quinta-feira, abril 25, 2019

ERICH FROMM, LEDO IVO, RUTH MEZECK, MONA KUHN & DO OURO AO PÓ!


DO OURO AO PÓ – Meu nome é Atilardisio Silva Terceiro, o Tezinho para os íntimos. Esse era o nome do meu avô, seu Titido, homem de negócio, sisudo, austero. Ele tinha para mais de 10 irmãos, se virou sozinho desde muito jovem, vendendo bolo de goma, sandálias, brebotes em tolda na feira. Família, para ele, só no retrato e em funerais. Sumia toda noite na ponta dos pés, transações com fornecedores e fisco até de madrugada – as más línguas insinuavam barriga verde e lupanar, coisas de fofoca, ao que parece, nunca me disseram a verdade. Os irmãos arriavam a ripa, tratavam-no por traidor. Outras diziam dele, nunca deixou cair a pose, muito embora gostasse de um rabo de saia e de sodomitas. Só sei que ele se engraçou da minha avó, uma linda jovem chamada Nitinha – ela odiava o nome de registro e batismo: Norinete. Casaram e ele prosperou longe dos parentes, não sei ao certo como, apenas que conseguiu depois de muito esforço abrir a Loja do Titido, um estabelecimento comercial que vendia de tudo. Com o tempo já mais de uma centena, uma rede de lojas pelo interior afora. Do casal nasceu meu pai, Atilardisio Segundo, o Sessé, filho único que nunca deu um murro numa cocada, nem estudou nem quis nada com a vida já que ela, para ele, já estava ganha: era só pegar o que quisesse e gastar com apostas, caprichos e relações escusas. Perto dos 30 anos, meu pai casou-se com uma ricaça fútil: a minha mãe que não descia do salto alto nem para me parir. Tornei-me o brinquedinho predileto dela e da minha avó. Do meu avô só sei de ouvir dizer: morreu de forma duvidosa, não se sabe por conta dos desmandos do meu pai, ou se bateu as botas nos regalos de umas coxas taradas de mulher da vida. Só sei que nada me faltava até então: aparelhos tecnológicos, caboetas, posses e jeitinhos. Usei e abusei, como meu pai: ofício algum na vida, só gastar por prazer. Sempre tive ao alcance da mão tudo que quisesse. Minha mãe sempre tirânica ralhava que eu era escritinho ao meu pai, tal e qual. Nunca notei essa semelhança, na verdade, pois, igual a ele, para mim, só no nome, já que ele era sabido demais, malicioso. Minha indignação com ele se deu quando descobri quem era aquela mulher toda espaçosa e elegante que ele chamava de Jacinto. Isso às gargalhadas com seus comparsas insuportáveis, Adolfo Dias e Oscar Alhada, que não saiam lá de casa nem do escritório dele. Só no dia que peguei na folha de pagamento é que entendi: havia uma soma mensal para Jacinto Leite Aquino Rego. Na verdade, nunca gostei mesmo dos meus pais. Principalmente quando ele acabou com tudo e virou a cara para a política, elegendo-se prefeito numa cidadezinha interiorana. Meu pai virou pilhéria, além de um salafrário. Nem tenho notícia dele – só daquela da tevê anunciando o afastamento dele do cargo -, nem quero saber se já foi preso ou se está corrido de tanto meter a mão na prefeitura. Nem da minha mãe, uma dondoca chata que, tenho certeza, está endoidando ainda mais a sogra até matá-la de raiva. Até me esquecia do enlouquecimento de vez da minha avó, sabia que ela já não vinha boa da bola desde um dia lá de uma coisa que só soube muitos anos depois. Tinha ciência que havia perdido um seio por doença, o que a desgraçara para o resto da vida. Contudo, outra causa remoía no seu juízo e eu não fazia a menor ideia: o flagra do marido aos amores com um sobrinho dela. Fatídico. Desde então minha mãe me deixou aos cuidados das babás, as quais embuchei, bancando abortos para não queimar meu filme. São minhas guarda-costas, agenciam serviçais e administram as que pensam que namoram comigo, afora propiciarem acesso a baratos incalculáveis. Dos meus pais e avós guardo nenhum afeto, hoje muito menos, me abandonaram nesta cela infecta, nem me visitam. Só das minhas protetoras que sobrevivo na minha solidão, elas que me visitam e me mimam atrás dessas grades, aprendendo todo dia o que é a vida. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] O mundo é um grande objeto de nosso apetite, uma grande maçã, uma grande garrafa, um grande seio; nós somos os lactentes, os eternamente expectadores lactentes – e lactentes eternamente desapontados. [...] O caráter acumulador, o caráter de marketing que se adapta à economia de mercado ao se tornar apartado de emoções autenticas, da verdade e de convicções, tudo se transforma em mercadoria, não só as coisas, mas a própria pessoa, sua energia física, suas aptidões, seu conhecimento, suas opiniões, seus sentimentos, até mesmo seus sorrisos. [...] Essas pessoas não são capazes de se afeiçoar, não porque sejam egoístas, mas porque sua relação com outros e consigo mesmas é muito tênue [...] O catáter produtivo que ama e cria, e para o qual ser é mais importante do que ter. um caráter produtivo como esse não encontra estímulo na economia de mercado. Na verdade, constitui uma ameaça a seus valores. [...]
Trechos extraídos da obra The Sane Society (A sociedade sã - Reissue, 1990), do filósofo, sociólogo e psicanalista alemão Erich Fromm (1900-1980), em que o autor apresenta a sua filosofia social e política, analisando a moderna sociedade capitalista industrial e seus cidadãos vistos como necessariamente alienados, comercializados e conformados, tratando, por consequência das patologias da sociedade que contribuem para a doença dos indivíduos. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

O TEATRO DE RUTH MEZECK
A arte da atriz, palhaça, performer e blogueira do Teatro Etc & Tal, Ruth Mezeck, que está no III Bolina – Festival Internacional de Palhaças, com o seu espetáculo A mulher aquela, dia 06 de maio, às 21hs, em Portalegre, Portugal. Veja mais aqui e aqui.

A FOTOGRAFIA DE MONA KUHN
A arte da fotógrafa contemporânea Mona Kuhn. Veja mais aqui.
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A OBRA DE LEDO IVO
O que sobra é obra, o resto soçobra.
A obra do premiadíssimo escritor e ensaísta alagoano Ledo Ivo (1924-2012) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.


PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

  Imagem: Foto AcervoLAM . Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira .   Lua de Maceió ... - Não era ...