LITERÓTICA: OS
DESEJOS DA LEOA DE NEMEIA... - Lá estava ela à minha espera: a divindade
egípcia da guerra com toda sua bravura e nobreza. Com seus passou largos na
Babilônia do meu coração, ela deitou-se sensualmente com as mãos postas na
planície de Nemeia, a me seduzir estirada sobre a Argólida com sua pelagem
castanha. Rugiu devastadora querendo devorar-me com toda sua poderosa sedução
magnética. Virou-se de bruços e provocante agitou a espora e o tufo de pelos
prestos de sua cauda, ofertando-me as Montanhas Bale de suas ancas dançarinas.
Desvirou-se, rosnou e rugiu como a deusa núbia Menhyt, como quem quisesse
massacrar-me no sacrifício de Kush. Agitou suas mãos expondo suas garras de Pakhet,
aquela que arranha. E mais rugiu vingativa Sekhmet com todo seu calor solar. E expôs seu ventre úmido de Téfnis
provocando em mim a serpente Ureu com o convite de sua alcova
suntuosa no Peloponeso. Ao sinal de seu chamamento investi minha clava a alcançar-lhe
o ventre vulcânico e ela manhosamente rendeu-se em flor pelas savanas e
pastagens abertas do seu corpo. Apossou-se do meu sexo como se fosse um
apetitoso ungulado e num golpe o empunhou para lambê-lo avidamente e leva-lo até
a Garganta de Olduvai para que eu vencesse toda Tanzânia do seu poderio. Com seus
hábitos crepusculares e noturnos de perseguição predadora fez-me sua presa,
derrubando-me inteiro sobre si para efetivar sua caçada estraçalhadora. E
ofertou-me os seios nus para usufruí-los como se fosse eu Rômulo e Reno; e me
fez príncipe Valy consumido entre suas coxas suculentas; e sentiu minhas garras
leoninas na sua carne para me confessar com todos os seus gozos no Monte Elgon,
que era Elsa de Born Free e precisava da liberdade, porque queria ser
estrangulada na apoteose de orgasmo como uma leoa leucística. Vencida e gozada
doou-me suas garras: um colar em meu pescoço. Depois debruçou-se sobre meus ombros para que
sua face fosse o meu elmo. E o prêmio: a sua pele fez-se manto e tornou-se
constelação nas minhas noites infinitas. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
DITOS &
DESDITOS - Amor é só uma palavra de
quatro letras! Porque é isso que é para mim! Não sei o que significa... Quer
dizer, amor não funcionou, seja lá o que for, na minha vida. Sozinho eu estou.
Também não sou particularmente a fim de amor-próprio. Estou bem preparado para
morrer. E todos os objetos do meu amor vão desaparecendo lentamente... Nesta era de capital global triunfante, manter a
responsabilidade viva na leitura e no ensino do textual é, à primeira vista,
impraticável. É, no entanto, o direito do textual ser tão responsável,
responsivo, responsável. O “planeta” é, aqui, como talvez sempre, uma catacrese
para inscrever a responsabilidade coletiva como direito. Sua alteridade,
experiência determinante, é misteriosa e descontínua — uma experiência do
impossível. São essas coletividades que devem ser abertas com a pergunta
“Quantos somos nós?” quando a origem cultural é destranscendentalizada em
ficção — a tarefa mais difícil na diáspora... Sempre espreitando ao
virar da esquina para o futuro que já está conosco, à nossa vontade, em outro
lugar... Pensamento da crítica e teórica da literatura indiana, Gayatri Spivak (Gayatri
Chakravorty Spivak), autora da obra Death
of a Discipline (Columbia
University Press, 2003), na qual expressa que: […] Quando parece que
vencemos ou perdemos em termos de certezas, devemos, como professores de literatura
em sala de aula, lembrar desses avisos — deixar que a literatura nos ensine que
não há certezas, que o processo é aberto e que pode ser totalmente salutar que
assim seja. [...] As ciências sociais temem o impulso radical
nos estudos literários e, ao longo das décadas, nós, das humanidades,
banalizamos as ciências sociais em suas camisas de força de expectativas
racionais, sem reconhecer que, qualquer que seja o estado das ciências sociais
em nossa própria instituição, existem fortes tendências em reconhecer o papel
silencioso, mas central, das humanidades no paradigma dos estudos de área.
[...] Os Estudos Culturais e os Estudos Étnicos estão em ascensão, e muitos
protestos de minorias que testemunhei dizem, na verdade: "Não nos
classifiquem racialmente, somos americanos”. [...] Politics of
Friendship é, em outras palavras, apenas um livro entre capas. Para o texto
real, você deve entrar na sala de aula, colocar-se na escola, como uma prévia
da formação de coletividades. Os “alunos” de um único “professor”, lançados no
mundo e no tempo, são, incidentalmente, um exemplo do mundo real da
continuidade precária de um marxismo “por vir”, alinhado com o ativismo de base
contraglobalizante no Sul global hoje, com pouca semelhança com aquelas
variedades de esquerdismo “Little Britain” que podem assumir a oposição binária
de política de identidade e humanismo, mudando de marcha conforme a ocasião
exigir. [...]. Veja mais
aqui, aqui, aqui & aqui.
ALGUÉM FALOU: Francamente, eu não concordo com a teoria
estúpida da supremacia branca e tento esconder o fato de que sou negra por
razões econômicas ou quaisquer outras, se eu fizer isso, estarei concordando
que ser negra me torna inferior e que engoli toda a propaganda distribuída por
nossos cidadãos brancos de mentalidade fascista... Não quero passar porque não suporto
falsidades e farsas. Sou tão negra quanto qualquer outro identificado com a
raça... Pensamento da atriz, escritora e ativista estadunidense Fredi
Washington (Fredericka
Carolyn - 1903-1994)
LITERATURA INFANTIL – Reunindo desde autores clássicos como
Esopo, Andersen, os Irmãos Grimm, La Fontaine, Fedro, Swift, Monteiro Lobato,
Melville, Dumas, Perrault, bem como autores da atualidade, como Manuel de
Barros, Ruth Rocha, Clarice Lispector, Gloria Kirinus, além de lendas do Brasil
e das mais diversas culturas do planeta, o blog Brincarte do Nitolino reserva um espaço para as crianças de todas
as idades um destaque para a Literatura Infantil. LEMBRETE: Hoje tem reprise do
Programa Brincarte do Nitolino, nos horários das 10hs e das 15hs, com
apresentação de Ísis Corrêa Naves, no Projeto MCLAM. Para conferir clique aqui
ou aqui. E mais aqui & aqui.
TOUMAL & A MULHER DE
BUSHMAN – Imagem: a cara dele, o charme dela - Uma história
contada pelo Padre Bidião no seu
Evangelho, resultado de seus estudos por diversos tratados de paleontologia
sobre a linhagem do homem e outras escrituras ocultas e inacessíveis, dá conta
de que há sete milhões de anos atrás, acordava Toumal (Sahelanthropus
Tchadensis) naquela manhã ensolarada quando, ao se espreguiçar atrepado no
galho da sua árvore predileta que lhe servia de abrigo, percebeu um movimento
suspeito na redondeza. Pensou consigo: - Xvcexyga graffghuliga jiiillhhg
(tradução não muito precisa: que droga é nove?). Espreitou, desatrepou do galho
que estava pendurado, desceu furtivo e foi investigar na maior curiosidade.
Rompendo o mato nos peitos, deu de cara com a esteatopigia da Mulher de Bushman – uma remanescente
khoisan do tipo Baartman, a Vênus Hotentote. Uhu! Exultou. No seu dialeto
particular, exclamou: - Tutameia! Ele estava pronto para caçar aquele bicho
diferente que nunca tinha visto na vida. Tudo era diferente, até dentro dele
uma coisa nunca sentida, remexia nas entranhas. Nunca teve tanta vontade de
capturar e sacrificar uma vítima como aquela. E foi se aproximando daquela fera
que lhe agradara aos olhos e ao íntimo, e balbuciou. Txtwmna puxiganga
ayavcxdadja! (traduzindo: - Bicho bom, esse! O melhor já visto nestas bandas de
Sahel). E foi logo puxando assunto: - Xigacê gradvag crucrisa? (decodificando:
Cê deixa eu pegá bigu na sua popa?). Ela virou-se com um meio riso pra ele e
falou: - Crusking ninga ninga (ou seja, nem freudendo!). E zarpou num
carreirão. Ele sacou aquela do Informe de
Brodie de Borges e saiu pelejando para capturar aquela fujona que logo lhe
facilitou a caçada, deixando que ele a pegasse pelo gogó e se atrepasse na sua
garupa. – Uhu! -, gritou Toumal todo ancho por dominar o bicho arisco a se
vangloriar: - Crulilix crudivix (ou melhor: bicho pegado, bicho domado). E
sapecou traquinagem no mons púbis
dela de nunca mais desengatar, assim permanecendo por muitos sóis e luas na
nica-nica, até que ela pariu gêmeos: Adão e Eva. E assim começou a verdadeira
eclosão da humanidade. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
DE SEGUNDA A UM ANO – O livro De segunda a um ano: novas conferências e escritos (Hucitec, 1985),
do compositor, escritor e teórico musical estadunidense John Cage (1912-1992), traduzido por Rogério Duprá e revisto por
Augusto de Campos, traz o diário de como melhor o mundo – você só tornará as
coisas piores), seminário de música de Emma Lake, seriamente virgula, mosaico,
audiência, na terceira pessoa e oito proposições, as vinte e seis proposições
sobre Duchamp, Jaspers Johns: estórias e ideias, Miró na terceira pessoa, Nam
June Park: um diário, daqui para onde vamos?; o compromisso, ritmo etc., papo
nº 1, Rauschenberg, Schoenberg e Henry Cowell, Buckminster Fuller e Marshall
Mcluhan, entre outros assuntos. Trata-se do primeiro e único livro escrito pelo
autor, na forma de um mosaico de ideias, citações e histórias apresentadas com
uma estrutura particular em cada capítulo. Um dos muitos trechos que merecem
destaque na obra: Havia uma conferência
internacional de filósofos no Havaí, cujo tema era a Realidade. Durante três
dias Daisetz Teitaro Suzuki não disse nada. Finalmente, o presidente voltou-se
para ele e perguntou: - Dr. Suzuki, o senhor poderia dizer se esta mesa, em
torno da qual estamos sentados, é real? Suzuki levantou a cabeça e disse: -
Sim. O presidente perguntou em que sentido Suzuki pensava que a mesa era real.
Suzuki disse: - Em todos os sentidos. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
LADY BARBERINA – O livro Lady Barberina (1843), do escritor estadunidense naturalizado
britânico Henry James (1843-1916), é
uma narrativa sobre o grande amor guiado pelos valores sociais, relatando as
complexas experiências de vida e o paralelo entre a cultura norte-americana e a
inglesa no século XIX. Da obra destaco o trecho: [...] Seja como for, Lady Barb, durante aquela hora que passou em sua
companhia, nada disse sobre os acordos; foi uma hora de pura satisfação.
Sentara-se ao piano e tocara com alegria, de maneira muito suave, enquanto ele
se inclinava sobre o instrumento muito perto dela, e dizia tudo o que lhe vinha
à cabeça. A moça se mostrava muito brilhante e serena, e fitava-o como se
gostasse muito dele. Isso era tudo o que esperava dela, pois não condizia com
sua forma de beleza revelar uma enfatuação vulgar. Aquela beleza parecia-lhe
mais deliciosa que nunca; e havia no seu todo uma doçura que parecia dizer-lhe
que, a partir daquele momento, ela lhe pertencia inteiramente. Mais do que
nunca, sentiu o valor daquela posse; compreendeu mais do que nunca que a moça
era produto de uma vida social muito refinada. Simples e feminina como era, e
particularmente não muito dada à conversa, parecia ter no sangue uma parte da
história da Inglaterra. Era um résumé de gerações de um povo privilegiado, e de
séculos de rica vida campestre. Entre os dois, naturalmente, não houve
referências à questão que fora colocada nas mãos do Sr. Hilary, e a última
coisa que ocorreu a Jackson Lemon foi ter Lady Barb a ideia de colocar uma
fortuna à sua disposição antes do casame3nto. Talvez pareça singular, mas ele
não se perguntara se seu dinheiro agia sobre ela, em certo grau, como uma
espécie de suborno; isso porque, instintivamente, julgou ociosa tal especulação
– ponto que não ser verificado -, e porque estava pronto a admitir que seria
agradável, para ela, continuar a viver luxuosamente [...]. Veja mais aqui, aqui & aqui.










