CRÔNICA
DE AMOR POR ELA: AH, ESSE OLHAR
(Imagem: Arte de Meimei Corrêa) - Ah, esse olhar que me chega tímido postigo e
logo reverbera escancarada porta aberta fraternal, para que eu seja mais que
vasilha rasa na sua íntima ceia, reunindo os furores da noite e esborrando as
ânsias das frestas na promessa do dia ensolarado. Esse olhar que desnuda meu
corpo, afaga terna e deliciosamente minha alma e me faz renascido a todo
instante em que misantropo esbarro nas agonias da vida. Esse olhar que vem com
a magia de quem chega caleidoscópio lindo pelos corredores das minhas
insatisfações, pelos arredores da minha solidão, pelos caminhos tortuosos das
minhas teimosias, como clareira que alumia minha escuridão a derrubar muros,
grades, fortalezas, arrancando algemas e segredos; que me desordenam e se
fincam para longe para que eu atinja os meus ideais nos confins de sua lonjura.
Esse olhar que se faz faroleiro mágico no mirante dos agoniados desejos que me
atormentam para apontar qual bússola onde acende vida no seu estado de lua
atávica e eu em plena temporada de caça dos mais úmidos sentimentos. Esse olhar
guardião do encanto imorredouro que me leva a ver e ouvir sua altiva
perspectiva dissolvida na fricção de sua voz enternecida, como conto de fada
mais que real lançando labaredas concupiscentes sobre a minha latejante
exacerbação. Esse olhar que entra sem bater e é bem-vindo na surpresa para se
deitar nua na poesia, improvisando falas, percorrendo sensações inauditas, pendurando
estrelas nos contornos do corpo amanhecido nas braçadas de céu e sonhos, até
animar o colo morno do seu ventre de todos os gritos que pedem socorro no laço
dos feitiços atrevidos iluminando minha obscenidade. Ah esse olhar que é como
toque de mãos trêmulas tateando a luxúria do beijo que é chama ardente na pele
de rio caudaloso, inundando o tempo e a fundura de mar de suas premências
noturnas, a misturar pernas, seios, sexo e boca de lua na carne nua que apetece
lamber arrepiando os caminhos de suas vias tortuosas para desfrutar da saborosa
iniciação de tudo que é seu. Ah esse olhar tomado de traços maravilhosamente
belos que ornam a terra dos meus anseios, fulguram no sabor que unta meu corpo
e me fazem pronto para a vida. (Luiz
Alberto Machado. Veja o vídeo deste poema aqui e mais aqui).
VEJA MAIS CRÔNICA DE AMOR POR ELA:
PICADINHO
Imagem: A arte do pintor espanhol
Francisco Ribera Gomez (1907-1990).
Curtindo o dvd Mozart: Piano Concertos 13 & 20 (Deutsche
Grammophon, 2006), com obras do compositor alemão Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), na interpretação da pianista Mitsuko Uchida & Camerata Salzburg.
Veja mais aqui.
EPÍGRAFE
– Vivemos num mundo que ainda não aprendemos a olhar. Temos
que reaprender a pensar o espaço,
recolhido do livro Não-lugares:
introdução a uma antropologia da supermodernidade (Papirus, 1994), do
etnólogo e antropólogo francês Marc Augé. Veja mais aqui.
O
NÃO-LUGAR NA SUPERMODERNIDADE
– No livro Não-lugares: introdução a uma
antropologia da supermodernidade (Papirus, 1994), do etnólogo e antropólogo
francês Marc Augé, encontro que [...]
Um mundo onde se nasce numa clínica e se
morre num hospital, onde se multiplicam, em modalidades luxuosas ou desumanas,
os pontos de trânsito e as ocupações provisórias (as cadeias de hotéis e os
terrenos invadidos, os clubes de férias, os acampamentos de refugiados, as
favelas destinadas aos desempregados ou à perenidade que apodrece), onde se
desenvolve uma rede cerrada de meios de transporte que são também espaços
habitados, onde o frequentador das grandes superfícies, das máquinas
automáticas e dos cartões de crédito renovados com os gestos do comercio “em
surdina), um mundo prometido à individualidade solitária, à passagem, ao
provisório, ao efêmero. Veja mais aqui.
A
CASA DAS MULHERES – No
livro 200 crônicas escolhidas
(Record, 1979), do escritor Rubem Braga
(1913-1990), encontro A casa das mulheres (1954): A casa das seis mulheres amanhece tarde e lenta; chegam duas tão
lavadas, penteadas, com perfumes, louçãs e se olham passeando no capim, perto
da piscina azul e lhes dá vontade de fotografias. Chegam mais duas de shorts
coloridos; depois uma some como por encanto, mas surge outra. Na casa das seis
mulheres nunca são vistas seis mulheres; duas se afastam para se dizer
segredos, ou uma está lá dentro falando ao telefone, e quando vem contando uma
história outra sai correndo para mudar a blusa. A vida é uma tarde de domingo;
chove com energia, faz sol com prazer, há flores, vidros, luz e sombra na casa
das seis mulheres. Os homens chegam se sentem bem; mas os homens são
transitivos; chegam, com suas vozes grossas, bebem tilintando gelo nos copos,
fumam e partem; os homens são como sombras lentas e fortes, mas apenas sombras.
Podem deixar algo no coração e nos segredos de alguma das seis mulheres, mas
depois mergulham no cinzento de seus quotidianos e a casa das seis mulheres
continua limpa, luminosa e transparente entre árvores e flores. Talvez seja par
eles que as seis mulheres estão sempre se lavando, se penteando, se pintando e
cambiando saias imprevistas e trescalando fragrâncias matinais ou sensuais –
entretanto elas permanecem suspensas na indolência das tardes de domingo e os
homens, seres broncos, se apagam longe, são apenas ecos de telefone, fotos
perdidas em álbuns fechados nas gavetas escuras. As seis mulheres continuam se
lavando, se penteando na luz vesperal, e a casa das seis mulheres espera feliz
entrar no bojo da noite cheia de estrelas carregando o sono e o sonho de cinco
– porque sempre uma saiu, ou foi misteriosamente à sala escura, ou a um canto
vigia, ou, escondida, se abandona ao pranto. Veja mais aqui, aqui e aqui.
COPLAS - Na Antologia poética (Teorema,
2002), da poeta chilena Gabriela Mistral (1889-1957), encontro o seu
poema Coplas: A tudo, em minha
boca, / um sabor de lágrimas se acresce; / a meu pão cotidiano, a meu canto / e
até à minha prece. / Eu não tenho outro oficio, / depois do silente de amar-te,
/ que este oficio de lágrimas, duro, / que tu me deixaste. / Olhos apertados / de
candentes lágrimas! / Boca atribulada e convulsa, / em que prece tudo se
tornava! / Tenho uma vergonha / deste modo covarde de ser! / Nem vou em tua
busca / nem consigo também te esquecer! / E há um remoer que me sangra / de
olhar um céu / não visto por teus olhos, / de apalpar as rosas / sustentadas
pela cal de teus ossos! Veja mais aqui e aqui
AS
POLACAS – Tive oportunidade
de assistir em 1998, no Teatro maria Della Costa, em São Paulo, ao espetáculo As polacas, da premiada dramaturga,
atriz e professora Analy Alvarez,
um drama musical baseado na história da prostituição de integrantes
judias no Brasil, mulheres conhecidas como polacas ou francesas que ocuparam largo
espaço no imaginário erótico brasileiro do passado. O destaque da peça fica
para atuação das atrises Isa Kpelman, Lucia Romano, Lara Córdula e Tania
Sekker. Veja mais aqui.
DISTURBING
BEHAVIOR – O filme
ficção científica e suspense Disturbing
Behavior (Comportamento suspeito, 1998), dirigido por David Nutter,
contando a história de sujeito que após o suicídio do seu irmão, se muda com
sua família de Chicago para Cradle Bay, uma cidade onde todos os jovens parecem
"padronizados", ele conhece os "rejeitados". A partir de
então começa a luta para manter sua individualidade numa cidade em que os fita
azul dominam e junto com uma moça, eles tentam descobrir o plano macabro que se
esconde por trás da aparente tranquilidade do lugarejo. O destaque do filme vai
para a atriz estadunidense Kate Holmes. Veja mais aqui.
Ah, que inveja! O saudoso
escritor Sérgio Porto – leia-se Stanislaw Ponte Preta - na redação a TV Rio e a
"certinha" Carmen Verônica.
Adoraria trabalhar assim! Veja mais aqui e aqui.
DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à
professoramiga conterrânea Iolita
Domingos Barbosa Campos.
TODO
DIA É DIA DA MULHER
Veja as homenageadas aqui.