OS HEBREUS DE JOSEFO - Às voltas com questões religiosas durante a adolescência, dei de cara
com a coleção História dos Hebreus (Americas,
1956), do historiador e apologista judaico-romano Flávius
Josephus (37-100), que forneceu importante panorama do judaísmo
no sec. I, reunido em nove tomos que são divididos em três partes,
compreendendo as Antiguidades judaicas, a Guerra dos judeus contra os romanos e
o apêndiee com a resposta de Flávio Josefo a Ápio, o martírio dos macabeus e o
relato de Filon. Ao iniciar a leitura pensei comigo: Ué, estou relendo a Bíblia
cristã? Não, não era bem o Velho ou o Novo Testamento, era um relato histórico
importante acerca do judaísmo. Tanto é que no primeiro volume estavam os quatro
livros da primeira parte dedicada às Antiguidades judaicas, com a criação do
mundo até a vitória dos hebreus sobre os madianitas, tornando-se senhores de
todo o seu país, constituindo Moisés a Josué para ser o guia do povo, na
construção das cidades e lugares de asilo. No segundo volume, o Livro Quarto
sobre o discurso de Moisés ao povo e as leis que lhe dá, seguido do quinto ao
sétimo livro, da passagem de Josué pelo Jordão com o exército por um milagre,
até as últimas instruções de Davi no leito de morte ao seu filho Salomão, que o
enterra com magnificência extraordinária. No terceiro volume, o oitavo livro
das antiguidades judaicas, com a ordem de Salomão de mandar matar Adonias, Joab
e Semeu, tirando a Abiatar o cargo de Grão-Santificador, desposando a filha do
rei do Egito, seguindo-se até o livro décimo segundo, quando Tolomeu Filadelfo,
rei do Egito, liberta cento e vinte mil judeus que estavam escravos no seu
reino, mandando vir setenta e dois homens da Judeia para traduzir em grego as
leis dos judeus e, ao mesmo tempo, mandar riquíssimos presentes ao templo para
tratar os deputados da melhor maneira possível. No quarto volume começa a parte
do décimo segundo livro das Antiguidades judaicas, com os favores recebidos
pelos judeus dos reis da Ásia, até o décimo quinto livro,quando Herodes fala
com tanta generosidade a Augusto que conquista a sua amizade, acompanhando-o ao
Egito e o recebendo em Tolemaida. Já o quinto volume começa com o décimo quinto
livro da primeira parte das referidas Antiguidades, com Mariana recebendo
Herodes com frieza ao seu regresso da visita a Augusto, até o décimo nono livro
com o imperador Claudio confirmando o reino a Agripa e acrescentando-lhe a
Judeia e Samaria, dando o reino de Cálcida a Herodes, irmão de Agripa e
promulgando éditos favoráveis aos judeus. O sexto volume compreende o décimo
nono livro da primeira parte, quando o rei Agripa parte para seu reino e coloca
na sacristia do templo de Jerusalem as cadeias que eram um sinal da sua prisão.
Nesse volume dá-se inicio a segunda parte, compreendida como a História da
guerra dos judeus contra os romanos, do livro primeiro com Antioco Epifanio,
rei da Síria, tornando-se senhor de Jerusalem e suprimindo o serviço de Deus,
até Herodes ter arrancado de si uma águia de ouro consagrada sobre a porta do
templo, e a morte de Antipatro com os serviços funerais prestados por Arquelau.
O sétimo volume conta com o livro segundo da segunda parte, compreendendo a ida
de Arquelau ao templo, depois dos funerais do seu pai, Herodes; até o livro
quarto, com revolta de Vindex nas Gálias contra o imperador Nero e tomada de
direção de Vespasiano depois dos estragos na Judeia para invadir Jericó sem
resistência. No oitavo volume, o quarto livro da segunda parte, a partir da
descrição de Jericó sobre a fonte nos arredores do lago Asfaltite e dos
espantosos restos do incêndio de Sodoma e Gomorra, até o sétimo livro, com a
horrível maldade de Catulo, governador da Línia Pentapolitana, para se enriquecer
com os bens dos judeus e a morte de Jônatas, queimado vivo por ordem de Vespasiano.
O nono volume com a segunda parte da Guerra dos judeus contra os romanos, com a
captura de sicários que se haviam refugiado nos arredores de Cirene, tendo a
maior parte deles cometido suicídio. Como apêndice desse volume, a terceira
parte que compreende a resposta de Flávio Josefo a Ápio, o martírio dos
macabeus e o relato de Filon. O trabalho histórico deste autor registrou a
destruição de Jerusalem, em 70dC, pelas tropas do imperador Vespasiano e entre
as suas obras encontram-se ainda Contra
Apião, sobre a religião e filosofia judaica, e a sua autobiografia.
Trata-se de historiador bem instruído nas culturas
judaica e grega, e que falava perfeitamente o latim e o grego. Filiou-se ainda
jovem ao grupo religioso dos fariseus, quando a sua terra e o seu povo
estiveram sob o domínio romano. Com a revolta dos judeus contra os romanos de 66
d.C, ele foi enviado para dirigir as operações contra os dominadores, na
turbulenta Galileia. Nos embates logrou algumas vitórias, mas logo foi
derrotado, rendendo-se ao exército romano. No final da guerra, foi conduzido à
Roma, onde lhe conferiram a cidadania romana e também uma pensão do Estado,
época em que lhe foi dado o nome romano de Flávio, lá vivendo até a morte. É
considerado pelos judeus como um oportunista por suas ligações com os romanos,
sendo sua obra preservada e divulgada pela igreja cristã, por conter minuciosas
descrições de personagens dos Evangelhos e de Atos dos Apóstolos, com inúmeros
pormenores do mundo greco-romano relatados, alcançando credibilidade destacada.
Por conta disso, posso dizer que com a leitura da coleção pude ter uma visão
mais ampla sobre o judaísmo e o cristianismo. ©
Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] o ser humano está
metido entre dois polos: um polo material, que não diz respeito na realidade, à
pessoa verdadeira, mas antes à sombra da personalidade ou o que chamamos, no
sentido estrito da palavra, a individualidade; e um polo espiritual, que diz
respeito à personalidade verdadeira [...] O fim da sociedade
é o bem da comunidade, o bem do corpo social.
[...] O bem comum da cidade não é nem a
simples coleção dos bens privados, nem o bem próprio de um todo(como a espécie,
por exemplo, a respeito dos indivíduos, ou a colmeia a respeito das abelhas)
que dirige só para si e sacrifica as partes. É a boa vida humana da multidão,
duma multidão de pessoas; é a sua comunhão no bem viver; é, portanto comum ao todo e
às partes, sobre as quais se derrama e que devem beneficiar dele; com risco de
se desnaturar si mesmo, implica e exige o reconhecimento dos direitos
fundamentais das pessoas [...] comporta
como valor principal a mais alta acessão possível (isto é, compatível com o bem
do todo) das pessoas à sua vida de pessoa e à sua liberdade de expansão, - e às
comunicações de bondade que, por sua vez, daí procedem. [...] O que constitui o bem comum da sociedade
política não é, pois, somente o conjunto dos bens ou serviços de utilidade
pública ou de interesse nacional (estradas, portos, escolas, etc.) que supõe a
organização da vida comum, nem as boas finanças do Estado, nem o seu poder
militar, não é somente o conjunto de leis justas, de bons costumes e de
instituições capazes que dão a sua estrutura à nação, nem a herança das suas
grandes recordações históricas, dos seus símbolos e das suas glórias, das suas
tradições vivas e dos seus tesouros de cultura. O bem comum compreende todas
estas coisas, mas muito mais ainda, e mais profundo, mais concreto e mais
humano [...] envolve a soma ou
integração sociológica de tudo o que há de consciência cívica, de virtudes
políticas e de sentido do direito e da liberdade, e de tudo o que há de
atividade, de prosperidade material e de riquezas do espírito, de sabedoria
hereditária inconscientemente posta em ação, de retidão moral, de justiça, de
amizade, de felicidade e de virtude, e de heroísmo nas vidas individuais dos
membros da comunidade, enquanto tudo isso é, numa certa medida, comunicável, e
recai numa certa medida sobre cada um e auxilia assim cada um a completar a sua
vida e a sua liberdade de pessoa. É tudo isso que faz a boa vida humana da
multidão [...] O bem comum é coisa
eticamente boa. E no próprio bem comum está incluído como elemento essencial o
máximo de desenvolvimento possível hic et nunc das pessoas humanas, daquelas
pessoas que constituem a multidão unida, para constituir um povo, segundo
relações não somente de força, mas de justiça. [...].
Trechos extraídos da obra A pessoa e o bem comum (Morais, 1962), do
filosofo francês Jacques Maritain (1882-1972). Veja mais aqui, aqui,
aqui e aqui.
A POESIA DE MONTALE
Se me afasto dois dias
os pombos que bicam
na minha sacada
começam a se agitar
seguindo as instruções corporativas.
Ao meu regresso a ordem se refaz
com suplemento de migalhas
e para desapontamento do melro que faz a
naveta
entre o respeitado vizinho de frente e eu.
A tão pouco se reduziu minha família.
E há quem tenha uma ou duas, que esbanjamento
meu Deus!
Solidão,
poema do poeta, prosador, jornalista e tradutor italiano Eugenio Montale (1896-1981), Prêmio Nobel de 1975. Veja mais aqui & aqui.
A ARTE DE AYSSA BASTOS
A arte
da poeta, ilustradora, fotógrafa e designer Ayssa Bastos, autora do livro de poesia visual Aguardados (2012), que possui formação em cinema e desenho
industrial e tem realizado exposições de artes plásticas, ilustrações, poesia
visual. Veja mais aqui.
&
A OBRA DE QORPO SANTO
Cruzes! Estou hoje tão científico que até
pelos calcanhares sinto entrarem-me pensamentos, ideias e não sei que mais.
A obra do
dramaturgo, escritor e jornalista José Joaquim de Campos Leão, mais conhecido
como Qorpo Santo (1829-1883) aqui.