DITOS & DESDITOS: A ESCRAVIDÃO
& A DESIGUALDADE [...] A
escravidão persiste no Brasil? Ela persiste de novas formas. Ela persiste no
sentido de que você tem aqui uma multidão, mais de 50% da população brasileira,
exercendo atividade semiqualificada. É trabalho manual, é trabalho sem grande
incorporação de conhecimento, exatamente como o trabalho escravo. Essas classes
populares são odiadas e desprezadas, como os escravos eram. Você pode matar um
pobre no Brasil, que não acontece nada. A polícia mata com requintes de
crueldade e ninguém se comove porque os pobres são percebidos de modo desumanizado,
como os escravos eram. A escravidão perpassa o núcleo da sociedade brasileira.
E boa parte da classe média tem preconceitos de senhor de escravo e da elite
com relação a esse povo. O que eu tento mostrar é como essa escravidão se torna
a base e o centro de tudo que a gente está vivendo hoje. Nós somos filhos da
escravidão, isso nunca foi percebido. É como se fosse uma coisa que aconteceu
há muito tempo e não tenha mais nada a ver hoje. É o contrário. A escravidão
continua. Para mim, essa desigualdade doente de hoje vem da escravidão. [...] A desigualdade é que cria o subcidadão
brasileiro? O Brasil é um país doente, patologicamente doente pelo ódio de
classe. Isso é o mais característico do Brasil: o ódio patológico ao pobre. É a
doença que nós temos. A gente nunca assumiu a autocrítica de que somos filhos
da escravidão, com todas as doenças que a escravidão traz: a desigualdade, a
humilhação, o prazer sádico na humilhação diante dos mais frágeis, o
esquecimento e o abandono da maior parte da população. Esse é o grande problema
brasileiro. O resto é bobagem. [...] Trecho da entrevista A doença do Brasil é o ódio de classe
(Isto é, 2018), concedida pelo sociólogo, professor e pesquisador Jessé Souza, que atua nas áreas de Teoria Social, pensamento social
brasileiros e estudos teórico/empíricos sobre desigualdade e classes sociais.
Ele é autor de obras como A
guerra contra o Brasil: Como os EUA se
uniram a uma organização criminosa para destruir o sonho brasileiro
(Estação Brasil, 2020); Subcidadania brasileira: Para entender o pais além do jeitinho brasileiro (Leya, 2018); A radiografia do golpe: entenda como e por
que você foi enganado (Leya, 2016); A
elite do atraso: da escravidão á Lava Jato (Leya, 2017); A tolice da
inteligência brasileira: ou como o país
se deixa manipular pela elite (Leya, 2015), Os batalhadores brasileiros:
Nova classe média ou nova classe
trabalhadora? (EdUFMG, 2010); A ralé brasileira: quem é e como vive (EdUFMG, 2009); A
Construção Social da Subcidadania (EdUFMG, 2006), entre outros. Veja mais
aqui.
OUTROS
DITOS
Sou grata por todos esses anos sombrios, mesmo que em
retrospecto pareçam uma longa e amarga prece que foi finalmente respondida... Existem
mil mil razões para viver esta vida, cada uma delas suficiente...
Pensamento da premiada escritora
e ensaísta estadunidense Marilynne Robinson, autora dos livros Home (2008), Gilead (2004) e Housekeeping (1980), entre outros.
NÓS
SOMOS SARDINOS
Somos espanhóis, africanos, fenícios,
cartagineses, romanos, árabes, pisanos, bizantinos, piemonteses. \ Somos as
vassouras de ouro amarelo que brilham nos caminhos rochosos como grandes
lâmpadas acesas. \ Nós somos a solidão selvagem, o silêncio imenso e profundo,
o esplendor do céu, a flor branca do ciss. \ Nós somos o reino ininterrupto do
mastique, das ondas que correm os granitos antigos, a rosa canina, o vento, a
imensidão do mar. \ Somos uma terra de longos silêncios, de horizontes amplos e
puros, de plantas sombrias, de montanhas queimadas pelo sol e vingança. \ Nós
somos sardinos.
Poema da escritora italiana Grazia Deledda
(Grazia Maria Cosima Damiana Deledda – 1871-1936). Veja mais aqui & aqui.
POR QUASE 30 ANOS, FUI UMA PESSOA APÁTRIDA.
Isso significava que eu não tinha país, nem
nacionalidade, e não era reconhecido como cidadão do lugar onde nasci. Não
podia ir à escola, viajar ou mesmo ir ao hospital. Lutei por décadas para ser
considerado um ser humano. Para pertencer. Com muita determinação e
resiliência, realizei meu sonho, mas não da maneira que você poderia esperar. A
vida nem sempre acontece como planejamos. A vida acontece como ela vem e,
depois, como escolhemos vivê-la. Como palestrante motivacional e defensora dos
direitos humanos, agora posso compartilhar com outras pessoas como realizei meu
sonho contra todas as probabilidades e inspirar outras pessoas a realizarem seu
verdadeiro potencial, seus sonhos. Afinal, há muitas coisas que não podemos
escolher — onde nascemos, quem é nossa família — mas podemos escolher nunca
desistir!
Depoimento da ativista e escritora Maha
Mamo, apátrida por conta da religião de seus pais sírios, tornou-se
brasileira desde 2018 e é ativista na campanha #IBelong do Alto Comissariado
das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).
A SABEDORIA DA ANSIEDADE
[...] A ansiedade pede a você, caro leitor, que abrace a
dádiva de quem você é. Talvez lhe tenham dito que você é demais — sensível
demais, dramático demais, emotivo demais, analítico demais — e essa mensagem
foi traduzida dentro do seu eu jovem como se você estivesse errado ou quebrado
de alguma forma. Mas você precisa começar a entender agora, como espero que
saiba ao ler este livro, que não há absolutamente nada de errado com você. Você
não está quebrado. Você não é demais. Você não está errado. Na verdade, são as
mesmas qualidades pelas quais você foi envergonhado que você agora precisa
embrulhar como um animal ferido e abraçar perto do seu coração. Pois é quando
você para de ver sua sensibilidade como um fardo e, em vez disso, a reconhece
como a dádiva que é, que você começará a curar as feridas dentro de você e
trazer sua presença plena ao mundo.[...].
Trecho extraído da obra The Wisdom of Anxiety: How Worry and Intrusive Thoughts Are Gifts to
Help You Heal (Sounds
True, 2019), da psicanalista estadunidense Sheryl Paul.






