DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: É CADA UMA QUE NEM CONTO – Pois é,
chega! Quebrei a caixa, mudei de casca, troquei de pele, juntei os trapos e as
mirradas lembranças para saber o que envergonha e o desesperador: apenas o
silêncio e a solidão. Tudo que fiz até agora foi em vão, tão inútil quanto
saber-me nem cético, nem cínico, apenas que já estava no sangue o louco de
nascença atravessando anos de desencontros pelo insólito, para me perder por tão
poucos reencontros. É tarde demais, nem sei quantos remorsos, tantas
travessias, a vida eclipsada pisando em falso, engolindo mosquitos, tentando me
desvencilhar de socos no estômago por escapulidas nem sempre escorregadias. A despeito
dos embaraços envelheci desgracioso e desajustado, nada mais, apenas menino pés
alados e desajeitado, levado pela corrente ao vento entre pedras e margens da
minha desordem e indignação. Queria apenas contar uma historinha simplesmente
humana, e em voz alta como uma oração estranha e própria aos que se foram e saudando
os vivos, fazer a minha parte, apenas, como se salvasse o planeta do lixo um tantinho
assim, feito o beija-flor de Crema:
é pouco, mas sou eu, não sou nada. DUAS:
APRENDIZ DE FEITICIEIRO, AEQUO AMENOS – Mesmo assim, extenuado dos inúteis
esforços diante das inconveniências e misérias, tanto nado contra a corrente e
do estresse da normalidade para não ser apenas um código de barras, ou um
animal pensante ou sei lá o quê. O normótico é tão desumano e não me basta por
ser tão aborrecido e enlouquecedor. Nem ligo pras galhofas se sou um fracassado
de Jung, sei que não sou mais estúpido por absoluta falta de espaço, enquanto o
grotesco está na esquina e eu encaro em cima da fivela sem sair da raia. Por incrível
que pareça, já fiz de tudo tanto por vocação da necessidade em alta voltagem
que nem sei mais, só não quero confundir as coisas: sou a favor de tudo que não
seja contra o sujeito, apenas. Com os dias contados botei todas as portas abaixo
para enfrentar o flagelo das interdições, tudo desapareceu, graças. Mesmo que
tenha que aturar a chatura, dou umas risadas esclarecedoras com o GregNews, ou refletindo com o Meteoro e o Normose, ou seguindo o coletivo ciberativistas Sleeping Giants, enquanto vou xexéu assobiando Quintana passarinho. TRÊS:
PANTA RHEI – Tudo passa, tudo flui. O assobio segue morros e abismos, quer
ser indene e distingue vis-à-vis o que vem do bem e bom, quase premonitório
visionário suplantando as nuvens de cocô de alcestes coisonários com seu
negacionismo da distopia transnacional e estereótipos ad bestias! Sem nem saber vai arrebentando a anomia catingosa feita
de coprólitos e flatulências dos que insistem suplícios nas arenas, ah, ignoro o
desprezível com suas tolices letais do cúmulo da parvoíce humana. Ainda ouço a
sátira de Bernard Shaw: A democracia é um sistema que faz com que
nunca tenhamos um governo melhor do que merecemos. Sorrio e persigo solfejando
a Carta à República de Milton e Brant: Quero um país melhor! Se der jeito, ou se quiser, vamos aprumar a
conversa, gente! Até mais ver! © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] Uma das
grandes ironias de como as democracias morrem é que a própria defesa da
democracia é muitas vezes usada como pretexto para a sua subversão. Aspirantes
a autocratas costumam usar crises econômicas, desastres naturais e, sobretudo,
ameaças à segurança – guerras, insurreições armadas ou ataques terroristas –
para justificar medidas antidemocráticas. [...] Como não
há um momento único – nenhum golpe, declaração de lei marcial ou suspensão da
Constituição – em que o regime obviamente “ultrapassa o limite” para a
ditadura, nada é capaz de disparar os dispositivos de alarme da sociedade.
Aqueles que denunciam os abusos do governo podem ser descartados como
exagerados ou falsos alarmistas. A erosão da democracia é, para muitos, quase
imperceptível. [...] As
democracias funcionam melhor – e sobrevivem mais tempo – onde as constituições
são reforçadas por normas democráticas não escritas [...] a tolerância mútua, ou o entendimento de que
partes concorrentes se aceitem umas às outras como rivais legítimas, e a
contenção, ou a ideia de que os políticos devem ser comedidos ao fazerem uso de
suas prerrogativas institucionais. Trechos extraídos da obra Como as democracias morrem (Zahar, 2018), dos professores e cientistas políticos
estadunidenses, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, realizando uma análise
crua e perturbadora do fim das democracias em todo o mundo, comparando o caso
de Trump com exemplos históricos de rompimento da democracia nos últimos cem
anos, tais como da ascensão de Hitler e Mussolini nos anos 1930 à atual onda
populista de extrema-direita na Europa, passando pelas ditaduras militares da
América Latina dos anos 1970, fazendo uma alerta: a democracia atualmente não termina com uma ruptura violenta nos moldes
de uma revolução ou de um golpe militar; agora, a escalada do autoritarismo se
dá com o enfraquecimento lento e constante de instituições críticas – como o
judiciário e a imprensa – e a erosão gradual de normas políticas de longa data.
Veja mais aqui, aqui & aqui.
A MÚSICA DE EDGARD VARÈSE
Deve-se pensar em
termos de som e não em termos de notas sobre o papel. Minha linguagem é
naturalmente atonal ainda que certos temas, certas notas repetidas, à maneira
das tônicas, constituam eixos em torno dos quais as massas parecem se aglomerar. Deste modo o desenvolvimento musical
cresce pouco à pouco graças à repetição
de certos elementos que se apresentam sempre sob diferentes aspectos, e
o interesse aumenta graças à oposição
dos planos e graças ao movimento
das perspectivas. Se os temas reaparecem, eles ocupam sempre uma função
distinta num meio novo (os volumes). Quando os novos instrumentos me permitirem escrever
música tal como a concebo, os movimentos das massas e o deslocamento dos planos
sonoros serão claramente perceptíveis na minha obra e tomarão o lugar do
contraponto linear. Eu pessoalmente gosto muito da
definição de H. Wronsky: 'A música é a corporificação da inteligência nos sons'.
EDGARD VARÈSE - Trechos
extraídos da obra Écrits (C. Bourgeois, 1983), do
compositor francês Edgard Varèse (1883-1965),
reunidos e apresentados pela professora e musicóloga canadense, Louise Hirbour.
O compositor definiu os parâmetros para uma nova ética da pesquisa musical, com
o rigor da firmeza artística desligada de teorias apriorísticas, com o
propósito visionário de referência do estado de inquietude.
&
A DEMOCRACIA DE TOM ZÉ
Democracia que me engana / na gana que tenho dela / cigana ela se
revela, aiê; / democracia que anda nua / atua quando me ouso / amua quando
repouso. / É o demo o demo a demo / é a democracia / é o demo o demo a demo / é
a democracia. / Democracia, me abraça / com tua graça me atira / desfaz esta
covardia, aiê; / democracia não me fere / mira aqui no meio / atira no meu
receio. / Democracia que escorrega / na regra não se pendura / na trégua não se
segura, aiô; / democracia pois me fere / e atira-me bem no meio / daquilo que
mais eu mais receio. / Democracia, não me deixe / sou peixe que fora d'água / se
queixa, morre de mágoa, aiê; / democracia não se dita / maldita seja se dura, /
palpita pela doçura.
Democracia, do álbum No Jardim da Política (1984), parceira de Tom Zé e Vicente Barreto. Veja mais aqui e aqui.
A ARTE DE LYUDMILA TOMOVA
No meu trabalho, mesclo elementos abstratos e realistas
para criar clima, movimento e uma impressão do mundo ao nosso redor e dentro de
nós. Minhas pinceladas estão se movendo, empurrando, emergindo e esmagando, mas
nunca estão quietas e quietas. No meu trabalho recente, eu pintei o estilo alla
prima, acrescentando espontaneidade, ousadia e elegância de uma só vez. Eu
pinto contando histórias mágicas e evocando emoções complexas.
LYUDMILA TOMOVA – Lyudmila Tomova, que estudou realismo clássico na Academia de Belas
Artes de Sofia e mais tarde na FIT em Nova York, onde estudou ilustração, além
de sua experiência artística diversificada há mais de 20 anos. Veja mais aqui e aqui.
PERNAMBUCULTURARTES
A arte
da pianista e compositora Lucia Helena Gondra, autora de frevos como Riso
largado no passo rasgado, Vou de reboque, Os bordões, entre outros sambas,
choros e frevos de blocos.
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A música
do pianista, maestro e compositor Marlos Nobre aqui.
Outro sol se levanta, do escrito Pelópidas Soares (1922 –
2007) aqui.
Rio Una:
poemas, do poeta, jornalista, economista e folclorista Jayme
Griz (1900-1981) aqui.
A
realidade social da ficção, do sociólogo Sebastião Vila Nova aqui.
A arte da fotógrafa, artista visual e pesquisadora Ana Lira aqui.
&
A Praieira em Água Preta aqui.