terça-feira, setembro 15, 2020

BOCAGE, RUBEM ALVES, BETH FORMAGINI, NICOLINA VAZ & DEYSON GILBERT



DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... DOS UMBRAIS DE MIM... - O meu país arde como se o meu povo fosse o desespero dos acrófobos à beira do abismo, no cortejo de Paddy Digman do Joyce e eu pseudOdisseu errasse à procura de uma das sete vidas de Tirésias para reencontrar a Ítaca perdida, o meu Paraíso de Milton. Essa a coragem do passo adiante quando tudo é precipício na fumaça sem maçaneta, arrimo, apoio ou paredes: o rio de sudorese excessiva e a tremedeira no sorvedouro nas pontes dissolvidas para tudo despencar no frio da barriga perambeira. Desnudo no sonho o rei entre meras catábases por aclives íngremes, não olho para baixo nem posso voltar porque tudo ficou para trás com o pânico larófobo, porque caio para o báratro com o inútil instinto de sobrevivência de Ícaro sem paraquedas, alpinista nas cataratas do inevitável tropeço pelas escadas de nuvens. E ouço os versos do Soneto infernal de Bocage: Dizem que o rei cruel do Averno imundo e seja isto já; que é curta a idade, e as horas de prazer voam ligeiras... são os fios que se soltam na minha eterna corda bamba pelo meio-fio entre a vida e a morte. Ainda vivo, voo.

DUAS CENAS DE FILMESDepois de ter assistido o documentário Memória para uso diário (2007), da premiada cineasta Beth Formagini, tive a oportunidade de ainda ver o documentário Angeli 24 horas (2011), que trata sobre a obsessão pelo trabalho do cartunista Angeli e o seu dilema de artista, como também o premiado Xingu Cariri Caruaru Carioca (2016), que trata a respeito das origens e evolução do pífano na história do Brasil. Ela é formada em História, especializou-se em documentário na Universidade de Roma, foi presidente da Associação Brasileira de Documentaristas no Rio de Janeiro e trabalhou na produção e pesquisa de alguns filmes de Eduardo Coutinho. Foi dela que captei: Estamos infelizmente dominados. Se não discutirmos isso, entraremos de novo nesse período vivido no passado. Espero que a juventude de agora não volte a experimentar aquilo tudo. Tenho esperança de que as pessoas resistam, que se imponham. Esse é o alerta de que precisamos fazer alguma coisa aqui e agora, vambora.


TRÊS CONTAS NOS DEDOS SEGUINDO - (Imagem: escultura de Nicolina Vaz) – Ah, os meus dias, eram ventanias de tempestades terríveis com o esquecimento e nenhuma vontade de errar pela vida dentro de um odre de poderosos ventos e aberto para festa das sereias enlouquecedoras que me deixaram boiando num pedaço de madeira mar afora, para que findasse mendigo no meu próprio reinado em ruínas. Assim as funduras insondáveis da solidão e ao me deparar com as inscrições da tabuleta chinesa no meio dos antros do cabo Averno: Ande com calma na estrada escorregadia, pois nela se embosca o demônio do desastre. Eu sabia, um pé na frente e outro atrás, todos os caminhos levavam ao inferno. É como se do fundo do Érebo surgissem todos os pálidos espectros da minha convivência de ontens, com os seus castigos do julgamento e a minha veneranda mãe a testemunhar minha tribulação pela escuridão de charcos umbrosos. Presenciava tudo e quedava de terror como quem havia sido expulso do éden para invocar a musa, porque só havia em mim a imagem de Penélope a me esperar distante quase sem esperança, a tecer sua manta com as palavras de Rubem Alves: Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses. A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente. Vivo agora e voo pra ela. Até mais ver.

A ARTE DE DEYSON GILBERT
A arte do artista Deyson Gilbert, que é graduado em Artes Visuais pela Universidade de São (USP), fundador e editor da revista Dazibao e que já participou de mostras e exposições no Brasil e exterior. Veja mais aqui.


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