LITERÓTICA:
ELA, A HIDRA DE LERNA... – (Imagem: art by Marina Fedorova) - Ela fora
criada por Hera para me aniquilar. E quando menos esperava ela emergiu da
Teogonia de Hesíodo pronta para cumprir seu intento. Ao vê-la sobre as águas
profundas do pântano de Lerna, pousou seu olhar faminto e enfurecido sobre mim
e de lá vinha em minha direção, com seu rebolado magistral do Peloponeso,
pronta para me destruir. A guardiã da entrada do Tártaro achegou-se como uma
deusa alada, cheirando-me para que sentisse de perto a quentura do seu hálito
enfeitiçante, o seu cheiro envolvente e a sua poderosa feição invencível. Envolveu-me
corpo a corpo, seus músculos nos meus, sua ousadia invadindo minhas fraquezas,
seu fraquejamento diante da minha aceitação. Dentro de mim ela revolvia meus segredos
profundos, meus defeitos agregados, eliminando-os cada um deles ao me afogar em
seu refúgio corporal afogueado. Ensinou-me os mistérios de Dioniso e Deméter e
me fez deus diante dos seus olhos faiscantes e devoradores. Fez-se então serpente
para se enroscar em meu sexo, a abocanhá-lo como uma dragoa faminta, a me
lambuzar com o sobejo de seu veneno, lambendo a minha pele, purificando-me e ao
me liberar das minhas próprias amarras, regenerava-se a cada estocada derramando
seu sangue em meu pênis, a queimá-lo para mantê-lo cada vez mais enrijecido. Invadi
a sua fortaleza e suas defesas redobradas resistiam com a minha penetração
vencendo-a inescapável. Ela mais se agigantava poderosa, fazendo-me refém de
sua sanha avassaladora. Os seus gozos enfim me enveneneram para que eu
sucumbisse sobre seu corpo nu boiando no poço de Amymone. Foi no ápice de seu
orgasmo esplêndido que ela se dissolveu cauterizada a me deixar espalmado na
constelação de câncer sobre o verão boreal. Veja mais aqui & aqui.
DITOS &
DESDITOS - Em um mundo sem ar, tudo o que você respira é aventura!... Somos
criaturas de histórias... O anseio humano por histórias é tão poderoso,
tão primitivo, que parece algo não aprendido, mas sim enraizado em nossos genes...
Como indivíduos, somos moldados pela história desde o momento do nascimento;
somos formados pelo que nos é contado por nossos pais, professores e pessoas
próximas... Uma vez que um hábito se desfaz, os outros o seguem. Você
tem que se segurar, ou a próxima coisa que você vai fazer é se encontrar
desfilando pela rua em sua camisola. Hábito é tudo... Releia, reescreva,
releia, reescreva. Se ainda não funcionar, jogue fora. É uma sensação boa, e
você não quer ficar abarrotado com os cadáveres de poemas e histórias que têm
tudo dentro, exceto a vida de que precisam... Escrever poesia faz com
que você fique intensamente consciente de como as palavras soam, tanto em voz
alta quanto dentro da cabeça do leitor. Você aprende o peso das palavras e como
elas soam ao ouvido... Pensamento da escritora britânica Helen Dunmore (1952-2017),
autora da obra Ingo (HarperTrophy, 2006), na qual ela expressa:
[...] Eu queria estar longe em Ingo Longe, através do mar salgado Navegando sobre
as águas mais profundas Onde nem cuidado nem preocupação me incomodam. [...]. Na
sua obra The Siege (Grove Press, 2002), ela escreve: […] Eles queriam a
primavera, é claro que queriam, mais do que tudo. Eles ansiavam pelo sol com
cada poro da pele. Mas a primavera dói. Se a primavera pode chegar, se as
coisas podem ser diferentes, como você pode suportar o que sua existência tem
sido? [...]. No
seu livro House of Orphans (Fig Tree, 2006), ela expressa que: […] Você está
preso em ambos os sentidos. Você faz o que lhe mandam e faz coisas que você
acha que vão te fazer grande, mas o tempo todo você está encolhendo. [...]. Já no
seu livro A Spell of Winter (
Penguin, 1996), ela expressa: […] Você tem que continuar com uma casa, dia
após dia, eu acho. Aquecendo, limpando, abrindo e fechando janelas, fazendo
sons para preencher o silêncio, cozinhando e lavando, lavando e polindo. Assim
que você para, pode muito bem nunca ter havido vida alguma. Uma casa morre tão
rápido quanto um corpo [...]. Por
fim, no seu livro The Deep (HarperCollins, 2009), ela escreve: […] Cicatrizes não
importam, pequena. Elas são as marcas das batalhas que vencemos. [...].
ALGUÉM FALOU: Todos nós damos
desculpas para nós mesmos. E deveríamos ser bons o suficiente para fazê-las
para os outros... Pensamento
da física e matemática sérvia Mileva Marić (Милева
Марић – 1875-1948), que foi a primeira esposa de
Einstein: Por tudo que conquistei na minha vida, devo agradecer a Mileva. Ela é
minha inspiradora genial, minha protetora contra as dificuldades da vida e da
ciência. Sem ela, meu trabalho nunca teria sido iniciado nem terminado.




