Imagem: painéis Guerra e Paz (1952-56), do pintor brasileiro Cândido Portinari (1903-1962) Veja mais aqui.
Curtindo o álbum Circense (EMI, 1979), do compositor, multinstrumentista e
arranjador Egberto Gismonti.
PLATERO
E EU – O livro Platero e eu (1917 – Martins Fontes,
2010), do poeta espanhol e Prêmio Nobel de Literatura de 1956, Juan Ramón Jiménez (1881-1958), conta a
história da caminhada e as vivências poéticas do autor com o seu burrinho,
Platera, na cidade de Moguer, Andaluzia, Espanha, narrando a vida de um adulto
que não perdeu a infância, valorizando os valores humanos e exaltando a vida
acima das misérias, sofrimento e ruínas. Da obra destaco o trecho: Platero é pequeno, peludo, suave, tão macio, que
dir-se-ia todo de
algodão, que não tem ossos. Só os seus olhos são duros como dois escaravelhos
de cristal negro. Deixo-o solto, e vai para o prado, e acaricia levemente com o
focinho, mal roçando, as florinhas
róseas, azuis - celestes e amarelas... Chamo-o docemente: “Platero”, e ele vem
5 até mim com um trote curto e alegre que parece rir . Come
o que lhe dou. Gosta das tangerinas, das uvas moscatéis, dos figos roxos, com a
sua cristalina gotita de mel... É terno e mimoso como um menino, como uma
menina...; mas forte e seco como de pedra. Quando passo nele, aos domingos,
pelas últimas ruelas da aldeia, os camponeses, vestidos de lavado e vagarosos,
param a olhá-lo: - Tem aço... Tem
aço. Aço e prata de luar, ao mesmo tempo. [...] Platero brinca com Diana, a linda cadela branca que parece o quarto
crescente; com a velha cabra cinzenta, com as crianças... Diana salta, ágil e
elegante, diante do burro, tocando ao de leve a campainha, e faz que lhe morde
o focinho. E Platero, pondo as orelhas em ponta, como dois cornos, marra-lhe
brandamente, e fá-la rolar na erva em flor. A cabra vai ao lado de Platero,
roçando-se nas suas patas, puxando, com os dentes, a ponta das espadanas da
carga. Com uma cravina ou uma margarida na boca, põe-se na frente dele,
toca-lhe na testa, brinca, e bale alegremente [...] Entre crianças, Platero é um brinquedo! Com que paciência sofre as suas
loucuras! Como caminha devagar, parando, fingindo-se pateta, para que elas não
caiam! Como as assusta, iniciando, de súbito, um trote falso! Claras tardes do
Outono [...] Quando o vento puro de
Outubro afia os seus límpidos rumores, ouve-se do vale um alvoroço de balidos,
de relinchos, de risos infantis, de batidos e de campainhas [...] Veja mais
aqui.
IRMÃO,
IRMÃOS – No livro Menino antigo (Sabiá/José Olympio,
1973), do poeta Carlos Drummond de
Andrade (1902-1987), o autor mergulha no passado infantil e mesmo em época
anterior ao seu nascimento, inscrito na memória atávica e no seu conflito com a
vida, sem nostalgia nem complacência consigo mesmo e sem recorrer a arquivos: o
passado presentifica-se, as coisas voltam a acontecer, pungentes ou cômicas. Da
obra destaco o poema Irmão, irmãos: Cada
irmão é diferente. / Sozinho acoplado a outros sozinhos. / A linguagem sobe
escadas, do mais moço, / ao mais velho e seu castelo de importância. / A
linguagem desce escadas, do mais velho / ao mísero caçula. / São seis ou são
seiscentas / distâncias que se cruzam, se dilatam / no gesto, no calar, no
pensamento? / Que léguas de um a outro irmão. / Entretanto, o campo aberto, / os
mesmos copos, / o mesmo vinhático das camas iguais. / A casa é a mesma. Igual, /
vista por olhos diferentes? / São estranhos próximos, atentos / à área de
domínio, indevassáveis. / Guardar o seu segredo, sua alma, / seus objetos de
toalete. Ninguém ouse / indevida cópia de outra vida. / Ser irmão é ser o quê?
Uma presença / a decifrar mais tarde, com saudade? / Com saudade de quê? De uma
pueril / vontade de ser irmão futuro, antigo e sempre? Veja mais aqui e
aqui.
FAMÍLIA
COMPOSTA – A peça
teatral Família composta (MEC, 2006),
do escritor e jornalista Domingos
Pellegrini, faz uma reflexão bem humorada sobre a importância da adaptação
às rápidas e profundas mudanças da sociedade, prepando-se para a renovação sem
preconceitos e resistência, no sentido de alcançar uma convivência melhor. Da
obra destaco o trecho a seguir: HOMEM DA
TEVÊ: Pesquisa da Unicef revela que, além da alimentação incorreta e do
estresse, uma das principais causas de enfarte são as chamadas emoções
reprimidas, como o remorso, o ódio, a inveja, a amargura ou rancor, que podem
também levar à depressão! A pesquisa... PAI (DESLIGA A TEVÊ): Pois saiba que eu
não tenho rancor nenhum, depressão muito menos, levo uma vida ótima e... Ai!
(CURVASE COM A MÃO NO PEITO) Ai! MÃE: Que foi?! PAI: Nada, uma pontada, só uma
pontada, ai! (DEITA NO SOFÁ) MÃE (GRITANDO): Dalvo, Dalvo! PAI: E, além de
poeta, se chama Dalvo! Eu mereço, devo ter feito muito mal a algum poeta em
alguma outra vida... Ai! MÃE: Fica quieto, não fale! Daaaalvooooo! PAI: Lembra
quando a gente casou e fazia amor neste sofá, lembra? MÃE: Lembro, antes de
você ficar vendo tevê e tomando cerveja até dormir aqui mesmo! PAI: Me perdoa!
Ai, parece que estão me enfiando uma faca! MÃE: Faca vão te enfiar é na mesa de
operação se for o que estou pensando. Fica quieto! [...] MÃE: Calma, meu bem, não se exalte, lembre
que o seu coração... PAI: O que você disse? MÃE: Que o seu coração... PAI: Não,
antes. Me chamou de meu bem? MÃE: É, afinal fomos casados quantos anos? PAI:
Fomos não, somos! Eu não pedi divórcio, nem você! Talvez a gente já
pressentisse que, com o tempo... (DÃO-SE AS MÃOS) MÃE: Pois é, o tempo... Será
que ainda temos tempo? PAI: Meu bem, como dizem os Stones... MÃE: Quem? PAI: Os
Rolling Stones, meu bem, dizem que o tempo está do nosso lado e é nosso amigo
quando a gente sabe viver a vida! MÃE: Mas quem são esses Rolestones aí? PAI:
Um conjunto de rock, querida, vou te mostrar. Eu não andei morto enquanto você
Os Rolling Stones é um grupo de rock em atividade desde 1962. A música Time is
on my side é uma das mais antigas gravações da banda. Esteve fora, ouvi coisas
novas, li novas coisas, pensei em me renovar! Vamos namorar? MÃE: O que?! PAI:
Namorar. Como outrora se namorava pra ver se você gosta de mim e eu também de
você! Talvez começar agora uma nova vida enfim! MÃE: Eu... eu nem sei o que
dizer! PAI: Querida, não diga nada é até melhor que assim seja porque a boca
que beija já está demais ocupada... BEIJAM-SE ENQUANTO ESCURECE EM RESISTÊNCIA
E OUVE-SE A VOZ DE RATINHO: RATINHO: Fala, Sombra! SOMBRA: Pois não, Ratinho!
Sogro de poeta monta site na internet chamado Velho Namoro, pregando a volta ao
velho costume de namorar firme, em vez de ficar fácil! E recomenda o namoro
especialmente para as pessoas da terceira idade! E para os jovens recomenda
namorar mais e ficar menos! RATINHO: E nós ficamos com nossos comerciais,
Sombra! ACENDEM-SE AS LUZES E A TEVÊ. HOMEM DA TEVÊ: Isto foi uma peça de
teatro. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é para nos fazer pensar
que também podemos mudar a nossa vida. Tudo está em mudança rápida. Há apenas
um século, mulheres não podiam votar. Meio século atrás, a maioria da população
morava no campo, hoje 90% moram na cidade. Eram raras as mulheres que
trabalhavam fora de casa, ao contrário de hoje. A educação superior era para
poucos. Os serviços de saúde eram muito pouco usados, até porque existiam
poucos serviços públicos de saúde. A população ainda não sabia que paga
impostos embutidos no preço de tudo que compra. De lá para cá, tudo mudou
muito, a família também. As famílias compostas hoje são maioria na população
brasileira. Quem não muda, fica per dido. Eu mesmo não sei mais o que dizer
diante disso. Podem se retirar, por favor. Isto foi uma peça de teatro. Não sei
mais o que dizer. Vão viver. Podem se retirar, por favor. Isto foi uma peça de
teatro e isto é uma gravação. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é
apenas para nos fazer pensar que também podemos mudar a nossa vida. Tudo está
em mudança rápida. Há apenas um século... (CONTINUA REPETINDO A MENSAGEM ATÉ O
PÚBLICO SE RETIRAR). FIM. Veja mais aqui e aqui.
O
CONTADOR DE HISTÓRIAS –
O premiado drama biográfico O contador de
histórias (2009), do diretor Luiz Villaça, conta história de um contador de
histórias que quando criança favelada na década de 1970 é levada para a Febem
pela própria mãe que acreditava nas promessas governamentais de dias melhores
para ele. Na instituição o menino passa por situações constrangedoras e maus
tratos, até ser tido na condição de irrecuperável, o que o faz fugir e,
acidentalmente, encontrar a pedagoga francesa Margherit Duvas que o acolhe, alfabetiza
e, tempos depois, o leva para a França, não antes passar por maus bocados na
vida. Trata-se da história de Roberto Carlos Ramos, um menino favelado que
passa por todas as deprimentes situações das instituições brasileiras e que
hoje realiza o seu trabalho. Um filme comovente e digno de ser visto por todos.
O destaque do filme fica por conta da lindíssima atriz e cineasta Maria de Medeiros. Veja mais aqui, aqui
e aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte do artista gráfico e
editor do A Notícia, Jamilton Barbosa
Correia.
Veja mais sobre:
Tudo em mim mestiço sou, O povo brasileiro de Darcy Ribeiro, o anarquismo de Emma Goldman, A história da vida de Helen Keller, a música de Haydn &
Guilhermina Suggia, A escultura de Luiz Morrone, a pintura de Pisco Del Gaiso & Martin Eder, Os
Fofos Encenam & Viviane Madu aqui.
E mais:
Os tantos e muitos Brasis aqui.
Tudo é Brasil aqui.
Água morro acima, fogo
queda abaixo, isto é Brasil
aqui.
Preconceito, ó, xô prá lá aqui.
Ih, esqueci!, A natureza de Anaximandro de Mileto,
Tutameia de Guimarães Rosa, a poesia reunida de Lelia Coelho Frota, a música de
Ida Presti, Geração Trianon & Anamaria Nunes, o cinema de Krzystof
Kieslowski & Irène Marie Jacob, a pintura de Lavinia Fontana & a arte
de Márcio Baraldi aqui.
Zezé Mota, O grande serão de Guimarães
Rosa, a música de Milton Nascimento & Caetano Veloso, a entrevista de
Rejane Souza, Rafael Nolli, a arte de Isabelle Adjani, Sóstenes Lima &
Vestindo a Carapuça aqui.
A psicanálise de Karen Horney &
Homofobia é crime aqui.
Cantador & Cantarau Tataritaritatá aqui.
Fecamepa: Quando o estreitamento do
compadrio está acima da lei, aí, meu, as panelinhas mandam ver e só os
privilegiados se banqueteiam aqui.
Brincarte do Nitolino, Menino de engenho de José Lins do Rego,
A canção de Allen Ginsberg, a música de Charles Lecocq, O signo teatral de
Ingarden & Cia., O choque das civilizações de Samuel Huntington, Noite
& neblina de Alain Resnais, a pintura de Raoul Dufy & a arte de Catherine
Deneuve aqui.
A vida se desvela nos meus olhos fechados, Outras mentes de John Langshaw Austin, Humilhados e
ofendidos de Fiodor Dostoiévski, Daniel Deronda de Georg Eliot, a pintura de
Top Thumvanit & Rico Lins, a música de Mísia, a fotografia de Edward
Weston, a arte de Stephanie Sarley & Krzyzanowski aqui.
Carta de amor, Espécies naturais de Willard Van Orman
Quine, Mulher da cor do tango de Alicia Dujovne Ortiz,
a música de Dori Caymmi, Memórias de Prudhome de Henry Monnier, a
fotografia de João Roberto Riper, Poema da paz de Madre Teresa de Calcutá, a
arte de Tanja Ostojić & Luciah Lopez aqui.
A fome e a laranjeira, Princípios da filosofia do direito de
Hegel, Declaração da Independência do Espírito de Romain Rolland, O diário de Frida Kahlo, a música de Bach & Janine Jansen, a
fotografia de Sebastião Salgado, a xilogravura de Fernando Saiki, a arte de David Padworny & Tempo de amar de Genésio Cavalcanti aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.







