DITOS & DESDITOS: [...] Noite com gatos escaldados. O Bundespresseamt
convida uma série de autores latino-americanos. O funcionário responsável
desenvolve um programa de visitas que quase não difere do das delegações
soviéticas. Há os pequenos vouchers habituais para o café da manhã e o jantar,
intermináveis passeios de ônibus para ver vacas de Holstein ou uma fábrica de
automóveis. Também foram previstas entrevistas, colóquios e recepções. A
composição da “delegação” é curiosa. Os participantes se empenham em ser
gentis, mas não é só o caso de Padilla que está latente aqui. Outros contrastes
políticos são ainda piores. Um secretário argentino pálido, de pele
acinzentada, parece representar a ditadura militar. Três brasileiros se mantêm
ostensivamente reservados. Mas também há algumas estrelas: Mario Vargas Llosa e
Gabriel García Márquez, velhos conhecidos e rivais, que levam suas diferenças
com um humor cáustico. Como eu falo um pouco de espanhol, proponho uma noite em
minha casa para relaxar e, de fato, uma dúzia de convidados aceita meu convite.
Há o suficiente para beber. Literatura é o assunto menos falado. Depois de uma
hora, como se tivessem combinado, os chatos se levantam, entre eles Asturias,
que não consegue se livrar do estigma do seu Prêmio Nobel, e se despedem.
Música toca na vitrola, passa um baseado na roda, alguns se deitam no chão.
Estão todos aliviados. Por algumas horas eles escaparam do programa. [...].
Trecho extraído da obra Tumulto (Todavia, 2019), do escritor, tradutor e editor
alemão Hans Magnus Enzensberger, que
também se assina sob uma diversidade de pseudônimos, como Andreas Thalmayr,
Linda Quilt, Elisabeth Ambras e Serenus M. Brezengang. Neste
livro, o autor que é considerado um dos mais representativos nomes vivos da
literatura alemão, traz suas memórias dos anos 1960, época cuja agitação
política prenunciava uma revolução não só nos regimes de governo, mas também na
cultura de diversos países, tratando desde literatura à política, da história à
sociologia, narrativa das experiências vividas no circuito da oficialidade
militante, em que o seu olhar preciso e irônico revela as contradições entre
utopia e autoritarismo que marcaram o espírito daquele tempo. Veja mais aqui e aqui.
OUTROS DITOS
É melhor ser
indiferente e digno do que infeliz e patético... No meu coração tolo, a
idiotice canta a plenos pulmões... Desiludida antes do tempo, vomito na
artificialidade dos sentimentos...
Pensamento da escritora francesa Lolita
Pille, que no seu livro Hell (Intrínseca, 2003), ela expressou que:
[...] Eu sou uma artista e meu trabalho sou eu. [...] Anseio por
um futuro de tédio e sofrimento, já que sou covarde demais para pôr fim aos
meus dias. Vou continuar: baladando, cheirando, bebendo e perseguindo os tolos
do mundo. [...]. Trata-se de um relato sobre a juventude parisiense do terceiro milênio. Já no seu
livro Bubble Gum (Intrínseca, 2004), ela assinala que:
[...] numa vida esvaziada de sentido, a
destruição de um ser inocente é um projeto de vida que faz tanto sentido quanto
qualquer outro. Graças a ele, Manon realiza o sonho de brilhar como modelo e
atriz, mas ao preço da dependência de antidepressivos, cocaína e outros vícios.
Mas logo se dá conta da armadilha em que caiu e planeja uma vingança. [...].
Neste romance ela combina incoerência ultrajada com o pacto faustiniano
maléfico, no qual a protagonista se entrega em troca do brilho enganoso dos
refletores. Por fim, no seu romance Crépuscule Ville (Grasset 2008), ela
diz: [...] As névoas que estavam na origem do mal pareciam ter engrossado
naquela noite e suas estratos esbranquiçados estavam descendo ao auge de um
homem como se mostrassem sua simpatia pelo caos. Apesar de sua localização, no
coração do antigo centro, poupada pela urbanização insalubre que atingiu em
todos os outros lugares [...], no qual ela expõe códigos de gênero abordando
temas como totalitarismo, eugenia, desinformação, o apocalipse, a vigilância e cibertecnologia.
MORTALIDADE, DE CHRISTOPHER HITCHENS
[...] À pergunta idiota
"Por que eu?", o cosmos mal se dá ao trabalho de responder: por que
não? [...] O homem que
ora é aquele que pensa que Deus arrumou tudo errado, mas que também pensa que
pode instruir Deus sobre como consertá-lo. [...] Para mim,
recordar a amizade é recordar aquelas conversas que parecia pecado interromper:
aquelas que tornavam o sacrifício do dia seguinte trivial. [...].
Trechos extraídos
da obra Mortality (Atlantic, 2012), do escritor, jornalista e crítico
literário britânico Christopher Hitchens (Christopher Eric Hitchens –
1949-2011), autor de obras tais como: Hitch 22: A Memoir (2010), The
Portable Atheist: Essential Readings for the Nonbeliever (2007), God Is
Not Great: How Religion Poisons Everything (2007) e Letters to a Young
Contrarian (2001). Veja
mais aqui.
BARÃO DE MUNCHAUSEN
O militar e senhor rural alemão Karl
Friedrich Hieronymus von Münchhausen (1720-1797), conhecido como Barão de Münchhausen
casou-se inicialmente com Jacobine von Duher (1726-1790). Enviuvou em 1790, e,
posteriormente casou-se com Bernardine Friederike Louise Brunsich vun Brunn (1773-1839),
53 anos mais nova, que viveu em Bad Pyrmont por conta de uma doença em que era
acometida e gostava de dançar. Por conta disso, o barão teve sua honra de nobre
insultada. Do casal nasceu a filha Maria Wilhermina (1795-1969), não
reconhecida pelo pai, tornando-se Maria Wilhemina Enz. Ele tornou-se famoso pela
obra Narrativa do Barão
Munchausen de Suas Maravilhosas Viagens e Campanhas na Rússia (1975), publicada pelo escritor alemão Rudolf Erich Raspe
(1736-1794). Veja mais aqui, aqui & aqui.




