TRÍPTICO DGF – AQUELA DE... UMA HISTÓRIA E
OUTRA... Para tudo que possa ocorrer ou já tenha
acontecido, há sempre duas versões, afora os boatos e outros disse-me-disse sei
lá se foi ou terá sido mesmo assim e assado, sacumé? Pois é, deu no que deu no Fecamepa. O que de vera é vigente já desde
algum tempo atrás é a prática de um conservadorismo vetusto e fanático que me
leva a impressão de que este filme eu já vi na história e ao vivo e em cores, vôte
déjà vu! Quem não se lembra dos Torquemadas, dos Savanarolas, os do Templo do
Povo de Jin Jones, o Templo Solar de Origas, a Verdade Suprema de Asahara, o Cerco
de Waco do Koresh, ou os Mengele e Goering do Führer e outros “cumpridores de ordens” e muito mais e mais!
Enfim, o que deixa claro que uma coisa é certa: a religião, desde os tempos mais
remotos que levaram aos cruzados medievais e aos fundamentalistas atuais,
passando pelo nazismo, kamikazes, macarthismo e Ku Klux Klan, fascismo, terrorismo
e neonazismo, sempre se serviu de pretexto para perseguições, torturas e
matanças. Suas bandeiras são as mesmas de sempre: racismo, misoginia, homofobia,
machismo patriarcal e outras tão bem conhecidas do direitismo de agora, todas
praticadas por intolerantes fanáticos e extremistas com
sua encenação exaltada num púlpito voador a molestar, discriminar e excluir uns
e outros, em nome de um Jesus só deles e tão poderoso acima do erro e do mal, a
se considerarem para si a santidade e, para os seus, os detentores dos céus e
da verdade, salvadores de devotados incondicionais e obedientes sectários, utilizando-se de
quaisquer meios lícitos e, sobretudo, ilícitos, para impor a primazia da sua fé
sobre todas. Pelo que sei desde menino, desdantigamente muitos combateram as
aberrações destes arrogantes donos da verdade, a exemplo de Cícero em Roma, o antigo entusiasmo fanático
pela aparição que captura a mente de Shaftesbury (1671-1713), Leibniz, Kant, Hegel, Voltaire, a obra Além do bem e do mal de Nietzsche,
o caso Schreber de Freud, o
buraco no Nome-do-Pai lacaniano, a Genealogia
do fanatismo de Cioran, a Crítica da razão cínica de Sloterdijk, A paranoia
da autodestruição de Enzensberger, Desistir de pensar? Nem pensar! de Hilton Japiassu, e O
fanatismo religioso entre outros – breve ensaio (Espaço Acadêmico, 2002), do professor psicanalista
Raymundo de Lima, que apresenta o método de doutrinação fanática do psicólogo francês J-M. Abgrael. Para quem
esqueceu ou nunca ouviu sobre isto: Shazam! Então, nunca é demais levar
em conta Voltaire: Quando
o fanatismo gangrena o cérebro, a enfermidade é incurável. Ou Diderot:
Do fanatismo à barbárie não há mais do
que um passo. Ou ainda Nietzsche: As convicções são piores inimigas da verdade
do que as mentiras. O fanatismo é a única forma de vontade
que pode ser incutida nos fracos e nos tímidos. Para ficar só nisso, olho aberto & vamos lá! Prest’enção, gente!
DUAS: VOO NO ROKE DE TERRAMAR - (Imagem: Mapa de Terramar) - Aqui está muito difícil de
respirar. Então, aproveitei um convite e voei para Terramar (que lugar é este?)
Segundo o primeiro bildungsroman premiado
O feiticeiro de Terramar (A Wizard of
Earthsea - Arqueiro, 2016), da trilogia publicada
pela escritora estadunidense Úrsula. K.
Le Guin, é um Arquipelágo composto de
centenas de ilhas, algumas desabitadas, outras constituindo importantes
comunidades comerciais e agrícolas. Terramar é mais ou menos circular [...]
uma grande variedade de culturas, indo da
simplicidade dos montanheses de Gont à sofisticação dos moradores de Havnor,
para não falar dos habitantes de Roke, para os quais a magia faz parte da vida
cotidiana. [...] em todos os lugares
é a cerimônia mágica na qual uma criança recebe seu nome. [...] Como toda magia do arquipélago se baseia no
conhecimento do nome verdadeiro das coisas, quem conhece o verdadeiro nome de
uma pessoa tem sobre ela poder de vida e morte. [...] Para a vida social normal, adota-se um nome de uso. A magia permeia
todos os aspectos da vida em Terramar. [...] Em Roke, a magia não consiste simplesmente em encantar e enfeitiçar: é
uma maneira de estudar e dominar o mundo, ou seja, uma filosofia e uma forma de
sabedoria prática. [...]. Foi em Roke que me deram um impronunciável nome e lá o
Mestre da Mão me disse: Você
não deve mudar uma coisa que seja, um seixo, até saber qual bem e mal resultará
daquele ato. O mundo está em Equilíbrio. O poder de um mago de Mudar ou de
Invocar pode abalar o equilíbrio do mundo. É perigoso, este poder. Altamente
perigoso. Ele deve caminhar junto do conhecimento e servir à necessidade.
Acender uma vela é lançar uma sombra.
Foi ali que pude desfrutar de um grande amor
nos passos da longa dança...
TRÊS COMPASSOS DA LONGA DANÇA - Foi exatamente ali que celebrei a Longa Dança que se
realiza na noite mais curta do ano e eu, por madrugadas infindas, acompanhei as
pessoas que descem pelas ruas dançando ao som de tambores, flautas e gaitas, segui
com o povo das Jangadas na dança universal que é o elo simbólico de união de
todos que se encontram separados pelo mar, até a festa do Retorno do Sol
cantando antigas canções e epopeias. Ali reapareceu Terpsícore que chegava do império Kargad, aquela mesma do livro de Heródoto e da prosa machadiana, ou da tela de William Frost ou a da Firedance de Van Renselar. Ela dançava solta Cristina Moura do Like an idiot e se transformava a cada rodopio na coreografia da Balangandança da Georgia Lengos e eu levado por sua onírica expressão me entregava
aos seus feitiços, enquanto se desnudava entre nuvens e estrelas. O amor assim
me dera e mais vivo que nunca amei além da conta. Até mais ver.
DESLOCAMENTOS ARMORIAIS
[...] Na relação entre dança e literatura, vimos as abordagens mais atuais sobre o corpo aparecerem com mais força quando o modo de a dança relacionar‐se com um texto prévio não tendia a estar subordinada aos conteúdos desse discurso anterior, mas deixava que seu próprio discurso se formulasse a partir da pesquisa corporal. [...].
Trecho extraído da tese de doutoramento Deslocamentos Armoriais: da afirmação épica
do popular na “Nação Castanha” de Ariano Suassuna ao corpo‐história
do Grupo Grial, da professora e pesquisadora Roberta
Ramos Marques, que serviu para a publicação do livro Deslocamentos armoriais: reflexões sobre política, literatura e dança
armoriais (EdUFPE/Reviva, 2012), estudo sobre o Movimento Armorial, criado na década de
1970, pelo escritor paraibano Ariano Suassuna, reunindo reflexões sobre
literatura, políticas públicas e danças armoriais, numa abordagem crítica do
movimento, que tem ampla repercussão no imaginário cultural de Pernambuco e do
Brasil, por meio de análise dos princípios estéticos e ideológicos, com reflexões
críticas com base teórica nos Estudos Culturais. A partir da tríade
política-literatura-dança, ela multiplica as discussões sobre o estatuto do
corpo, sobre as relações entre arte e experimentação, e entre arte e
intervenção social, aprofundando tanto as contradições inerentes ao projeto
armorial – que teve como objetivo criar uma arte brasileira erudita, com base
na cultura popular nordestina de raízes africana, indígena, ibérica e moura e,
com isso, fortalecer a ideia de uma identidade cultural brasileira – quanto às
formas que o legado desse projeto foram adquirindo em diversas representações
posteriores. A obra traz ainda um apanhado histórico, discussões sobre as propostas
estéticas e ideológicas, análises do discurso teórico e literário de Ariano
Suassuna na construção de uma identidade brasileira e das tentativas de se
realizar uma dança armorial. Veja mais aqui, aqui & aqui.