terça-feira, abril 30, 2019

ERNESTO SÁBATO, MACHADO DE ASSIS, RENATO ORTIZ, NICOLINA VAZ DE ASSIS & MUCUNÃ


O PRESENTE DE MACHADO - Menino peralta duns oito ou nove anos, por aí, não dava sossego a ninguém tagarelando com meu amigo invisível e na amizade do maior converseiro com todo bicho e pés de plantas no quintal, ou da varanda pro jardim, qualquer brecha a ganhar o mundo e me esgueirando ladeiras acima na fuga pra casa de Pai Lula e Carma, ou, ainda, invadindo a biblioteca do meu pai para me aboletar sobre as coleções à cata das imagens de mulher nua, aos flagras, puxões de orelha e findar amarrado nas pernas de mesa da sala. Aos livros, de vera, era achegado mesmo, gostava. E foi por isso que no meu aniversário, meu pai chegou carregando uma caixa enorme nos braços. Ele me chamou e pediu para que eu adivinhasse o presente. Cá comigo, queria que fosse uma bicicleta e não era, ou um autorama, também não, ou uma coleção de super-herois, gibis, armas de brinquedo, coisa que valha e, evidentemente, pra minha contrariedade não era nada disso. Nada. Fomos pro sofá, mandou-me abrir e vi que era uma tuia de livros. Hum? Folheei um a um e, desapontado, disse: Mas painho não tem uma... ah, não poderia dizer, era segredo, senão estragava tudo e minha mãe viria com beliscões e outras reprimendas. Lição de reincidente, ora. Tive que tapiar na hora e fiz de conta que havia gostado e comecei a soletrar o nome: Machado de Assis (1839-1908). Quem é painho? Ah, vai gostar, tem muitas histórias. E tinha mesmo. Primeiro fui saber quem era, lendo a biografia: nasceu pobre e mesmo sem nunca ter ido à escola, ele escreveu em quase todos os gêneros literários, desde poesias, romances, crônicas, peças teatrais, tornando-se, inclusive, jornalista e crítico literário. Foi testemunha ocular da história, desde o movimento abolicionista, a passagem da monarquia para o republicanismo, além de todas as reviravoltas ocorridas entre o final do século XIX e o início do século XX, fatos que foram registrados em suas obras, ao todo 10 romances, 200 contos, 10 peças teatrais, 5 coletâneas de poemas e mais de 600 crônicas. Tudo isso na minha coleção de 31 volumes, uma edição da W. M. Jackson Inc, datada de 1938: no volume 1 – Ressurreição (1872), a história de Félix, Lívia, Raquel e Meneses. No volume 2 – A mão e a luva (1874), contando da relação de Guiomar com seus três pretendentes, findando a escolha dela por um deles, o Luis Alves. No volume 3 – Helena (1878), contando o acolhimento da jovem Helena pela família quando do falecimento do seu pai. No volume 4 – Yayá Garcia (1878), com a história engenhosa de Jorge e Estela, e ele vai à guerra do Paraguay, enquanto ela, orientada pela mãe dele, para se casar com outro. No volume 5 – Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), marcando o início do Realismo e compreendendo a autobiografia do protagonista que resolve escrever suas memórias depois de morto, a sua paixão pela prostituta Marcela, a claudicante e pobre Eugenia e a Virgilia roubada por Lobo Neves (Veja aqui e aqui). No volume 6 – Quincas Borba (1891), a história do professor Rubião e o filósofo Quincas, a paixão por Sofia, a mulher do sócio, o Humanitismo, a fortuna e o cachorro: “Aos vencedores, as batatas!”. No volume 7 – Dom Casmurro (1900), contando a história de Bentinho, o seminarista órfão, e a sua linda paixão Capitu. No volume 8 – Esaú e Jacó (1904), a história dos irmãos gêmeos briguentos Pedro e Paulo. No volume 9 – Memorial de Ayres (1908), a história do conselheiro Ayres e o amor de Tristão e Fidelia. No volume 10 – Contos fluminenses (vol. 1), com 7 contos, entre eles, Miss Dolar, A mulher de preto, Confissões de viúva moça, O segredo de Augusta, entre outros. No volume 11 – Contos fluminenses (Vol.2), com 14 contos publicados no Jornal das Famílias (1864-1878) e na Estação (1884-1891). No volume 12 – Histórias da meia noite, com 6 narrativas, entre elas A parasita azul, O relógio de ouro e Ponto de Vista. No volume 13 – Histórias Românticas, com 8 contos publicados do Jornal das Famílias (1864-1876). No volume 14 - Papeis Avulsos, com 12 contos, entre eles O Alienista (1882), a história de Simão Bacamarte, médido que reúne os loucos na Casa Verde, de Itagaraí; além de O empréstimo e O espelho. No volume 15 – Histórias sem data, com 18 contos, entre eles A igreja do diabo, Uma senhora e A segunda vida. No volume 16 – Várias histórias, com 16 narrativas entre elas A cartomante, A desejada das gentes, Adão e Eva, entre outras. No volume 17 – Páginas recolhidas (1889), com contos e duscursos pronunciados na Academia Brasileira de Letras. No volume 18 – Relíquias da casa velha (Vol.1) reunindo 21 contos. No volume 19 – Relíquias da casa velha (Vol.2) com 22 contos. No volume 20 – Chronica I (1859-1863), com crônicas publicadas no Diário do Rio de Janeiro, O Futuro, Semana Ilustrada, entre outros veículos (Veja aqui). No volume 21 – Chronica II (1859-1863), com crônicas publicadas no Diário do Rio de Janeiro (1859-1867) e Ao acaso & Cartas fluminenses. No volume 22 – Chronica III (1859-1888), com crônicas publicadas na Semana Literária (1871-1873) e Ilustração Brasileira (1876-1878). No volume 23 – Chronicas IV (1859-1888), com crônicas publicadas no O Cruceiro (1878) e Gazeta de Notícias (1884-1888). No volume 24 - A semana (1892-1897), 1º volume de crônicas. No volume 25 – A semana (1892-1897), 2º volume de crônicas. No volume 25 – A semana (1892-1900), 3º volume de crônicas. No volume 26 – A semana (1892-1900), 4º volume de crônicas. No volume 27 - Poesias completas (1870-1900), reunindo os livros Chrysalidas, Phalenas, Americanas, Ocidentaes e o Almada. No volume 28 – Theatro – reunindo as comédias Não consultes médico, O caminho da porta, O protocolo, Quase Ministro, além de folhetins, cartas e a fantasia dramática Desencantos. No volume 29 – Crítica literária (1858-1906), reunindo críticas e prefácios. No volume 30 – Crítica literária (1858-1906), 2º volume reunindo críticas e prefácios. No volume 31 – Correspondência, reunindo 25 cartas, entre elas a Quintino Bocaiuva, José de Alencar e Joaquim Nabuco. Era história que não acabava mais: 31 volumes. E quanto mais lia, mais gostava – apesar da grafia que não era do meu tempo de aprendizado, bem diferente e cheia de phs, ffs e coisas e tais. Confesso hoje que o presente foi melhor que tudo que desejei à época e que ainda hoje releio alguns volumes – embora dois deles já estejam bem deteriorados -, cuidando bem da obra desse grande escritor brasileiro que contribuiu e muito para minha formação. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] um executivo alemão foi mandado à China para projetar uma grande instalação industrial. Durante algumas semanas, devido ás exigências de sua profissão, ele se vê obrigado a viver uma experiência amarga. Não fala chinês, desconhece os costumes locais, ressente-se da falta dos automóveis, encontra-se na contingência de partilhar um modesto quarto de hotel com outro viajante qualquer. De retorno a Hong Kong, sua conexão para voltar à Europa, respira aliviado. A paisagem que o cerca é sua velha conhecida. Mas por que um alemão se “sente em sua casa” em Hong Kong? O que lhe é familiar neste lugar longínquo? [...] A China Popular, para nosso executivo alemão, é um “mundo” distante, inóspito. Em seu território, tudo lhes é estranho. Em contrapartida, Hong Kong representa algo próximo, um recanto povoado por coisas de sua vida prosaica (hotéis, padrão de refeição e de conforto, táxis, etc.). Envolvido por uma miríade de objetos-mobilias, ele sente-se à vontade neste mundo-mundo. Familiaridade que se realiza no anonimato de uma civilização que minou as raízes geográficas dos homens e das coisas. [...].
Trechos extraídos da obra Mundialização e cultura (Brasiliense, 1994), do sociólogo e antropólogo Renato Ortiz, refletindo sobre a condição de cidadão do mundo diante da mundialização da cultura e a inevitável reorientação das sociedades atuais. No primeiro capítulo, trata sobre Cultura e sociedade global, discutindo a distinção entre mundialização, internacionalização e globalização, cultura e sociedade mundializada; o segundo capítulo trata do advento de uma civilização, efetuando uma abordagem do séc. XV até a atualidade, tratando sobre a sobremodernidade e alta modernidade de Giddens; no terceiro capítulo trata sobre a cultura e modernidade-mundo, procurando o entendimento sobre o contato entre as civilizações, trabalhando conceitos de mapa cultural; no quarto capítulo, aborda sobre cultura internacional-popular, a desterritorialização e os não-lugares; o quinto capítulos aborda sobre os artífices mundiais de cultura, em que as pessoas são praticamente forçadas a perder toda a relação com as antigas culturas da nação, diferentemente dos seus antecessores pré-globais (as ditas antigas multinacionais), estabelecendo a cultura-mundo; no sexto, a legitimidade e estilos de vida são o foco da sociologia; no sétimo, a digressão final, elucidando os conceitos de tradição, o fim do Estado, entre outros assuntos.

MUCUNÃ
O documentário Mucunã (2019), direção e roteiro de Carol Correia, trata sobre a história das mulheres do Sítio Rodrigues, vilarejo situado próximo a cidade de Belo Jardim, agreste pernambucano, povoado em que todos descendem de uma índia, que ainda criança, foi capturada nas margens do Rio Ipojuca, levada para casa, “amançada” e obrigada a casar com seu algoz. Da indiazinha, as mulheres herdaram o exímio traquejo com o barro e através da sua arte subverteram a lógica devastadora do patriarcado se tornando provedoras do lar e revolucionando uma realidade de violência e miséria extrema. O filme foi vencedor do Prêmio Naíde Teodósio de Estudos de Gênero – Ano IX, na categoria Roteiro, promovido pela Secretaria da Mulher de Pernambuco, em 2016. Veja mais aqui.

A ESCULTURA DE NICOLINA VAZ DE ASSIS
A arte da escultora Nicolina Vaz de Assis (1874-1941). Veja mais aqui.
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A OBRA DE ERNESTO SÁBATO
A história não é mecânica, porque os homens são livres para a transformar.
A obra do escritor e artista plástico argentino Ernesto Sábato (1911-2011) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.


PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

  Imagem: Foto AcervoLAM . Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira .   Lua de Maceió ... - Não era ...