CARTA DE CHEGADA
- Pronto, cheguei. Pode não ser uma boa
hora. A vida é o inesperado. Planejei e tudo foi por água abaixo, estou
inteiro, pelo menos, algumas dores, nem tudo é como se deseja. O que subiu,
desceu e vice-versa, e et cetera.
Nunca se sabe o certo ou errado, fiz o que pude embolando o meio de campo e o
que vi nem sempre era real, ilusões encobertas, ou pedras duras, irremovíveis. Tanto
tempo mundo afora, é aqui que tenho Anteu que pagar meus pecados, como assim me
dera a volta do filho pródigo. Paguei tudo, acho, resignado e às avessas. Se devo,
cumpro a pena. Afinal, a culpa é toda minha, totalmente minha, de mais ninguém.
Não há como ser poupado, nem quero levar por menos, a justa conta. De uma para
outra, algo tira o sossego, qualquer coisa desagradável, é a vida. Haja
situações aversivas. Eu sei, recorrentes. É a vida. Para quem singrou mares
nunca dantes navegados, escapei. Maremotos, vendavais, mares revoltos, abertos
ou fechados, glaciais incursões, atlânticas bordejadas, pacíficas desventuras,
índicas velejadas por mediterrâneas ondas, marés e correntes, bacias e costas,
navegar é preciso. Para quem revirou continentes dos montes Urais à Península
Íberica, desertos, florestas, latitudes desconhecidas, longitudes remotas, do
Canal de Suez pelo estreito de Gibraltar até o Cabo da Boa Esperança, do
estreito de Bering pelo istmo de Tehuantepec até o cabo de Horns, do estreito
de Drake à ilha de Baffim e às paisagens australasianas, chão que me acolheu,
conquistas e desolações, aprendi, posso ter esquecido coisas importantes,
lembro coisas e sonhos. Do que fui para o que sou, muitas noites e dias a céu
aberto, terra nua, ares insalubres, águas envenenadas, tudo tão lindo e
comovedor, paraísos fascinantes, infernos assustadores. Pés no chão para quem
sonhava voar. Cenas muitas, fogaréus, relâmpagos, trovões, como aquela dos budistas,
acho que do Apocalypse Now do
Coppola: bombardeios no Vietnã, e no meio do maior fogo cruzado, eles,
serelepes, atravessam destemidos, incólumes, nem aí pra tragédia. A vida imita
a arte. E eu ainda aprendendo. Só sei que quem vai se sujeita a tudo e também
cara à tapa, triunfos revelados. Se ficasse era pra ir, larguei receios para
segurar o caos. E à deriva. Aqui estou, regressei. Mortovivo, aos pedaços e
frangalhos. Refazer a vida e seguir em frente, sem saber se fica – para morrer,
basta estar vivo -, ou se vai, errâncias e compensações. Passo, existo, um dia
de cada vez. E a insistir, persistir, perseverar, cônscio. Vou e volto. Na verdade,
só sei que vivo e, o que importa, é viver, nada mais. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] O ataque em massa
ao meio ambiente global não é de responsabilidade apenas de industrialistas
ávidos de lucros, nem de políticos sem visão e corruptos. Há muita culpa a
partilhar. A tribo dos cientistas tem desempenhado um papel central. Muitos de
nós nem sequer nos damos ao trabalho de pensar sobre as consequências a longo
prazo de nossas invenções. Temos nos apressado a colocar poderes devastadores
nas mãos de quem oferece mais dinheiro e nas mãos das autoridades da nação que
por acaso habitemos. Em muitos casos, tem nos faltado uma bússola moral. [...].
Trechos extraídos da obra Bilhões e bilhões: reflexões sobre a vida e a morte na virada do milênio
(Cia. das Letras, 1997), do astrônomo e
biólogo estadunidense Carl Sagan (1934-1996), com a colaboração da
escritora e produtora de projetos na popularização científica estadunidense Ann
Druyan, tratando de temas como o poder e a beleza da quantificação, o
tabuleiro de xadrez persa, psicologia, comportamento humano,
caçadores-coletores, comportamento cientifico das ondas sonoras e luminosas,
questões cósmicas, ciclo de vida, os conservadores, seres vivos e ecossistemas,
aquecimento planetário, religiões e ciência, entre outros assuntos. Veja mais
aqui, aqui e aqui.
A ARTE DE DRIKA PRATES
Inspirada no movimento fluido dos processos, do que passa pelo corpo e
se torna a extensão-reflexo do pulsar orgânico. Do nó natural ao nó social.
A POESIA DE LOURDES SARMENTO
DESEJOS: Onde meu desejo floresceu / não me encontro / quanto mais olho atrás de mim / fico perdida no ciclo fechado do / tempo / os
que me perturbaram / não têm rostos / o
deserto agonizante de mim / própria, secou a fonte das feras / então caminho /
Onde meu desejo floresce / ordeno-te: / segue teu destino / à procura de outras caças / estrangulo tua
voz / serpente do mal / línguas e setas envenenadas / Não quero pensar no
futuro / o futuro talvez seja o agora / o desejo floresce na minha pele / então
caminho.
Poema extraído do livro Liberdade de pássaro (Bagaço, 2014), da
premiada escritora Lourdes Sarmento, que é autora dos livros Poemas
do despertar (1965), Explisão das Manhãs (1973), Tatuagens da solidão (1991),
Vingt-Cinq poèmes de passion (Unesco, 1994), Guardiã das horas (Autor, 2003),
50 poemas escolhidos (Galo Branco, 2009), 7 cartas e uma confissão de amor
(Comunigraf, 2004) e Metade do Caminho (Guararapes, 2015).
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A POESIA DE JOSIAS MOREIRA DE ALCANTARA
A MULHER DO SÉCULO VINTE E UM: No século
vinte e um... mulher! / Avança em passo maior / E com salário menor... / Desvenda
tudo o que quer! / Ganha espaço no trabalho / Não se faz de quebra galho, / É
profissional completa! / Impressiona na eficiência / Que demonstra a competência
/ E independe da função! / Basta acompanhar na escola / Como a mulher sobressai
/ E do seu salto não cai... / Faz bem feito e nunca enrola! / O homem fica para
traz / Vendo o que uma mulher faz / E até bate continência! / O mundo está bem
mudado / Que o homem tome mais cuidado / Sem ousar na truculência! / Tudo é
rápido e letal / E exige cuidados sérios / Á vencer muitos mistérios / Incluindo
o digital! / Esse mundo anda depressa / E em todo o canto já acessa / Tudo em
seu tempo real... / Quem não ficar bem atento / E perder-se de talento... / Esse
sim vai passar mal!!!
Poema do poeta, trovador, professor e palestrante Josias Moreira de Alcântara é formado
em Marketing e Didática do Ensino Superior, membro da União Brasileira de
Trovadores (UBT), da Associação Paranaense de Autores Independentes (ACEPAI),
da Academia Brasileira da Poesia Raul Leone de Niteroi (RJ) e autor de mais de
dez livros, tendo lançado recentemente o livro Curitiba em versos (Protexto,
2019). Veja mais aqui.
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A OBRA DE ALLEN GINSBERG
Os corpos quentes brilham juntos na escuridão,
a mão se move para o centro da carne, a pele treme na felicidade e a alma sobe
feliz até o olho.
A obra do
poeta estadunidense da geração beat Allen Ginsberg (1926-1997) aqui,
aqui, aqui, aqui e aqui.