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SAÚDE NO BRASIL
PICADINHO
Imagem: Reclining nude, do pintor espanhol Sebastian Llobet Ribas (1887-1975).
Curtindo o álbum Fernanda Canaud
interpreta Radamés Gnattali, (Biscoito Fino, 2006), da pianista e
compositora Fernanda Chaves Canaud.
EPÍGRAFE
- Omnia
vincit Amir; et nos cedamus Amori, verso recolhido
das Églogas, do poeta romano clássico Públio Virgílio Maro (70aC-10aC), significando: O amor tudo vence; cedamos ao amor. Veja mais aqui.
A MULHER ROMANA – No
livro O sexo na história (Francisco Alves, 1983) da historiadora e
escritora britânica Reay Tannahill (1929-2007), encontro a respeito da
mulher romana na Antiguidade, que: [...] Até
o final do primeiro século a.C., um marido tinha o direito legal de matar a
esposa no ato, caso ela fosse apanhada em flagrante adultério. Em certas
circunstâncias, ela podia ser condenada à morte, mesmo se não apanhada em
flagrante. Se a mulher bebia mais que um mínimo de vinho, isto era encarado
como uma indicação de lassidão moral e sexual, podendo o marido divorciar-se
dela por tal motivo. A conduta perversa e repugnante também fornecia
fundamentos para o divorcio, da mesma forma que a infertilidade. [...]. Registra,
ainda, a autora que quanto ao direito de matar a esposa quando de adultério,
essa permissão foi perpetuada em alguns países europeus, notavelmente na
França, até o século XX. O crime passional não era apenas uma defesa legalmente
reconhecida, mas a qual os jurados frequentemente se dispunham a aceitar, mesmo
quando praticada por mulheres. De forma idêntica no Brasil por todo século XX,
em que os réus de crimes passionais eram absolvidos, até o advento da Lei Maria
da Penha, Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006. Veja mais aqui, aqui e aqui.
JARDIM
MORTO – No livro Prosa viva/ideário coligido (J. Aguilar, 1975), do poeta e dramaturgo espanhol Federico
García Lorca (1898-1936), encontro a narrativa Jardim morto: Cai chuvosa a manhã sobre o jardim... No
final duma ladeira lamosa e junto de uma cruz, verde e negra de umidade, está a
porta de madeira carcomida que dá entrada ao recinto abandonado. Mais a frente
há uma ponte de pedra cinzenta e na distância brumosa, uma montanha nevada. No
fundo do vale e entre penhas corre o rio manso cantarolando sua velha canção.
Em um nicho negro que há junto da porta, dois velhos com capas rasgadas aquecem-se
ao lume de uns tições mal acesos... O interior do recinto é angustiante e
desolado. A chuva acentua mais esta impressão. Escorrega-se com facilidade. No
chão, há grandes troncos mortos... As paredes, altas e amareladas, estão
cruzadas de gretas enormes, pelas quais saem lagartixas que passeiam formando
com seus corpos, arabescos indecifráveis. No fundo há um resto de claustro, com
heras e flores secas, com as colunas inclinadas. Nas fendas das pedras
desmoronadas há flores amarelas cheias de gotas de chuva; no chão há charcos de
umidade entre as ervas... Não restam mais do que as altas paredes onde houve
claustros soberbos que viram procissões com custódias de ouro entre a magnífica
seriedade dos tapetes... Uma coluna ruiu sobre a fonte, e ao celebrar suas
bodas de pedra, o musgo amoroso cobriu-as com seus finos mantos. Pelos vazios
de um capitel horizontal assomam ervas miúdas de verde luminoso. As plantas se
abraçam umas com outras, a hera cobre as velhas colunas que ainda se tem em pé,
a água que transborda da fonte lambe o solo de pedra que há em seu redor e
depois se entrega à terra, que a bebe com repugnância... A restante se perde
por um buraco negro, que a bebe com avidez. Há cortinas pesadas de teias de
aranha, as samambaias cobrem os bancos de pedra... Se ouve um contínuo
gotejar..., é a água que chora as tristezas de nosso jardim. Nada há de novo no
recinto..., até a água é sempre a mesma... penetra pelo solo e volta a sair
pelo rosto do adorno da fonte. Não se pode andar porque as trepadeiras se emaranham
nos pés..., é como se o gênio oculto do jardim, quisesse reter algo vivo entre
tanta desolação e morte... Atrás do resto de claustro há um jazigo. Os
sepulcros desapareceram.., só entre a penumbra e as teias de aranha, umas
letras borradas falam uma inscrição em latim... Não se distinguem mais do que
duas palavras, uma que diz Requiescit e outra Mortuos... A chuva aumenta e cai
sobre o jardim produzindo ruído surdo e apagado... Umas folhas grandes
estremecem suavemente e entre elas assoma com sua cabeça achatada um grande
lagarto..., que sai correndo a esconder-se entre umas pedras. Deixa a cauda de
fora e depois se introduz de todo... As ervas que o peso do lagarto inclinou
voltam preguiçosamente a ocupar sua primitiva posição... Com o vento, todas as
flores amarelas tremem e se sacodem da água que tem entre suas pétalas... Há
caramujos pregados aos muros... O tempo foi desapiedado para com este jardim;
secou seus rosais e cinamomos e, em troca, deu vida a plantas traiçoeiras e mal
olentes... Não pára a chuva de cair. Veja mais aqui
e aqui.
MY HEART
IS SAKE FOR SOMEBODY… - Entre os
poemas do poeta britânico Robert Burns (1759-1796), destaco o poema My heart is sake
for somebody… numa tradição de Luiz Cardim: Trago
inquieto o coração / por alguém, que nem eu sei… / Quisera perder as noites / a
pensar em alguém, / por amor dalguém, / aí, por amor dalguém! / Ir-me por todo
esse mundo / por amor dalguém! / Santos ao amor fagueiros, / sorri docemente a
alguém! / Livrai-o de todo o p’rigo; / e dai-me esse alguém, / trazei-me esse
alguém / aí, trazei-me esse alguém! / Que eu… — que não farei eu / por amor
dalguém? Veja mais aqui.
FILOSOFIA
NA ALCOVA – Tive
oportunidade de assistir no ano de 2004, no Espaço dos Satyros, em São Paulo, à
montagem da peça teatral A Filosofia na
Alcova, texto e direção de Rodolfo Garcia Vásquez, baseado no romance Filosofia
na alcova (La Philosophia. dans le boudoir – Companhia das Letras,
1992), do escritor libertino francês Donatien Alphonse François de Sade, mais
conhecido como Marquês de Sade (1740-1814), contando a história da
conversão de um jovem às práticas da libertinagem, o que inclui todos os tipos
de práticas sexuais. O bacanal é conduzido por nobres decadentes e pretende ter
um sentido ideológico e filosófico, já que durante o sexo os personagens falam
também de religião, política e direito. O destaque da peça vai para a atriz Valquíria Vieira. Veja mais aqui e
aqui.
NOTRE
MUSIQUE – O filme Notre
musique (Nossa música, 2004), dirigido pelo cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard, é dividido em três partes
ou reinos, que remetem à obra Divina comédia, de Dante Alighieri, o inferno, o purgatório e o paraíso. No inferno
são apresentadas imagens de guerras oriundas tanto de documentários quanto de
filmes de ficção: aviões, tanques e navios, explosões, execuções, populações em
fuga, campos e cidades devastados por bombas lançadas indiscriminadamente.
Imagens silenciosas, quatro frases, quatro peças musicais. No Purgatório, na
cidade de Sarajevo contemporânea, personagens reais e imaginárias, com uma visita
à ponte de Mostar enquanto ela é reconstruída representando a passagem da culpa
ao perdão. No Paraíso, uma jovem mulher, que foi vista no Purgatório, e que
encontra paz à beira de água, numa pequena praia guardada por fuzileiros navais
norte-americanos. Veja mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte do cartunista, dramaturgo, roteirista e ilustrador estadunidense Jules
Ralph Feiffer. Veja mais aqui.
DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à atriz Edna
Martins Cardoso & Chilica Contadora de Histórias.