segunda-feira, junho 22, 2015

NORBERT, HERMETO, SÁNDOR, ZUCA, MERYL, ESSLIN, GILSON BRAGA & DEREK GORES.


VAMOS APRUMAR A CONVERSA – Manhã de segunda-feira e o Sol no horizonte dos meus olhos. Todas as encruzilhadas se desvaneceram e me apronto para prosseguir na caminhada, sempre recomeçando da estaca zero. As muitas vozes dentro de mim clamam por essa ou aquela direção. Qual seguir? Contemplo o Leste e a radiância do Sol me dá a oportunidade da escolha na descoberta para a virtude de entender o inopinado. É preciso ir adiante. De um lado, os meus desejos sempre povoando a necessidade de satisfação; de outro, os temores para atinar da coexistência entre o erro e o acerto. Se acerto, etapa vencida para nova decisão; ôpa, se errei, retorno com a consciência de que devo fazer melhor, buscando uma nova trilha, ou refazendo a trajetória. Evidente que nesse o momento de escolhas sempre me interrogo por onde seguir. Descubro que não há uma só escolha. Uma vez tomada a decisão, depois de deliberada e refletida, cada escolha traz novas decisões que precisam ser tomadas. São escolhas e escolhas. Se for preciso, retorno à primeira delas e refaço meus caminhos para distinguir entre a harmonia das descobertas e a discordância dissonante, entre o que deve ser feito e a dúvida que paira dali para acolá. Daqui vou para ali, buscando o raciocínio correto e a compreensão da mais verdadeira realidade. Intuo por seguir, afinal a vida prossegue e não devo ficar aqui parado esperando tudo passar. É que se estamos pra viver, vamos adiante apreendendo a lição que acada acerto e cada erro nos leva pra vida. E vou cantando: a vida passa em cada passo do caminho, vou passarinho professando a minha fé... Veja mais aqui.


Imagem: pintura do artista plástico pernambucano Gilson Luiz dos Santos Braga. Veja mais aqui.

Curtindo Chimarrão com rapadura (2006, cd/dvd) do compositor, arranjador e multi-instrumentista Hermeto Pascoal em duo com Aline Moreira. Veja mais aqui, aqui e aqui.

SOCIEDADE DOS INDIVÍDUOS – A obra A sociedade dos indivíduos (Zahar, 1994), do sociólogo alemão Norbert Elias (1897-1900), reúne três ensaios que abordam questões atinentes à relação entre a pluralidade de pessoas e a pessoa singular – indivíduo – e da pessoa singular com a pluralidade, com o propósito de acoplar termos aparentemente antagônicos como "sociedade" e "indivíduo" na promoção da antecipação de um uso mais antigo, estabelecendo um novo modelo da maneira como os seres humanos individuais ligam-se uns aos outros numa pluralidade que é a sociedade. Na obra que traz a ideia de sementes de trigo espargidas ao vento: saber para quem encontrar, destaco o seguinte trecho: [...] Normalmente imaginamos o ser humano, na atualidade, como dotado de diversos compartimentos psíquicos. Estabelecemos distinções entre "mente" e "alma", "razão" e "sentimento", "consciência" e "instinto" ou "ego" e "id". Mas a nítida diferenciação das funções psíquicas evocada por essas palavras não é, vale reiterar, algo simplesmente dado por natureza. Ela só ocorre no ser humano quando ele cresce - criança – num grupo, numa sociedade de pessoas. Não ocorre, como o crescimento físico, por exemplo, em decorrência de um mecanismo natural herdado, mas emerge do entrelaçamento das "naturezas" de muitas pessoas. E, por mais nitidamente que nossos conceitos possam expressá-la, essa diferenciação só passa a existir aos poucos, mesmo nos adultos, com a crescente diferenciação das próprias sociedades humanas. Ela é produto de um processo sócio-histórico, de uma transformação da estrutura da vida comunitária. [...] Veja mais aqui.

AS BRASAS – O livro As brasas (Companhia das Letras, 1999), do escritor e jornalista húngaro Sándor Márai (1900-1989) – que se exilou em 1948 nos Estados Unidos por conta da implantação do comunismo em seu país, suicidando-se em 1989 - , é um romance que se passa no século XIX e aborda temas como vida, música, paixão amorosa, amizade, fidelidade, dinheiro e honra, contando a história de dois homens que foram amigos inseparáveis na infância e que, no desenrolar da vida, ficaram distantes e não se viam há mais de quarenta anos. Entre eles uma mulher por quem travaram um duelo e que vão levá-los à competição num jogo de esgrima, numa luta árdua e com as palavras como armas. Eis um belíssimo trecho da obra: [...] Seus lábios começavam a tremer, esquecia-se do lugar onde estava, seus olhos sorriam, perdiam-se no vazio, não via mais nada ao redor, nem superiores, nem colegas, nem as belas senhoras e o público que enchia o teatro. Sentia a música com todo o seu corpo, nela bebia sedento, escutava-a como um prisioneiro que apura o ouvido ao som de passos que se aproximam e que talvez lhe tragam a notícia de sua libertação. Se alguém lhe dirigia a palavra nesses momentos, não percebia. A música dissolvia tudo ao redor, abolindo por instantes as leis daquele pacto artificial: nesses momentos, Konrad não era mais um soldado.  [...]. Veja mais aqui.

BABYLON – O irreverente livro Babylon: mystérios de Ishtar (Companhia das Letras, 2004), do escritor, desenhista, diploma e um dos representantes da poesia marginal da década de 1970, Zuca Sardan (Carlos Felipe Alves Saldanha), é uma reunião irônica de estilos com agilidade verbal e farsa de gosto realista, alegorias sagradas, deuses, cornucópia divina, múmias, planetas, doutores e malandros, leveza e sacanagem, numa comédia humana hiperbólica. Para se ter uma ideia da obra, eis um trecho: [...] CARTOLA Noite de lua assombrosa entre nuvens escabeladas. Sobre colossal muralha, Professor Fumegas entrevista a Deusa Terrível. (FUMEGAS) - Dizei-me, ó Divina, quais os Mistérios da Babilônia? (DEUSA) - Minhas tetas. (FUMEGAS) - Vossas tetas?... (DEUSA) - ...divinas. As Mangas da Mesopotâmia. (FUMEGAS) - Vossas tetas as mangas... (DEUSA) - ...divinas. Chovem tetas... Chovem mangas... (FUMEGAS) Chuva de mangas divinas... (DEUSA) - ...para os Iniciados: os Mistérios da Babilônia. (FUMEGAS) - Os jornais todavia nada noticiam. (DEUSA) - Ninguém vê a divina chuva de mangas. Só os Iniciados. (FUMEGAS, de joelhos) - Chovei, chovei um poucochito, ó Deusa... (DEUSA) - Pra ti, velho seboso? Ah Ah Ah Ah!!!... A Deusa desaparece numa explosão de orquídeas. Fumegas, baforando aromáticas volutas que se evolam do cachimbo de âmbar, desce pela corda, meditativo, e entra no táxi preto de Seu Cafunga. Louca disparada pelas dunas. Chegam à margem do Eufrates. Fumegas, de cachecol esvoaçante, salta no hidroavião de Sandro Ciclone. Ao ombro do piloto, agita-se o papagaio. (FUMEGAS) - Os dados foram lançados. [...] (FUMEGAS) - Lorotas, Doutor Barboff! Hoje em dia, com exceção de Claudel e Nelson Rodrigues, todos os dramaturgos são da esquerda. E isso não é culpa do Lotrak. Estivesse aqui o Ruy a defendê-lo, e já estaria o titan dos palcos despojado de seus aviltantes grilhões. Como seria de se esperar, com o furioso interesse de jornais e televisão, Lotrak tornou-se famoso em Tóquio e Nova York, e já é hoje herói consagrado na mídia, fazendo videoclipes pra tevê, todo acorrentado, com olhar estóico, verdadeiro lobo de Vigny. Um estrondoso sucesso que lhe vem propiciando uma receita astronômica depositada na Suíça. Crescem, inexoravelmente, auês e manifas dos pacifistas diante das embaixadas das grandes potências e do Palácio da Paz. Tal situação vem preocupando as tartarugas. E alguns dramaturgos de mais altos coturnos. [...] Veja mais aqui.

UMA ANATOMIA DO DRAMA – O livro Uma anatomia do drama (Zahar, 1978), do jornalista, professor de arte dramática, tradutor e crítico húngaro Martin Esslin (1918-2002), trata de temas sobre definições, delimitações e natureza do drama, a experiência coletiva e o ritual, estilo e caracterização, a estrutura do drama, o vocabulário crítico, a tragédia, a comédia, a tragicomédia, o palco e os meios de comunicação de massa, o drama e a sociedade, a ilusão e a realidade, a verdade do drama, entre outros assuntos. Da obra destaco o seguinte trecho: [...] O drama como técnica de comunicação entre seres humanos partiu para uma fase completamente nova de desenvolvimento, de significado realmente secular em uma era que o grande crítico alemão Walter Benjamin caracterizou como sendo o da “reprodutividade técnica da obra de arte. Aqueles que ainda consideram o teatro como a única forma verdadeira do drama podem” ser comparados aos contemporâneos de Gutemberg que só admitiam como livro verdadeiro aquele que era manuscrito. Através dos veículos de comunicação de massa, o drama transformou-se em um dos mais poderosos meios de comunicação entre os seres humanos, muito mais poderosos do que a mera palavra impressa que constitui a base da revolução de Gutemberg. É por isso que em certo conhecimento da natureza do drama, uma certa compreensão de seus princípios fundamental e suas técnicas, bem como a necessidade de se pensar e falar a respeito dele criticamente, tornaram-se, em verdade, exigências do nosso mundo. E isso não se aplica apenas a obras grandiosas do espirito humano, tais como as peças de Sófocles ou de Shakespeare, mas também à comedia de situações da televisão ou até mesmo a mais breve de todas as formas dramáticas, o comercial de rádio ou televisão. Vivemos cercados pela comunicação dramática em todos os países industrializados de hoje em dia; deveríamos ser capazes de compreender e analisar seu impacto sobre nós mesmos – e sobre nossos filhos. A explosão das formas dramáticas de expressão confronta-nos a todos os riscos consideráveis de sermos escravizados por formas insidiosas de manipular subliminar de nossos conscientes; mas, também, com imensas oportunidades criativas. Veja mais aqui.

A CRY IN THE DARK – O filme A cry in the dark (Um grito de coragem, 1988), dirigido pelo produtor, realizador e argumentista australiano Fred Schepisi e baseado no romance homônimo do escritor e advogado australiano John Bryson, contando a história de um casos e seus seus filhos que vão acampar no interior australiano, quando ocorre o desaparecimento do bebê aparentemente raptado por um dingo. O corpo nunca é encontrado e a polícia detecta contradições no depoimento da mãe e a acusa de homicídio, tornando-se assunto de debates e discussões na mídia e na população, aflorando o preconceito religioso. A estrela do filme é a premiadíssima atriz estadunidense Meryl Streep que ganhou o Oscar de Melhor Atriz (1989), a Palma de Ouro de Melhor Atriz no Festival de Cannes (1989), Melhor Atriz no Australian Film Institute (1989), Globo de Ouro de Melhor Atriz (1989), Melhor Atriz pelo New York Film e Critics Circle Award (1988). Ela estreou sua carreira profissional em 1975, com a peça teatral Trelawny of the Wells, seguindo para a televisão em 1977, ano em que estreou no cinema com o filme Julia (1978). Seguiu sua trajetória trabalhando em teatro, cinema e televisão, alcançando o estrelato como a maior recordista e a atriz mais premiada de todos os tempos: três Oscars, oito Globos de Ouro, dois Emmys, dois BAFTA, Festival de Berlim, afora ter sido condecorada duas vezes (2010 e 2014) pela presidência do país com a Medalha Nacional das Artes e Medalha Presidencial da Liberdade, entre outros. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
 
Escultura Suzanne bathing (Museu do Louvre), do pintor, escultor, desenhista e gravador francês Pierre-Nicolas Beauvallet (1750-1818).
Veja mais sobre:
Quando não é na entrada é na saída, O autor como produtor de Walter Benjamin, Antologia Pornográfica de Alexei Bueno, Linguística & Estilo, Fronteiriços de Anna Bella Geiger, a música de Andrea dos Guimarães, Wunderblogs, a ninfa Carna, a arte de Gilvan Samico & Matéria Incógnita aqui.

E mais:
Vamos aprumar a conversa, Pensamento complexo de Edgar Morin, Pirotécnico Zacarias de Murilo Rubião, As criadas de Jean Genet, o cinema de Rainer Werner Fassbinder & Hanna Schygulla, a arte de Hanna Schygulla, Imprensa, a música de Alanis Morissete & a pintura de Thomas Gainsborough aqui.
Credibilidade da imprensa brasileira, A imprensa & Millôr Fernandes, a música de Eduardo Gudin, História da Imprensa de Nelson Werneck Sodré, Beijo no asfalto de Nelson Rodrigues, a literatura de Cervantes & a arte da jornalista Enki Bracaj aqui.
Inclusão social pelo trabalho, Pitágoras, José Louzeiro, Samir Yazbek, Jacques Rivette, Xue Yanqun, Ednalva Tavares, Lisa Lyon, Música Folclórica Pernambucana & A imprensa na atualidade aqui.
A mulher do médico, Do sentir de Mario Perniola, a fotografia de Alfred Cheney Johnston, a arte de Sandra Cinto.& Akino Kondoh, Sonhos graúdos na diversão da mocidade aqui.
Mil sonhos na cabeça e o amanhã nas mãos, A pedra do sono de João Cabral de Melo Neto, a pintura de Omar Ortiz, a arte de Gary Jackson & Sean Seal aqui.
A vida em risco e o veneno à mesa, O direito dos povos de Amartya Kumar Sem, a pintura de Roberto Fernandez Balbuena & a arte de Kadee Glass aqui.
O brinde do amor, Pedagogia do oprimido de Paulo Freire, a música de Vanessa da Mata, a arte de Luciah Lopez, Project Global Peace Art & Havia mais que desejo na paixão feita do amor aqui.
Sexta postura, A arte de amar de Manuel Bandeira, a música de Al Di Meola, a escultura de Ambrogio Borghi, arte de Juli Cady Ryan & Quando amor premia o sábado aqui.
Desencontros de ontem, reencontros amanhã, Augúrios da inocência de William Blake, a música de Gonzaguinha, a arte de Duarte Vitória, a poesia de Tony Antunes & Alô, Congresso Nacional, ouça quem o elegeu aqui.
O que é ser brasileiro?, Sobre a violência de Hannah Arendt, a arte de Alex Grey, a música de Carol Saboya & Quem faz e não sabe o que fez é o mesmo que melar na entrada e na saída e nem se lembrou de limpar. Que meladeiro aqui.
Pra quem nunca foi à luta, está na hora de ir, a escultura de Phillip Piperides, a música de Duo Graffiti, a arte de Tracey Moffatt & Tanise Carrali aqui.
Brincar para aprender aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
Fecamepa – quando o Brasil dá uma demonstração de que deve mesmo ser levado a sério aqui.
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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
(Imagem: arte colagem do artista estadunidense Derek Gores).
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EWA LIPSKA, SAMANTHA HARVEY, LENA HADES & PERNAMBUCO DO PANDEIRO

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Gema (2013), Live from Aurora (2016), Phenomena (2019) e Devaneio (2023), da banda instr...