DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: PROCURA DA POESIA
- O verbo, a vida e o olhar, tempo despoético, inumano. Da pedra, a dor:
unhas nas paredes. A voz rouca estrangulada num crucifixo. O coração lacrimeja,
sangra com os que se foram, chora pelos indiferentes e o risco uma lâmina
afiada. Voo com Anna Akhmatova: Eu, como um rio, Fui desviada por estes
duros tempos. Deram-me uma vida interina. E ela pôs-se a fluir num curso
diferente, passando pela minha outra vida, e eu já não reconhecia minhas
próprias margens. Somos unos na dor; o doer é poetar.
DUAS: DA CLAUSURA EM TEMPOS DE PESTE – A poesia foi sufocada
entre o desgoverno e a pandemia, quem dera sobreviver além das nuvens, ou
incólume como um rio. Do meu quarto os confins do mundo: tenho os dias e as
noites nos olhos, o Sol amanheceu em minhas mãos. Suplanto o escuro, respiro
fundo e todo cuidado é pouco, não há muito o que se possa fazer além de viver.
Que o diga João do Rio: só no quarto humilde é que pôde chorar,
chorar longamente não ter sabido guardar integralmente o princípio da vida - a
ilusão... Dedilho a lira, solfejo tons e uma canção traduz a esperança.
TRÊS: DOS QUE SE VALEM DO ÓDIO – Insisto: dói o canto diante da
desumanidade! Perseverar mais que nunca, mesmo que estúpidos batam o pé com os
suas certezas na fúria da caixa dos peitos, afinal, são estúpidos, mesmo que
tudo seja traduzido no Paradoxo de Pinóquio: a mentira é uma verdade, só que
desviada – depende de quem pode e quer. Nada mais, só deformação. Vou de Sartre: A violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre
uma derrota. Como sou de paz e dela me valho, ele me cai bem ao ouvido: Nasci para satisfazer a grande necessidade
que eu tinha de mim mesmo. Há, enfim, o que se possa fazer, nunca é tarde,
peito aberto, braço firme, o luto e a luta. Até amanhã. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] Noite com gatos escaldados. O Bundespresseamt
convida uma série de autores latino-americanos. O funcionário responsável
desenvolve um programa de visitas que quase não difere do das delegações
soviéticas. Há os pequenos vouchers habituais para o café da manhã e o jantar,
intermináveis passeios de ônibus para ver vacas de Holstein ou uma fábrica de
automóveis. Também foram previstas entrevistas, colóquios e recepções. A
composição da “delegação” é curiosa. Os participantes se empenham em ser
gentis, mas não é só o caso de Padilla que está latente aqui. Outros contrastes
políticos são ainda piores. Um secretário argentino pálido, de pele
acinzentada, parece representar a ditadura militar. Três brasileiros se mantêm
ostensivamente reservados. Mas também há algumas estrelas: Mario Vargas Llosa e
Gabriel García Márquez, velhos conhecidos e rivais, que levam suas diferenças
com um humor cáustico. Como eu falo um pouco de espanhol, proponho uma noite em
minha casa para relaxar e, de fato, uma dúzia de convidados aceita meu convite.
Há o suficiente para beber. Literatura é o assunto menos falado. Depois de uma
hora, como se tivessem combinado, os chatos se levantam, entre eles Asturias,
que não consegue se livrar do estigma do seu Prêmio Nobel, e se despedem.
Música toca na vitrola, passa um baseado na roda, alguns se deitam no chão.
Estão todos aliviados. Por algumas horas eles escaparam do programa. [...].
Trecho extraído da obra Tumulto (Todavia, 2019), do escritor, tradutor e editor
alemão Hans Magnus Enzensberger, que
também se assina sob uma diversidade de pseudônimos, como Andreas Thalmayr,
Linda Quilt, Elisabeth Ambras e Serenus M. Brezengang. Neste
livro, o autor que é considerado um dos mais representativos nomes vivos da
literatura alemão, traz suas memórias dos anos 1960, época cuja agitação
política prenunciava uma revolução não só nos regimes de governo, mas também na
cultura de diversos países, tratando desde literatura à política, da história à
sociologia, narrativa das experiências vividas no circuito da oficialidade
militante, em que o seu olhar preciso e irônico revela as contradições entre
utopia e autoritarismo que marcaram o espírito daquele tempo. Veja mais aqui e aqui.
O LOBO ATRÁS DA PORTA
Investigando a história original, vi que as versões não batiam. A
realidade do filme é subjetiva para cada personagem, levando assim não somente
a uma única verdade, mas a verdades diferentes e conflitantes.
O LOBO ATRÁS DA PORTA - O premiado
longa-metragem O lobo atrás da porta
(2013), dirigido e escrito por Fernando Coimbra, é inspirado num caso policial da Fera da
Penha, em que uma mulher assassina uma garota após um envolvimento extraconjugal
com o pai da menina que desaparece e faz com que seus pais sigam para a
delegacia, interrogados separadamente pelo delegado e a descoberta de uma rede
de mentiras, amor, vingança e ciúmes envolvendo o trio. Veja mais aqui.
A ARTE DE CARL MILLES
A arte do escultor sueco Carl
Milles (1875-1955). Veja mais aqui.
PERNAMBUCULTURARTES
Caro
leitor, nesses versos / Farei uma descrição / Referente ao corpo humano, / Sobre
aspectos e formação, / Cujo ser é semelhança / Do Autor da Criação / Quero
descrever do mesmo / As partes mais conhecidas. / Falar das várias matérias / Que
estão nele contidas. / E mostrar a estrutura / Sobre as partes divididas. / Em
cabeça, tronco e membros / É o corpo dividido. / Na cabeça: crânio e face, um
ponto bem conhecido. / O crânio tem oito ossos, pelos quais é construído. [...].
Trecho
do cordel O ABC do Corpo Humano – pequeno tratado da anatomia humana (1981),
do poeta e enfermeiro Elias Alves de Carvalho, artista de múltiplas facetas, pois também sanfoneiro emérito,
versejador e repentista. Veja mais aqui.
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A música do violonista e compositor Henrique Annes aqui.
Tramações:
linha, da artista visual Jaci
Borba aqui.
A obra
de Bertoldo Kruse aqui.
Ela Musa
Artista aqui.
A arte
da escritora Gerusa Leal aqui.
Violinistas
de Palmares aqui.
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