quinta-feira, abril 16, 2015

HELEN DUNMORE, MILEVA MARIĆ, TZARA, ANATOLE FRANCE & LITERÓTICA

 


LITERÓTICA: ELA, A HIDRA DE LERNA... – (Imagem: art by Marina Fedorova) - Ela fora criada por Hera para me aniquilar. E quando menos esperava ela emergiu da Teogonia de Hesíodo pronta para cumprir seu intento. Ao vê-la sobre as águas profundas do pântano de Lerna, pousou seu olhar faminto e enfurecido sobre mim e de lá vinha em minha direção, com seu rebolado magistral do Peloponeso, pronta para me destruir. A guardiã da entrada do Tártaro achegou-se como uma deusa alada, cheirando-me para que sentisse de perto a quentura do seu hálito enfeitiçante, o seu cheiro envolvente e a sua poderosa feição invencível. Envolveu-me corpo a corpo, seus músculos nos meus, sua ousadia invadindo minhas fraquezas, seu fraquejamento diante da minha aceitação. Dentro de mim ela revolvia meus segredos profundos, meus defeitos agregados, eliminando-os cada um deles ao me afogar em seu refúgio corporal afogueado. Ensinou-me os mistérios de Dioniso e Deméter e me fez deus diante dos seus olhos faiscantes e devoradores. Fez-se então serpente para se enroscar em meu sexo, a abocanhá-lo como uma dragoa faminta, a me lambuzar com o sobejo de seu veneno, lambendo a minha pele, purificando-me e ao me liberar das minhas próprias amarras, regenerava-se a cada estocada derramando seu sangue em meu pênis, a queimá-lo para mantê-lo cada vez mais enrijecido. Invadi a sua fortaleza e suas defesas redobradas resistiam com a minha penetração vencendo-a inescapável. Ela mais se agigantava poderosa, fazendo-me refém de sua sanha avassaladora. Os seus gozos enfim me enveneneram para que eu sucumbisse sobre seu corpo nu boiando no poço de Amymone. Foi no ápice de seu orgasmo esplêndido que ela se dissolveu cauterizada a me deixar espalmado na constelação de câncer sobre o verão boreal. Veja mais aqui & aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Em um mundo sem ar, tudo o que você respira é aventura!... Somos criaturas de histórias... O anseio humano por histórias é tão poderoso, tão primitivo, que parece algo não aprendido, mas sim enraizado em nossos genes... Como indivíduos, somos moldados pela história desde o momento do nascimento; somos formados pelo que nos é contado por nossos pais, professores e pessoas próximas... Uma vez que um hábito se desfaz, os outros o seguem. Você tem que se segurar, ou a próxima coisa que você vai fazer é se encontrar desfilando pela rua em sua camisola. Hábito é tudo... Releia, reescreva, releia, reescreva. Se ainda não funcionar, jogue fora. É uma sensação boa, e você não quer ficar abarrotado com os cadáveres de poemas e histórias que têm tudo dentro, exceto a vida de que precisam... Escrever poesia faz com que você fique intensamente consciente de como as palavras soam, tanto em voz alta quanto dentro da cabeça do leitor. Você aprende o peso das palavras e como elas soam ao ouvido... Pensamento da escritora britânica Helen Dunmore (1952-2017), autora da obra Ingo (HarperTrophy, 2006), na qual ela expressa: [...] Eu queria estar longe em Ingo Longe, através do mar salgado Navegando sobre as águas mais profundas Onde nem cuidado nem preocupação me incomodam. [...]. Na sua obra The Siege (Grove Press, 2002), ela escreve: […] Eles queriam a primavera, é claro que queriam, mais do que tudo. Eles ansiavam pelo sol com cada poro da pele. Mas a primavera dói. Se a primavera pode chegar, se as coisas podem ser diferentes, como você pode suportar o que sua existência tem sido? [...]. No seu livro House of Orphans (Fig Tree, 2006), ela expressa que: […] Você está preso em ambos os sentidos. Você faz o que lhe mandam e faz coisas que você acha que vão te fazer grande, mas o tempo todo você está encolhendo. [...]. Já no seu livro A Spell of Winter ( Penguin, 1996), ela expressa: […] Você tem que continuar com uma casa, dia após dia, eu acho. Aquecendo, limpando, abrindo e fechando janelas, fazendo sons para preencher o silêncio, cozinhando e lavando, lavando e polindo. Assim que você para, pode muito bem nunca ter havido vida alguma. Uma casa morre tão rápido quanto um corpo [...]. Por fim, no seu livro The Deep (HarperCollins, 2009), ela escreve: […] Cicatrizes não importam, pequena. Elas são as marcas das batalhas que vencemos. [...].

 

ALGUÉM FALOU: Todos nós damos desculpas para nós mesmos. E deveríamos ser bons o suficiente para fazê-las para os outros... Pensamento da física e matemática sérvia Mileva Marić (Милева Марић – 1875-1948), que foi a primeira esposa de Einstein: Por tudo que conquistei na minha vida, devo agradecer a Mileva. Ela é minha inspiradora genial, minha protetora contra as dificuldades da vida e da ciência. Sem ela, meu trabalho nunca teria sido iniciado nem terminado.

 

DAMAIANTI – O Maabárata é a epopeia antiga da Índia. Conta, em 32 mil versos de 19 pés, a História da Guerra dos Bárata. É atribuído a um poeta lendário de nome Krishna Dvapayana Vyasa. Nalá e Damaianti, uma das belas histórias da literatura indiana, foi contada a Iudichtira por um asceta da floresta, que tentava consolá-lo de suas desventuras provocadas pelo jogo dos dados: [...] No país dos vidarbas reinava um rei magnânimo, chamado Bima. Esse rei tinha uma filha, Damaianti, que era a mais bela entre todas as virgens. Seu rosto era mais gracioso que o gentil astro da noite, e seus olhos tornavam ridículos os poetas que enalteciam o encanto do lótus. Sua tez era pura como o ouro, seus longos cabelos afloravam a terra; seus seios delicados dir-se-iam taças vivas e dos seus lábios, de fácil sorriso, brotava uma voz que parecia sempre cantar. Bima adorava-a e dera-lhe por criadas as mais formosas jovens do país. Mas entre elas Damaianti brilhava como o relâmpago refulge nas nuvens obscurecidas. Para sentir a alma inundada de alegria bastava contemplá-la, e os viajantes que tivessem atravessado o país dos vidarbas celebravam a beleza de Damaianti por todo o mundo. Aproximava-se a época em que ela deveria escolher um marido. Amiúde perdia-se em cismares, e, enquanto as aias a vestiam e paramentavam, quase nenhuma atenção dava a suas pequenas tagarelices. Quantas vezes já tinham repetido diante dela: - Nalá é o mais belo dos reis. Quantas vezes já tinham repetido diante de Nalá: - Damaianti é a mais bela das princesas. Nalá pensava muitas vezes em Damaianti. Já não tinha prazer nas salas do seu palácio, escutava com impaciência os razoados de seus conselheiros; mal trocava algumas palavras com os emissários dos reis vizinhos. Buscava a solidão. Escondia-se no fundo de seus jardins e estirava-se sobre a relva florida à sombra das árvores copadas, de leve  fragrância. Semicerrava os olhos, e, entre o tênue rendilhado de luz e sombra, figurava vislumbrar uma aparição sutil e exclamava: - É ela, é Damaianti! A bem-amada vem para mim. Então ela se desvanecia e Nalá se enchia de pesares. [...] Damaianti vivia no reino do seu pai. Tinha revisto os filhos, ria-se com ele. Mas, quando estava sozinha, chorava, lembrando-se de Nalá, o bem-amado. [...] Damaianti levantou-se contente. Um sol diáfano banha o quarto, e no jardim cantam, baixinho, os pássaros. Ouve, ao longe, os elefantes, e relincharem alegres os cavalos. Sobe para o terraço. O ar é suave, as flores são belas. No gramado, os pavões executam sua leve dança; nos graciosos tanques brincam os cisnes reais. A manhã é bela, e Damaianti está contente. Lá longe, na estrada cheia de claridade, ela percebe um carro luminoso. Aproxima-se, aproxima-se. Como vem rápido! Guia-o um homem vestido com um traje vermelho. Eis já o carro nas ruas da cidade. Ei-lo na frente da residência de Bima. O homem vestido de vermelho desce do carro. Entra na residência real; corre através das salas; sobe ao terraço. – Damaianti! Damaianti! E solta dos ombros a capa vermelha. – Nalá! Nalá! Meu bem-amado. E Nalá e Damaiante se estreitam num longo, longo abraço [...]. Veja mais aqui.

Imagem: Nude study (Etude de Femme nue - Study of naked Woman, 1872), do pintor do Romantismo francês Henri Fantin-Latour (1836-1904). Veja mais aqui & aqui.

Ouvindo Lavoro (1999), do compositor, escritor, jornalista e músico Edson Natale. Veja mais aqui & aqui.

OS DEUSES TÊM SEDE – A obra Os deuses têm sede (1844 - Boitempo Editorial, 2007) do escritor francês e Prêmio Nobel de 1921, Anatole France (1844-1924), narra a história da ascensão do jovem pintor parisiense Évariste Gamelin, a longa sucessão de processos diários promovidos pela lei de prairial que o leva à loucura e o seu dedicado amor por Élodie, descrevendo os anos sombrios do terror em Paris, entre os anos II e III. Da obra destaco o trecho: [...] Na Rue Honoré, o cocheiro bateu com seu bicorne em uma efígie burlesca de Marat, pendurada no lampião. O cocheiro, alegre por esse encontro, voltou–se para os burgueses e contou–lhes como, na noite anterior, o tripeiro da Rue Montorgueil sujara de sangue a cabeça de Marat, dizendo: "E disso que ele gostava"; contou ainda como meninos de dez anos tinham jogado o busto no esgoto e como convenientemente os cidadãos gritaram: "Eis o seu Panteão!". Entretanto, ouvia–se cantar em todos os restaurantes e bares: Povo francês, povo de irmãos!... Chegando ao Amor Pintor, Élodie disse, saltando do cabriole: – Adeus! Mas Desmahis suplicou carinhosamente e foi tão insistente com tanta doçura que ela não teve coragem de deixá–lo na porta. – É tarde; ficareis apenas por um instante. No quarto azul, ela tirou o casacão e apareceu em seu vestido branco à moda antiga, cheia e tépida em suas formas. – Talvez tendes frio – disse. – Vou acender a lareira: o fogo já está preparado. Com um toque, liberou uma faísca e pôs nas brasas de sua lareira um fósforo em chamas. Philippe tomou–a em seus braços com aquela delicadeza que revela a força, e ela sentiu uma doçura estranha. E, como já cedesse sob seus beijos, libertou–se: – Deixai–me. Soltou os cabelos lentamente na frente do espelho da lareira; depois, olhou, com melancolia, para o anel que tinha no dedo anular esquerdo, um pequeno anel de prata em que a imagem de Marat, já gasta, amassada, não se distinguia mais. Olhou–o até que as lágrimas turvaram sua visão, retirou–o calmamente e lançou–o nas chamas. Então, brilhando entre lágrimas e sorrisos, bela de ternura e de amor, jogou–se nos braços de Philippe. A noite já estava adiantada quando a cidadã Blaise abriu a porta do apartamento para seu amante e disse–lhe baixinho na sombra: – Adeus, meu amor... Essa é a hora em que meu pai pode chegar: se ouvires barulho na escada, sobe rápido ao andar superior e desce apenas quando não houver mais risco de que te vejam. Para que te abram a porta da rua, bate três vezes na janela da zeladora. Adeus, minha vida! Adeus, minha alma! As últimas brasas brilhavam na lareira. Élodie deixou cair sobre o travesseiro a cabeça feliz e cansada. Veja mais aqui, aqui, aquiaqui.

MANIFESTO DO DADAÍSMO – O poeta e ensaísta romeno Tristan Tzara (1896-1963), publicou o Manifesto Dadaísta em 1918. Eis um trecho do mesmo na tradução de Ivo Korytowski: [...] Escrevo um manifesto e nada quero, digo porém certas coisas e sou em princípio contra os manifestos, como sou também contra os princípios (decilitros para o valor moral de toda frase — comodidade demais; a aproximação foi inventada pelos impressionistas). Escrevo este manifesto para mostrar que é possível realizar ações contrárias ao mesmo tempo, em um só fôlego fresco; sou contra a ação; quanto à contínua contradição, quanto à afirmação também, não sou a favor nem contra e não me explico porque detesto o bom senso. DADÁ — eis uma palavra que oferece as ideias à caçada; cada burguês é um pequeno dramaturgo, inventa assuntos diferentes; em vez de colocar os personagens adequados no nível de sua própria inteligência, qual crisálidas em cadeiras, procura as causas ou os propósitos (seguindo o método psicanalítico que ele pratica) a fim de reforçar sua trama, uma história que fala e se define. Cada espectador é um enredador, se tenta explicar uma palavra (conhecer!). Do refúgio acolchoado das complicações serpentinas, é preciso manipular seus instintos. Daí as infelicidades da vida conjugal. Explicação: Divertimento dos barrigas-vermelhas nos moinhos de crânios vazios. DADÁ NÃO SIGNIFICA NADA [...] DADÁ é o sinal da abstração; a propaganda e os negócios são também elementos poéticos. Eu destruo as gavetas do cérebro e aquelas da organização social: desmoralizar por toda parte e jogar a mão do céu no inferno, os olhos do inferno no céu, restabelecer a roda fecunda de um circo individual nos poderes da realidade, e a fantasia de cada indivíduo. A questão é filosófica: de que ângulo começar a olhar a vida, deus, a idéia, ou seja lá o que for. Tudo que se olha é falso. Não considero o resultado relativo mais importante que escolher entre doces e cerejas na sobremesa. A maneira de olhar rápido o outro lado de uma coisa, para impor indiretamente sua opinião, se chama dialética, ou seja, decidir no cara-ou-coroa sob uma aparência de seriedade. Se eu grito: Ideal, ideal, ideal Conhecimento, conhecimento, conhecimento Bum-bum, Bum-bum, Bum-bum registrei com precisão o progresso, a lei, a moral e todas as outras belas qualidades que diversas pessoas bem inteligentes discutiram em tantos livros, para enfim dizer que, mesmo assim, cada um dançou segundo seu bum-bum pessoal, e que ele tem razão por seu bum-bum: satisfação da curiosidade doentia; repique de sinos privado por necessidades inexplicáveis; banho; dificuldades pecuniárias; estômago com repercussão sobre a vida; autoridade da batuta mística formulada como a peça final de uma orquestra fantasma de arcos mudos, lubrificados por filtros à base de amoníaco animal. ]...] Todo produto da aversão suscetível de se tornar uma negação da família é dadá; protesto com toda a sua força em ação destrutiva: DADÁ; conhecimento de todos os meios rejeitados até agora pelo sexo pudico do compromisso cômodo e da polidez: DADÁ; abolição da lógica, dança dos incapazes de criação: DADÁ; de toda hierarquia e equação social estabelecidas pelos valores por nossos criados: DADÁ; cada objeto, todos os objetos, os sentimentos e as obscuridades, as aparições e o choque preciso de linhas paralelas, são meios para o combate: DADÁ; abolição da memória: DADÁ; abolição da arqueologia: DADÁ; abolição dos profetas: DADÁ; abolição do futuro: DADÁ; crença absoluta indiscutível em cada deus produto imediato da espontaneidade: DADÁ; salto elegante e sem preconceito de uma harmonia para outra esfera; trajetória de uma palavra atirada como um disco sonoro grito; respeitar todas as individualidades na sua loucura do momento: séria, temerosa, tímida, ardente, vigorosa, decidida ou entusiasmada; despojar sua igreja de todos os acessórios inúteis e pesados; cuspir como uma cascata luminosa o pensamento desagradável ou amoroso, ou acalentá-lo — com a viva satisfação de que tudo é igual — com a mesma intensidade na moita, livre de insetos para o sangue bem-nascido, e dourado com corpos de arcanjos, com sua própria alma. Liberdade: DADÁ DADÁ DADÁ, alarido de dores crispadas, entrelaçamento dos contrários e de todas as contradições, dos grotescos, das inconsequências: A VIDA. Veja mais aqui, aquiaqui.

CLIPS: TONS & SONS – Além da nossa parceria no Projeto MCLAM e do seu trabalho de radialista, produtora cultural e poeta, a querida Meimei Corrêa tem desenvolvido um excelente trabalho na edição e produção de clipes musicais e poéticos. Ela já realizou trabalhos nessa área para a cantora Clara Redig, pro cantor e compositor Jucimar Siqueira – Mazinho, pro poeta Genésio Cavalcanti e suas parcerias musicais, entre outros tantos trabalhos. Eu mesmo fui agraciado por sua generosidade e talento, quando, entre outras tantas das suas façanhas meritórias da minha eterna gratidão, fui premiado por sua inspirada dedicação contemplando meus poemas e canções com sua arte. Veja detalhes aqui, aquiaqui e aqui.

O GRANDE DITADOR – O filme O grande ditador (The Great Dictator, 1940), do ator e cineasta inglês Charlie Chaplin (1889-1977), é uma comédia dramática e uma sátira crítica ao momento histórico que se desenvolvia no período em que foi criado. Nesse filme, o grande artista faz um discurso, o qual destaco aqui: Desculpem-me, mas eu não quero ser um Imperador, esse não é o meu objetivo. Eu não pretendo governar ou conquistar ninguém. Gostaria de ajudar a todos, se possível, judeus, gentios, negros, brancos. Todos nós queremos ajudar-nos uns aos outros, os seres humanos são assim. Todos nós queremos viver pela felicidade dos outros, não pela miséria alheia. Não queremos odiar e desprezar o outro. Neste mundo há espaço para todos e a terra é rica e pode prover para todos. O nosso modo de vida pode ser livre e belo. Mas nós estamos perdidos no caminho. A ganância envenenou a alma dos homens, e barricou o mundo com ódio; ela colocou-nos no caminho da miséria e do derramamento de sangue. Nós desenvolvemos a velocidade, mas sentimo-nos enclausurados: As máquinas que produzem abundância têm-nos deixado na penúria. O aumento dos nossos conhecimentos tornou-nos cépticos; a nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco: Mais do que máquinas, precisamos de humanidade; Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido. O avião e o rádio aproximaram-nos. A própria natureza destas invenções clama pela bondade do homem, um apelo à fraternidade universal, à união de todos nós. Mesmo agora a minha voz chega a milhões em todo o mundo, milhões de desesperados, homens, mulheres, crianças, vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Para aqueles que me podem ouvir eu digo: "Não se desesperem". A desgraça que está agora sobre nós não é senão a passagem da ganância, da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano: o ódio dos homens passará e os ditadores morrem e o poder que tiraram ao povo, irá retornar ao povo e enquanto os homens morrem [agora] a liberdade nunca perecerá… Soldados: não se entreguem aos brutos, homens que vos desprezam e vos escravizam, que arregimentam as vossas vidas, vos dizem o que fazer, o que pensar e o que sentir, que vos corroem, digerem, tratam como gado, como carne para canhão. Não se entreguem a esses homens artificiais, homens-máquina, com mentes e corações mecanizados. Vocês não são máquinas. Vocês não são gado. Vocês são Homens. Vocês têm o amor da humanidade nos vossos corações. Vocês não odeiam, apenas odeia quem não é amado. Apenas os não amados e não naturais. Soldados: não lutem pela escravidão, lutem pela liberdade. No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito: "O reino de Deus está dentro do homem" Não um homem, nem um grupo de homens, mas em todos os homens; em você, o povo. Vós, o povo tem o poder, o poder de criar máquinas, o poder de criar felicidade. Vós, o povo tem o poder de tornar a vida livre e bela, para fazer desta vida uma aventura maravilhosa. Então, em nome da democracia, vamos usar esse poder, vamos todos unir-nos. Lutemos por um mundo novo, um mundo bom que vai dar aos homens a oportunidade de trabalhar, que lhe dará o futuro, longevidade e segurança. É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder, mas eles mentem. Eles não cumprem as suas promessas, eles nunca o farão. Os ditadores libertam-se, porém escravizam o povo. Agora vamos lutar para cumprir essa promessa. Lutemos agora para libertar o mundo, para acabar com as barreiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à intolerância. Lutemos por um mundo de razão, um mundo onde a ciência e o progresso conduzam à felicidade de todos os homens. Soldados! Em nome da democracia, vamos todos unir-nos! Olha para cima! Olha para cima! As nuvens estão a dissipar-se, o sol está a romper. Estamos a sair das trevas para a luz. Estamos a entrar num novo mundo. Um novo tipo de mundo onde os homens vão subir acima do seu ódio e da sua brutalidade. A alma do homem ganhou asas e, finalmente, ele está a começar a voar. Ele está a voar para o arco-íris, para a luz da esperança, para o futuro, esse futuro glorioso que te pertence, que me pertence, que pertence a todos nós. Olha para cima! Olha para cima! Veja mais aqui, aqui, aquiaqui.

IMAGEM DO DIA
O Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.


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