segunda-feira, junho 18, 2018

ALICE PALMIRA, HABERMAS, ANA OSÓRIO, MARMELO E SILVA, ALDO BONADEI, NEUROEDUCAÇÃO, SÉRGIO RICARDO & LENA D’ÁGUA


AQUELA DO NÃO LIGO & TÔ NEM AÍ! - Imagem: arte do pintor brasileiro Aldo Bonadei (1906-1974) - Pra todo lado me perguntam se estou pronto pra torcer na copa. Oxe, digo de bate-pronto: quem vê essas coisas lá em casa é a madama, sou um zero à esquerda. Hem? Ué, tento afazeres domésticos, mas sou logo demitido por conta do desajeitado de tão mal feito, qual imprestável que mais atrapalha que ajuda. Ah, Copa do Mundo, tá. Estou tão por fora que nem reboco esburacado, faz tempo. Digo mais: afora alguns capítulos com as paisagens e trilha sonora de Pantanal – nem lembro quando foi que assisti -, não sei qual a novela da vez, nem a manchete do noticiário, nem programação da tevê, ou do rádio, nunca mais vi jornal nem revista: tudo a mesma coisa todo dia, tanto faz hoje, ontem ou amanhã, já sei. Pra piorar, livro é caro que só – mas leio o que sobra das bibliotecas e sebos -, nunca mais fui aos bares, não sei que droga é nove, nem quem pintou a zebra, se alguém souber me avise, por favor; só sei que o dia amanhece, a noite escurece e a única certeza de que vou morrer um dia, mais nada. Como não tenho onde cair morto, vai ser prejuízo pra morte e alívio pros parentes distantes e desafetos. Serei menos um pra dá trabalho à humanidade. Ah, quando falam de seleção brasileira lembro logo da corrupção e golpes, greves que são locaute, aumento de combustíveis, meladas dos agentes públicos, a desgraça dos assalariados e excluídos. Além do mais a CBF não me representa, é um antro privado pra sacanagens e sujeiras, lucros e afanações. Ah, tá. Logo vem aquela: E vai torcer por qual seleção, então? Ué, quais países africanos e latinos da competição que eu não sei mesmo, ninguém sabe, menos um que chegou com um álbum de figurinhas e começou a falar duma tuia: Arábia Saudita, Portugal, Irã, Austrália, Islândia, Sérvia, Croácia, Coreia do Sul, não sei bem que mapa-múndi ele estudou, mas deixa pra lá, isso é Brasil, e saí identificando Senegal, Panamá, Egito, Marrocos, Peru, Nigéria, Costa Rica, México, Tunísia, Colômbia, hummmmm... ah, Costa Rica, talvez, Tunísia, Egito, México, legal. Sou pelos azarões, um dia dá. Será? Pra quem torceu pelo Íbis e Vovozinhas de Santo Amaro, já viu. Pois é, aprendi assim depois de empurrões, cotoveladas, petelecos, apertos e camas de gato, na tentativa pela pontaria vesga acertar no ângulo e só triscando na trave, pra fora! Não deu, de novo e sempre. Um dia dá, destá, só remo quando queria navegar, sebo nas canelas e não saio do lugar, todo castigo pra beócio é pouco e me rio. Que me perdoem os ofendidos e os que melindram, é que fui brincar meu carnaval e era São João, que coisa! Passou e nem me dei conta da perda de tempo. Daí pra competição, nem entrei em campo, só na regra três, sempre. Fazer o quê? Oportunidade não é milagre de todo dia e momento. Que me perdoem os que se foram - já já chego por aí -, por mim, não tenho um tostão furado no bolso, dignidade alguma, pendurado no cada um por si, sacaneado pelos umbigocentristas, culpas eventuais, escorregões, piruetas e maledicências mais, preferia mesmo sair levitando em paz, distribuindo beijos e abraços, sorrindo flores de primavera no inverno. De fato, só me resta amar uma mulher e o futuro colaborar pra fruir desse amor. De resto, mãos à obra evitando a cagada, pés no mundo pernas pra que te quero sem deixar rastro e fé em Deus que um dia isso tem jeito. Vamos aprumar a conversa e tataritaritatá! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do compositor, ator, cantor, pintor e cineasta Sérgio Ricardo: Deus e o diabo na terra do sol, Ponto de Partida & Quando menos se espera; da cantora e autora portuguesa Lena D’Água: Sempre que o amor me quiser, Tao & Ou insto ou aquilo; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] A mulher, na sua fundamental função materna tem em si própria, o verdadeiro sentido da palavra nacionalismo, que veio alargando progressivamente através da família, de civilização em civilização, desde o limite estreito da sua primitiva caverna, em que ela foi a primeira base duma sociedade que mal se reconhecia, até ao alargamento máximo das pátrias, que se desdobram em ambições de imposição civilizadora. [...] Não se pode haver uma grande nação se não houver nas mulheres este sentimento que as faz as guardas e fiadoras das qualidades e tradições da raça [...] A mulher tem a função fundamental de guarda das qualidades e tradição da raça. Como a terra, ela é fixadora e o reservatório de todas as energias raciais, mormente dum povo como o nosso que aprendeu cedo o caminho aventuroso da navegação, da conquista e da colonização emigradora [...]. Trechos extraídos da obra A grande aliança (Instituto Piaget, 1997), da escritora, jornalista, pedagoga, ativista republicana e feminista portuguesa Ana de Castro Osório (1872-1935). Veja mais aqui e aqui.

SOCIEDADE ATUAL – [...] da perspectiva de um observador não envolvido, a sociedade só pode ser concebida como um sistema de ações tal que cada ação tem um significado funcional de acordo com sua contribuição para a manutenção do sistema [...] Nós vemos a sociedade como uma entidade que, no correr da evolução, diferenciou-se tanto como um sistema quanto como um mundo da vida. A evolução sistêmica é medida pelo aumento na capacidade de direção da sociedade, enquanto o estado de desenvolvimento de um mundo da vida estruturado simbolicamente é indicado pela separação da cultura, sociedade e personalidade [...] A racionalização do mundo da vida torna possível a emergência e o crescimento de subsistemas cujos imperativos se voltam definitivamente contra o próprio mundo da vida [...] com a institucionalização legal do meio monetário que marca a emergência do capitalismo, a ação orientada para o sucesso, guiada por cálculos egocêntricos de utilidade, perde sua conexão com a ação orientada para o entendimento mútuo. Esta ação estratégica que desatrela-se dos mecanismos de alcançar o entendimento e demanda por uma atitude objetivante inclusive no campo das relações interpessoais é promovida a modelo para lidar metologicamente com uma natureza objetivada cientificamente. Na esfera instrumental, a atividade dirigida a fins, ao retirar sua legitimidade do sistema científico, fica livre das restrições normativas [...] Através dos meios dinheiro e poder, os subsistemas da economia e do estado são diferenciados fora de um complexo institucional estabelecido dentro do mundo da vida; surgem domínios de ação formalmente organizados que, em última análise, não são mais integrados através dos mecanismos de entendimento mútuo mas que se desviam dos contextos do mundo da vida e congelam-se num tipo de sociabilidade livre de normas. Com essas novas organizações surgem perspectivas sistêmicas, das quais o mundo da vida é distanciado e percebido como um elemento do meio ambiente do sistema. As organizações ganham autonomia através de uma demarcação que as neutraliza frente às estruturas simbólicas do mundo da vida. Tornam-se peculiarmente indiferentes à cultura, à sociedade, e à personalidade [...] À medida que o sistema econômico sujeita a seus imperativos as formas de vida do lar privado e a conduta de vida dos consumidores e empregados, está aberto o caminho para o consumismo e para o individualismo exacerbado. A prática comunicativa cotidiana é racionalizada de forma unilateral num estilo de vida utilitário, esta mudança induzida pelos meios diretores para uma orientação de natureza teleológica gera, como reação, um hedonismo liberto das pressões da racionalidade. Assim como a esfera privada é solopada e erodida pelo sistema econômico, também a esfera pública o é pelo sistema administrativo. O esvaziamento burocrático dos processos de opinião espontâneos e de formação da vontade abrem caminho para a manipulação da lealdade das massas e torna fácil o desatrelamento entre as tomadas de decisão políticas e os contextos de vida concretos e formadores de identidade [...] No lugar da falsa consciência, nós lemos hoje uma consciência fragmentada que bloqueia o iluminismo pelo mecanismo da reificação. É somente assim que as condições para a colonização do mundo da vida são dadas [...] Trechos extraídos de The theory of communicative action - Lifeworld and sistem: A critique of functionalist reason (Beacon Press, 1987), do filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas. Veja mais aqui e aqui.

A MULHER & SEDUÇÃO - [...] Maria Noémia, noiva, é sexualmente repelida não em nome do sexo, muito menos por razões intelectuais e espirituais (“delicada, inocente, bondosa...”), mas apenas em nome do dinheiro. Isto quando teria uns 16 ou 17 anos (porque tem uns 34 no momento em que “é escrita” a novela, quando já começou a guerra civil de Espanha). Natural é que, afetivamente frustrada, se revolte não só contra a causa imediata dessa frustração, um homem, mas também contra o gênero a que ele pertence (“abaixo os homens” – gritou ela e com ela gritaram as seduzidas, muito antes dos movimentos de emancipação da mulher) [...]. Trecho extraído da obra Sedução (Caminho, 1937), do escritor português José Marmelo e Silva (1911-1991), que no prefácio e no livro O personagem na obra de José Marmelo e Silva (Campo das Letras, 2008), o poeta, ensaísta e tradutor português Arnaldo Saraiva, procura caracterizar a galeria de personagens preferentemente jovens e masculinos, geralmente em relação difícil ou traumatizante com personagens femininos 'típicos', fixados em espaços limitados e limitantes da família, do campo, do internato ou da caserna confrontados com valores, hipocrisias e preconceitos patriarcais, autoritários, religiosos ou sexuais, contra os quais podem inglória ou dramaticamente rebelar-se. Também o escritor José Saramago (Boletim Editorial Estúdios Cor, 1960), expressa a respeito da obra que: [...] Ainda hoje, não obstante todos os anos decorridos, Sedução continua a ser um livro de combate, um livro indisciplinador. Não pela escabrosidade do tema - aliás tratado com a delicadeza e uma finura inexcedíveis, quando tão fácil (e tão comercial…) era ceder à tentação do obsceno -, mas pelo carácter insólito da análise, que progride por pequenas deslocações laterais; por iluminação de planos sucessivos, e não, como é corrente, por um mergulho vertical, pela sobrecarga de minúcias psicológicas que, habitualmente, fazem da personagem literária um monstro, inviável fora das páginas do livro. E o estilo? O maior bem que dele se pode dizer é que outro não serviria melhor o autor. Ao mesmo tempo usual e castigada, a sua linguagem parece ter sido decantada de maneira algo bizarra: aceitando muito do que se exclui, excluindo muito do que aceita, o resultado final é um estilo que não tem similar em Portugal. [...].

MINHA POESIADá-me a tua luz / A verdade do olhar / Não é mal nenhum escrever meu nome / Não é mal nenhum escrever poesia / Não é mal nenhum escrever teu nome / Não é mal nenhum escrever teu gozo / Não é mal nenhum escrever liberdade / A paz / O amor / A bondade / A mansidão / A temperança / Dá-me a tua luz / A verdade do teu olhar / Onde vai a poesia? / Onde para a poesia? / Se a sinceridade e a poesia dói, isto é / Escrever um poema. Poema extraído da obra A Mulemba da Saudade (UEA, 2004), da poeta congolesa com nacionalidade angolana, Alice Palmira – Dudu.

ARTE DE SÉRGIO RICARDO
Pinturas da série Transparência (2001), do compositor, cantor, cineasta, escritor e pintor Sérgio Ricardo.


O livro Confissões, de Vital Corrêa de Araújo & muito mais na Agenda aqui.
&
Neuroeducação & Práticas Pedagógicas no Ensino-Aprendizagem aqui.
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A arte do pintor Aldo Bonadei (1906-1974) aqui.
&
Dicas da hora para felicidade agora (amanhã pode ser tarde demais, se avie!), a crônica de Sérgio Augusto, a escultura de Desiré Maurice Ferrary, a pintura de Milton Dacosta, o cinema de Lucrecia Martel & Maria Alché, Seca & Desertificação aqui.

APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Comércio de Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo.
 

LAUREN ELKIN, AKSINIA MIHAYLOVA, VANESSA NAKATE & BRENDA BAZANTE

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Fruto (2004), Candeias (2009), Faces (2016) e Inzu (2019), da pianista, compositora e pe...