terça-feira, junho 23, 2020

HITCHENS, LOLITA PILLE, MÜNCHHAUSEN, ENZENSBERGER, MILLES, ELIAS DE CARVALHO & O LOBO ATRÁS DA PORTA



DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: PROCURA DA POESIA - O verbo, a vida e o olhar, tempo despoético, inumano. Da pedra, a dor: unhas nas paredes. A voz rouca estrangulada num crucifixo. O coração lacrimeja, sangra com os que se foram, chora pelos indiferentes e o risco uma lâmina afiada. Voo com Anna Akhmatova: Eu, como um rio, Fui desviada por estes duros tempos. Deram-me uma vida interina. E ela pôs-se a fluir num curso diferente, passando pela minha outra vida, e eu já não reconhecia minhas próprias margens. Somos unos na dor; o doer é poetar.

DUAS: DA CLAUSURA EM TEMPOS DE PESTE – A poesia foi sufocada entre o desgoverno e a pandemia, quem dera sobreviver além das nuvens, ou incólume como um rio. Do meu quarto os confins do mundo: tenho os dias e as noites nos olhos, o Sol amanheceu em minhas mãos. Suplanto o escuro, respiro fundo e todo cuidado é pouco, não há muito o que se possa fazer além de viver. Que o diga João do Rio: só no quarto humilde é que pôde chorar, chorar longamente não ter sabido guardar integralmente o princípio da vida - a ilusão... Dedilho a lira, solfejo tons e uma canção traduz a esperança.

TRÊS: DOS QUE SE VALEM DO ÓDIO – Insisto: dói o canto diante da desumanidade! Perseverar mais que nunca, mesmo que estúpidos batam o pé com os suas certezas na fúria da caixa dos peitos, afinal, são estúpidos, mesmo que tudo seja traduzido no Paradoxo de Pinóquio: a mentira é uma verdade, só que desviada – depende de quem pode e quer. Nada mais, só deformação. Vou de Sartre: A violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota. Como sou de paz e dela me valho, ele me cai bem ao ouvido: Nasci para satisfazer a grande necessidade que eu tinha de mim mesmo. Há, enfim, o que se possa fazer, nunca é tarde, peito aberto, braço firme, o luto e a luta. Até amanhã. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Noite com gatos escaldados. O Bundespresseamt convida uma série de autores latino-americanos. O funcionário responsável desenvolve um programa de visitas que quase não difere do das delegações soviéticas. Há os pequenos vouchers habituais para o café da manhã e o jantar, intermináveis passeios de ônibus para ver vacas de Holstein ou uma fábrica de automóveis. Também foram previstas entrevistas, colóquios e recepções. A composição da “delegação” é curiosa. Os participantes se empenham em ser gentis, mas não é só o caso de Padilla que está latente aqui. Outros contrastes políticos são ainda piores. Um secretário argentino pálido, de pele acinzentada, parece representar a ditadura militar. Três brasileiros se mantêm ostensivamente reservados. Mas também há algumas estrelas: Mario Vargas Llosa e Gabriel García Márquez, velhos conhecidos e rivais, que levam suas diferenças com um humor cáustico. Como eu falo um pouco de espanhol, proponho uma noite em minha casa para relaxar e, de fato, uma dúzia de convidados aceita meu convite. Há o suficiente para beber. Literatura é o assunto menos falado. Depois de uma hora, como se tivessem combinado, os chatos se levantam, entre eles Asturias, que não consegue se livrar do estigma do seu Prêmio Nobel, e se despedem. Música toca na vitrola, passa um baseado na roda, alguns se deitam no chão. Estão todos aliviados. Por algumas horas eles escaparam do programa. [...]. Trecho extraído da obra Tumulto (Todavia, 2019), do escritor, tradutor e editor alemão Hans Magnus Enzensberger, que também se assina sob uma diversidade de pseudônimos, como Andreas Thalmayr, Linda Quilt, Elisabeth Ambras e Serenus M. Brezengang. Neste livro, o autor que é considerado um dos mais representativos nomes vivos da literatura alemão, traz suas memórias dos anos 1960, época cuja agitação política prenunciava uma revolução não só nos regimes de governo, mas também na cultura de diversos países, tratando desde literatura à política, da história à sociologia, narrativa das experiências vividas no circuito da oficialidade militante, em que o seu olhar preciso e irônico revela as contradições entre utopia e autoritarismo que marcaram o espírito daquele tempo. Veja mais aquiaqui.

 

OUTROS DITOS

É melhor ser indiferente e digno do que infeliz e patético... No meu coração tolo, a idiotice canta a plenos pulmões... Desiludida antes do tempo, vomito na artificialidade dos sentimentos...

Pensamento da escritora francesa Lolita Pille, que no seu livro Hell (Intrínseca, 2003), ela expressou que: [...] Eu sou uma artista e meu trabalho sou eu. [...] Anseio por um futuro de tédio e sofrimento, já que sou covarde demais para pôr fim aos meus dias. Vou continuar: baladando, cheirando, bebendo e perseguindo os tolos do mundo. [...]. Trata-se de um relato sobre a juventude parisiense do terceiro milênio. Já no seu livro Bubble Gum (Intrínseca, 2004), ela assinala que:

[...] numa vida esvaziada de sentido, a destruição de um ser inocente é um projeto de vida que faz tanto sentido quanto qualquer outro. Graças a ele, Manon realiza o sonho de brilhar como modelo e atriz, mas ao preço da dependência de antidepressivos, cocaína e outros vícios. Mas logo se dá conta da armadilha em que caiu e planeja uma vingança. [...]. Neste romance ela combina incoerência ultrajada com o pacto faustiniano maléfico, no qual a protagonista se entrega em troca do brilho enganoso dos refletores. Por fim, no seu romance Crépuscule Ville (Grasset 2008), ela diz: [...] As névoas que estavam na origem do mal pareciam ter engrossado naquela noite e suas estratos esbranquiçados estavam descendo ao auge de um homem como se mostrassem sua simpatia pelo caos. Apesar de sua localização, no coração do antigo centro, poupada pela urbanização insalubre que atingiu em todos os outros lugares [...], no qual ela expõe códigos de gênero abordando temas como totalitarismo, eugenia, desinformação, o apocalipse, a vigilância e cibertecnologia.

 

MORTALIDADE, DE CHRISTOPHER HITCHENS

[...] À pergunta idiota "Por que eu?", o cosmos mal se dá ao trabalho de responder: por que não? [...] O homem que ora é aquele que pensa que Deus arrumou tudo errado, mas que também pensa que pode instruir Deus sobre como consertá-lo. [...] Para mim, recordar a amizade é recordar aquelas conversas que parecia pecado interromper: aquelas que tornavam o sacrifício do dia seguinte trivial. [...].

Trechos extraídos da obra Mortality (Atlantic, 2012), do escritor, jornalista e crítico literário britânico Christopher Hitchens (Christopher Eric Hitchens – 1949-2011), autor de obras tais como: Hitch 22: A Memoir (2010), The Portable Atheist: Essential Readings for the Nonbeliever (2007), God Is Not Great: How Religion Poisons Everything (2007) e Letters to a Young Contrarian (2001). Veja mais aqui.

 

BARÃO DE MUNCHAUSEN

O militar e senhor rural alemão Karl Friedrich Hieronymus von Münchhausen (1720-1797), conhecido como Barão de Münchhausen casou-se inicialmente com Jacobine von Duher (1726-1790). Enviuvou em 1790, e, posteriormente casou-se com Bernardine Friederike Louise Brunsich vun Brunn (1773-1839), 53 anos mais nova, que viveu em Bad Pyrmont por conta de uma doença em que era acometida e gostava de dançar. Por conta disso, o barão teve sua honra de nobre insultada. Do casal nasceu a filha Maria Wilhermina (1795-1969), não reconhecida pelo pai, tornando-se Maria Wilhemina Enz. Ele tornou-se famoso pela obra Narrativa do Barão Munchausen de Suas Maravilhosas Viagens e Campanhas na Rússia (1975), publicada pelo escritor alemão Rudolf Erich Raspe (1736-1794). Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

O LOBO ATRÁS DA PORTA
Investigando a história original, vi que as versões não batiam. A realidade do filme é subjetiva para cada personagem, levando assim não somente a uma única verdade, mas a verdades diferentes e conflitantes.
O LOBO ATRÁS DA PORTA - O premiado longa-metragem O lobo atrás da porta (2013), dirigido e escrito por Fernando Coimbra, é inspirado num caso policial da Fera da Penha, em que uma mulher assassina uma garota após um envolvimento extraconjugal com o pai da menina que desaparece e faz com que seus pais sigam para a delegacia, interrogados separadamente pelo delegado e a descoberta de uma rede de mentiras, amor, vingança e ciúmes envolvendo o trio. Veja mais aqui.

A ARTE DE CARL MILLES 
A arte do escultor sueco Carl Milles (1875-1955). Veja mais aqui.



PERNAMBUCULTURARTES
Caro leitor, nesses versos / Farei uma descrição / Referente ao corpo humano, / Sobre aspectos e formação, / Cujo ser é semelhança / Do Autor da Criação / Quero descrever do mesmo / As partes mais conhecidas. / Falar das várias matérias / Que estão nele contidas. / E mostrar a estrutura / Sobre as partes divididas. / Em cabeça, tronco e membros / É o corpo dividido. / Na cabeça: crânio e face, um ponto bem conhecido. / O crânio tem oito ossos, pelos quais é construído. [...].
Trecho do cordel O ABC do Corpo Humano – pequeno tratado da anatomia humana (1981), do poeta e enfermeiro Elias Alves de Carvalho, artista de múltiplas facetas, pois também sanfoneiro emérito, versejador e repentista. Veja mais aqui.
&
A música do violonista e compositor Henrique Annes aqui.
Tramações: linha, da artista visual Jaci Borba aqui.
A obra de Bertoldo Kruse aqui.
Ela Musa Artista aqui.
A arte da escritora Gerusa Leal aqui.
Violinistas de Palmares aqui.
&
Maraial aqui & aqui.


NEIGE SINNO, ARIEL SALLEH, MARÍA NEGRONI, JULIANA XUCURU & BRENDA MARQUES PENA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Não acredito que as poucas mulheres que alcançaram grandeza no trabalho criativo sejam exceção, mas acho que a...