quinta-feira, dezembro 12, 2013

MARIAFELI DOMÍNGUEZ, KATHLEEN TIERNEY, FROMM, DELEUZE, NITIN SAWHNEY & AI WEIWEI

 


VIDA DE MENINA – Um poema prosado para Helena Morley - pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira Brant (1880-1970). – Helena era Alice desde pequena em Diamantina. Era para muitos meninos a mais bonita dali. Seu pai, um minerador inglês de diamantes, sua mãe mineira e ela crescia mostrando-se caprichosa e de uma praticidade, sempre em busca da perfeição. Cresceu, ficou moça feita e logo casou-se com seu primo deputado e desapareceu: foi morar lá pras bandas do Rio. Soube depois havia sido professora na escola da sua tia Madge e adotou o sobrenome da avó para a personagem da sua memória - um diário da adolescência que virou seu livro de vida e foi traduzido pela Elizabeth Bishop pro inglês, considerando-se seus escritos como a da Jane Austen. Li e reli. Lá estava o seu cotidiano durante a abolição da escravatura, sonhos e humor requintado, o protagonismo da voz feminina tão reprimida, a avó materna Teodora que era uma viúva rica escravocrata, seu avô paterno que foi enterrado na porta da Casa da Caridade por ser protestante e que foi direto pro céu dos ingleses; sua nostalgia e os momentos de perda, os boatos e superstições da sociedade mineira da época e as relações românticas. São visíveis as tristes situações escravagistas, o preconceito imperante que não permitia brincar com as coleguinhas escuras. Alegrei a memória ao ver o filme da Helena Solberg e a crônica do Drummond, sempre no coração.

 


DITOS & DESDITOS - A liberdade nunca acontece por si só. Se pararmos de lutar por ela, não haverá liberdade. A liberdade não é uma condição absoluta mas o resultado da resistência... Nenhum estado ou sociedade pode afirmar ter estabelecido os diretos humanos uma vez por todas. Eu quero que as pessoas enxerguem seu próprio poder. A liberdade diz respeito a nosso direito de questionar tudo. A arte não é um fim. É um começo. A história nos ensina que no início das maiores tragédias havia ignorância. Pensamento do artista e ativista chinês Ai Weiwei.

 

ALGUÉM FALOU: A solidão lhe dá as ideias e a motivação para fazer você querer colaborar. Você tem a si mesmo e do seu instinto - não há mais nada no final do dia. Vivemos em um contexto, mas também somos indivíduos. Precisamos explorar os dois. Pensamento do premiado músico e compositor britânico Nitin Sawhney.

 

LARANJAS SANGUÍNEAS – [...] Então, para começar, você deve estar se perguntando como essa garota com um macaco nas costas é do tamanho de King Kong está correndo atrás de estaqueamentos desagradáveis e outras coisas. Bem, verdade seja dita, tenho esticado o na verdade, como se fosse um grande punhado de caramelo de água salgada com sabor de framboesa. [...] Em primeiro lugar, eliminar monstros não vem com um manual de instruções. [...]. Trechos extraídos da obra Blood Oranges (Ace, 2013), da escritora estadunidense Kathleen Tierney (pseudônimo de Caitlín Rebekah Kiernan).

 

DOIS POEMAS - SEM PRESSA - O cheiro da faísca inaugural \ inundou os cantos da velha casa \ ali entre as sombras do corotú \ e da ameixeira desfolhada. \ Esse cheiro das cinzas de ontem \ misturado com o barro feito \ aproximou o cansaço do tédio na hora imprudente do amanhecer \ quando meu pai chapéu na mão \ Ele saiu sem pressa na pressa. \ O aroma do café encheu os espaços da antiga cozinha aguardando o retorno. ABRAÇO PARA PELE CANSADA - Venho dos abraços e para os abraços \ caminho com a lua nos poemas \ e uma cachoeira ao amanhecer. \ Eu venho do abraço primeiro \ aquele que minha mãe me deu \ quando abri meus olhos para este mundo \ no claro-escuro da velha casa \ com cheiro de caraña no quarto de todos e de ninguém. \ Venho do abraço dos meus avós \ nas tardes de chuva sem fim \ quando o cheiro de amendoim torrado \ Encheu os caminhos para a casa. \ Eu venho do último abraço do meu pai \ na triste manhã da despedida \ Venho do abraço dos meus irmãos \ em uma viagem fugaz pela saudade da infância e da juventude. \ Mas também vou em direção aos abraços \ que reorganizam as coisas que silenciam os demônios \ e essa sentença de vida. Poemas da premiada escritora e professora panamena Mariafeli Domínguez.

 


Dois caçadores de Nova Jersey estão na selva quando um deles cai no chão. Ele parece não respirar, os olhos estão virados para trás. O outro caçador pega o celular e liga para o serviço de emergência. Ele fala com voz arfante para a operadora:

- Meu amigo está morto! O que posso fazer?

A operadora, com voz calma e tranquilizante, diz:

- Fique calmo. Eu posso ajudar. Primeiro, vamos ter certeza de que ele está morto.

Há um silêncio, depois ouve-se um tiro. O rapaz volta a falar ao telefone:

- Ok, e agora?

FONTE:
A piada mais engraçada do estudo sobre o humor na internet, copatrocinado por Richard Wiseman e pela British Association for de the Advancement of Science. In: MYERS, David. Psicologia.Rio de Janeiro: LTC, 2006.

ERICH FROMM – O filósofo, sociólogo e psicanalista alemão Erich Fromm (1900-1980), produziu uma extensa obra na qual aborda temas como linguagem simbólica, inconsciente social, sonhos, a tecnologia, a religião, humanismo normativo e a moldagem do individuo pela sociedade, a destrutividade, as falhas predeterminadas pela cultura, as influencias intrafamiliares, a situação humana, as necessidades básicas da alma humana, a experimentação da identidade por individualidade ou conformidade, ligação através do amor ou narcisismo, transcendência por criatividade ou por destruição, raízes por irmandade ou incesto, entre outras, criticando o processo de desumanização provocada pela sociedade capitalista, tornando-se um renovador da psicanalise com a promoção de inclusão das relações sociais e da cultura na compreensão dos fenômenos psíquicos. A TEORIA DA PERSONALIDADE – A teoria da personalidade de Fromm está embasada na orientação de caráter, identificada como sendo as formas que os indivíduos se relacionam com o mundo e constituem de forma geral o caráter de dias formas: pela assimilação e peça socialização. Ambas as formas quatro tipos de caráter identificados como negativos. São eles: o receptivo, o explorador, o acumulador e o mercantil. Um quinto tipo identificado como sendo positivo é denominado de caráter produtivo. No caráter receptivo se caracteriza pela noção de que o que se precisa está fora de si e que os fatores externos são os únicos modos de receber o que se quer, tornando-se dependente e submisso, precisando do outro para cuidar e que para identificar-se com aquele que cuida fará tudo para se assemelhar e não decepcionar. O caráter explorador é aquele agressivo que procurar retirar e explorar os outros, tomar dos outros pela esperteza como pela força, utilizando-se do poder para obter o que se deseja. O caráter acumulativo é aquele que identifica o mundo como um lugar ameaçador, desconfiando e tornando-se rígido em possuir e poupar, tornar-se frugal, avarenta ou econômica. O caráter mercantil está relacionado com o capitalismo, pelo qual ocorre o desempenho de papeis aprovados socialmente, foco na tarefa de se vender. Esses tipos de caráter se mesclam num individuo concerto e será um produto social o tipo de caráter predominante. Na sociedade moderna é predominante a orientação mercantil, gerando a opção pelo ter ao invés do ser. Estas orientações de caráter podem se mesclar num indivíduo concreto e o tipo de caráter predominante nos indivíduos é um produto social. A pessoa saudável não precisa de nenhuma dessas características, voltando-se para o caráter produtivo na busca pela realização do pleno potencial sem necessitar, depender ou explorar os outros. O amor produtivo não é possessivo e nem se reduz ao amor sexual. O amor produtivo tem sua base na produtividade e é o amor autêntico, que tem como exemplo máximo o amor materno e é marcado pelo desvelo, responsabilidade, respeito e conhecimento, razão pela qual este tipo de amor é desintegrado na sociedade capitalista contemporânea. O pensamento produtivo tanto respeita como reage e possui interesse no seu objeto, na busca pela compreensão e visão total dele. O caráter social pode ser dividido entre os que se orientam produtivamente ou improdutivamente. Os improdutivos são caracterizados como receptivos, exploradores, acumuladores e mercantis. Os produtivos são aqueles que manifestam a essência humana e realiza a produtividade. Para Fromm a base fundamental do caráter se encontra nos diversos tipos de organização da libido, admitindo que o caráter social se encontra na relação da pessoa com o mundo, com o outro e consigo mesmo, na função de moldar os indivíduos a agir na direção de exigência da sociedade. Esse caráter social produz o desejo de agir em conformidade com a exigência da sociedade que produz no individio a satisfação de agir conforme a cultura e realizar a mediação entre as ideias dominantes e o modo de produção. HUMANISMO – Para Fromm o homem é potencialmente bom e só se torna mau em condições adversas quando desenvolve uma potencialidade secundária. Ao distinguir a consciência humanista da consciência autoritária, Fromm observa que a consciência humanista está voltada para a integridade e interesse próprio, enquanto que a consciência autoritária está voltada para obediência, dever e abnegação do homem e seu ajustamento social. A meta da consciência humanista é a produtividade e a felicidade. Estas são as bases da ética humanista e da psicanálise do autor.
A psicanálise humanista de Fromm envolve tanto a tipologia do caráter e suas influências na sociedade e no processo histórico, como também o questionamento acerca das bases da sociedade moderna, anti-humanista e mercantil, discutindo a questão do caráter social e os processos sociais gerados pelo capitalismo na influencia sobre o ser humano na quantificação/abstratificação, na alienação, na burocratização e na mercantilização. SAÚDE MENTAL – Ao abordar as relações sociais, Fromm passa a tratar sobre a saúde mental e com questionamento sobre a ideia de normalidade e a qualificação de anormalidade, entendendo que normalidade se dá na dependência e na adaptação do individuo em determinadas relações sociais, discutindo se essas relações são realmente saudáveis ou se o individuo comunga com a maioria da mesma doença psíquica para ser considerado normal. O SOCIALISMO HUMANISTA – A ideia do socialismo humanista surge da critica da sociedade contemporâneo e do socialismo real – o capitalismo de Estado –, propondo o socialismo comunitário humanista com foco nas relações sociais. Veja mais aqui, aquiaqui.
REFERÊNCIAS
FROMM, Erich. O espírito da liberdade. Rio de Janeiro: Zahar, 1970.
______. A arte de amar. São Paulo, Itatiaia, 1990.
______. A crise da psicanálise: Freud, Marx e a Psicologia Social. Rio de Janeiro, Zahar, 1977.
______. A linguagem esquecida: uma introdução ao entendimento dos sonhos, contos de fadas e mitos. Rio de Janeiro, Zahar, 1983.
______. A revolução da esperança: por uma tecnologia humanizada. 5ª edição, Rio de Janeiro, Zahar, 1984.
______. Análise do homem. Rio de Janeiro, Zahar, 1978.
______. Anatomia da destrutividade humana. Rio de Janeiro, Zahar, 1975.
______. Da desobediência e outros ensaios. Rio de Janeiro, Zahar, 1984.
______. Do ter ao ser. Rio de Janeiro, Manole, 1992.
______. Grandeza e limitações no pensamento de Freud. Rio de Janeiro, Zahar, 1980.
______. Meu encontro com Marx e Freud. Rio de Janeiro: Zahar, 1984.
______. O coração do homem. Rio de Janeiro, Zahar, 1965.
______. O medo à liberdade. Rio de Janeiro, Zahar, 1981.
______. Psicanálise da sociedade contemporânea. Rio de Janeiro, Zahar, 1976.
______. Psicanálise e religião. Rio de Janeiro: Livro Ibero-Americano, 1966.

______. Ter ou ser? Rio de Janeiro, Guanabara, 1987.

A ILHA DESERTA DE GILLES DELEUZE - [...] o homem só existe no espaço do saber a partir do momento em que o mundo "clássico" da representação desaba, por sua vez, sob o golpe de instâncias não representáveis e não representativas. É o surgimento do obscuro, ou de uma dimensão de profundidade. É preciso, primeiro, que a biologia nasça, assim como a economia política e a filologia: as condições de possibilidade do vivente são buscadas na própria vida (Cuvier), as condições da troca e do lucro são buscadas na profundidade do trabalho (Ricardo), a possibilidade do discurso e da gramática é buscada na profundidade histórica das línguas, no sistema de flexões, série de desinências e modificações do radical (Grimm, Bopp). "Quando, abandonando o espaço da representação, os seres vivos se alojaram na profundidade específica da vida, as riquezas, no impulso progressivo das formas de produção, as palavras, no devir da linguagem", então a história natural dá lugar à biologia, a teoria da moeda à economia política, a gramática geral à filologia. Ao mesmo tempo, o homem se descobre de duas maneiras. Por um lado, como dominado pelo trabalho, pela vida, pela linguagem; por conseguinte, como objeto de ciências positivas novas que deverão colher modelo junto à biologia, à economia política ou à filologia. Por outro lado, como quem funda essa nova positividade sobre a categoria de sua própria finitude: a metafísica do infinito é substituída por uma analítica do finito que encontra na vida, no trabalho e na linguagem suas estruturas "transcendentais". O homem tem, portanto, um ser duplo. O que desabou foi a soberania do idêntico na representação. O homem é atravessado por uma disparidade essencial, como por uma alienação de direito, separado dele mesmo pelas palavras, pelos trabalho, pelos desejos. E nesta revolução que explode a representação, é o mesmo que deve se dizer do Diferente e não mais a diferença se subordinar ao mesmo: a revolução de Nietzsche. [...] Uma nova imagem do pensamento, uma nova concepção do que significa pensar é hoje a tarefa da filosofia. É aí que ela pode mostrar sua capacidade de mutações e de novos "espaços", capacidade não menor que a das ciências ou das artes. À questão: o que acontece de novo em filosofia? os livros de Foucault trazem por si mesmos uma resposta profunda, a mais viva e também a mais convincente. Cremos que As palavras e as coisas são um grande livro, um grande livro sobre novos pensamentos. A ILHA DESERTA – O livro A ilha deserta e outros textos, do filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995), trata de temas como as causas e razões das ilhas desertas, a lógica e existência de Jean Hyppolite, instintos e instituições, a concepção da diferença em Bergson, Jean-Jacques Rousseau precursor de Kafka, Céline e Ponge; a ideia de gênese, na estética de Kant, Raymond Roussel ou o horror do vazio, ao criar a patafísica Jarry abriu caminho para a fenomenologia, ele foi meu mestre, filosofia da série noire, Gilbet Simondon e o individuo e sua gênese físico-biológica, a existência duvidosa do homem, o método de dramatização, conclusões sobre a vontade de potência e o eterno retorno, a gargalhada de Nietzsche, mística e masoquismo, filosofia, Espinosa e o método gral de Martial Gueroult, falha e fogos locais, aquilo que os prisioneiros esperam de nós, apreciação do livro de Lyotard, Hélène Cixous e a escrita estroboscopica, quanto a você e o que são suas máquinas desejantes, sobre as cartas de H. M., o frio e o quente, cinco proposições sobre a psicanálise, faces e superfícies, prefácio ao livro L´après-mai dês faunes e uma arte de plantador. Veja mais aqui, aquiaqui.

REFERÊNCIA
DELEUZE, Gilles. A ilha deserta e outros textos. São Paulo: Iluminuras, 2004.


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