CANÇÃO – No livro Uivo, Kadish & outros poemas (1953-1960, L&PM, 1984), do
poeta estadunidense da geração beat Allen
Ginsberg (1926-1997), destaco o poema Canção, tradução
de Claudio Willer: O peso do mundo / é o amor. / Sob o fardo / da solidão, / sob o fardo
/ da insatisfação / o peso / o peso que carregamos / é
o amor. / Quem poderia negá-lo?
/ Em sonhos / nos toca / o corpo, / em pensamentos
/ constrói / um milagre, / na imaginação / aflige-se
/ até tornar-se / humano - / sai para fora do coração / ardendo
de pureza - / pois o fardo da
vida / é o amor, / mas nós carregamos o peso / cansados / e assim temos que descansar / nos braços do amor / finalmente
/ temos que descansar nos braços
/ do amor. / Nenhum descanso / sem amor, / nenhum sono / sem sonhos
/ de amor - / quer esteja eu louco ou frio, / obcecado por anjos / ou por máquinas, / o último desejo / é o amor / - não pode ser amargo / não
pode ser negado / não pode ser
contigo / quando negado:
/ o peso é demasiado / - deve dar-se / sem nada de volta / assim como o pensamento / é dado / na solidão / em toda a
excelência / do seu excesso.
/ Os corpos quentes / brilham juntos / na escuridão, / a mão se move / para o centro / da carne,
/ a pele treme / na felicidade / e a alma sobe / feliz até o olho - / sim, sim, / é isso que / eu queria,
/ eu sempre quis, / eu sempre quis / voltar / ao corpo / em que nasci. Veja mais
aqui e aqui.
Imagem: Nu, do pintor francês Raoul Dufy (1877-1953)
Curtindo a Opéra bouffe em trois actes La petit Mariée (1875), do compositor francês Charles Lecocq (1832-1918), com Renaissance Orquestra Lyric da RTF, sob a direção de Roger Ellis.
VAMOS APRUMAR A CONVERSA: REPRISE BRINCARTE – Há um menino / Há um moleque / Morando sempre no meu coração / Toda vez que o adulto balança / Ele vem pra me dar a mão / Há um passado no meu presente / Um sol bem quente lá no meu quintal / Toda vez que a bruxa me assombra / O menino me dá a mão / E me fala de coisas bonitas / Que eu acredito / Que não deixarão de existir / Amizade, palavra, respeito / Carater, bondade alegria e amor [...]; Com esses versos da música Bola de meia, bola de gude, da dupla Milton Nascimento & Fernando Brant, alimento todo dia a criança que se mantém viva dentro de mim. Percebo que apesar de cinquentão, essa criança é a maior e melhor parte que carrego em mim. Por isso, hoje pras crianças de todas as idades é dia de reprise do programa Brincarte do Nitolino, nos horários das 10hs e das 15hs, com apresentação encantadora de Isis Corrêa Naves, no blog do Projeto MCLAM. Para conferir online é só clicar aqui ou aqui.
MENINO
DE ENGENHO – O livro Menino de engenho (1932 – José Olympio,
1980), do escritor José Lins do Rego
(1901-1957), romance de estreia do autor na Literatura, dividido em trinta e
três capítulos contando a história de um menino órfão de um pai que assassinara
sua mãe e a descoberta do mundo no engenho do avô, um patriarca do coronelato
da cana-de-açúcar nordestina. Da obra destaco o trecho inicial: Eu tinha uns quatro anos no dia em que minha
mãe morreu. Dormia no meu quarto, quando pela manhã acordei com um enorme
barulho na casa toda. Eram gritos e gente correndo para todos os cantos. O
quarto de dormir de meu pai estava cheio de pessoas que eu não conhecia. Corri
para lá e vi minha mãe estendida no chão e meu pai caído em cima dela como um
louco. A gente toda que estava ali olhava para o quadro como se estivesse a
assistir a um espetáculo. Vi então que minha mãe estava toda banhada em sangue,
e corri para beijá-la, quando me pegaram pelo braço com força. Chorei, fiz o possível
para livrar-me. Mas não me deixaram fazer nada. Um homem que chegou com uns
soldados mandou então que todos saíssem, que só podia ficar ali a Polícia e
mais ninguém. Levaram-me para o fundo da casa, onde os comentários sobre o fato
eram os mais variados. O criado, pálido, contava que ainda dormia quando ouvira
uns tiros no primeiro andar. E, correndo para cima, vira o meu pai ainda com o
revólver na mão e a minha mãe ensanguentada. “O doutor matou a Dona Clarisse!
Porquê?” Ninguém sabia compreender. O que eu sentia era uma vontade desesperada
de ir para junto de meus pais, de abraçar e beijar minha mãe. Mas a porta do
quarto estava fechada, e o homem sério que entrara não permitia que ninguém se
aproximasse dali. O criado e a ama, diziam, estavam lá dentro em
interrogatório. O que se passou depois não me ficou bem na memória. [...].
Veja mais aqui.
O
SIGNO TEATRAL – O livro O signo teatral: a semiologia aplicada à
arte dramática (Globo, 1977), de Roman Ingarden, Petr Bogatyrev, Jindrich
Honzl e Tadeusz Kowzan, organizado e traduzido por Luiz Arthur Nunes, Regina
Ziberman, Ana Mariza Tibeiro Filipouski, Tania Franco Carvalhal e Maria da
Gloria Bordini, aborda temas como a semiologia e o espetáculo teatral, as
funções da linguagem teatral, os signos do teatro, a mobilidade do signo
teatral e o signo no teatro. Da obra destaco o trecho da parte introdutória Um
campo inexplorado, dos organizadores: [...] Provavelmente
pelo fato de o espetáculo tomar emprestados elementos de outras formas de
expressão, a tendência foi, durante muito tempo, considera-lo uma manifestação
híbrida, resultante de uma soma ou fusão de diversas artes. A teoria wagneriana
da gesamtkunstwerk (obra de arte total), é o produto mais típico dessa linha de
pensamento. Nos dias atuais, porém, tende-se a ver o espetáculo como expressão
única e independente, embora possa nutrir-se de elementos de outras linguagens.
Para esse reconhecimento da especificidade da arte do espetáculo, a semiologia,
com sua abordagem rigorosamente formal e objetiva, tem muitíssimo a contribuir.
As dificuldades acima apontadas constituem um sério entrave; no entanto, não
impediram que surgissem, desde cedo, esforços no sentido de esboçar uma
semiologia do teatro. [...] quando
nada, pelo estimulo que possa vir a dar ao estudo e à compreensão dessa arte
que, em nosso meio, apesar de tantas forças contrárias, teima em querer
subsistir e progredir [...]. Veja mais aqui.
O
CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES –
O livro O choque de civilizações e a
recomposição da ordem mundial (Objetiva, 2010), do controvertido e
conservador cientista político estadunidense Samuel P. Huntington (1927-2008),
explora a importância da cultura e da religião como causas de aliança e choques
entre os países, abordando temas como nova era da política mundial, bandeiras e
identidade cultural, mundo multipolar e multicivilizacional, as civilizações na
história e na atualidade, a natureza das civilizações, ocidentalização, poder,
cultura, indigenização, La Revanche de Dieu, a ordem emergente das
civilizações, em busca de agrupamentos, fracasso da mudança de civilização,
círculos concêntricos e ordem civilizacional, universalismo ocidental, direitos
humanos e democracia, imigração, das guerras de transição às guerras de linha
de fratura, países afins e diásporas, entre outros assuntos. Destaco um dos
trechos: [...] Na década de 50, Lester
Pearson advertiu que os seres humanos estavam entrando numa era em que as
diferentes civilizações terão que aprender a viver lado a lado num intercambio
pacífico, aprendendo umas com as outras, estudando a história e os ideais e a
arte e cultura uma das outras, enriquecendo-se mutuamente com as vidas umas das
outras. A alternativa, nesse pequeno mundo superpovoado, é a incompreensão, a
tensão, o choque e a catástrofe. O futuro da paz e o futuro da civilização
dependem da compreensão e da cooperação entre os líderes políticos, espirituais
e intelectuais das principais civilizações do mundo. No choque das
civilizações, a Europa e os Estados Unidos se juntarão ou serão destruídos separadamente.
No choque maior, o choque verdeiro, global, entre a civilização e a barbárie,
as grandes civilizações do mundo, com suas ricas realizações em religião, arte,
literatura, filosofia, ciência, tecnologia, moralidade e compaixão, também se
juntarão ou serão destruídas separadamente. Na era que está emergindo, os
choques das civilizações são a maior ameaça à paz mundial, e uma ordem
internacional baseada nas civilizações é a melhor salvaguarda contra a guerra
mundial. Veja mais aqui.
NOITE
E NEBLINA – O premiado
documentário Noite e Neblina (Nuit et brouillard, 1955), do
cineasta francês Alain Resnais
(1922-2014) por encomenda do Comitê Histórico da Segunda Guerra Mundial dez
anos depois da guerra e inspirado no livro , Poèmes
de la nuit et brouillard, (1946), do poeta e editor francês e Jean
Cayrol (1911-2005), com música de Hanns Eisler. Trata-se de um guia para melhor
compreensão do Holocausto, alternando imagens coloridas e em preto e branco,
com fotos e filmes dos arquivos dos horrores nazistas. É um filme para reflexão, vez que registra pouco tempo depois do ocorrido e do que é a tragédia humana promovida por uma guerra - o lamentável expediente da guerra - que nos ronda no cotidiano, nesses tempos de violência banalizada, impossibilidade de indignação. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
Todo dia é dia de homenagear
a musa de todos os tempos e respeitadíssima atriz francesa Catherine Deneuve, considerada um modelo de elegância e beleza
gálica. Veja mais aqui.
Veja mais sobre:
Quando não é na entrada é na saída, O autor como produtor de Walter Benjamin, Antologia
Pornográfica de Alexei Bueno, Linguística &
Estilo, Fronteiriços de Anna Bella Geiger, a música
de Andrea dos Guimarães, Wunderblogs, a ninfa Carna, a
arte de Gilvan Samico & Matéria Incógnita aqui.
E mais:
Vamos aprumar a conversa, Pensamento complexo de Edgar Morin,
Pirotécnico Zacarias de Murilo Rubião, As criadas de Jean Genet, o cinema de
Rainer Werner Fassbinder & Hanna Schygulla, a arte de Hanna Schygulla,
Imprensa, a música de Alanis Morissete & a pintura de Thomas Gainsborough aqui.
Credibilidade da imprensa brasileira, A imprensa & Millôr Fernandes, a
música de Eduardo Gudin, História da Imprensa de Nelson
Werneck Sodré, Beijo no asfalto de Nelson Rodrigues, a literatura de
Cervantes & a arte da jornalista Enki Bracaj aqui.
Inclusão social pelo trabalho, Pitágoras,
José Louzeiro, Samir Yazbek, Jacques Rivette, Xue Yanqun, Ednalva Tavares, Lisa Lyon, Música Folclórica Pernambucana & A imprensa
na atualidade aqui.
A mulher do médico, Do sentir de Mario Perniola, a
fotografia de Alfred Cheney Johnston, a arte de Sandra Cinto.& Akino Kondoh, Sonhos graúdos na diversão da mocidade aqui.
Mil sonhos na cabeça e o amanhã nas mãos, A pedra do sono de João Cabral de Melo
Neto, a pintura de Omar Ortiz, a arte de Gary Jackson & Sean
Seal aqui.
A vida em risco e o veneno à mesa, O direito dos povos de Amartya Kumar
Sem, a pintura de Roberto Fernandez Balbuena & a arte de Kadee Glass aqui.
O brinde do amor, Pedagogia do oprimido de Paulo Freire,
a música de Vanessa da Mata, a arte de Luciah Lopez, Project Global Peace Art
& Havia mais que desejo na paixão feita do amor aqui.
Sexta postura, A arte de amar de Manuel Bandeira, a
música de Al Di Meola, a escultura de Ambrogio Borghi, arte de Juli Cady Ryan
& Quando amor premia o sábado aqui.
Desencontros de ontem, reencontros amanhã, Augúrios da inocência de William Blake,
a música de Gonzaguinha, a arte de Duarte Vitória, a poesia de Tony Antunes
& Alô, Congresso Nacional, ouça quem o elegeu aqui.
O que é ser brasileiro?, Sobre a violência de Hannah
Arendt, a arte de Alex Grey, a música de Carol Saboya & Quem faz e
não sabe o que fez é o mesmo que melar na entrada e na saída e nem se lembrou
de limpar. Que meladeiro aqui.
Pra quem nunca foi à luta, está na hora
de ir, a escultura
de Phillip Piperides, a música de Duo Graffiti,
a arte de Tracey Moffatt & Tanise Carrali aqui
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.