domingo, junho 07, 2015

NORBERT ELIAS, PUSHKIN, VERÍSSIMO, LAGARCE, GAUGUIN, FLÁVIA ALESSANDRA & CAMENIETZKI.


CONDIÇÃO HUMANA – A obra A condição humana (Difel, 1991) do sociólogo alemão Norbert Elias (1897-1990), traz uma reflexão acerca dos modos utilizados pela sociedade para construir mecanismos de regulação contra sua própria violência para sobreviver, na observância de uma conjuntura específica do pós-guerra entre os hegemônicos blocos na ameaça de uma catástrofe nuclear provocada pela rivalização e pelos traços anacrônicos de poder. Trata-se de uma reflexão sobre os recursos constantes à violência nas relações internacionais e os meios para seu controle, ganhando uma nova realidade no quadro da emergencia de conflitos e ameaças de guerra da contemporaneidade como expressão mais brutal das relações de violência e o último reduto de relações entre povos marcadas pela imposição bruta da força. Da obra destaco o trecho inicial: Por vezes é útil, para compreender melhor as questões da atualidade, afastarmo-nos delas em pensamento para depois, lentamente, a elas regressarmos. Compreendemo-las, então, melhor. Pois quem se embrenha apenas nas questões do momento, quem nunca olha para além delas, é praticamente cego. Este é um dia em que celebramos a paz, a paz depois do fim de uma guerra terrível. Este dia é também, propriamente, o dia do nascimento da nova República Federal da Alemanha, cujo aniversário, assim, simultaneamente, festejamos. Celebramos, portanto, um período de quarenta anos de paz — nós, povos da Europa. Outros povos da Terra são menos felizes — onde não cessam as guerras e as revoluções, as violências dos homens entre Estados ou dentro deles. Podemos considerar-nos felizes por vivermos numa região da Terra em que durante quarenta anos não houve uma única guerra. Mas que espécie de mundo é este em que nos podemos congratular por durante quarenta anos, menos de meio século, não termos sido atingidos diretamente pela ameaça e pela fúria do homicídio recíproco a que chamamos guerra, e onde, além disso, temos permanentemente de contar com o deflagrar de um próximo conflito, ainda mais terrível que os anteriores? Que espécie de homens são esses que não cessam de se ameaçar com a guerra, o assassínio e o extermínio? Humana conditio, o destino do homem. Escolhi este título como ponto de referência para o que me proponho dizer, entre outras razões, porque os conflitos violentos entre homens a que chamamos guerras, até onde os podemos observar retrospectivamente, fazem parte do destino, das condições de vida dos homens. São sofrimento criado pelo homem, horror criado pelo homem. E, contudo, até hoje, as guerras têm ido e vindo como as inundações e as tempestades, e sem que o homem as possa controlar. Sejam quais forem as particularidades que distinguem a guerra de Hitler de todas as outras, não faremos justiça ao problema humano de que aqui se trata se o nosso olhar se detiver, fascinado, nesta última guerra européia ou na possível próxima guerra mundial, se não perguntarmos: porquê, em geral, a guerra? O homem elevou o assassínio recíproco dos povos a uma instituição permanente. As guerras pertencem a uma sólida tradição da humanidade. Estão arraigadas nas suas instituições sociais, assim como no habitus social, na imagem colectiva dos homens, mesmo dos que mais amam a paz. Mas época de evolução da humanidade em que uma próxima guerra traria consigo a destruição de uma parte significativa dessa humanidade, quando não mesmo de coda a Terra habitável, incluindo os próprios beligerantes. Muitos homens sabem-no e, provavelmente, também o sabem alguns membros dos governos que preparam a próxima guerra. No entanto, a pressão das instituições sociais e do habitus social, que compelem à guerra, é tão grande e, ao que parece, tão inevitável, que o medo duma próxima guerra, ainda mais horrível, começa novamente a atormentar-nos, a nós que recordamos com lutuosa tristeza a última guerra, ao mesmo tempo que festejamos, com alívio, um escasso período de quarenta anos de paz. Veja mais aqui.

Imagem: Stunning Oil painting, do pintor do pós-impressionismo francês Paul Gauguin (1848-1903). Veja mais aqui

Curtindo as músicas do álbum Nação (2001), do escritor, compositor e músico Eduardo Camenietzki, autor da obra O livro azul das putarias (Multifoco, 2015) e editor do blog Coraçômago.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? PROGRAMA BRINCARTE DO NITOLINO – Neste domingo, a partir das 10hs, realizamos mais uma edição do programa Brincarte do Nitolino, no blog MCLAM do programa Domingo RomânticoNa programação comandada pela Ísis Corrêa Naves muitas atrações: 14 Bis, Turma da Mônica, Anderson Freira, Menino Barroco de Monsyerrá Batista, Meimei Corrêa, Crianças: educação infantil & meio ambiente, Paz no Planeta: We are the world, As Viagens de Oliva de Sandra Fayad, Criança & Reciclagem, GR Personalidade do Rap, Eliana, Patati & Patatá & muita música, muita poesia, histórias e brincadeiras pra garotada. Para conferir online e ao vivo clique aqui ou aqui.

O HOMEM QUE OUTRORA FUI – No livro Poemas (Poesias escolhidas – Nova Fronteira, 1992), do poeta, dramaturgo e fundador da moderna literatura russa Alexander Pushkin (1799-1837), autor do conto A Dama de Espadas (Pikovaya Dama; 1828), que inspirou o libreto da ópera homônima de três atos do compositor romântico russo Piotr Tchaikovsky (1840-1893), encontrei o belíssimo poema O homem que outrora fui: O homem que outrora fui, o mesmo ainda serei: / leviano, ardente. Em vão, amigos meus, eu sei, / de mim se espere que eu possa contemplar o belo / sem um tremor secreto, um ansioso anelo. / O amor não me traiu ou torturou bastante? / Nas citereias redes qual falcão aflante / não me debati já, tantas vezes cativo? / Relapso, porém, a tudo eu sobrevivo, / e à nova estátua trago a mesma antiga oferenda… Um outro que merece destaque é o poema É tempo, meu amigo: É tempo, meu amigo, o coração cansou-se… / Cada hora voa, e é como se com ela fosse / um farrapo daquilo que pensamos vivo. Tardará muito a morte? Ah, tudo é fugitivo. / Felicidade não, mas paz e liberdade / é quanto espera quem só ainda sonha que há-de / fugir — cansado escravo —, antes da noite escura, / a repousar nos longes da mais clara altura. Meritório de aplauso é o admirável Uma Nereida: A luz de um céu de aurora, e onde a verdura toca / ao Táuris cariciosa o flanco, uma Nereida vi. / Imóvel de alegria, oculto no olival, deitei-me / a espiar a semi-deusa abrindo as róseas águas / que os seios lhe lambiam, alvos de cisne e tesos, / e penteando os seus cabelos de grinaldas de espuma. Por fim, o não menos maravilhoso poema Para mim mesmo ergui: Para mim mesmo ergui, não com as mãos, moimento: / a estrada livre que o meu povo há-de trilhar. / Alexandre não tem coluna erguida ao vento / que erga a cabeça mais que o meu pilar. / Não morrerei de todo — pois que no meu canto, / sem corpo corruptível, soarei altivo. / E o meu renome imenso durará enquanto / houver na terra um poeta sobrevivo. / Da minha fama o ruído a Rússia há-de varrer, / que aos povos todos dela irá iluminando, / o eslavo, o balta, o tungu me hão-de conhecer, / como o kalmuk a estepe cavalgando. / Serei amado, e as gentes lembrarão mil anos / na glória do meu verso o fogo que acendi: / como cantei ser livre em tempo de tiranos / e para os humilhados honra só pedi. / O Musa, nunca escutes mais que a um deus, tua arte, / impávida aos insultos, ao louvor mais fria. / Sem recompensas, canta, mas saibas calar-te / sempre que um asno cruze pela tua via. Veja mais aqui.

O LUGAR DO OUTRO – A peça teatral O Lugar do Outro (La Place de l’autre, 1979), do ator, diretor e dramaturgo francês Jean-Luc Lagarce (1957-1995), foi o criador da companhia de teatro, La Roulotte, e autor de uma escrita delicada, dolorosa e sofrida do que é dito e não-dito, que narra a relação entre um homem e uma mulher que buscam a melhor forma de ocupar o lugar do outro, trazendo os conflitos das relações contemporâneas. Com o conjunto de sua obra que inclui dezenas de peças teatrais traduzidas e montadas para as mais diversas línguas e países, o tornou um dos mais importantes autores franceses da contemporaneidade. Sua obra convida o espectador a refletir e a reformular as perguntas mais básicas sobre o espaço, o tempo, a palavra e a representação. Na encenação brasileira, traduzida por Giovana Soares e dirigida por Marcio Abreu, em 2009, destaque para a atuação da atriz Luiza Curvo. Veja mais aqui.

NO MEIO DA RUA – A comédia dramática No meio da rua (2006), do diretor Antonio Carlos da Fontoura, conta a história de um menino que mora num bairro de classe média com seus pais e sua irmã mais nova, que luta para demonstrar responsabilidade pra sua mãe. Ao brincar com um grupo de meninos pobres que fazem malabarismo num semáforo, empresta o seu videogame para um deles. Ao chegar em casa, a mãe cobra o jogo eletrônico que faz com que ele cobra do amigo a devolução, quando o mesmo já o tinha perdido por ter sido tomado por uns valentões. Nasce então uma amizade entre ambos, foge de casa para recuperar o perdido, causando aflição entre seus familiares. O destaque da película vai para a belíssima atriz de cinema e televisão Flávia Alessandra. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
 Cartoon do escritor, cartunista, tradutor, roteirista e autor teatral Luis Fernando Veríssimo. Veja mais aqui.


Veja mais sobre:
Lugome, sua familia, seu infortúnio, Poesia erótica de José Paulo Paes, Fundamentos de história do direito, O combate à corrupção nas prefeituras do Brasil, Aracaju, a música de Gina Biver, a pintura de Sofan Chan, a arte de Eiko Ojala & Rudson Costa aqui.

E mais:
Brincarte do Nitolino, A condição humana de Norbert Elias, O homem de outrora de Alexander Pushkin, O lugar do outro de Jean-Luc Lagarce, a música de Eduardo Camenietzki, a pintura de Paul Gauguin, o desenho de Luis Fernando Veríssimo & a arte de Flávia Alessandra aqui.
Espera, Iniciação filosófica de Karl Jaspers, A crise das ciências humanas de Hilton Japiassu, Memórias de um rato hotel de João do Rio, Manipulação da crise da arte de Dario Fo, Os contos proibidos de Marquês de Sade, a música de Regina Schlochauer, a escultura de Diogo de Macedo, a pintura de Ghada Amer, a arte de Anthea Rocker & Aaron Czerny, Kate Winslet, Jazz & Cia Grupo de Dança, a entrevista de Braulio Tavares, a fotografia de Herbert Matter, Dicionário Tataritaritatá, O que sou de praça na graça que é dela & O brasileiro é só um CPF Fabo arrodeado de golpes por todos os lados aqui.
De golpe em golpe a gente vai aprendendo, O coração humano de Goethe, Iniciações tibetanas de Alexandra David-Néel, Adeus ao proletariado de André Gorz, Sistematização da prática e da teoria de José Paulo Netto, a música de Franz Schubert & Mitsuko Uchida, a pintura de Lygia Clark & John Currin, a escultura de Horatio Greenough, a arte de Marina Abramović & Simone Spoladore, a fotografia de Carl Warner, a coreografia de Anna Halprin, entrevista de Tchello d’Barros, Oficina de Cordel, Laura Barbosa, O vexame da maior presepada & Do jeito que esse mundão vai só Deus na causa aqui.
Tantas fazem & a gente é quem paga o pato, Nietzsche & a psicologia, A condição pós-moderna de Jean-François Lyotard, Nova história de Georges Duby, a literatura de George Orwell & Alfredo Flores, a pintura de Balthus, a fotografia de Marta Maria Pérez Bravo & Richard Murrian, A dona história de João Falcão, a escultura de Marco Cochrane, a música de PJ Harvey, a entrevista de Virna Teixeira, O infortúnio da prima da Vera & Quando a bronca dá na canela, o melhor é respirar fundo à flor d’água pra não morrer afogado aqui.
Pra tudo tem jeito, menos pro que não pode ou não quer, Neuroeducação no processo de ensino-aprendizagem, a consciência fragmentada de Renato Ortiz, Procedimento histórico de Adalberto Marson, O caldeirão do diabo de Baldomero Lillo, a coreografia de Eugenio Scigliano, O narrador de Rubens Rewald, o cinema de Wayne Wang & Gong Li, Baghavad Gita, a escultura de Émile Antoine Bourdelle, a pintura de Katia Almeida & Lisa Yuskavage, a música de Paula Morelembaum, a fotoforma de Geraldo de Barros, a entrevista de Ulisses Tavares, a arte de Wanda Pepi, Zé Corninho & Quem sabe, sabe; quem não sabe tapia na gambiarra ou leva na marra pra engalobar os bestas aqui.
Tudo tem seu lado bom & ruim & vice-versa, A criança, Vygotsky e o Teatro, Brincar para Aprender, a filosofia de Hermes Trismegistos de Jean D’Espagnet, Linguuagem & vida de Ludwig Wittgenstein, O homem criador e sensato de Alan Watts, a música de Mozart & Alicia De Larrocha, Treva alvorada de Mariana Ianelli, a coreografia de Merce Cunningham, a escultura de Aristide Maillol, a pintura de Johfra Bosschart & Sharon Sieben, a fotografia de Luiz Cunha, a arte de Ana Starling & Rodrigo Branco, o teatro de Maria Adelaide Amaral & Marília Pêra, o cinema de Don Ross & Christina Ricci, a entrevista de Valquiria Lins, O evangelho segundo Padre Bidião & Jesus voltou aqui.
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Fecamepa – quando o Brasil dá uma demonstração de que deve mesmo ser levado a sério aqui.
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MARIA RAKHMANINOVA, ELENA DE ROO, TATIANA LEVY, ABELARDO DA HORA & ABYA YALA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Triphase (2008), Empreintes (2010), Yôkaï (2012), Circles (2016), Fables of Shwedagon (2018)...