DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: A DEMOCRACIA ESCULHAMBADA DE NÃO SEI
ONDE! - Gentamiga, descobri um lugar que não existe! Foi mesmo,
não peta não! Onde fica? Ninguém sabe, alhures. O que soube é que lá ninguém se
entende, conversam sem sentido e dizem o que querem uns aos outros, assim
parece. Tanto é que os maiorais dizem e desdizem ao mesmo tempo: o legal é
ilegal e vice-versa, como tudo o mais é o seu próprio contraditório. Como assim?
Os mais eruditos quando não se comunicam por meio de palíndromos, usam do
expediente de criar enigmas com neologismos incompreensíveis e fica o dito pelo
não dito. Outros nem tanto, conversam de trás pra frente, com frases inteiras
do fim pro começo, todo mundo se perde e fica por isso mesmo. Ninguém entende
nada, pois concordam discordando e elegem o não eleito. Tanto que o governante
desgoverna de tal modo que nada é feito porque é totalmente desfeito, o que dá
no mesmo porque tudo é compulsório sem cumprimento para impunidade. Dizem os de
lá que vivem numa democracia que se desmorona com a ação de grupelhos
manipuladores dos dissensos, mandam desmandando e cada um por si, até que todos
os vivos estejam mortos e os que morreram possam, finalmente, viver em paz. Se lá
tudo é esculhambado, pelo menos no fim dá tudo certo ou errado, tanto faz. Ué,
será o Reino do Fecamepa? Foi de lá
que destrincharam uma charada revelando uns dizeres de José Saramago: Há situações
na vida em que já tanto nos dá perder por dez como perder por cem, o que
queremos é conhecer rapidamente a última soma do desastre, para depois, se tal
for possível não voltarmos a pensar mais no assunto. Todos sabemos que cada dia
que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a
maioria, é só um dia mais. Fiquei com isso martelando no juízo, num é que é
mesmo, hem? Aprendendo cada dia mais.
DUAS: DE QUEM TRABALHA E ESQUECE VIVER! - Ah,
não sei ficar sem fazer nada. Desde menino, o contágio da labuta se entranhou
por todas as minhas veias, gânglios, vísceras e interstícios. Desdezanos que
meto as catanas queimando as pestanas sem descanso. Teve uma hora, já quase
completamente esgotado, fixei na indagação: Para quê trabalhar tanto na vida,
hem? Alguém me persuadiu com SilvioRomero: O trabalho fornece o pão de
cada dia, mas é a alegria que lhe dá o sabor. Sei não, tenho para mim que a
gente está redondamente enganado com a cor a chita do capitalismo, e que, às
nossas custas, tem sabido demais malandrando impune feito Caim, ah se não tem!
Destá.
TRÊS: A VERA ESTÁ MUITO INVOCADA – Bastou cair nos boatos
que um desalmado marido arreou lamboradas boas nas fuças da mulher dele, a Vera
subiu nas tamancas e esfregou o dedo no focinho do folgado, usando do verbo da Ana de Castro Osório: Porque
ser feminista não é querer as mulheres umas insexuais, umas masculinas de caricatura,
como alguns cuidam; mas sim desejá-las criaturas de inteligência e de razão, educadas
útil e praticamente de modo a verem-se ao abrigo de qualquer dependência, sempre
amarfanhante para a dignidade humana. Disse enquanto
segurava na beca dele, chamou na grande, desafiou, bateu o pé, e, diante da
frouxidão do cara, deu um rabo de arraia nos quartos e foi-se mais que invocada
da vida montada nos saltos mais altos que já vi de tanta formosura. Ô danada,
há quem diga: Ô fêmea macha! Vôte! Vamos aprumar a conversa, gente! Até
amanhã. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] É
verdade que o Brasil é diferente, mas nada é mais equivocado do que concluir que
por isso não somos um país racista. É preciso identificar os mitos que fundam
as peculiaridades do sistema de opressão operado aqui, e certamente o da
democracia racial é o mais conhecido e nocivo deles. Concebido e propagado por
sociólogos pertencentes à elite econômica na metade do século XX, esse mito afirma
que no Brasil houve a transcendência dos conflitos raciais pela harmonia entre
negros e brancos, traduzida na miscigenação e na ausência de leis segregadoras. [...] Devemos aprender com a história do feminismo
negro, que nos ensina a importância de nomear as opressões, já que não podemos combater
o que não tem nome. Dessa forma, reconhecer o racismo é a melhor forma de combatê-lo. [...] O que
está em questão não é um posicionamento moral, individual, mas um problema
estrutural. A questão é: o que você está fazendo ativamente para combater o
racismo? Mesmo que uma pessoa pudesse se afirmar como não racista (o que é
difícil, ou mesmo impossível, já que se trata de uma estrutura social
enraizada), isso não seria suficiente — a inação contribui para perpetuar a
opressão. [...] Reconhecer o
racismo é a melhor forma de combatê-lo. Não tenha medo das palavras “branco”,
“negro”, “racismo”, “racista”. Dizer que determinada atitude foi racista é
apenas uma forma de caracterizá-la e definir seu sentido e suas implicações. A
palavra não pode ser um tabu, pois o racismo está em nós e nas pessoas que
amamos — mais grave é não reconhecer e não combater a opressão. [...]. Trechos extraídos da obra Pequeno
Manual Antirracista (Companhia das Letras, 2019), da filósofa e ativista Djamila
Ribeiro, tratando
de temas como atualidade do racismo, negritude, branquitude, violência racial,
cultura, desejos e afetos em onze capítulos curtos e contundentes, apresentando
caminhos de reflexão para aqueles que queiram aprofundar sua percepção sobre
discriminações racistas estruturais e assumir a responsabilidade pela
transformação do estado das coisas. Veja mais aqui e aqui.
A ARTE DE LAYLA LOLI
Fui criada por uma família majoritariamente cristã, estudei balé
clássico desde os 7 anos de idade, e fui para o contemporâneo aos 12. Pouco
tempo depois, aos 15, sofri um acidente grave que me impossibilitou de
continuar dançando, o que fez com que eu me aproximasse do contato improvisação
como uma alternativa e me aprofundasse nos estudos e desenvolvimento de
performances ao longo do tempo com diversos coletivos que conheci pela cena
paulistana. Ingressei na UNIFESP em História da Arte, e lá me aproximei das
Artes Cênicas e estudos sobre o corpo e Sociologia da Arte, e em seguida
iniciei Cenografia e Figurino na Escola de Teatro SP. No meio disso tudo, eu
que já havia participado do Daime e outras vertentes ayahuasqueiras, conheci a
Umbanda seguindo com a prática da ayahuasca, e passei a integrar a questão da
espiritualidade de maneira muito enraizada na minha vida prática, e a partir
daí comecei a escrever definitivamente e desenvolver outros aspectos da minha
produção artística. Acho que não tem muito isso de um livro, uma peça, um filme
que não existe. Existe um pouco (ou muito) de tudo, e a experiência da recepção
estética é nossa, o desejo pessoal, a idealização do consumo artístico não
podem ser usados como critério de catalogação do que está sendo produzido no
mundo lá fora, muitas vezes esses produtos só não foram abordaram certas
temáticas da perspectiva que corresponde a nossa expectativa, nossas verdades
ou zona de conforto, mas não por isso podemos dizer que x coisa ainda não está
sendo feita. Em caso de extrema necessidade, nós mesmas podemos criar o livro,
a peça, a música, o filme, uma vez que já estamos nos prestando ao ofício.
LAYLA LOLI - A arte da atriz,
dramaturga, poeta e multiartista cênica e visual Layla Loli, autora do
poemário A história do gozo e outros canibalismos (Mocho,
2019), e idealizadora do Projeto Dramáticas
(2018). Ela estudou História da
Arte pela UNIFESP, Cenografia, Figurino e Dramaturgia pela Escola de Teatro São
Paulo, dedicando-se à territorialização clandestina da arte. Dela um poema, ESMEGMA: Os homens não nos querem / como
não querem o centeio ou a terra / os homens não querem novos poemas para novos
tempos / novos afetos novos medos novas mentiras / os homens querem se recolher
para lamber os seus / falos e feridas / os homens querem as velhas guerras / o
velho sexo e as velhas primazias. Veja mais aqui.
A ARTE DE IRVING PENN
Uma boa fotografia comunica um fato, toca o
coração, transforma quem a vê. Ela é, em uma palavra, efetiva.
IRVING PENN - A arte do fotógrafo estadunidense Irving
Penn (1917-2009), que durante toda sua carreira fotografou as
mais expressivas mulheres e inúmeras personalidades do planeta. Veja mais aqui.
PERNAMBUCULTURARTES
A arte
da artista plástica Anna Guerra aqui.
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A obra
do premiado dramaturgo Luiz
Marinho (1926-2002) aqui;
Maconha, do escritor, teatrólogo e jornalista Silvino Lopes (1982-1951) aqui.
A arte do pintor, desenhista e gravador José Carlos Viana (1949-2019)
aqui.
A poesia
de Terezinha Lins aqui.
Baixio
das Bestas, de Claudio Assis aqui.
A música
de Zé Linaldo aqui.
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