CRÔNICA
DE AMOR POR ELA: POR VOCÊ - (Imagem:
Vídeo/Arte de Meimei Corrêa) – Por
você tenho estado a levitar incólume pelas nuvens mágicas do amor, a cantar o
Exagerado de Cazuza para orbitar contumaz toda flor de sua emanação. Por você
tenho dedicado todo infrene teor do meu verso lascivo, toda meta da minha
perseguição da felicidade, todo meu corpo, minha alma, ideias e pensamentos e
já não consigo distinguir o que é meu de seu nessa correspondência para lá de
imantada pelos nossos mais aderentes desejos. Por você sigo perseverante a
desafiar de deus, do mundo e de tudo, a fazer da minha crença apenas a sua
deificação. Por você vou rompendo barreiras porque recito de cor um a um dos
cinco mil versos d´Os Cantos de Pound
enquanto aliso a corcova de suas ancas miríficas onde perco todos os pontos
cardeais afiançando a valia de todos os seus atributos. Por você subestimo
convenções porque quero passear de mãos dadas e trocando beijos apaixonados no
meio do espetáculo da aurora boreal até a austral e vê-la seguir com o meu
monograma tatuado no seio como o distintivo do nosso amor. Por você vasculho o
universo de sua compleição, faço surf
no tsunami de suas carnes, viro
goleador no Maracanã do seu ventre, percorro a nado todo Amazonas de suas águas
profundas, faço happy hour na lua dos
seus seios, enfrento a fera do seu desejo exaltado e recolho de sua mais
absoluta e íntima graciosidade todos os acepipes exatos da minha esfomeada
vontade de você. Por você todo limite usurpado no fogo insano do prazer a ponto
de não haver extintor de incêndio capaz de apagar a feroz volúpia de possuí-la
a mais das suas dimensões angulares. Por você toda exata e possessa como uma
naja de capuz estufado, premida pela necessidade excitante de ver-me enveredar
por seu olho pidão, por seus lábios bons de beijar, pelos seios de todos os
sabores, pelas pernas carnudas, nádegas voluptuosas até o ventre ávido com nuto
pro concúbito. Por você terei o muito de todo tudo, porque na paixão, o que for
demais além da infinitude, para o querer, ainda é muito pouco. (Luiz Alberto
Machado. Veja o clipe do poema aqui. E mais aqui, aqui , aqui e aqui).
CONFIRA MAIS CRÔNICA DE AMOR POR ELA:
PICADINHO
Imagem do artista plástico Eduardo Schloesser.
Curtindo o álbum Ya
... (Mondo Melodia, 1998), da
cantora e instrumentista burundiana Khadja Nin.
EPÍGRAFE
– O homem é como um grão de pimenta. Enquanto o não morderes,
não saberás como queima.
Provérbio africano. Veja mais aqui.
DO
CAOS AO CÉREBRO – No
livro O que é filosofia? (34, 1992),
do filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995) e do filósofo,
psicanalista e militante revolucionário francês Félix Guattari
(1930-1992), destaco o trecho: [...] Não se trata de dizer somente que a arte deve nos formar,
nos despertar, nos ensinar a sentir, nós que não somos artistas—
e a filosofia ensinar-nos a conceber, e a ciência a
conhecer. Tais pedagogias só são possíveis, se cada uma das disciplinas, por sua
conta, está numa relação essencial com o não que a ela concerne. O plano da filosofia
é pré-filosófico, enquanto o consideramos nele mesmo, independentemente dos conceitos
que vêm ocupá-lo, mas a não filosofia encontra-se lá, onde o plano enfrenta o caos.
A filosofia precisa de uma não-filosofia que a compreenda, ela precisa de uma compreensão
não-filosófica, como a arte precisa da não-arte e a ciência da não-ciência. Elas
não precisam de seu negativo como começo, nem como fim no qual seriam chamadas
a desaparecer realizando-se, mas em cada instante de seu devir ou de seu desenvolvimento.
Ora, se os três não se distinguem ainda pela relação com o plano cerebral, não mais
se distinguem pela relação como caos no qual o cérebro mergulha. Neste mergulho,
diríamos que se extrai do caos assombrado "povo porvir", tal como a arte
o invoca, mas também a filosofia, a ciência: povo-massa, povo-mundo, povo-cérebro,
povo-caos. Pensamento não-pensante que se esconde nos três, como o conceito não
conceitual de Klee ou o silêncio interior de Kandinsky. É aí que os conceitos, as
sensações, as funções se tornam indecidíveis, ao mesmo tempo que a filosofia, a
arte e a ciência, indiscerníveis, como se partilhassem a mesma sombra, que se estende
através de sua natureza diferente e não cessa de acompanhá-los. Veja mais
aqui, aqui e aqui.
AS
IMAGINAÇÕES PECAMINOSAS – No livro As
imaginações pecaminosas (Rocco, 2005), do escritor, advogado e jornalista Autran Dourado (1926-2012), destaco o
trecho do conto Um ajuste de contas: De repente, no campinho, sem que ao menos suspeitasse que estava sendo
seguido, Valeriano se viu cara a cara com Orozimbo Preto. Não pôde fazer nada
senão erguer os braços para se mostrar desarmado e entregue. Porque Orozimbo
Preto já estava de arma em punho, engatilhada. A arma era um Agaó com mola
Smith, muito parecido com um que ele teve de deixar às pressas na casa de Natália
quando saltou a janela e o muro, seguido de gritos e tiros. A voz era do
coronel Justino Pessegueiro de Sousa, mas ele não vinha sozinho. Valeriano não
tinha chegado a se desvestir, apenas tirara o cinturão com o coldre e o
revólver Agaó. Ainda tentou apanhar a arma, mas Natália, fingindo que sem
querer, lhe barrou o caminho. Melhor perder umAgaó do que perder a vida, pensou
ligeiro. Viu logo que tinha caído numa esparrela, tudo por obra e graça de
Natália, a quem vinha seguindo desde que o coronel Justino a tirara do bordel
da Ponte e montara casa para ela. O coronel gostava de carne nova e era muito
cioso das suas mocinhas. Por causa dela dois já tinham perdido a vida: o irmão
que matara Quincas em defesa da honra e fora morto por Orozimbo Preto, que do
alto da torre da Igreja do Carmo espiava os dois se defrontarem. Durante alguns
dias andou escondido, com medo de uma vingança do coronel. [...]. Veja mais
aqui, aqui e aqui.
QUANDO EM MORRER & O
PORTO – Do livro Poesias (1961) do poeta angolano Alexandre Dáskalos (1924-1961), destaco
inicialmente Quando eu Morrer: Quando eu morrer / não me dêem rosas / mas ventos. / Quero as ânsias do
mar / quero beber a espuma branca / duma onda a quebrar / e vogar. / Ah, a rosa
dos ventos / a correrem na ponta dos meus dedos / a correrem, a correrem sem
parar. / Onda sobre onda infinita como o mar / como o mar inquieto / num jeito
/ de nunca mais parar. / Por isso eu quero o mar. / Morrer, ficar quieto, / não.
/ Oh, sentir sempre no peito / o tumulto do mundo / da vida e de mim. / E eu e
o mundo. / E a vida. Oh mar, / o meu coração / fica para ti. / Para ter a
ilusão / de nunca mais parar. Também o poema O porto: Havia nos olhos
postos o sentido / de não vencerem distancias. / Calados, mudos, de lábios
colados no silêncio / os braços cruzados como quem deseja / mas de braços
cruzados. / Os navios chegavam ao porto e partiam. / Os carregadores falavam da
gente do mar. / A gente do mar dos que ficam em terra. / As mercadorias
seguiam. / Os ventos, dispersos na alma do tempo, / traziam as novas das terras
longínquas. / Segredavam-se em noites e dias / a todos os homens / em todos os
mares / e em todos os portos / num destino comum. Os navios chegavam ao porto /
e partiam... Veja mais aqui.
SAPPHO
DE LESBOS - Tive
oportunidade de assistir em 2001, uma montagem de Os Satyros, no espaço deles
em São Paulo, a peça teatral Sappho de
Lesbos, de Ivam Cabral e Patricia Aguille, com direção de Rodolfo Garcia
Vázquez. A peça conta a história da poeta grega Safo (séc. VII-VI aC),
considerada a décima musa pelo respeito que sempre lhe dedicaram, umas das mais
importantes contraditórias da antiguidade clássica. Embora tenha se tornado um
símbolo do homossexualismo feminino, ela teve muitos amores masculinos e uma
filha e foi obrigada a exilar-se na Sicília por problemas políticos de sua
família aristocrática. Veja mais aqui e aqui.
CINQUENTA
TONS DE CINZA – O filme Cinquenta tons de cinza (Fifty Shades of
Grey, 2015), dirigido por Sam Taylor-Wood, baseado no romance erótico homônimo (2011),
da escritora britânica Erika Leonard James, conta a história de uma
estudante na universidade e, em virtude de doença de sua colega de quarto, ela
vai entrevista um rico empresário e se envolvem num complicado relacionamento. O
destaque do filme vai para a atriz e modelo estadunidense Dakota Johnson. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
Ilusions, da artista plástica brasileira Regina Silveira.
DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à cantora Kel Monalisa.
TODO
DIA É DIA DA MULHER
Veja as homenageadas aqui.