nuvem de algodão / Os vaga-lumes comandam a noite / Tem espasmos de prata no chão / Há um lago onde os cisnes repousam / Dentro do meu céu! / Eu na cama entre cetim rubro / Exalo perfume como rosas ao léu / Os pássaros não cantam... Dormitam / A volúpia tomou conta do ambiente / um vulto surge na penumbra / Silhueta misteriosa que mal conheço / Aconchego-me na brisa carinhosa / a espera do beijo desejado / O silêncio cada vez mais lento / Nem ouço meu respirar... / Foi ele quem chegou... / Faceiro... / Como flocos de neve / A me beijar./ Eu... Uma chama viva / Uma felina... Com jeito de menina / Serpenteando como quem fascina / Começamos a delirar... / Silêncio! / Deixe nosso corpo expressar... / Ah! Também o seu Divagando Ternura merece destaque: Elevei meus olhos / Que divagaram pelo infinito / Tentando inspirar de / Uma única vez / Toda ternura das estrelas / Fui tocada por sublime / Brisa com perfume de / Alecrim / E envolta no clarão da lua / Entreguei-me ao momento / Que eternizou em / Minutos sem fim / Tão amada senti... / Que a solidão que / Tanto atormenta / Junto ao pássaro / Do amor que acalenta / Desfrutou deste / Carinho junto a mim. Por fim, o seu Vem: Eu / Solto / O grito / O desejo / Conquista-me / Aperta-me entre lábios / Beija-me com tuas mãos / Saboreia-me com os olhos / Ama-me com o pensamento / Possui-me com o teu corpo! / Ansiosa espera esta menina por ti / Ela precisa se sentir mulher... Espero... / Vem! Veja mais aqui e aqui.

DOGVILLE – O filme Dogville (2003), escrito e dirigido pelo cineasta dinamarquês Lars von Trier, faz parte da trilogia EUA Terra de Oportunidades, com sequencia Manderlay e Washington. Dividido em dez partes por um prólogo e nove capítulos, desenvolve sua trama em pequena cidade estadunidense Dogville, na época da grande depressão, contando a história de um escritor que protela a escrita do seu livro, passar a pregar sermões sobre o rearmamento moral, quando conhece a bela jovem Grace que é fugitiva de gangsters. Surge então um romance escondido entre ambos, até que a polícia aparece com cartazes com o retrato dela como procurada. A população não a entrega, mas passa a escravizá-la, retratando pessoas cruéis, egoístas, mesquinhas e arrogantes. Destaque para o papel desempenhado pela premiada e belíssima atriz e produtora de cinema australiana Nicole Kidman. Veja mais aqui e aqui.


IMAGEM DO DIA
Sex-shop (2003), do cartunista Caco Galhardo.


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Fonte, Mal-estar na civilização de Sigmund Freud, O jardineiro do amor de Rabindranath Tagore, O homem que calculava de Malba Tahan, Escritos loucos de Antonin Artaud, Amem de Costa-Gavras, a música de Fátima Guedes, a pintura de Vincent van Gogh, Cia de Dança Lia Rodrigues & Brincarte do Nitolino aqui.
Mulheres de Charles Bukowski, a poesia de Konstantínos Kaváfis, O entendimento humano de David Hume, O sentido e a máscara de Gerd Bornheim, a literatura de Gonzalo Torrente Ballester, a música de Brahms & Viktoria Mullova, o cinema de Imanol Uribe, a pintura de Monica Fernandez, Academia Palmarense de Letras (APLE), Velta & Emir Ribeiro aqui.
A paixão avassaladora quando ela é a terrina do amor & a pintura de Julio Pomar aqui.
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A lenda do açúcar e do álcool, História da Filosofia de Wil Durant, Educação não é privilégio de Anísio Teixeira, Não há estrelas no céu de r João Clímaco Bezerra, a música de Yasushi Akutagawa, a pintura de Madison Moore, o teatro da lenda da Cumade Fulôsinha & o espetáculo de dança Bem vinda Maria Flor aqui.
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