domingo, abril 26, 2015

WITTGENSTEIN, MARINETTI, NAFISI, DELACROIX, NELSON FREIRE, AUGUSTINE, DADÁ, SOKO, MIRJIAN & MARIA IRACI LEAL.


PROGRAMA BRINCARTE DO NITOLINO – Hoje é dia do programa Brincarte do Nitolino pras crianças de todas as idades. O horário, o de sempre: às 10hs. Apresentação da linda garota já mocinha: Isis Corrêa Naves. Onde? No blog do Projeto MCLAM. Na programação: Orquestra Imperial, Marisa Monte, Caetano Veloso, Gal Costa, Chico Buarque, Adriana Partimpim, Erasmo Carlos, Meimei Corrêa, Sandra Fayad, Maria Iraci Leal, Aline Barros, Mariana de Moraes, Ivete Sangalo, Denise Servegnini, Mart'nalia, Turminha do Lana, Zeca Pagodinho & muito mais poesia, música e brincadeira pra garotada. Para conferir ao vivo e online clique aqui ou aqui.

Imagem: Mademoiselle Rose – oil on canvas, do pintor do Romantismo francês Eugène Delacroix (1798-1863),

Curtindo o premiado documentário Nelson Freire (2003), do documentarista, roteirista e produtor de cinema brasileiro João Moreira Salles, sobre o pianista brasileiro reconhecido internacionalmente Nelson Freire.

A CANGACEIRA DADÁ – A cabocla bonita, esbelta e cangaceira Dadá – Sérgia Ribeiro da Silva (1915-1994), foi a única mulher do bando de Lampião a pegar em armas. Aos treze anos ela foi raptada de forma violenta pelo primo Corisco, o Diabo Loiro (Cristino Gomes da Silva Cleto), integrante do bando de Lampião. Ao ser deflorada teve uma hemorragia de quase levá-la à morte. Casou-se com ele e teve sete filhos, dos quais apenas três sobreviveram. A sua vida foi levada ao cinema pelo drama Corisco & Dadá (1996), roteirizado e dirigido por Rosemberg Caariry e estrelado pela atriz Dira Paes, uma película que é meritória de aplauso e que deve ser conferida para ver como se passa a participação de uma mulher no meio de um bando de cangaceiros, demonstrando o seu poder de nada frágil e capaz de amar e guerrear tão bem quanto os homens. Veja mais aqui e  aqui.

TRACTATUS LOGIC-PHILOSOPHICUS – O livro Tractatus logic-philosohicus (1922 - Companhia Editora Nacional, 1968), do filósofo austríaco naturalizado britânico Ludwig Wittgenstein (1889-1951), traz as contribuições do autor para linguística, lógica, filosofia da linguagem, filosofia da mente, entre outras áreas, procurando esclarecer as condições lógicas que o pensamento e a linguagem devem atender para poder representar o mundo, exercendo profunda influência no desenvolvimento do positivismo lógico. Da obra destaco os seguintes trechos: O mundo é tudo o que ocorre. O mundo é a totalidade dos fatos, não das coisas. O mundo é determinado pelos fatos e por isto consistir em todos os fatos. A totalidade dos fatos determina, pois, o que ocorre e também tudo que não ocorre. Os fatos, no espaço lógico, são o mundo. O mundo se resolve em fatos. Algo pode ocorrer ou não ocorrer e todo o resto permanecer na mesma. O que ocorre, o fato, é o subsistir dos estados de coisas. O estado de coisas é uma ligação de objetos (coisas). E essencial para a coisa poder ser parte constituinte der estado de coisas. Nada é acidental na lógica: se uma coisa puder aparecer num estado de coisas, a possibilidade do estado de coisas já deve estar antecipada nela. Parece, por assim dizer, acidental que a coisa, que poderia subsistir sozinha e para si, viesse ajustar-se em seguida uma situação. Se as coisas podem aparecer em estados de coisas, então isto já. deve estar nelas. (Algo lógico não pode ser meramente-possível. A lógica trata de cada possibilidade e todas as possibilidades são fatos quê lhe pertencem.) Assim como não podemos pensar objetos espaciais fora do espaço, os temporais fora do tempo, assim não podemos pensar nenhum objeto fora da possibilidade de sua ligação com outros. Se posso pensar o objeto ligando-o ao estado de coisas, não posso então pensá-lo fora da possibilidade dessa ligação. [...] Como é o mundo é perfeitamente indiferente para o que está além. Deus não se manifesta no mundo. Os fatos fazem todos parte da tarefa mas não da solução. O que é místico não é como o mundo é mas que ele seja. A intuição do mundo sub specie aeterni é a intuição dele como um todo limitado. É místico o sentimento do mundo como um todo limitado. Para uma resposta inexprimível é inexprimível a pergunta. O enigma não existe. Se uma questão pode ser colocada, poderá também ser respondida. O cepticismo não é irrefutável mas patentemente absurdo, quando pretende duvidar onde não cabe perguntar. A dúvida, pois, só existe onde existe uma questão, uma questão apenas onde existe uma resposta, e esta ~ente onde algo pode ser dito. Sentimos que, mesmo que todas as possíveis questões científicas fossem respondidas, nossos problemas vitais não teriam sido tocados. Sem dúvida, não cabe mais pergunta alguma, e esta é precisamente a resposta. Observa-se a solução dos problemas da vida no desaparecimento desses problemas. (Esta não é a razão por que os homens, para os quais o sentido da vida se tornou claro depois de um longo duvidar, não podem mais dizer em que consiste esse sentido?) Existe com certeza o indizível. Isto se mostra, é o que é místico. O método correto em filosofia seria propriamente: nada dizer a não ser o que pode ser dito, isto é, proposições das ciências naturais — algo, portanto, que nada tem a haver com a filosofia; e sempre que alguém quisesse dizer algo a respeito da metafísica, demonstrar-lhe que não conferiu denotação a certos signos de suas proposições. Para outrem esse método não seria satisfatório — êle não teria o sentimento de que lhe estaríamos ensinando filosofia — mas seria o único método estritamente correto. Minhas proposições se elucidam do seguinte modo: quem me entende, por fim as reconhecerá como absurdas, quando graças a elas — por elas — tiver escalado para além delas. (É preciso por assim dizer jogar fora a escada depois de ter subido por ela.) Deve-se vencer essas proposições para ver o mundo corretamente. O que não se pode falar, deve-se calar. Veja mais aqui.

O TEATRO FUTURISTA – O texto o Futurismo (Estética teatral, 1980), escrito por seu introdutor, o escritor, editor, ideólogo, jornalista e ativista político italiano Filippo Marinetti (1876-1944), faz parte do manifesto do movimento futurista que foi publicado pelo autor em 1909, do qual destaco os seguintes trechos: De entre todas as formas literarias, a que tem um alcance furusita mais poderoso é certamente a obra teatral. Nós queremos também que a arte dramática deixe de ser o que é hoje: um miserável produto industrial submetido ao mercado das distrações e dos prazeres citadinos. Para tal é preciso banir todos os imundos preconceitos que esmagam os autores e o público. 1 – É por isso que nós ensinamos aos autores o desprezo pelo público e em particular pelo publico das primeiras representações de que aqui apresento sinteticamente a psicologia: rivalidade de chapéu e de trajos femininos, vaidade por um lugar caro, transformando-se em orgulho intelectual; balcões e plateia ocupados por homens maduros e ricos, cujo cérebro é naturalmente digno de desprezo e a digestão muito laboriosa, o que é incompatível com qualquer tipo de esforço intelectual. O público varia de humor e de inteligência de acordo com os diferentes teatros da cidade e as quatro estações do ano. Está submetido aos acontecimentos políticos e sociais, aos caprichos da moda, aos choviscos primaveris, aos excessos de calor e de frio, ao ultimo artigo lido à tarde. Infelizmente não se vê outro desejo senão o de digerir agradavelmente no teatro. É pois absolutamente incapaz de aprovar, desaprovar ou corrigir uma obra de arte. O autor bem se pode esforçar por tentar tirar o seu público da mediocridade, como se salva um naufrágio, tirando-o da água. Mas que o autor se acautele e não se deixe empunhar nas mãos espantadas do seu público, porque logo correria inevitavelmente de par com ele num grande ribombar de aplausos. 2 – Nós ensinamos também o horror do sucesso imediato que coroa as obras medíocres e banais. [...] 3 – Os autores só se devem preocupar com a originalidade criadora. Todas as peças que partem de um lugar comum ou que tiram de outras obras de arte a sua concepção, a sua meada, ou uma parte do seu desenvolvimento, são absolutamente desprezíveis. 4 – Os leitmotiv do amor e o triangulo do adultério, tendo sido excessivamente usados na literatura, devem reduzir-se da cena ao seu valor secundário de episódios, de acessórios, tal como os consideramos hoje na vida, servindo de medianeiros ao nosso grande esforço futurista. 5 – A arte teatral, como toda a arte, não tem outro fim senão o de arrancar a alma do publico à realidade quotidiana para a exaltar numa atmosfera fervilhante de bebedeira intelectual: nós desprezamos todas as peças que pretendem apenas promover e levar às lágrimas, através do espetáculo fatalmente piedoso de uma mulher que perdeu o filho, duma jovem que não pode casar com o seu amante, e outras semelhantes sensaborias. 6 – Nós desprezamos a arte e no teatro em particular todas as reconstruções históricas. [...] A arte dramática não deve fazer fotografia psicológica, mas sim uma síntese exaltante da vida nas suas linhas mais significativas e típicas. 8 – Não há arte dramática sem poesia, isto é, sem bebedeira e sem síntese. As formas prosódicas regulares devem ser excluídas. O escrito futurista servir-se-á do verso livre [...]. 9 – É preciso destruir a obsessão da riqueza no mundo literário, a avidez do ganho tendo empurrado para o teatro inúmeros espíritos exclusivamente dotados de qualidades de cronista e de jornalista. 10 – Nós queremos submeter os atores à autoridade dos escritores, arrancar os atores à dominação do público que os arrasta fatalmente para a procura do efeito fácil e os afasta de toda e qualquer procura de interpretação profunda. É preciso pois necessário ablir o hábito grotesco dos aplausos e dos assobios que pode servir de barômetro para a eloquência parlamentar, mas não serve, certamente, para o valor de uma obra de arte. 11 – Esperando esta abolição, nós estamos a ensinar aos autores e aos atores o desejo de serem assobiados. Tudo o que é apupado não significa necessariamente que é belo nem novo. Mas tudo o que é imediatamente aplaudido não ultrapassa a média das inteligências; parte-se do medíocre, do banal, do ruminado ou do muito bem digerido. Veja mais aqui.

LENDO LOLITA EM TEERÃ – O livro Lendo Lolita em Teerá: uma memória nos livros (Girafa, 2004), da escritora iraniana Azar Nafisi, trata-se de uma viagem da imaginação no exílio interno de sete jovens alunas, alimentada por meio de leituras proibidas na cultura ocidental e conversa desinteressada, resistindo à opressão do regime fundamentalista. Da obra destaco os trechos: [...] Em algum momento, a verdade do passado do Irã se torna tão imaterial para aqueles que dele se apropriaram como a verdade do passado de Lolita é para Humbet. Ele se torna imaterial da mesma maneira que a verdade de Lolita, seus desejos e vida precisam perder sua verossimilhança diante da única obsessão de Humbert, seu desejo de transformar uma menina indisciplinada de doze anos em sua amante. [...] Para possuir a totalidade de uma vida, precisamos ter a possibilidade de modelar e de expressar publicamente mundos, sonhos, pensamentos e desejos privados, de ter constantemente acesso a um diálogo entre o mundo público e o mundo privado. De que outra maneira nós saberemos que existimos, sentimos, desejamos, odiamos e tivemos medo? [...] Veja mais aqui.

O ECO DA TROMBETA – A escritora e massoterapeuta Maria Iraci Leal possui licenciatura plena em Educação Artística e participa do Portal Escritores e Poetas pela Paz e da revista virtual Metamorphosis, bem como edita o blog Arte e Poesia com seus escritos . No Recanto das Letras ela se identifica como Denise Severgnini, reunindo sua produção literária. Na sua biografia poética ela assim se apresenta: Nasci menina, sapeca desde pequena Numa cidade, época serena, Porto Alegre Numa manhã de março, aos dezenove do mês Ao meu pai, causei embaraço,ele esperava menino Enganei o destino, guria e poetisa, eu nasci Nos pagos do meu Rio Grande, cresci, estudei Já mocinha, na UFRGS, em Biologia, eu me formei Hoje, com muito orgulho, professora, eu sou E desempenho, com amor, a profissão, que Deus Felizmente, me presenteou Nas encruzilhadas da vida, encontrei o amor Na figura de alguém que amigo sempre foi Meu querido,marido Márcio,companheiro Para seja lá o que for Pouco mais tenho a dizer A paixão dos meus dias é poesias escrever. Assinado Poenise. Dela destaco, inicialmente, o seu O eco da trombeta: Trombeta inquieta que me anuncia O viver que passa e se perde rapidamente Nos sonhos que continuam no passado Às portas fechadas, encastelados Recordações que não reverenciam Este novo tempo do presente Um som grave e alto toca insistente Ecoa em mim o brado que vem de dentro Grita por mudanças e a necessidade De queimar diários e as velhas cartas Retomar a caminhada com novas bases Inaugurar outra fase, viver os momentos Num ritual solene de despertar interior Acendo a fogueira com línguas de fogo Queimo as fotos antigas e os tormentos Pelo ar espalho o perfumado incenso Batizo o renascer sem logro e sem dolo Desço a bandeira negra do mastro Mato a noite eterna do meu ontem Anuncia-me inquieta a trombeta A hora do recomeçar! Também o seu Sigo-te na magia de um poema: Sigo-te na magia de um poema Maquino um certo estratagema E eu rifo o que me dá problema Rifo aquilo que quero e o que não quero também Rifo uma oração, um salmo divino, um pastor dizendo amém Rifo um coração quebrado por um amor enganoso Rifo uma bala perdida resultada de um crime doloso (Quem compraria tal oferta de ocasião?) (Penso que apenas o ladrão!) Rifo uma tela em branco à espera de sonhos coloridos Rifo a cura de males profundos, de amores sofridos Rifo dólar, euro ou até real_ (rifas sensacionais!) Rifo esperança de uma vida melhor, de um mundo de paz (Quem compraria tal oferta de ocasião?) (Penso que toda uma multidão!) Rifo aquilo que quero e o que não quero também Rifo a ternura esquecida, a rosa branca,a dúvida da vida no além Rifo uma sonata imperfeita de compositor decadente Rifo a cor que não há no arco íris, a fé do crente Rifo tudo... Rifo nada, a luz da madrugada Rifo o amor... Rifo esta poesia E esta rifa com certeza, toda ela, eu compraria! Rifo meu coração! Meritório o destaque para o seu Coito: A orfandade de tua língua Procura novos idiomas A língua que eu falo É o meu falo na tua língua O deleite da minha língua É vasculhar teus segredos Ocultados na gruta de prazer Ações conjuntas, êxtase tépidos Magmas incandescentes, só nossos Eu possuo-te ...tu me tens ...inteiro Tu me recebes...eu te tenho...completa. E por fim o ótimo Sexo: Um sobre o outro Servem-se, se sorvem de tudo e todo. Veja mais aqui.

AUGUSTINE DE CHARCOT – Na Iconografia fotográfica de Salpêtrière, editada por Désiré-Magloure Bourneville (1840-1909) entre 1876 e 1880, Augustine, uma das figuras mais célebres da histeria, foi fotografada muitas vezes em atitudes passionais, suscitando comentários de escritores e poetas. Em 1928, André Breton (1896-1866) e Louis Aragon (189701982) a imortalizaram em sua celebração ao cinquentenário da histeria de Jean Martin Charcot, considerando a histeria como a maior descoberta poética do fim do século, e isso no mesmo momento em que o desmembramento do conceito de histeria parece fato consumado. Em vista desses acontecimentos, o filme Augustine (2012), dirigido por Alice Winocour e música de Jocelyn Pook, conta a história do professor Charcot, no inverno parisiense de 1885, no Hospital Pitié-Salpêtriere, estudando uma doença misteriosa, a histeria, que atinge apenas as mulheres, sendo confundida com possessões demoníacas, o que faz com que Charcot tenha que provar a seriedade de sua pesquisa. Nessa ocasião chega ao hospital a jovem de 19 anos de idade, Augustine que teve um ataque durante o trabalho e passa a ser objeto de estudo de Charcot. Destaque para o papel desempenhado pela atriz e cantora francesa de origem polonesa Stéphanie Sokolinski, popularmente conhecida por SoKo. Veja mais aqui.


IMAGEM DO DIA
Nus do fotógrafo estadunidense John De Mirjian.

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