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sábado, janeiro 06, 2018

RUBEM BRAGA, HARVEY, ERIK SATIE, JESSIER, PENÉLOPE WHITE, CHOUINARD, BOSCH, PEDRO ILDO & JEITINHO BRASILEIRO

QUEBRAR A CASCA & VIVER - Imagem: O ovo, do artista plástico português Pedro Ildo. - Assim sou como aquele ou aquela que passa rua acima, estrada abaixo, sem nome nem endereço sabidos, sem rótulos nem tarjas, apesar das diferentes íris e digitais, semelhantes na essência, como posso querer ser melhor ou ter o privilégio da distinção se sou tal qualquer um, da mesma natureza, passível das mesmas emoções e anseios, indo e vindo, cada qual, razções e motivos. Quando vou ou venho, muros separam vizinhança nas ruas e o confinamento das grades de ferro, segurança neurótica, a ameaça dos incômodos causados pelo preço imposto da violência. Nas ruas uma paz armada até os dentes pelas fronteiras, esquinas, cada qual cuide de si, a polícia e a multidão, uma repressão invisível em nome da ordem estabelecida – uma ordem suicida, diga-se de passagem, que incentiva a desobediência civil desconhecida por todos e até justa, e a desordem pelo caos da disfunção das leis entre horrores de perdas e vinganças sanguinárias. Uma paz forjada no acinte da arma escondida disposta ao disparo, enquanto o Estado não cumpre a sua parte – nunca cumpriu, pelo contrário, promove em todo momento a violência institucional por seus suntuosos gabinetes nos crime de todas as esferas governamentais, enquanto gestores e autoridades desfrutam do banquete a tripudiar sobre a humilhação de um povo que não sabe de si nem de ninguém, apenas a coação da carteirada no monopólio dos interesses de uns sobre os outros, fatiando a bel prazer as provisões entre os seus e sabidos, em detrimento da miséria de todos. Ah, os governantes não sabem, nunca souberam, hipnotizados pelo poder, cegos pela ambição. As autoridades nunca souberam o preço do abuso do poder. E se espalham – e como! - prepotentes, indestrutíveis, agora e sempre – um sempre de décadas, até, nunca perene. Nunca será tarde, pode ser até amanhã de manhã, ou depois de amanhã, ano que vem, quem sabe, a qualquer momento. Assim sou como os que estão sob o mando, preteridos, esperançados, mesmo que inconsciente mutuamente esperançosos, pois sei que sou como todos, pela mesma essência divina que permeia as águas, os minerais, os vegetais, o magnetismo da Terra, a refulgente emanação solar, o movimento do universo e o trabalho maravilhoso da Natureza. De minha parte para todos, a autopercepção no espectro interpessoal, seja azul natural de um ajudante zeloso, ou vermelho intenso de um realizador decisivo, ou verde claro do pensador lógico, ou o que seja nos matizes comportamentais humanos, em consonância com o plano original das coisas: do Sopro de Vida, a força misteriosa da semente enterrada no chão, que quebra a casca e brota feito o ovo que deu vida para passar da lagarta pra crisálida, até a borboleta pro pó da Terra. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com a música do compositor francês Erik Satie (1866-1925): The Essencial Colection e Gymnopédies & Gnossiennes; a cantora lírica inglesa Penélope White: Ária –Bachianinha nº 5 Villa-Lobos, Composição de Diego Carneiro de Oliveira & com Ivan Pires, Concertos particulares & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] O que há de notável nas entidades vivas é a maneira como captam fluxos difusos de energia ou de informação e os moldam em formas complexas mas bem organizadas [...]. Trecho extraído da obra Espaços de esperança (Loyola, 2009), do professor e geógrafo britânico marxista David Harvey. Veja mais aqui.

JEITINHO BRASILEIRO - [...] Ser esperto e gostar de “dar um jeitinho” tornou-se, sem dúvida, um traço do caráter do brasileiro. Porém, em tempos passados. Era um comportamento menos freqüente e abrangente, e com menor grau de agressividade e perifulosidade. Às vezes costumava até revestir-se de certa ingeniodade ou pureza de propósito. Além do que constitui manifestação de duas habilidades também próprias do nosso povo: inteligência e criatividade. Estas duas aptidões são voltdas para resolver problemas. E, muitas vezes, resolver pequenos problemas pessoais foi chamado de “dar um jeitinho”. [...] Poderimos mesmo comparar a evolução negatiza da esperteza com a evolução do furto comum, de pequenas conseqüências, para o assalto agressivo, violento e que resulta em grandes perdas materiais e traumas psicológicos. [...] As atitudes da esperteza foram propagando-se e agravando-se na medida da progressividade da crise moral, da deterioração dos costumes, da permanência da inflação alta que favorece espertezas de diversas formas, da proliferação da corrupção nos órgãos públicos. Na medida em que os membros do poder executivo passaram a não ter mais escrúpulos em dar maus exemplos para a sociedade; os políticos e os poderes legislativos também cometem seus atos de espertezas. Enfim, na medida em que o poder judiciário se mostra lento e ineficiente, colaborando com a impunidade. Sem contar o fato de que nossas lenais penais são brandas. Com tal degradação do ambiente, significativa parcela da população e das organizações passaram a adotar a filosofia do “já que é assim, deixa eu defender o meu”, recorrendo à esperteza para alcançar seus objetivos particulares, sem levar em conta o prejuízo de terceiros, a moral pública social, o bem comum, a situação do país. [...]. Trecho extraído da obra Cidadania: o remédio para as doenças culturais brasileiras (Summus,  1992), do executivo, conferencista e consultor Ênio Resende. Veja mais aqui.

GERAÇÃO DO AI-5 – [...] Quando fracassou o crime do Riocentro ela estava com pouco menos de 13 anos; poderia muito bem ter ido lá, naquela arapuca sinistra, destinada a sacrificar sobretudo jovens e artistas. Amigos seus foram. Mas a geração do AI-5 parece ter uma secreta força. É certo que esses jovens começaram a amar quando já havia a pílula, e a gravidez deixou de ser uma doença venérea quase inevitável, e os antibióticos já afastavam os fantasmas antigos da tuberculose, que matava os poetas, e da sífilis, que os enlouquecia. Esses jovens falam dos esportes do céu, da terra e do mar. Mergulham, voam, esquiam, amam a floresta e as praias desertas. É certo que se aventuram um pouco pelas tentações e modas do mundo: inclusive drogas, é de jovens fazer tolices. Mas reagem. Surge-lhes de súbito pela frente o fantasma da Aids. Eles o superam, porque não vivem ao léu. Sinto nessa menina que vem me entrevistar e em alguns companheiros seus um fundo sadio de amor ao trabalho, ao estudo e à justiça social; querem saber como este mundo foi e por que é assim, por que há tanta gente rica e tantos miseráveis, tanta roubalheira e tantos fingimentos. Do fundo da minha descrença eu encontro uma secreta, desesperada esperança: gente assim e só gente assim pode criar dias mais limpos e racionais para o Brasil. Que Deus proteja essa geração do maldito AI-5. Extraído da obra As boas coisas da vida (Record, 2010), do escritor Rubem Braga (1913-1990). Veja mais aqui.

A DIZ PUTA ELEITORALQuando o coronel Eurico Rosado da Rocha Lisboa chamou o seu protegido para um conversatório particuloso, já estava de festa em dança no juízo, e se rindo de contente. Aquele era o vivente mais ajuramentado em débito de favor, desbocado e caceteiro e foi realmente o escolhido. No vagão central do alpendre, fez uma recepção sem hem-hem-hem e sem noves-fora e foi logo dizendo: - Nego Foda, o senhor vai ser candidato nesta eleição. Tá me entendendo? Ao ser chamado de Nego Foda – apelido que detestava – Biu das Quenga ficou roxo, deu-lhe uma engrossadura de língua, um intestinamento de barriga e só não mandou o coronel tomar no centroma, por se tratar de um Rosado Lisboa, que não era pouca merda naquelas pastagens. Sem entender direito e engolindo uma carrada de desaforo, indagou: - Eu, coroné Rosado? – Sim, senhor, é o senhor mesmo. Não esqueça que me deve uma soltura de cadeia, de onde nunca sairia! Agora chegou a hora do pagamento. – Mas coroné! Eu não sou letrado de ensino, tenho andado mais duro que santo em procissão e não tenho um pingo, um pinguinho sequer de sintoma prefeituroso! [...] Com sua oratória matuto-político-camumbembal, Biu das Qunga foi conseguindo atrair até criacinha de oposição, e aos poucos foi avessando a casaca de eleitor acabestrado não só com Mané Jipinho, mas tambpem com o do coronel e demais políticos de Brasilzim de Dentro e Vila Teimosa. Mas foi o tiro de misericórdia aplicado em Mané Jipinho que disparou sua campanha. Com poesias feitas de próprio punho, meteu o sarrafo, caluniou o concorrente, além de divertir e atrair a atenção do povo para seu palanque. Com a ajuda de Luzia Manca, que tirou as digitais matutas para melhor expressar a suposta fala do prefeito, soltou o falso Pensamento de Mané Jipinho, como sendo o proibido discurso de posse do concorrente quando eleito prefeito de Brasilzim de Dentro, onde sai lia o poema com o mote de um poeta Potiguar, Sempre foi meu desejo comer o cu desse povo: Assim que saio eleito / no fim duma apuração / me dá muito mais resão / por o povo ter-me aceito / se fui eleito prefeito / com o voto deles de novo / eu pago com um par de ovo / um taco duro e um gracejo: / que sempre foi meu desejo / comer o cu desse povo / ... Vou me mantendo fiel / a este povo bundeiro / sou político verdadeiro / neste país de bordel / e desta lua-de-mel / sei que jamais me demovo / e sendo eleito de novo / como em grosso e varejo / pois sempre foi meu desejo / comer o cu desse povo. [...] Para demonstrar que não existia conchavo político com os demais partidos e total transparência nas decisões da FUDENE, a cúpula do partido distribuiu um folheto intitulado Conversa de Bastidor, que dizia: Pra mandar tudim pra PQP / não pudemo se quer, se PDT / que é mode o PSB / amuntado no PV / não vir se aliançar. / PC-dê-B a hipótis / dum PT, sem muito T / nem que a legenda se mele / ou de PF ou de L / feito PMDB. / Antes que o pau recomece / vai assim assuceder: / PMN não manda / já desanda o PTB / PSDB tira o S / logo depois tira o B / no mei desse sururu / nós pega o F e U / e acunha tudo no D. [...] Num discurso puxado com sustança, e como disse Biu das Quenga: mais bonito do que pé de macaíba na safra, Luzia Manca fez o seguinte pronunciamento em versos, apresentando sua equipe de trabalho e denunciando as mazelas da cidade: - Meus amigos fudedores / gigolôs e cachaceiros / ilustres raparigueiros / e todos da região! / Se a FUDENE não fudesse / não fosse mulher bolida / se não quengasse na vida / não tava na eleição. / Disputou com puta a puta / mas trouxe no fim da briga / um coral de rapariga / pra cima do caminhão. / Trouxe Zzefa Pragatão / trouxe Priquito de Frande / Teinha do Obreiro Baixo / e com licença da palavra / trouxe Roquete Cuzão. / Roquete é feito feijão / quando esquenta dá o bicho / mas andará no capricho / no rumo da eleição. / Reparem bem o estado / dessa nossa região / do Estreto da Galheira / do beco do Pinguelão / lá do Buraco da Velha / do Pai Torto e Suvacão. / Da rua do Arrombado / lá da Taiada da Jega / esquina do Lasca e Trinca / Suvaco de cururu / atolado da Frieira / da Rua da Beira Seca / e do Beco do Teju / Não queira ver o estado / do apertado da hora / da Pinguela do Tauá / do beco do Quebra-Pote / da Rua do Quixelau / Rua do Grude e da Merda / escorrega lá vai um / e beiço do Eita Pau / Estão levando na zona / a nossa zona sofrida / zonaram da nossa zona / nunca nos deram carona / no trem que sobre na vida. / Mas esta bacafuzada / ta com seus dias contados / quem ganha a vida fudendo / levando e sendo enganado / de tanto saber gemer / quer “tanto assim” pra fuder / prefeitos e deputados. / Vote em nossa bandeira / de norte-sul-leste-oeste / vamos votar na FUDENE / a redenção verdadeira / que são essas fudedeiras / desenvolvendo o Nordeste. / Finalizo estas palavras / clamando de braço aberto / aos companheiros de luta / que vamos votas nas puta / pois nos filhos não deu certo. [...]. Extraído da obra Agrutas da lata d’água (Bagaço, 1998), do poeta, compositor e intérprete Jessier Quirino. Veja mais aqui.

ILHA DAS FLORES
O premiadíssimo curta-metragem Ilha das Flores (1989), escrito e dirigido pelo cineasta Jorge Furtado, narra através da trajetória de um tomate, da plantação ao lixo, as desigualdades sociais e o destno dos homens em um planeta massacrado pelo desconhecimento, mostrando como a economia gera relações desiguais entre os seres humanos.

Veja mais:
O beijo dela de sol na minha vida de lua, a poesia de José Regio, a música de Ceumar & a arte de Luciah Lopez aqui.
Ardência na Crônica de amor por ela, Pitágoras, Jacques Lacan, Max Bruch, Mariano Latorre, Jules Laforgue, Philip Kaufman, Chloe Hanslip, Ashley Judd, Nina Kozoriz, Gustave Doré, Teatro Elisabetano & Rachel Levkovits aqui.
Nise da Silveira & Todo dia é dia da mulher aqui.
Alexander Scriabin, Cássia Kiss, Gustave Doré, Denise Georg, Mr. Bean, Márcia Poesia de Sá, Gabi Alves & Zé Edu Camargo aqui.
Primeiro encontro: o voo da língua no universo do gozo aqui.
A poesia de Bráulio Tavares aqui.
Jung & a alma, Educação, Psicologia & Sociologia, Crimes Ambientais, Oração do Justo Juiz, Serpente de Asas & Literatura Pernambucana aqui.
O pensamento de Antonio Gramsci aqui.
Fecamepa, Psicologia Escolar, Sonhoterapia, Direito & Família Mutante aqui.
O monge e o executivo de James C. Hunter, Neuropsicologia, Ressocialização Penal & Educação aqui.
Sexualidade na terceira idade aqui.
Homossexualidade & Educação Sexual aqui.
O beijo que se faz poema aqui.
Todo dia é dia da mulher aqui.
A croniqueta de antemão aqui.
Fecamepa aqui e aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
Faça seu TCC sem Traumas: livro, curso & consultas aqui.
&
Agenda de Eventos 35 anos de arte cidadã aqui.

A DANÇA DE BOSH: GARDEN OF EARTHLY DELIGHTS
O espetáculo Hieronymus Bosch: O Jardim das Delícias Terresas, da coreógrafa canadense Marie Chouinard, baseada na obra O Garden of Earthly Delights, do pintor e gravador holandês Hieronymus Bosch (1450-1516), traz uma exuberante dança altamente teatral, evocando em movimento as emoções humanas contrastantes, os desejos profundos e os medos existenciais que capturou na pintura. Veja mais aqui.

terça-feira, janeiro 12, 2016

OLHAR, GABRIELA MISTRAL MOZART, RUBEM BRAGA, AUGÉ, IOLITA & MUITO MAIS!!!


CRÔNICA DE AMOR POR ELA: AH, ESSE OLHAR (Imagem: Arte de Meimei Corrêa) - Ah, esse olhar que me chega tímido postigo e logo reverbera escancarada porta aberta fraternal, para que eu seja mais que vasilha rasa na sua íntima ceia, reunindo os furores da noite e esborrando as ânsias das frestas na promessa do dia ensolarado. Esse olhar que desnuda meu corpo, afaga terna e deliciosamente minha alma e me faz renascido a todo instante em que misantropo esbarro nas agonias da vida. Esse olhar que vem com a magia de quem chega caleidoscópio lindo pelos corredores das minhas insatisfações, pelos arredores da minha solidão, pelos caminhos tortuosos das minhas teimosias, como clareira que alumia minha escuridão a derrubar muros, grades, fortalezas, arrancando algemas e segredos; que me desordenam e se fincam para longe para que eu atinja os meus ideais nos confins de sua lonjura. Esse olhar que se faz faroleiro mágico no mirante dos agoniados desejos que me atormentam para apontar qual bússola onde acende vida no seu estado de lua atávica e eu em plena temporada de caça dos mais úmidos sentimentos. Esse olhar guardião do encanto imorredouro que me leva a ver e ouvir sua altiva perspectiva dissolvida na fricção de sua voz enternecida, como conto de fada mais que real lançando labaredas concupiscentes sobre a minha latejante exacerbação. Esse olhar que entra sem bater e é bem-vindo na surpresa para se deitar nua na poesia, improvisando falas, percorrendo sensações inauditas, pendurando estrelas nos contornos do corpo amanhecido nas braçadas de céu e sonhos, até animar o colo morno do seu ventre de todos os gritos que pedem socorro no laço dos feitiços atrevidos iluminando minha obscenidade. Ah esse olhar que é como toque de mãos trêmulas tateando a luxúria do beijo que é chama ardente na pele de rio caudaloso, inundando o tempo e a fundura de mar de suas premências noturnas, a misturar pernas, seios, sexo e boca de lua na carne nua que apetece lamber arrepiando os caminhos de suas vias tortuosas para desfrutar da saborosa iniciação de tudo que é seu. Ah esse olhar tomado de traços maravilhosamente belos que ornam a terra dos meus anseios, fulguram no sabor que unta meu corpo e me fazem pronto para a vida.  (Luiz Alberto Machado. Veja o vídeo deste poema aqui e mais aqui).

VEJA MAIS CRÔNICA DE AMOR POR ELA:

PICADINHO
Imagem: A arte do pintor espanhol Francisco Ribera Gomez (1907-1990).

 Curtindo o dvd Mozart: Piano Concertos 13 & 20 (Deutsche Grammophon, 2006), com obras do compositor alemão Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), na interpretação da pianista Mitsuko Uchida & Camerata Salzburg. Veja mais aqui.

EPÍGRAFE – Vivemos num mundo que ainda não aprendemos a olhar. Temos que reaprender a pensar o espaço, recolhido do livro Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade (Papirus, 1994), do etnólogo e antropólogo francês Marc Augé. Veja mais aqui.

O NÃO-LUGAR NA SUPERMODERNIDADE – No livro Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade (Papirus, 1994), do etnólogo e antropólogo francês Marc Augé, encontro que [...] Um mundo onde se nasce numa clínica e se morre num hospital, onde se multiplicam, em modalidades luxuosas ou desumanas, os pontos de trânsito e as ocupações provisórias (as cadeias de hotéis e os terrenos invadidos, os clubes de férias, os acampamentos de refugiados, as favelas destinadas aos desempregados ou à perenidade que apodrece), onde se desenvolve uma rede cerrada de meios de transporte que são também espaços habitados, onde o frequentador das grandes superfícies, das máquinas automáticas e dos cartões de crédito renovados com os gestos do comercio “em surdina), um mundo prometido à individualidade solitária, à passagem, ao provisório, ao efêmero. Veja mais aqui.

A CASA DAS MULHERES – No livro 200 crônicas escolhidas (Record, 1979), do escritor Rubem Braga (1913-1990), encontro A casa das mulheres (1954): A casa das seis mulheres amanhece tarde e lenta; chegam duas tão lavadas, penteadas, com perfumes, louçãs e se olham passeando no capim, perto da piscina azul e lhes dá vontade de fotografias. Chegam mais duas de shorts coloridos; depois uma some como por encanto, mas surge outra. Na casa das seis mulheres nunca são vistas seis mulheres; duas se afastam para se dizer segredos, ou uma está lá dentro falando ao telefone, e quando vem contando uma história outra sai correndo para mudar a blusa. A vida é uma tarde de domingo; chove com energia, faz sol com prazer, há flores, vidros, luz e sombra na casa das seis mulheres. Os homens chegam se sentem bem; mas os homens são transitivos; chegam, com suas vozes grossas, bebem tilintando gelo nos copos, fumam e partem; os homens são como sombras lentas e fortes, mas apenas sombras. Podem deixar algo no coração e nos segredos de alguma das seis mulheres, mas depois mergulham no cinzento de seus quotidianos e a casa das seis mulheres continua limpa, luminosa e transparente entre árvores e flores. Talvez seja par eles que as seis mulheres estão sempre se lavando, se penteando, se pintando e cambiando saias imprevistas e trescalando fragrâncias matinais ou sensuais – entretanto elas permanecem suspensas na indolência das tardes de domingo e os homens, seres broncos, se apagam longe, são apenas ecos de telefone, fotos perdidas em álbuns fechados nas gavetas escuras. As seis mulheres continuam se lavando, se penteando na luz vesperal, e a casa das seis mulheres espera feliz entrar no bojo da noite cheia de estrelas carregando o sono e o sonho de cinco – porque sempre uma saiu, ou foi misteriosamente à sala escura, ou a um canto vigia, ou, escondida, se abandona ao pranto. Veja mais aqui, aqui e aqui.

COPLAS - Na Antologia poética (Teorema, 2002), da poeta chilena Gabriela Mistral (1889-1957), encontro o seu poema Coplas: A tudo, em minha boca, / um sabor de lágrimas se acresce; / a meu pão cotidiano, a meu canto / e até à minha prece. / Eu não tenho outro oficio, / depois do silente de amar-te, / que este oficio de lágrimas, duro, / que tu me deixaste. / Olhos apertados / de candentes lágrimas! / Boca atribulada e convulsa, / em que prece tudo se tornava! / Tenho uma vergonha / deste modo covarde de ser! / Nem vou em tua busca / nem consigo também te esquecer! / E há um remoer que me sangra / de olhar um céu / não visto por teus olhos, / de apalpar as rosas / sustentadas pela cal de teus ossos! Veja mais aqui e aqui

AS POLACAS – Tive oportunidade de assistir em 1998, no Teatro maria Della Costa, em São Paulo, ao espetáculo As polacas, da premiada dramaturga, atriz e professora Analy Alvarez, um drama musical baseado na história da prostituição de integrantes judias no Brasil, mulheres conhecidas como polacas ou francesas que ocuparam largo espaço no imaginário erótico brasileiro do passado. O destaque da peça fica para atuação das atrises Isa Kpelman, Lucia Romano, Lara Córdula e Tania Sekker. Veja mais aqui.

DISTURBING BEHAVIOR – O filme ficção científica e suspense Disturbing Behavior (Comportamento suspeito, 1998), dirigido por David Nutter, contando a história de sujeito que após o suicídio do seu irmão, se muda com sua família de Chicago para Cradle Bay, uma cidade onde todos os jovens parecem "padronizados", ele conhece os "rejeitados". A partir de então começa a luta para manter sua individualidade numa cidade em que os fita azul dominam e junto com uma moça, eles tentam descobrir o plano macabro que se esconde por trás da aparente tranquilidade do lugarejo. O destaque do filme vai para a atriz estadunidense Kate Holmes. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Ah, que inveja! O saudoso escritor Sérgio Porto – leia-se Stanislaw Ponte Preta - na redação a TV Rio e a "certinha" Carmen Verônica. Adoraria trabalhar assim! Veja mais aqui e aqui.

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à professoramiga conterrânea Iolita Domingos Barbosa Campos.

TODO DIA É DIA DA MULHER
Veja as homenageadas aqui.


domingo, fevereiro 27, 2011

ROBERT FROST, ELIZABETH BROWNING, RUBEM BRAGA, NEERJA BHANOT, MARCELO YUKA, AFRODESCENDENTE, CELIA LABANCA & CARNAVAL



O filme Neerja (O Poder da Coragem, 2016), dirigido por Ram Madhvani, trata da história de vida da modelo e corajosa comissária de bordo Neerja Bhanot (1963-1986), que sacrificou sua vida protegendo 359 passageiros do voo 73 da Pan American World Airways, em 1986, perdendo a vida no voo, que partiu de Mumbai, na Índia, rumo aos Estados Unidos, foi sequestrado por quatro integrantes da organização terrorista Abu Nidal, durante uma escala em Carachi, no Paquistão, com a intenção de lançá-lo contra um prédio em Israel.

CARTA PARA NEERJA BHANOT – Imagem: Art by Nimisha Bhanot - Quando a vi pela primeira não sabia que poderia ser o amor. O seu olhar de indiana Chandigarh, de família Punjabi pousou sobre os meus e sequer imaginava sonhar um dia o amor. Ela achegou-se, falou de si e de Mumbai para encantar o meu coração feito Bombaim. Percorri sua bela face, sua expressão escultural de modelo bem sucedida, carregada das frases de Rajesh Khanna que eu nem sabia quem, a me dizer da felicidade de se tornar comissária de bordo por voos internacionais. Havia na sua esfuziante alegria uma tristeza recôndita, só muito depois soube a razão: um casamento arranjado em Doha, que durou apenas dois meses de tão deteriorado por inúteis e mesquinhas pressões ao dote. Havia um sotaque hindi que me atraía mais pela natureza do seu sorriso pleno e cativante. A partir daquela hora nos vimos outras vezes e outros dias, como cúmplices de nossos segredos irreveláveis. Foram tantos encontros de olhares, bocas, braços e pernas, a nossa mútua entrega de todas as confissões mais íntimas e anímicas. Naquela hora falou-me da necessidade urgente que havia de nos vermos no dia seguinte. E nos vimos aos abraços, afetos além da conta. Naquele dia era mais um dos seus voos, trezentos e setenta e nove pessoas a bordo, entre passageiros e tripulantes. Ao nos despedir ela me dirigiu um olhar ubíquo com um gesto de um beijo interminável. Ela se foi e acompanhei seus passos, o ritmo elegante dos seus quadris, o distanciamento do seu corpo que se ia para desaparecer com um último aceno à porta da área de embarque. Ali fiquei imaginando nossos dias e noites, absorvido por sua inesquecível emanação. Precisava me encaminhar aos afazeres, não conseguia concatenar nada, sua imagem ocupava todos os meus pensamentos e ações por toda manhã. Ainda era dia quando vi o noticiário, sabia que ela havia dado conta naquele exato momento de que algo corria errado e avisava ao comandante do Clipper Empress of the Seas. Não demorou muito para que eu tomasse ciência do sequestro em Karachi, passageiros e tripulação, havia ali uma mudança de planos para Lárnaca no Chipre, com fins de libertar prisioneiros palestinos. As notícias eram desencontradas, mas como se eu estivesse nela como estive por noites e dias, eu sentia mesmo distante todos os seus movimentos como do aviso para que a tripulação da cabine escapasse por uma escotilha e ela assumia o controle da situação. Senti que matavam um cidadão estadunidense, o alvo preferido dos invasores que queriam outros para identificação pelos passaportes. Eram mais quarenta e um alvos ali, ela os escondeu – uns debaixo dos assentos, outros por uma rampa de lixo, ela fazia o que podia naquela difícil situação. Mais um fora assassinado nas dezessete horas de negociações, tiroteio e disparos de explosivos: entre os mortos, quarenta e três passageiros. Os demais, apenas moeda de troca no resgate de terroristas presos que, afinal, foram salvos, porque ela conseguiu impedir a decolagem e seu esforço em abrir uma das portas de emergência da aeronave, ajudou que outros escapassem do ataque. Ah, o mais doloroso foi sentir o tiro que nela fez uma dor imensa em mim, enquanto protegia três crianças brancas de uma chuva do ataque. Doeu e quase desfaleci, a minha heroína sucumbia aos vinte e três anos num gesto de bravura em um tempo que se pensava em paz. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.


DITOS & DESDITOS - Quando a poeira da morte emudece a voz de um grande homem, mesmo as mais simples palavras por ele proferidas transformam-se num oráculo. Pensamento da poeta inglesa da época vitoriana Elizabeth Barrett Browning (1806-1861). Veja mais aqui e aqui.

ALGUÉM FALOU: Todo camburão tem um pouco de navio negreiro. Pensamento do músico, compositor e ativista Marcelo Yuka (Marcelo Fontes do Nascimento Viana de Santa Ana – 1965-2019), um dos fundadores da banda O Rappa e, posteriormente, do grupo F. U. R. T. O.

QUINCA CIGANO – [...] Feito Quinca Cigano, eu também só tenho caçado brisas e tristeza. Mas tenho outros pesos na massa de meu sangue. Estou cansado; quero parar, engordar, morrer. Que os Coelho da ilha me arranhem um pio, não para caçar mulher, mas para caçar sossego. Deve ser um pio triste, mas tão triste que, a gente piando ele, só escuta depois de todos os bichos tristes. Eu não quero, como Quinca Cigano, sair pelo mundo caçando passarinho verde. Passarinho verde não existe; e quem disse que viu, ou ensandeceu ou mentiu. Extraído da obra A borboleta amarela (Record, 1980), do escritor Rubem Braga (1913-1990). Veja mais aqui.

POESIA - É absurdo pensar que o único meio de saber se um poema é imortal seja aguardar que ele perdure. Quem sabe ler um bom poema deve poder dizer, no momento em que é por ele atingido, se recebeu ou não um golpe que nunca mais se curará. Significa isto que a perenidade em poesia, como no amor, apreende-se instantaneamente; não necessita de ser provada pelo tempo. A verdadeira prova de um poema não reside no fato de nunca o havermos esquecido, mas de nos apercebermos imediatamente de que jamais poderemos esquecê-lo. Texto do poeta estadunidense Robert Frost (1874-1963). Veja mais aqui.



A CULTURA AFRODESCENDENTE - Segundo o IBGE, o Brasil tem a maior população de origem Africana do mundo, são cerca de 80 milhões de brasileiros com ascendência negra, onde a maior concentração dá-se no estado da Bahia, chegando a 80% da população. Os negros vieram de várias partes da África, não apenas para povoar o Brasil, como também para dar prosperidade econômica através de seu trabalho, que praticamente eram transformados em maquinas de trabalho. Os negros escravos trouxeram as suas diversas matrizes culturais que aqui sobreviveram e serviram como patamar  de resistência social  a tal regime. Como as manifestações da quilombagem e suas diversas culturas eram consideradas  primitivas e exóticas, os negros escravos foram obrigados a transformar não apenas a sua religião, como também todos seus padrões culturais, em uma cultura de resistência social, e aqueles que não puderam atacar frontalmente, procuraram formas simbólicas ou alternativas para oferecer resistência a essas forças mais poderosas. Sendo assim o sincretismo, assim chamado na religião negra, foi uma forma sutil de camuflar internamente seus deuses, para assim preservá-los da imposição da religião católica, já que tanto o monopólio de poder político, como o monopólio de poder religioso, proibia os negros de praticá-la. Daí o mecanismo de defesa sincrético dos negros. Apesar da repressão que os negros sofreram devido as suas manifestações culturais mais cotidianas, sua contribuição cultural atualmente é enorme, tanto na musica, como na dança, alimentação e língua, e em todos esses, temos a influência negra. Carvalho (1993) afirma que: “Ainda não se leu algo sobre o potencial da crueldade de que seria capaz o elemento negro. Muita literatura se escreveu no século passado  e até no presente, em que o negro é a figura, quando  boa, somente capaz de encarnar docilmente as mães pretas, os pais Joões, os molecotes alcoviteiros ingênuos e simplórios. Fora disso á a massa comum das fazendas  e eitos ou individualmente, o lavradez, o quilombola fujão, o monstro figurativo em desenhos ferozes, representando semblantes temíveis, desalmados, perversos, apavorantes.” Esta cultura está tão enraizada no país que muitas vezes os brasileiros nem percebem. Culinária Negra: Com sua maneira exótica de cozinhar, a culinária negra fez valer seus temperos, modificando e substituindo ingredientes dos pratos portugueses, fazendo a mesma coisa com pratos da terra, chegando finalmente a cozinha brasileira, onde introduziu o leite de coco, o azeite de dendê, a pimenta malagueta, o feijão preto, o quiabo, ensinado também a fazer pratos com camarão seco, vatapá, caruru, mungunzá, acarajé, angu, pamonha e a usar as panelas de barro e a colher de pau. Dança: As danças afro-brasileiras foram definidas como as danças religiosas e profanas da África trazidas pelos escravos e desenvolvidas e transformadas por  forças de diferentes influências, inclusive do sincretismo religioso. Nas danças religiosas, cada orixá (divindade africana) é convocado ou homenageado através de ritmos e movimentos próprios e característicos. As danças profanas ocorriam nos ocorriam nos momentos de festas nas senzalas e eram, entre outras, o Zambê, o Lundu, o Jongo e o Samba.  O jogo da capoeira é a síntese da dança desenvolvida  inicialmente por escravos negros no Brasil . A sua essência, disfarçada em brinquedo, distração de quem busca extravasar cada função interior nos gestos exteriores. È na dança que se manifesta a tradição milenar da cultura negra de reverenciar as origens. A postura reverente dos capoeiras uns com os outros , para com o povo, a terra, o berimbau, o ataque, se explica no propósito maior da dança: unir, ligar estreitamente como as mãos que se apertam no final de cada jogo. “Os negros usavam a capoeira para defender sua liberdade.” Mestre Pastinha. A Serra da Barriga: Hoje, a Serra da Barriga é uma área que recebe turistas, que buscam conhecer um pouco mais da história do Quilombo dos Palmares. No local, foram construídos um posto de observação e dois mirantes, que estão sendo reformados, de onde se pode admirar toda a beleza do local. Na serra, também são realizadas comemorações, principalmente no Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, para relembrar a luta de Zumbi dos Palmares. A Serra da Barriga é um dos mais significativos exemplos de resgate da história dos afro-brasileiros com papel fundamental na reconstrução da trajetória da luta de libertação dos escravos. As fugas dos negros haviam começado já antes do final do século XVI; mas, se tornaram mais freqüentes e numerosas, durante a ocupação holandesa, pelo conseqüente enfraquecimento do aparelho repressor tradicional. No município se encontra a Serra da Barriga, a oeste da sede do município, local onde reuniram-se os negros para fazer resistência à escravidão. Os escravos fugidos do cativeiro reuniam-se em aldeamentos chamados Quilombos, assim no plural, porque eles foram muitos, e não apenas o situado na Serra da Barriga, que vinha a ser o mais importante, "a capital" dos Palmares, abrigando cerca de trinta mil negros vindos de todos os pontos da capitania. Os negros viviam das culturas do milho, mandioca, feijão e bananeiras. Possuindo apenas três entradas, cada uma guarnecida por 200 guerreiros. Nestes quilombos existiam armas e munições com as quais foi organizada a república dos Palmares, abrigando, por quase um século, o anseio de liberdade dos negros, sob o comando do rei Ganga-Zumba, o deus da guerra. Com sua morte, o seu substituto foi Zumbi, rei dos Palmares, possuidor de grande poder espiritual, resistiu a várias expedições militares. Após três anos de luta, Zumbi foi morto no dia 20 de novembro, data em que hoje se comemora o "Dia Nacional da Consciência Negra". União dos Palmares, homenagem aos Quilombos. Símbolo da resistência negra, União dos Palmares guarda uma das mais belas páginas da História do Brasil. Foi neste município que os negros construíram a república independente do Quilombo dos Palmares, cujo objetivo era a libertação do negro escravo. A serra da Barriga é o marco vivo da resistência negra pela liberdade e é justamente nesta serra que estás implantado o Parque Nacional de Zumbi. A Umbanda - A Umbanda, religião genuinamente brasileira, é uma mistura do Cristianismo, Espiritismo, Catolicismo e Culto aos Orixás. A Umbanda tem base principalmente do evangelho cristão, e sua maior lei é Amar a Deus sobre todas as coisas e o amor ao próximo e a si mesmo. É uma religião espírita que trabalha com os espíritos desencarnados. A Umbanda é voltada para a pratica da caridade, propagando que o respeito ao ser humano, é fundamental para o progresso de qualquer sociedade. Primeiro terreiro de Umbanda no Brasil: A umbanda não tem manifestação Kardecista e nem de Candomblé. O primeiro templo de Umbanda registrado no Brasil foi a do Médium Zelio Fernandino de Morais (15 de novembro de 1908), com o nome de “Tenda Nossa Senhora da Piedade” sendo o primeiro templo de umbanda do Brasil. Zélio de Morais começou a ter sua primeira manifestação espírita ainda jovem, aos 17 anos, seus pais ficaram preocupados, pois não sabiam do que se tratava, Zelio hora estava falando manso, hora estava exaltado. Seus pais procuraram ajuda de seu tio Dr. Epaminondas de Morais, medico psiquiatra e diretor do Hospício de Vargem Grande, o medico não conseguiu dar um diagnostico certo sobre o que se passava com Zelio, então o psiquiatra deu a  idéia  de procurar um padre para umas sessões de exorcismo, Zelio foi encaminhado a três padres, e as sessões não deram resultado. Um amigo sugeriu que levassem o rapaz para a recém fundada Federação Kardecista de Niterói. Federação era precedida pelo Sr. José de Souza, Zélio de Moraes já estava tendo uma manifestação mediúnica, foi convidado a sentar-se a mesa, mais se sentiu contrariado as normas da instituição afirmou que ali falta uma flor, levantou-se e foi a te o jardim e apanhou uma flor branca e a colocou no centro da mesa aonde se realizava os trabalhos. O Sr. José de Souza logo verificou que ali havia a presença  de um espírito manifestado através de Zélio e passou a ter um dialogo a seguir: “Sr.José: Quem é você que ocupa o corpo deste jovem? O espírito: Eu? Eu sou apenas um caboclo brasileiro. Sr.José: Você se identifica como caboclo, mas vejo em você restos de vestes clericais! O espírito: O que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre, meu nome era Gabriel Malagrida, acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da inquisição por haver previsto o terremoto que destruiu Lisboa em 1755. Mas em minha última existência física Deus concedeu-me o privilégio de nascer como um caboclo brasileiro. Sr.José: E qual é seu nome? O espírito: Se é preciso que eu tenha um nome, digam que eu sou o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS, pois para mim não existirão caminhos fechados. Venho trazer a Umbanda uma religião que harmonizará as famílias e que há de perdurar até o final dos séculos. E no desenrolar da conversa Sr.José pergunta ainda se já não existem religiões suficientes, fazendo inclusive menção ao espiritismo. O espírito: Deus, em sua infinita bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal, rico ou pobre poderoso ou humilde, todos se tornam iguais na morte, mas vocês homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar estas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. Por que não podem nos visitar estes humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas importantes na Terra, também trazem importantes mensagens do além? Porque o não aos caboclos e preto-velhos? Acaso não foram eles também filhos do mesmo Deus?... Amanhã, na casa onde meu aparelho mora, haverá uma mesa posta a toda e qualquer entidade que queira ou precise se manifestar, independente daquilo que haja sido em vida, todos serão ouvidos, nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais e ensinaremos aqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas a nenhum diremos não, pois esta é à vontade do Pai. Sr.José: E que nome darão a esta Igreja? “O espírito: Tenda Nossa Senhora da Piedade, pois da mesma forma que “Maria ampara nos braços o filho querido, também serão amparados os que se socorrerem da Umbanda.” No outro dia, a casa de Zélio Morais ficou lotada de médiuns e curiosos, pontualmente o Caboclo das Sete Encruzilhadas incorporou e com as palavras abaixo iniciou o seu culto: “Vim para fundar a Umbanda no Brasil, aqui se inicia um novo culto em que os espíritos de pretos velhos africanos e os índios nativos de nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor, raça, credo ou posição social. A prática da caridade no sentido do amor fraterno será a característica principal deste culto” A partir de então foi inicia a Umbanda no Brasil podendo participar, todos sem preconceito, respeitando cada entidade ou religião. Após 55 anos de atividade O Sr. Zelio entregou o terreira as suas filhas Zélia e Zilméia a qual esta ultima aos seus 88 anos continua sob a direção do terreiro ate os dias de hoje. Zelio Fernandino de Morais  desencarnou no dia 03 de outubro de 1975. Dentro da cidade de Maceió, existe o GUESB, localizado no bairro Village campestre II que é administrado pela Mãe Neide. Mulher que assumiu sua mediunidade ainda na adolescência e lutou para  entender e aprender sua religião, Filha de pais católicos e sempre estudou em escolas católicas, enfrentou dificuldades, para fundar um centro de Umbanda e lutar contra o preconceito das pessoas. Os Orixás: Os negros nas senzalas cantavam e dançavam em louvor aos Orixás, entretanto seus senhores não gostavam, e tentavam convertê-los a fé cristã. Aqueles que não se convertiam eram cruelmente castigados. Foi então que nasceu o sincretismo em que os negros africanos associaram os Orixás aos santos católicos de seus senhores. Embora aos olhos dos brancos eles estavam comemorando os santos católicos, na verdade estavam cultuando seus amado. Orixás. Ori = Coroa; Xá = Luz. Principais orixás Oxossi: Orixá da saúde, prosperidade, força, energia, farmacopéia (farmácia), nutrição. É o “caçador” do Axé. Representado pelos Caboclos e Caboclas.  Sincretizado no Rio de Janeiro com São Sebastião, tem o seu dia comemorado em 20 de janeiro. OGUM: Orixá da energia (ligada a atitude), perseverança, vencedor de demanda, persistência, tenacidade, renascimento (no sentido de capacidade de se reerguer). Reino: Orixá sem reino específico, que atua na defesa de todos os reinos em função  A Energia de Ogum está em todos os lugares. Cor básica: vermelha e branco. Sincretizado no Rio de Janeiro com São Jorge, tem o seu dia comemorado em 23 de abril. XANGÔ: Orixá da justiça e do conhecimento (estudo de maneira geral), equilíbrio das forças de um modo geral, ligadas a questões de Justiça. Sincretizado no Rio de Janeiro com São Jerônimo, tem o seu dia comemorado em 30 de setembro. OMOLU: Orixá de transformação energética, de toda energia produzida de forma natural ou artificial, quer dizer, a energia natural é toda aquela emanada da natureza ou do nosso próprio pensamento e a artificial é a fabricada (oferendas). Ele transforma tudo e descarrega para terra. Orixá da transição para a vida astral. Senhor dos segredos da vida e da morte. Mestre das Almas. Quando desencarnamos tem sempre um enviado de Omulu do nosso lado, por isso é que ele sempre diz que temos que resgatar a nossa dívida; temos que agir efetivamente para resgatarmos o nosso Karma. Sincretizado no Rio de Janeiro com São Lázaro tem o seu dia comemorado em 17 de dezembro. IANSÃ: Orixá dos ventos, raios e tempestades. Responsável pelas transformações, (mutações e mudanças) ligadas às coisas materiais, fluidez de raciocínio e verbal, Orixá intimamente ligada aos avanços tecnológicos. Grande guerreira. Sincretizada no Rio de Janeiro com Santa Bárbara tem o seu dia comemorado em 4 de dezembro. IEMANJÁ: Orixá dos mares. Responsável pelos bens materiais, grande provedora e mãe. Senhora da Calunga Maior, portanto grande absorvedora de energias negativas. Traduz a sua vibração em paz e harmonia. Protetora da família, dos laços familiares. Sincretizada no Rio de Janeiro com N. Senhora da Glória tem o seu dia comemorado em 15 de agosto.OXUM: Orixá do amor, da harmonia e da concórdia. Equilíbrio emocional. Senhora das águas doces, rios e cachoeiras. Reino: Cachoeira. OXALÁ: Pai de todos os orixás rei da criação, comanda todos os outros orixás, para que nada fuja do seu controle representa Jesus Cristo. Veja mais aqui, aqui e aqui.

RESPONDA QUEM SOUBER - Por Célia Labanca Nada contra ninguém, porque não identifico um responsável, ou uma. Talvez possa considerar como tais, porque permeiam ações e atitudes descabidas, a ignorância, a irresponsabilidade, e o desamor. Estou falando de carnaval. – As comemorações carnavalescas vêm de nove mil anos antes de Cristo. Presume-se que nasceram de rituais exotéricos quando os povos primitivos saudavam o fim do inverno e a chegada da primavera que dava início ao período de plantação. Tinham a ver com a renovação da vida; com a liberdade, a fertilidade e a abundância. Tinham a ver com todos os deuses e com a integração, hoje perdida, entre os humanos e a natureza. Oficializados, os festejos ganharam quatro dias para a folia antes do início da primavera, a partir dos dias 17 de março daquele calendário. Junto com a “Baccanalia” como lhe chamavam, os romanos passaram a comemorar também a “Liberalia”. Dias estes que os reis e os poderosos usavam para dar liberdade geral às populações do campo para saírem às ruas e fazerem uma enorme farra, permitindo serem a comida, a bebida, as cantorias e as danças, dispostas sem limites à “Carnavalia” daquela população, até a sua proibição pelos excessos. – “Pois é... Não sabíamos que foi a partir da tal proibição que estas comemorações chegaram até nós, como quem passeia, com calma, por toda a península ibérica como se já se soubessem moradoras imutáveis e inabaláveis do sol dos trópicos!” Disse Aminta, personagem de um dos meus romances.Em Pernambuco ele esteve ligado em sua origem às classes trabalhadoras urbanas, e serviu, sobretudo, como mecanismo de aproximação entre brancos, negros, e mestiços. – Foram aqueles trabalhadores responsáveis pela criação dos clubes carnavalescos em rechaço aos preconceitos, inclusive religiosos da época. Clubes que terminaram por fazer partícipes as elites econômicas e intelectuais do Estado. Já o nosso frevo, teve sua origem entre os negros capoeiristas. – Eles tiveram papéis importantes na configuração do frevo porque eram descomprometidos com as manobras do dobrado, do xaxado, do lundum e das marchas militares tocadas pelas bandas marciais criadoras do andamento e do ritmo do frevo. Quando passaram a interagir com o tal frenético som, criaram passos, os “passos” que representam a dança que é a expressão máxima do nosso carnaval. Mas, a história do carnaval infelizmente hoje é outra. – Hoje no país, ele passa pelo show bizz, pelas mostras afro, e chega ao carnaval eletrônico dos trios elétricos, somente comerciais, descaracterizando-o da manifestação popular que lhe deu origem, porque industrializando-o, objetivam apenas o lucro municiado pelo consumismo e pelo imediatismo em detrimento da cultura genuína e democrática dele. Aqui o institucionalizaram. Para isto, tiraram-lhe a coroa, e inventaram-lhe um codinome, passando a chamá-lo de multicultural! – Esqueceram que o frevo com mais de cem anos merece o reinado de apenas quatro dias por ano somente para ele; que misturá-lo a outros ritmos senão os que lhe definem, não é outra coisa senão desatino, senão ganância; que substituí-lo em pólos absolutamente dispensáveis, de animação, permitindo que os outros tantos ritmos que têm anos inteiros para serem tocados, mostrados, cantados, se apropriem e se locupletem dele, é, portanto, no mínimo dispensável. Ainda, esqueceram do que disse Tolstoi, com a maior propriedade: “se queres ser universal, cantas bem a tua aldeia!" Insisto ainda em dizer que o que caracterizou o nosso carnaval o fazendo único no Brasil, e realmente emanado do povo em sua raiz, foram os frevos de rua, com seus metais; de bloco, com paus e cordas; de canção, feito para cantar; de salão que são marchinhas mais animadas para dançar, e o frevo rasgado, de competição, para ser somente tocado. – Foram deles que vieram contemporâneos os maracatus, os bumbas meu boi, os caboclos de lança, as troças de sujos, e mais todos os clubes e demais blocos carnavalescos, e a legítima história de luta e resistência expressada entre povo, frevo e carnaval, tão singulares e sérios em seus propósitos, e que hoje, em grande parte, penam por estarem sendo alijados com a intromissão abusiva dos ritmos estrangeiros, ameaçando-os de em breve deixarem de ser o que sempre foram para nossos afetos e memórias. Os investimentos públicos para o período são altíssimos. Mas, poucos, muito poucos são eles para a manutenção do nosso Carnaval de Pernambuco (é melhor chamá-lo apenas assim), por conta das fortunas para manterem-se os chamados pólos de animação para artistas e músicas invasoras que não lhe dizem respeito. A quem interessa a descaracterização do carnaval de Pernambuco? A quem interessa abafar as nossas tradições incentivando quem já tem mercado o ano inteiro? Qual o fundamento para feri-lo quase de morte transformando-o num festival qualquer, aos milhares, que já existem país a fora? Por que cercear o humor, a crítica e a dança do povo, características do período, e ainda nos enfiar os “Calipsos” da vida carnaval abaixo? Por que não se convidam para os tais pólos de animação os Papangús de Bezerros, os Caretas de Triunfo, os Clubes de Carpina, de Vitória, os Maracatus de baque solto e virado da Mata Norte, o Pintombeiras dos Quatro Cantos, o Vassourinhas, o Lili, o Grito da Véia, o Bloco da Saudade, os Tambores Silenciosos, o Bloco das Ilusões, e tantos outros, subvencionando-lhes, para ouvi o que cada um tem a dizer mantendo o intercâmbio legitimamente cultural do carnaval de Pernambuco? Por que o Boi de Parintins vem para Olinda e o nosso Bumba Meu Boi não vai para lugar nenhum? Por que trios elétricos no carnaval de Olinda?Por favor, que alguém me responda somente essas perguntas. A mim, ao povo, à arte popular, à cultura desse Estado, e aos seus fazedores. – A indignação com o expatrio do frevo, a vulgarização e banalização do carnaval pernambucano, e a célere marcha com que os vemos indo para a vala comum é grande. E é de muita gente. CÉLIA LABANCA – A escritora e curadora pernambucana Célia Labanca é bacharel em Direito pela Unicap, é diretora Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco - MAC.PE. Criou e coordenou os cursos de Atualização da Mulher, realizados em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco, e o Cecosne, foi assessora jurídica do Estado, dirigiu as Galerias Artimagem e Artespaço, tendo realizado exposições de artistas pernambucanos em vários Estados do país. Ela coordenou o “Projeto Umbral – Mulher, Tradição e Ultrapassagem” criado pelas artistas plásticas Ana Veloso e Virgínia Colares, citado por Ana Mae, na Revista de Estudos Avançados da USP, Universidade de São Paulo/1996, entre outras importantes atividades artísticas e culturais. Veja mais dela na Rebra, no Vetor Cultural, na Estante Virtual e no YouTube.


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