CONDIÇÃO
HUMANA – A obra A condição humana (Difel, 1991) do
sociólogo alemão Norbert Elias
(1897-1990), traz uma reflexão acerca dos modos utilizados pela sociedade para
construir mecanismos de regulação contra sua própria violência para sobreviver,
na observância de uma conjuntura específica do pós-guerra entre os hegemônicos
blocos na ameaça de uma catástrofe nuclear provocada pela rivalização e pelos
traços anacrônicos de poder. Trata-se de uma reflexão sobre os recursos
constantes à violência nas relações internacionais e os meios para seu
controle, ganhando uma nova realidade no quadro da emergencia de conflitos e
ameaças de guerra da contemporaneidade como expressão mais brutal das relações
de violência e o último reduto de relações entre povos marcadas pela imposição
bruta da força. Da obra destaco o trecho inicial: Por vezes é útil, para compreender melhor as questões da atualidade,
afastarmo-nos delas em pensamento para depois, lentamente, a elas regressarmos.
Compreendemo-las, então, melhor. Pois quem se embrenha apenas nas questões do
momento, quem nunca olha para além delas, é praticamente cego. Este é um dia em
que celebramos a paz, a paz depois do fim de uma guerra terrível. Este dia é
também, propriamente, o dia do nascimento da nova República Federal da
Alemanha, cujo aniversário, assim, simultaneamente, festejamos. Celebramos,
portanto, um período de quarenta anos de paz — nós, povos da Europa. Outros
povos da Terra são menos felizes — onde não cessam as guerras e as revoluções,
as violências dos homens entre Estados ou dentro deles. Podemos considerar-nos
felizes por vivermos numa região da Terra em que durante quarenta anos não
houve uma única guerra. Mas que espécie de mundo é este em que nos podemos
congratular por durante quarenta anos, menos de meio século, não termos sido
atingidos diretamente pela ameaça e pela fúria do homicídio recíproco a que
chamamos guerra, e onde, além disso, temos permanentemente de contar com o
deflagrar de um próximo conflito, ainda mais terrível que os anteriores? Que
espécie de homens são esses que não cessam de se ameaçar com a guerra, o assassínio
e o extermínio? Humana conditio, o destino do homem. Escolhi este título como
ponto de referência para o que me proponho dizer, entre outras razões, porque
os conflitos violentos entre homens a que chamamos guerras, até onde os podemos
observar retrospectivamente, fazem parte do destino, das condições de vida dos
homens. São sofrimento criado pelo homem, horror criado pelo homem. E, contudo,
até hoje, as guerras têm ido e vindo como as inundações e as tempestades, e sem
que o homem as possa controlar. Sejam quais forem as particularidades que
distinguem a guerra de Hitler de todas as outras, não faremos justiça ao
problema humano de que aqui se trata se o nosso olhar se detiver, fascinado,
nesta última guerra européia ou na possível próxima guerra mundial, se não
perguntarmos: porquê, em geral, a guerra? O homem elevou o assassínio recíproco
dos povos a uma instituição permanente. As guerras pertencem a uma sólida
tradição da humanidade. Estão arraigadas nas suas instituições sociais, assim
como no habitus social, na imagem colectiva dos homens, mesmo dos que mais amam
a paz. Mas época de evolução da humanidade em que uma próxima guerra traria
consigo a destruição de uma parte significativa dessa humanidade, quando não
mesmo de coda a Terra habitável, incluindo os próprios beligerantes. Muitos
homens sabem-no e, provavelmente, também o sabem alguns membros dos governos
que preparam a próxima guerra. No entanto, a pressão das instituições sociais e
do habitus social, que compelem à guerra, é tão grande e, ao que parece, tão
inevitável, que o medo duma próxima guerra, ainda mais horrível, começa
novamente a atormentar-nos, a nós que recordamos com lutuosa tristeza a última
guerra, ao mesmo tempo que festejamos, com alívio, um escasso período de
quarenta anos de paz. Veja mais aqui.
Imagem: Stunning Oil painting, do pintor do pós-impressionismo francês Paul Gauguin (1848-1903). Veja mais aqui.
Curtindo as músicas do álbum Nação (2001), do escritor, compositor e músico Eduardo Camenietzki, autor da obra O livro azul das putarias (Multifoco, 2015) e editor do blog Coraçômago.
VAMOS APRUMAR A CONVERSA? PROGRAMA BRINCARTE DO NITOLINO – Neste domingo, a partir das 10hs, realizamos mais uma edição do programa Brincarte do Nitolino, no blog MCLAM do programa Domingo Romântico. Na programação comandada pela Ísis Corrêa Naves muitas atrações: 14 Bis, Turma da Mônica, Anderson Freira, Menino Barroco de Monsyerrá Batista, Meimei Corrêa, Crianças: educação infantil & meio ambiente, Paz no Planeta: We are the world, As Viagens de Oliva de Sandra Fayad, Criança & Reciclagem, GR Personalidade do Rap, Eliana, Patati & Patatá & muita música, muita poesia, histórias e brincadeiras pra garotada. Para conferir online e ao vivo clique aqui ou aqui.
O
HOMEM QUE OUTRORA FUI –
No livro Poemas (Poesias escolhidas – Nova Fronteira, 1992), do poeta, dramaturgo e
fundador da moderna literatura russa Alexander
Pushkin (1799-1837), autor do conto A
Dama de Espadas (Pikovaya Dama; 1828), que inspirou o libreto da
ópera homônima de três atos do compositor romântico russo Piotr Tchaikovsky
(1840-1893), encontrei o belíssimo poema O homem que outrora fui: O homem que outrora fui, o mesmo ainda
serei: / leviano, ardente. Em vão, amigos meus, eu sei, / de mim se espere que
eu possa contemplar o belo / sem um tremor secreto, um ansioso anelo. / O amor
não me traiu ou torturou bastante? / Nas citereias redes qual falcão aflante / não
me debati já, tantas vezes cativo? / Relapso, porém, a tudo eu sobrevivo, / e à
nova estátua trago a mesma antiga oferenda… Um outro que merece destaque é
o poema É tempo, meu amigo: É tempo, meu
amigo, o coração cansou-se… / Cada hora voa, e é como se com ela fosse / um
farrapo daquilo que pensamos vivo. Tardará muito a morte? Ah, tudo é fugitivo.
/ Felicidade não, mas paz e liberdade / é quanto espera quem só ainda sonha que
há-de / fugir — cansado escravo —, antes da noite escura, / a repousar nos
longes da mais clara altura. Meritório de aplauso é o admirável Uma Nereida: A luz de um céu de aurora, e onde a verdura toca / ao Táuris cariciosa
o flanco, uma Nereida vi. / Imóvel de alegria, oculto no olival, deitei-me / a
espiar a semi-deusa abrindo as róseas águas / que os seios lhe lambiam, alvos
de cisne e tesos, / e penteando os seus cabelos de grinaldas de espuma. Por
fim, o não menos maravilhoso poema Para mim mesmo ergui: Para mim mesmo ergui, não com as mãos, moimento: / a estrada livre que
o meu povo há-de trilhar. / Alexandre não tem coluna erguida ao vento / que
erga a cabeça mais que o meu pilar. / Não morrerei de todo — pois que no meu
canto, / sem corpo corruptível, soarei altivo. / E o meu renome imenso durará
enquanto / houver na terra um poeta sobrevivo. / Da minha fama o ruído a Rússia
há-de varrer, / que aos povos todos dela irá iluminando, / o eslavo, o balta, o
tungu me hão-de conhecer, / como o kalmuk a estepe cavalgando. / Serei amado, e
as gentes lembrarão mil anos / na glória do meu verso o fogo que acendi: / como
cantei ser livre em tempo de tiranos / e para os humilhados honra só pedi. / O
Musa, nunca escutes mais que a um deus, tua arte, / impávida aos insultos, ao
louvor mais fria. / Sem recompensas, canta, mas saibas calar-te / sempre que um
asno cruze pela tua via. Veja mais aqui.
O
LUGAR DO OUTRO – A peça
teatral O Lugar do Outro (La Place
de l’autre, 1979), do ator, diretor e dramaturgo francês Jean-Luc Lagarce (1957-1995), foi o criador
da companhia de teatro, La Roulotte, e autor de uma escrita delicada, dolorosa
e sofrida do que é dito e não-dito, que narra a relação entre um homem e uma
mulher que buscam a melhor forma de ocupar o lugar do outro, trazendo os
conflitos das relações contemporâneas. Com o conjunto de sua obra que inclui
dezenas de peças teatrais traduzidas e montadas para as mais diversas línguas e
países, o tornou um dos mais importantes autores franceses da
contemporaneidade. Sua obra convida o espectador a refletir e a reformular as
perguntas mais básicas sobre o espaço, o tempo, a palavra e a representação. Na
encenação brasileira, traduzida por Giovana Soares e dirigida por Marcio Abreu,
em 2009, destaque para a atuação da atriz Luiza
Curvo. Veja mais aqui.
NO
MEIO DA RUA – A comédia
dramática No meio da rua (2006), do
diretor Antonio Carlos da Fontoura, conta a história de um menino que mora num
bairro de classe média com seus pais e sua irmã mais nova, que luta para
demonstrar responsabilidade pra sua mãe. Ao brincar com um grupo de meninos
pobres que fazem malabarismo num semáforo, empresta o seu videogame para um
deles. Ao chegar em casa, a mãe cobra o jogo eletrônico que faz com que ele
cobra do amigo a devolução, quando o mesmo já o tinha perdido por ter sido
tomado por uns valentões. Nasce então uma amizade entre ambos, foge de casa
para recuperar o perdido, causando aflição entre seus familiares. O destaque da
película vai para a belíssima atriz de cinema e televisão Flávia Alessandra. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
Cartoon do escritor, cartunista,
tradutor, roteirista e autor teatral Luis
Fernando Veríssimo. Veja mais aqui.
Veja mais sobre:
Lugome, sua familia, seu infortúnio, Poesia erótica de José Paulo Paes,
Fundamentos de história do direito, O combate à corrupção nas prefeituras do
Brasil, Aracaju, a música de Gina Biver, a pintura de Sofan Chan, a arte de Eiko
Ojala & Rudson Costa aqui.
E mais:
Brincarte do Nitolino, A condição humana de Norbert Elias, O
homem de outrora de Alexander Pushkin, O lugar do outro de Jean-Luc Lagarce, a
música de Eduardo Camenietzki, a pintura de Paul Gauguin, o desenho de Luis
Fernando Veríssimo & a arte de Flávia Alessandra aqui.
Espera, Iniciação filosófica de Karl Jaspers, A
crise das ciências humanas de Hilton Japiassu, Memórias de um rato hotel de
João do Rio, Manipulação da crise da arte de Dario Fo, Os contos proibidos de Marquês de Sade, a música de Regina Schlochauer, a
escultura de Diogo de Macedo, a pintura de Ghada Amer, a arte de Anthea Rocker
& Aaron Czerny, Kate Winslet, Jazz & Cia
Grupo de Dança, a entrevista de Braulio Tavares, a fotografia de Herbert
Matter, Dicionário Tataritaritatá, O que sou de praça na graça que é dela &
O brasileiro é só um CPF Fabo arrodeado de golpes por todos os lados aqui.
De golpe em golpe a gente vai aprendendo, O coração humano de Goethe, Iniciações
tibetanas de Alexandra David-Néel, Adeus ao proletariado de André Gorz,
Sistematização da prática e da teoria de José Paulo Netto, a música de Franz Schubert & Mitsuko Uchida, a pintura de Lygia
Clark & John Currin, a escultura de Horatio Greenough, a arte de Marina Abramović & Simone
Spoladore, a fotografia de Carl Warner, a coreografia de Anna Halprin,
entrevista de Tchello d’Barros, Oficina de Cordel, Laura
Barbosa, O vexame da maior presepada & Do jeito que esse mundão vai
só Deus na causa aqui.
Tantas fazem & a gente é quem paga o
pato, Nietzsche
& a psicologia, A condição pós-moderna de Jean-François Lyotard, Nova
história de Georges Duby, a literatura de George Orwell & Alfredo Flores, a
pintura de Balthus, a fotografia de Marta Maria Pérez Bravo
& Richard Murrian, A dona história de João Falcão, a escultura de Marco Cochrane, a música de PJ Harvey, a entrevista de
Virna Teixeira, O infortúnio da prima da Vera & Quando a bronca dá na
canela, o melhor é respirar fundo à flor d’água pra não morrer afogado aqui.
Pra tudo tem jeito, menos pro que não
pode ou não quer,
Neuroeducação no processo de ensino-aprendizagem, a consciência fragmentada de
Renato Ortiz, Procedimento histórico de Adalberto Marson, O caldeirão do diabo
de Baldomero Lillo, a coreografia de Eugenio Scigliano, O narrador de Rubens
Rewald, o cinema de Wayne Wang & Gong Li, Baghavad Gita, a escultura de
Émile Antoine Bourdelle, a pintura de Katia Almeida & Lisa Yuskavage, a
música de Paula Morelembaum, a fotoforma de Geraldo de Barros, a entrevista de
Ulisses Tavares, a arte de Wanda Pepi, Zé Corninho
& Quem sabe, sabe; quem não sabe tapia na gambiarra ou leva na marra pra
engalobar os bestas aqui.
Tudo tem seu lado bom & ruim &
vice-versa, A
criança, Vygotsky e o Teatro, Brincar para Aprender, a filosofia de Hermes
Trismegistos de Jean D’Espagnet, Linguuagem & vida de Ludwig Wittgenstein,
O homem criador e sensato de Alan Watts, a música de Mozart & Alicia De
Larrocha, Treva alvorada de Mariana Ianelli, a coreografia de Merce Cunningham,
a escultura de Aristide Maillol, a pintura de Johfra Bosschart & Sharon
Sieben, a fotografia de Luiz Cunha, a arte de Ana Starling & Rodrigo
Branco, o teatro de Maria Adelaide Amaral & Marília Pêra, o cinema de Don Ross & Christina Ricci, a entrevista de Valquiria
Lins, O evangelho segundo Padre Bidião & Jesus voltou aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Art by Ísis
Nefelibata
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.