quarta-feira, abril 29, 2015

MERCEDES BAPTISTA, ALICIA ALONSO, KAWABATA, VATSYAYANA & DANÇA DOS MENINOS

 


VIVA MERCEDES!!! - Era uma moça do interior, de origem humilde que sonhava em ser famosa. Mudou-se para o Rio de Janeiro para trabalhar como empregada doméstica seguindo os passos da mãe, garantindo teto e comida. Persistia no desejo de ficar famosa. Tivera pouco contato com o pai que era tratador de cavalos. Depois trabalhou como operária numa fábrica de chapéu. Ao sair foi trabalhar numa gráfica, chegando a ser bilheteira de cinema, tendo oportunidade de sonhar e dedicar-se à arte. Os sonhos de se tornar famosa se ampliaram e, à época, estudava numa escola pública da Tijuca. Aos 24 anos teve o seu primeiro contato com a dança, queria tornar-se bailarina no Serviço Nacional do Teatro, depois ingressou na Escola de Danças Clássicas do Theatro Municipal. Neste período ganhou o prêmio de A mais bela Mulata, pelo Teatro Experimental do Negro. Daí foi aprovada no concurso interno para compor o corpo de baile. O sonho de bailarina se concretizara, porém não era escalada para ballets clássicos de repertório, dançava temas brasileiros e participava das óperas. Ficou famosa por conta de sua participação na ópera Aída, aplaudida pela beleza de seus movimentos corporais. Ganhou uma bolsa de estudo durante o Congresso Internacional do Negro Brasileiro e se destacou para viajar pros Estados Unidos. Integrou o Teatro Experimental do Negro como bailarina, professora e coreógrafa, além de participar no teatro de revistas, televisão, cinema e carnaval, criando o seu Ballet Folclórico. Durante toda sua trajetória vencedora, ela sofreu constante discriminação racial: Os problemas vieram depois. Eu me vi de repente excluída de tudo, e nem que pusesse um capacho cobrindo meu rosto me deixavam pisar em cena. Só uma vez atravessei o palco usando sapatilhas de pontas e, ainda assim, lá no fundo... Tomou parte do ativismo negro e lutou contra as adversidades tornando-se um símbolo da dança e resistência negra. Fez turnês por países europeus e da América Latina, ainda hoje meritória de todas as homenagens. Veja mais abaixo e mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Tudo foi sempre muito difícil, mas quem iria assumir ou deixar claro que parte das minhas dificuldades era pelo fato de que eu não era branca? Nunca iriam me dizer isso, nem dizer que o problema era racial, mas eu sabia que era e, por isso, sempre lutei cada vez procurando me aperfeiçoar... Pensamento da bailarina e coreógrafa Mercedes Baptista (1921-2014).

 

ALGUÉM FALOU: Dança não é um exercício. Dança é uma arte... Essa nova forma de diálogo que nos leva à arte à qual dediquei minha vida está enraizada na parte mais profunda e bela do ser humano... Eu dancei na minha mente. Cega, imóvel, deitada de costas, eu aprendi a dançar Giselle... Um dançarino deve aprender com todas as artes. Vá a museus e olhe para as pinturas. Veja como elas equilibram as coisas. Tudo o que você faz nas artes o enriquece. Pensamento da bailarina e coreógrafa cubana Alicia Alonso (Alicia Ernestina de la Caridad del Cobre Martínez del Hoyo – 1920-2019). Veja mais aquí.

 

DANÇA DOS MENINOS – Nitolino acordou cedo com a algazarra do SuperPontinho acordando a turminha dos Falanges – Mindinho, Seu Vizinho, Maior de Todos, Cata-Piolhos & Fura-Bolos -, que puxou o Cravo e arengou com a Rosa que estava com o Lobisomem Zonzo e o Gordim dando bundada no Jequim que futucava Maluquim que azucrinava Bichim que falava pra Nita que incentivava a Ísis pra falar com Vó Carma e levar Pai Lula pra contar uma história do Alvoradinha que queria cantar com Tia Nilda e dançar no Reino Encantado de Todas as Coisas a música Coração Civil de Milton Nascimento & Fernando Brant: Quero a utopia, quero tudo e mais / Quero a felicidade nos olhos de um pai / Quero a alegria muita gente feliz / Quero que a justiça reine em meu país / Quero a liberdade, quero o vinho e o pão / Quero ser amizade, quero amor, prazer / Quero nossa cidade sempre ensolarada / Os meninos e o povo no poder, eu quero ver / São José da Costa Rica, coração civil / Me inspire no meu sonho de amor Brasil / Se o poeta é o que sonha o que vai ser real / Bom sonhar coisas boas que o homem faz / E esperar pelos frutos no quintal [...] Assim dizendo a minha utopia eu vou levando a vida Eu viver bem melhor / Doido pra ver o meu sonho teimoso,um dia se realizar. LEMBRETE: Hoje é dia de reprise do programa Brincarte do Nitolino, nos horários das 10hs e das 15hs, no blog do Projeto MCLAM, com apresentação da garota Isis Corrêa Naves. Para conferir o programa online nos horárias das reprises, é só ligar o som e acessar aqui ou aqui.

Imagem: Dancing, do artista plástico estadunidense de origem cubana Jose Manuel Abraham.

Ouvindo o álbum duplo Pas de deux (1905-2008), dos compositores portugueses Isabel Soveral & António Chagas Rosa.

DANÇA, ALAGOAS – Conheci o professor e dançarino alagoano Ary Buarque quando ele lançou o primeiro site oficial de dança, o Dança Alagoas, disponibilizando informações, dicas e muitas coisas interessantes. A receptiva forma como Ary trata as pessoas, seja nos relacionamentos sociais, seja no trato com seus alunos e dançarinos, nos fez estreitar amizade para realizar parcerias, promover debates e estarmos sempre juntos na luta pela difusão e promoção da arte na escola, no convívio humano, nas relações entre as pessoas, enfim, arte todo dia e o dia todo. Isso faz algum tempo, depois soube da transformação para Centro de Dança Ary Buarque, onde ele passou a ministrar aulas e promover a dança no estado alagoano. Na época ele me concedeu uma entrevista a respeito do seu trabalho, suas propostas, projetos e objetivos. Confira aqui.

A DANÇARINA – Inspiradoras lições são encontradas num manual escrito séculos atrás, que já foi transformado em teatro e cinema, e que até hoje, ultrapassando a barreira do tempo, se mantém como material vivo para um melhor desenvolvimento humano. Exemplo disso, é o que se encontra no capítulo 1 – Sobre os adornos pessoais, sedução, corações e medicamentos tônicos -, da Parte VII – Sobre os modos de atrair os outros -, do mais que atemporal e fascinante livro Kama Sutra, de Vatsyayana, no qual, entre tantas lições imperdíveis, encontrei esse trecho que muito bem diz com relação ao dia de hoje : [...] O que foi dito sobre elas também pode ser aplicado às filhas de dançarinas, cujas mães devem dá-las somente a pessoas que possam tornar-se úteis para elas de diversas maneiras. Assim terminam as formas de fazer com que alguém se torne adorável sob os olhos de outros. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

A DANÇARINA DE IZU – No livro de contos A dançarina de Izu (1926 – Cultrix, 1962), do escritor japonês prêmio Nobel de Literatura de 1968, Yasunari Kawabata (1899-1972), narra as experiências autobiográficas do autor durante a sua vida de estudante, fazendo uma viagem à península de Izu, Tóquio. Da obra destaco o trecho de A pequena dançarina de Isu – Izu no Odoriko: A hospedaria Koshuya ficava logo à entrada norte de Shimoda. Nas pegadas dos meus companheiros de viagem, subi para o primeiro andar da hospedaria, que mais parecia um sótão. [...] Os artistas trocavam algres cumprimentos com os fregueses da hospedaria, que eram também artistas ambulantes. O Porto de Shimoda devia ser o ninho dessas aves migratórias. Kaoru deu algumas moedas de cobre à filha do dono da hospedaria. Quando me despedi para sair, ela, arrumando-me o gueta, murmurou: - Leve-me hoje ao cinema, sim? Guiados por um homem de aparência duvidosa, eu e Eikiti fomo-nos instalar numa outra hospedaria, cujo dono se dizia ex-prefeito. Depois de banhar-nos, comemos peixe freco. – Peço-lhe que compre algumas flores para os sacrifícios de amanhã – disse eu ao meu companheiro de viagem, dando-lhe algum dinheiro. Eu tinha de voltar para Tóquio no dia segujnte. Meu dinheiro acabara, e como dissera aos artistas que minha volta era devida a obrigações escolares, não puderam prender-me com insistências. Jantei cedo, menos de três horas depois do almoço e, sozinho atravessei a ponte norte da cidade. Escalei o Fuji de Shimoda, e lá de cima fiquei a contemplar o porto. Na volta passei pela hospedaria Koshuya, e encontrei as artistas jantando um cozido de frango. Convidaram-me: - Não quer provar um pouco? Está sujo porque nós, mulheres, já pusemos o hashi dentro. Mas isso servirá, ao menos, como tema para anedotas de viagem. A senhora de meia idade tirou da mala uma xícara grande e hashi, e mandou Yurilo lavá-los. [...] Quando com a saída dos demais, ficaram na sala apenas Tiyoko e Yuriko, convidei-as para irem ao cinema. Tiyoko, apertando o ventre com as mãos e olhando-me com ar de abatimento, escusou-se: - Estou adoentada. Sinto-me enfraquecida por ter andado daquele jeito. Quando a Yukiro, endireitou o corpo e baixou a cabeça. A pequena dançarina estava no andar térreo brincando com a criança da hospedaria; tão logo me viu descer, começou a instar com a mãe para que a deixasse ir ao cinema. Em seguida, com ar desapontado, veio até mim e arrumou-me o gueta. – Que foi? Por que não vais sozinha com ele? – perguntou Eikiti. Ao que parece, a mãe negara consentimento a Kaoru. Eu não podia compreender por que não podia ela ir sozinha comigo. Quando saí para a varanda, a pequena dançarina estava acariciando a cabeça do cachorro. Mostrava-se tão indiferente que desisti de lhe dirigir a palavra. Fui só ao cinema. Narradora lia explicações à luz da lamparina, quando lá cheguei. Pouco me demorei: voltei logo para a minha hospedaria onde, com o cotovelo apoiado no rebordo da janela, fiquei longas horas a contemplar a cidade trevosa e noturna. Pareceu-me ouvir ao longe, ininterrupto, o leve tantã de um tambor. Não sei por que razão, as lágrimas começaram a rolar-me pela face, uma após outra [...]. Veja mais aqui, aqui, aquiaqui e aqui.

NÃO SEI DANÇAR – No livro Libertinagem (Pongetti, 1930), do poeta, tradutor, critico literário e de arte, Manuel Bandeira (1886-1968), consta o belíssimo poema Não sei dançar: Uns tomam éter, outros cocaína. / Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria. / Tenho todos os motivos menos um de ser triste; / Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria... / abaixo Amiel! / E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff. / Sim, já perdi, pai, mãe, irmãos. / Perdi a saúde também. / É por isso que sinto como ninguém o ritmo do jazz-band. / Uns tomam éter, outros cocaína. / Eu tomo alegria. / Eis por que vim assistir a este baile de terça-feira gorda. / Mistura muito excelente de chás... / Esta foi açafata.../ - Não, foi arrumadeira. / E está dançando com o ex-prefeito municipal. / Tão Brasil! / De fato este salão de sangues misturadoas parece o Brasil.../ Há até a fração incipiente amarela / na figura de um japonês. / O japonês também dança maxixe: / Acugêlê banzai! / A filha do usineiro de Campos / olha com repugnância / para a crioula imoral. / No entanto o que faz a indecência da moça / é aquele cair de ombros.../ Mas ela não sabe... / Tão Brasil! / Ninguém se lembra de política... / Nem dos oito mil quilômetros de costa... / O algodão do Seridó é o melhor do mundo? Que me importa? / Não há malária nem moléstia de Chagas nem ancilóstomos. / A sereia sibila e o ganzá do jazz-band batuca. / Eu tomo alegria! Veja mais aqui, aqui, aquiaqui.

A DANÇA – O poema A dança (Quingumbo, 1980), do poeta, dramaturgo, ensaíta e militante negro estadunidente da Geração Beat, LeRoi Jones – Amiri Baraka (1934-2014), na tradução de Italo Moriconi Junior: (explicado / por um homem mais velho. Me disse como. Me / mostrou. Não eram passos, mas / a instância do músculo. Uma posição / para mim mesmo: mover-se. / Duncan / dizia da dança. Seus poemas / cheios do que há tanto queríamos / que fosses. Uma / dança. E todas as suas palavras / saiam dali. Que havia / alguma elegância brilhante / que a carne triste do corpo / fazia. Algum gesto, que / se nos tornássemos, por um instante intenso / nos transformaria / em criaturas de ritmo. / quero ser cantado. Quero / minha carne e todos os meus ossos murmurados / contra o flutuante céu / espesso do inverno. / me quero / dança. Como sou se / tenho amor ou tempo ou espaço / para me sentir. / O tempo do pensamento. O espaço / do movimento real. (Para onde eles / alçaram o mar e me têm / contra minha vontade). Eu disse, também, / ama, sendo mais velho ou mais jovem / que teu mundo. Estou inclinado / a me deitar, amar, te convidar / agora, inclinado a sentir as coias / que só eu creio. / E que eu possa uma vez criar-me / a mim mesmo. E que tu, seja quem for / sentado agora respirando minhas palavras, / possa criar um ser somente teu. Que / vai me amar. Veja mais aqui, aquiaqui.

BAILARINA – A poesia de João Cabral é indispensável, faz parte das minhas leituras diárias de aprendizado poético. A sua forma de expressar o poema é uma das mais admiráveis demonstrações do fazer poético. Dele retiro lições diárias, procurando aprimorar sempre e, ao mesmo tempo sabendo, que a caminhada desse aprendizado é longa e com experiências inenarráveis. No livro Poesia Completa (Glaciar, 2011), do poeta e diplomata de João Cabral de Melo Neto (1920-1999), encontrei o poema Bailarina: A bailarina feita / de borracha e pássaro / dança no pavimento / anterior do sonho. / A três horas de sono, / mais além dos sonhos, / nas secretas câmaras / que a morte revela. / Entre monstros feitos / a tinta de escrever, / a bailarina feita / de borracha e pássaro. / Da diária e lenta / borracha que mastigo / Do inseto ou pássaro / que não sei caçar. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aquiaqui, aqui e aqui.

PAS DE DEUX – A animação e curta de dança Pas de Deux (Duo, National Film Board of Canada - Columbia Pictures, 1968) – ganhador de 17 prêmios e o Oscar de Melhor Filme de Animação em 1969, com roteiro escrito por Norma McLaren, fotografia e cinematografia conduzida por Jacques Fogel, mostrando dois bailarinos interpretam uma dança muito surreal, interpretado pela dupla Margaret Mercier e Vincent Warren. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
Pas de deux - Nude Photography -, do fotógrafo estadunidense M. Richard Kirstel (1950-1996)



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