segunda-feira, junho 08, 2020

GRAZIA DELEDDA, MARILYNNE ROBINSON, MAHA MAMO, SHERYL PAUL, JESSÉ SOUZA, KEKE PALMER, MALANGATANA, GUIDI VIEIRA & CATARINA DEE JAH



DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: DE MENTIRAS, CARA DE PAU & ÓLEO DE PEROBA - Gentamiga, que coisa! Nesses tempos de pós-verdade, aqui no Fecamepa todo dia tem uma novidade e todo mundo na maior razão. Eu que não digo nem faço nada, fico só de queixo caído com tanto descaramento. Não sabia que era para tanto. Do primeiro morto, soube que era fantasia. E é? Quando passou dos mil, disseram que era só uma gripezinha. Será? Depois dos cinco mil, a coisa pegou: Ah, histeria! É? Na marca dos dez mil: Onde está o coveiro? Vinte mil: E daí? Trinta mil: É o destino. Trinta e cinco mil: Cadê? Oxe, ninguém mais sabe de nada, enterram em vala comum e babau! Como é que pode? Só ouço: Parou! Chega! Vixe! No país dos envultamentos ajeitados, as coisas vão e nada. Ainda tem quem se lembre daquele golpista ex Temeroso Vampírico com seus ministros tudo boca-de-caieira da picaretagem no foco da PF que ninguém sabe por onde andam, hem? Pinotaram? Empirulitaram-se! Só sendo. E o ex juiz que está com o cu na mão por conta dum tal Taclan Durán? Danou-se! Aqui só acontece e dá em nada, como se fosse, tá! Entre a vontade política e a má vontade, tudo fica enganchado e prevalecendo no olho da frouxidão e cinismo. Pois é. DUAS: LOA DE SEXAGENÁRIO – Vou vivendo e desaprendendo. Como? Só pode, ora, o que se aprende perde valia duma ora para outra! Adiantou tantos anos nos bancos das faculdades e aboletados sobre os livros queimando pestana? Está tudo escrito e positivado, mas valer de mesmo, só pra quem é besta, pros sabidos é só nhenhenhém, quando não revogado ou não alcançam a suposta imunidade dos graudões e mandonistas. Isso é que é invenção, como diz Scott Adams: Criatividade é permitir a si mesmo cometer erros. Arte é saber quais erros manter. Se você quer entender OVNIs, reencarnação e Deus, não estude OVNIs, reencarnação e Deus. Estude pessoas. Eita! Tá valendo, de 2015 para cá vale tudo meeeeeesmo! TRÊS: DIVAGAR & ECLODIR, VÊ SÓ! - Se não estou variando nessa clausura de meses, acho que a coisa está pegando e muito! Fiquei mais ainda de espreita com o que Robert Schumann me disse: Enviar luz para às profundezas do coração humano - este é o chamado do artista! É? Tá. Que ato inglório! Ele baixou hospício depois dumas e outras, eu que me cuide, porque o Brasil ou endoidou ou está para endoidar a gente tudinho! Tasco na primeira, fujo da segunda & vamos aprumar a conversa, gente! Até mais ver! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: A ESCRAVIDÃO & A DESIGUALDADE [...] A escravidão persiste no Brasil? Ela persiste de novas formas. Ela persiste no sentido de que você tem aqui uma multidão, mais de 50% da população brasileira, exercendo atividade semiqualificada. É trabalho manual, é trabalho sem grande incorporação de conhecimento, exatamente como o trabalho escravo. Essas classes populares são odiadas e desprezadas, como os escravos eram. Você pode matar um pobre no Brasil, que não acontece nada. A polícia mata com requintes de crueldade e ninguém se comove porque os pobres são percebidos de modo desumanizado, como os escravos eram. A escravidão perpassa o núcleo da sociedade brasileira. E boa parte da classe média tem preconceitos de senhor de escravo e da elite com relação a esse povo. O que eu tento mostrar é como essa escravidão se torna a base e o centro de tudo que a gente está vivendo hoje. Nós somos filhos da escravidão, isso nunca foi percebido. É como se fosse uma coisa que aconteceu há muito tempo e não tenha mais nada a ver hoje. É o contrário. A escravidão continua. Para mim, essa desigualdade doente de hoje vem da escravidão. [...] A desigualdade é que cria o subcidadão brasileiro? O Brasil é um país doente, patologicamente doente pelo ódio de classe. Isso é o mais característico do Brasil: o ódio patológico ao pobre. É a doença que nós temos. A gente nunca assumiu a autocrítica de que somos filhos da escravidão, com todas as doenças que a escravidão traz: a desigualdade, a humilhação, o prazer sádico na humilhação diante dos mais frágeis, o esquecimento e o abandono da maior parte da população. Esse é o grande problema brasileiro. O resto é bobagem. [...] Trecho da entrevista A doença do Brasil é o ódio de classe (Isto é, 2018), concedida pelo sociólogo, professor e pesquisador Jessé Souza, que atua nas áreas de Teoria Social, pensamento social brasileiros e estudos teórico/empíricos sobre desigualdade e classes sociais. Ele é autor de obras como A guerra contra o Brasil: Como os EUA se uniram a uma organização criminosa para destruir o sonho brasileiro (Estação Brasil, 2020); Subcidadania brasileira: Para entender o pais além do jeitinho brasileiro (Leya, 2018); A radiografia do golpe: entenda como e por que você foi enganado (Leya, 2016); A elite do atraso: da escravidão á Lava Jato (Leya, 2017); A tolice da inteligência brasileira: ou como o país se deixa manipular pela elite (Leya, 2015), Os batalhadores brasileiros: Nova classe média ou nova classe trabalhadora? (EdUFMG, 2010); A ralé brasileira: quem é e como vive (EdUFMG, 2009); A Construção Social da Subcidadania (EdUFMG, 2006), entre outros. Veja mais aqui.

 

OUTROS DITOS

Sou grata por todos esses anos sombrios, mesmo que em retrospecto pareçam uma longa e amarga prece que foi finalmente respondida... Existem mil mil razões para viver esta vida, cada uma delas suficiente...

Pensamento da premiada escritora e ensaísta estadunidense Marilynne Robinson, autora dos livros Home (2008), Gilead (2004) e Housekeeping (1980), entre outros.

 

NÓS SOMOS SARDINOS

Somos espanhóis, africanos, fenícios, cartagineses, romanos, árabes, pisanos, bizantinos, piemonteses. \ Somos as vassouras de ouro amarelo que brilham nos caminhos rochosos como grandes lâmpadas acesas. \ Nós somos a solidão selvagem, o silêncio imenso e profundo, o esplendor do céu, a flor branca do ciss. \ Nós somos o reino ininterrupto do mastique, das ondas que correm os granitos antigos, a rosa canina, o vento, a imensidão do mar. \ Somos uma terra de longos silêncios, de horizontes amplos e puros, de plantas sombrias, de montanhas queimadas pelo sol e vingança. \ Nós somos sardinos.

Poema da escritora italiana Grazia Deledda (Grazia Maria Cosima Damiana Deledda – 1871-1936). Veja mais aqui & aqui.

 

POR QUASE 30 ANOS, FUI UMA PESSOA APÁTRIDA.

Isso significava que eu não tinha país, nem nacionalidade, e não era reconhecido como cidadão do lugar onde nasci. Não podia ir à escola, viajar ou mesmo ir ao hospital. Lutei por décadas para ser considerado um ser humano. Para pertencer. Com muita determinação e resiliência, realizei meu sonho, mas não da maneira que você poderia esperar. A vida nem sempre acontece como planejamos. A vida acontece como ela vem e, depois, como escolhemos vivê-la. Como palestrante motivacional e defensora dos direitos humanos, agora posso compartilhar com outras pessoas como realizei meu sonho contra todas as probabilidades e inspirar outras pessoas a realizarem seu verdadeiro potencial, seus sonhos. Afinal, há muitas coisas que não podemos escolher — onde nascemos, quem é nossa família — mas podemos escolher nunca desistir!

Depoimento da ativista e escritora Maha Mamo, apátrida por conta da religião de seus pais sírios, tornou-se brasileira desde 2018 e é ativista na campanha #IBelong do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).

 

A SABEDORIA DA ANSIEDADE

[...] A ansiedade pede a você, caro leitor, que abrace a dádiva de quem você é. Talvez lhe tenham dito que você é demais — sensível demais, dramático demais, emotivo demais, analítico demais — e essa mensagem foi traduzida dentro do seu eu jovem como se você estivesse errado ou quebrado de alguma forma. Mas você precisa começar a entender agora, como espero que saiba ao ler este livro, que não há absolutamente nada de errado com você. Você não está quebrado. Você não é demais. Você não está errado. Na verdade, são as mesmas qualidades pelas quais você foi envergonhado que você agora precisa embrulhar como um animal ferido e abraçar perto do seu coração. Pois é quando você para de ver sua sensibilidade como um fardo e, em vez disso, a reconhece como a dádiva que é, que você começará a curar as feridas dentro de você e trazer sua presença plena ao mundo.[...].

Trecho extraído da obra The Wisdom of Anxiety: How Worry and Intrusive Thoughts Are Gifts to Help You Heal (Sounds True, 2019), da psicanalista estadunidense Sheryl Paul.

 

A MÚSICA DE KEKE PALMER
É aí que vocês estão juntos com a comunidade e a sociedade para parar a opressão governamental. Nós precisamos de você. Sei que há uma pessoa nesse uniforme e quero saber se as pessoas que estão nessas poderosas posições de salvar ou tirar uma vida, quero saber se elas estão com os cidadãos e se comprometeram a se posicionar contra o sistema e as injustiças, E se estamos unificados, não importa quem você é, o que está vestindo, podemos criar mudanças. Os edifícios podem ser reconstruídos, mas depois que vidas são tiradas, elas desaparecem.
KEKE PALMER - A arte da atriz, cantora e compositora estadunidense Keke Palmer, que durante os protestos de manifestantes antirracistas protagonizou a cena de conseguir o apoio da Guarda Nacional sobre a necessidade da polícia ouvir as comunidades marginalizadas e parar a opressão governamental.
&
A MÚSICA DE GUIDI VIEIRA
É preciso movimento / Falta quebrar o silêncio / Levar aos extremos / Largar tudo o que temos / É preciso sentir o cheiro / Deixar chegar aos olhos / Se achar, perder o sono / Ouvir a língua que não controlo / É preciso sentir o cedo / Dançar, chegar ao intenso / Crescer, deixar o colo / Ouvir a língua que não controlo / É tanto sol dando sopa / Grão de areia, vento, gota / E por aqui só chega o eco / Do mar que molha o dia seco / Os dias serão os mesmos apenas melhores / O tempo é tão fatal / Não se guiar se torna normal / Mas quero tantas cores / Pressinto outros sabores.
GUIDI VIEIRA - A talentosa cantora, compositora e instrumentista Guidi Vieira lançou o seu segundo cd, Outra língua, este o primeiro solo e autoral, produzido pelo guitarrista Pedro Costa, desfilando sua arte e a performance de suas vivências por bares e cenário underground. Ouvi uma a uma das faixas deste álbum que reputo como excelente, agradável de ouvir a sua voz e as ótimas levadas rítmicas. Gostei tanto que procurei saber a respeito dela: antes ela havia integrado a banda Pic-Nic e lançou o álbum independente Temperos, em 2014, com xotes, choros e sambas. Tudo muito bom e meritória de aplausos & sucesso. Veja mais aqui.

A ARTE DE MALANGATANA
Há sempre um manancial de temas a abordar. São os acontecimentos do mundo, às vezes tristes, outras alegres, e eu não fico indiferente. Seja em Moçambique, ou noutra parte do mundo, a dor humana é a mesma.
MALANGATANA - A arte do pintor e poeta moçambicano Malangatana Valente Ngwenya (1936-2011), que atuou por uma diversidade de artes como desenho, pintura, escultura, cerâmica, murais, poesia e música. Veja mais aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
A arte da cantora, DJ, compositora e artista antropofágica Catarina Dee Jah, que já lançou o álbum Mulher Cromaqui, uma saborosa salada rítmica com muito talento e irreverência.
&
A obra do premiado escritor, crítico, editor e jornalista pernambucano Raimundo Carrero aqui.
A poesia do poeta, ensaísta e crítico Cicero Melo aqui.
A arte da artista visual Maria do Carmo Nino aqui.
A arte da poeta, cantora, compositora e artista plástica Airô Barros aqui.
Ciranda Feminina da Mata Sul aqui & aqui.
Rio Formoso aqui e aqui.


NEIGE SINNO, ARIEL SALLEH, MARÍA NEGRONI, JULIANA XUCURU & BRENDA MARQUES PENA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Não acredito que as poucas mulheres que alcançaram grandeza no trabalho criativo sejam exceção, mas acho que a...