segunda-feira, abril 08, 2019

HUSSERL, LUIZ RUFFATO, MARIA ROSA NUNES, LAURA FINOCCHIARO, PALÍNDROMOS & ZÉ LINALDO


PALÍNDROMOS – 10:01, luzes, zás-trás. De pai e mãe, eu; de amor e sexo, a vida: palíndromos das horas. A infância na idolatria paterna; maternidade protetora no ninho das mulheres e a manha pelas enfermidades: primeiro os olhos vermelhos de fogo na roda-gigante; depois, amarelo de fígado. O menino são inventou a escada e subiu faca nos dentes, a goiabeira: o fruto à mão, meninas em festa. No último degrau, o espirro no telhado e a vertigem, a queda na lavanderia: a torneira e garrafas vazias, pernas pro ar, desacordado. Era primeira lição de sísifo, ouroboros. A vida passa e à flor da idade, o pedestre aos vinte e três anos, a encruzilhada e a colisão de automóveis. 05:50, o transeunte é alcançado, o atropelamento. Um corpo estendido entre o meio-fio e o asfalto, sangue na sarjeta. A segunda lição, afora outras de somenos. Vai já meia idade e as mãos em concha aos ouvidos, o silêncio no meio do zoadeiro. Velhice prematura, sabedoria inócua: a arte e não ter mais o que fazer, só esperar. Quantas lições entre gargalos, novelos, látegos, malabares, e a remover antolhos na magreza dos instantes, lixeiras destampadas, travessias lancinantes. 00:00, domingo que não sei se primeiro de janeiro ou diário limpo, anuário esquecido, quantos decênios e o milênio: o ideal da felicidade é uma luz refletida no espelho. Um rol de tantas frustrações e angústias exacerbadas, o isolamento do drama diário, cadê o inesperado, o mundo ordinário. Resta deitar no chão e saber que o medo é o limite da liberdade entre segredos e a insuportável convivência: insultos e agressões veladas. Sair da linha e renascer na devastação, o que restava: emoções encadeadas por tantos dias, 20 de março de 2003 ou 04 de abril de 2004, semanas, anos, décadas, só daria conta muito depois de pintar o sete por muitos sétimos períodos. A vida é morrer a cada dia e recomeçar. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
 [...] Na mesa do meu escritório, de onde avisto os prédios do bairro da classe média alta de Higienópolis, do outro lado da Avenida Pacaembu, em São Paulo, há um porta-retrato. Nele, uma fotografia embaçada registra uma estranha composição: em primeiro plano um menino, trajando uma curta blusa de flanela, um desajeitado short e um sujo par de chinelos de dedo, tristes e assustados olhos semifechados. Pousadas em seus ombros magros, duas mãos femininas; ao lado, parte de uma perna de calça e uma barriga, que se advinha em breve proeminente, indica a existência de um homem (marido das mãos femininas, talvez). Assentada sobre o braço da mulher, uma outra mão. Pela composição das sombras, deduz-se a tarde, e pelas roupas, o final de inverno. Assim a foto sobre a mesa: o menino surge de corpo inteiro, mas os outros três personagens são inidentificáveis – falta-lhes o rosto, página em branco onde se imprime nossa individualidade, nossa singularidade, nossa história, enfim. Todo o meu esforço como escritor tem sido o de tentar recompor essa imagem. O menino, identifico-o, sou eu, aos cinco ou seis anos de idade. Mas quem são os outros três personagens que, numa tarde de inverno para sempre perdida, imobilizaram-se para o olhar amador de alguém por detrás da máquina fotográfica? Quais são seus nomes, de onde vieram, onde estarão agora, o que fizeram de suas vidas, foram felizes? Do menino, sei eu – e, curiosamente, é o que menos importa. Mas, e todos aqueles que sucumbiram, sem voz e sem nome, e que a História registrará apenas nas lápides de humildes cemitérios que a borracha do tempo apagará? E os outros, que nem mesmo a morte resgatará do anonimato? [...] Imagem: filme Redemoinho, dirigido por José Luiz Villamarim e baseado na obra de Ruffato.
Trechos de Até aqui, tudo bem! - Como e porque sou romancista – versão século 21, do escritor Luiz Ruffato, extraído de Espécies de espaço: territorialidades, literatura, mídia (EdUFMG, 2008), organizado por Izabel Margato e Renato Cordeiro Gomes. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

A ARTE DE MARIA ROSA NUNES
A arte da artista visual Maria Rosa Nunes que possui formação superior em design e atua profissionalmente com pinturas, colagens gráficas, arte digital e direção de arte em agências de publicidade. Veja mais aqui.

A MÚSICA LAURA FINOCCHIARO
A arte da cantora, compositora, guitarrista, arte-educadora e produtora musical Laura Finocchiaro, que iniciou sua carreira na esteira dos movimentos musicais da década de 1980, em Porto Alegre, e transitou em São Paulo nos palcos da Lira Paulistana, o Madame Satã e a Fábrica do Som, além de participar do festival Rock in Rio II, ao abrir os shows de Prince e Santana. Ela já lançou os álbuns Laura Finocchiaro (1992), Ecoglitter (1998), Tashi Delê mantras de roda (2001), Oi (2003), Lauras (2008), Copy paste, Música orgânica (2013), Eletrorgânica (2016), Eletrorgânica (Vol.2. 2017), On-Off (2018) e Princesinha devorada (2018). Tem se projetado com clipes, trilhas e crias sonoras, atuando no teatro e na televisão, em longas metragens, documentários e vídeo arte, desfiles de moda e arte educação, além de ter participado de diversas coletâneas. Veja mais aqui.
&
A ARTE MUSICAL DE ZÉ LINALDO
A arte musical do músico, compositor, intérprete, arteducador e produtor cultural Zé Linaldo aqui, aqui & aqui
&
É pela intencionalidade que podemos elucidar a estrutura da própria consciência imaginante. Só assim se põe em relevo o ponto mais importante desta vivência.
A obra do filósofo e matemático alemão Edmund Husserl (1859-1938) aqui, aqui, aqui e aqui.


PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

  Imagem: Foto AcervoLAM . Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira .   Lua de Maceió ... - Não era ...