TRÍPTICO DGF – AQUELA DA... UMA GARAPA DO
BAGAÇO - O meu diário perdeu as linhas revoltas da pauta e não
quer ser apenas página em branco. Sim, tudo porque o meu país é o caos, quando
não anomalia: assimetria troncha de rotundo varapau. Pois é, se não parou em
ponto morto, vai à tona desenfreado ladeira abaixo na maior desabalada
carreira: pra onde, hem? Sabe-se lá, ora! O que não se pode é ultrajar a
tresloucada razão econômica dos plutos de todos os cifrões, só puxa-tapete e a
cangalha pro ar, no bate-cabeça dos bumbos e bumbuns! Eita, coisa boa! Melhor,
não há. Qualquer empenada, chama lá o juiz que ele resolve e ninguém decide,
fica por isso mesmo e todo mundo no rastapé. Então, queima tudo na remarcação!
Falar nisso: já viu o preço do arroz? Pela hora dos que arribaram na
estatística da pandemia e nem são levados mesmo em conta pelos apelos e
desditas das jaculatórias dos que se benzem entre lúmpens e videotas na farofa
de zeros e uns, Jesus-amém! Isso enquanto tantos complacentes invisíveis que
torraram o auxilio emergencial estão na solidão do mundo sob o império dos
gritos patéticos e conquistas secretas na latrina. Benzodeus, meu. Tudo é
possível e ninguém sabe ainda o que pode ser feito, nem o que é pra fazer! Pra
quê, deixa rolar! E para não passar em branco, dizem que não foi Voltaire, mas Evelyn Beatrice Hall: Posso
não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a
morte o direito de você dizê-las. Eu lá sei, mas vale! E viva o engodo no
desgoverno do Fecamepa. Estou só
tomando garapa do bagaço, gente!
DUAS & SERÁ MAIS OU QUASE NEM TANTAS ASSIM? - Curtindo
a arte da Ocean Viva Silver, da
performática artista e compositora experimental francesa Valérie Vivancos - Não era a confusão do Grande Hotel Abismo na Escola de Frankfurt, não, não era. E a minha
cabeça girava ao contrário do mundo, porque não me sinto aqui nem sou mais
daqui, sou um ex-humano com Nurit Bensunsan: Diante dos descalabros da
nossa espécie, desisti de ser humana e agora quero me tornar uma libélula, mas
continuar bióloga e seguir escrevendo, criando jogos e inventando moda. Vou
manter meus solilóquios ao pé do fogo com meus rabiscos num poemópera
interminável, sem que saiba da parede por trás da porta falsa, sempre quase ou
talvez nas minhas inquietações agudas pelas horas tardes da noite, bem perto de
lugar nenhum, porque sei de agora e que ainda há gente boa por toda parte.
Entre deslumbramentos e vacilações, Saskia Sassen insiste que Os que não têm
poder, podem fazer história sem tomar o poder, os momentos mais dramáticos, a longo prazo, são esquecidos.
Talvez as pequenas cidades que existem em todo o mundo nos permitam sobreviver. Estamos matando a Terra! Não sei como meus
disparates decifram na tampa do vaso tudo que não escrevi, sinto como se fosse
submetido a uma trepanação louca e ela me chama atenção sobre O declínio do homem público, de Richard Sennett, mais acerca da cidade
global e da imigração na sociologia urbana, desestabilizando os conceitos
estáveis: O momento da expulsão é o
momento de uma condição familiar que se torna extrema. Você não é simplesmente
pobre, você está com fome, perdeu sua casa, vive em barraco. Ou com a terra e
com a água: não são simplesmente degradadas, terras ou águas insalubres. São
mortas, acabadas. Nós tendemos a parar no extremo. Não entrar nele. O extremo é
muito, muito feio e não temos conceitos para capturá-lo*. Quase já nem sei
quem sou ou o que posso com tudo isso, esperança e temores entre o que é da
vida no meio de gases fétidos e nauseabundos, só sei que é cada vez mais
difícil respirar. *Em tempo: trecho da entrevista Não é imigração, é expulsão (Ponto e Vírgula, 2015), concedida a
Jorge Félix.
TRÊS VEZES & TRECHOS OUTROS - Imagem: Arte da artista visual Paula Trope – A esquina do corredor em
polvorosa era só arte e Victor Jara
cantava para dizer que: Nossa vida não foi feita
para cercá-la de sombras e tristezas. Minha canção é uma corrente sem começo
nem fim, e em cada elo está a canção dos outros. A vida é eterna em cinco
minutos. No meio do quiprocó pro
bota pra quebrar, Melpômene mais que
linda com seus coturnos e vestida com sua grinalda das folhas de videira, sua
coroa de cipreste e máscara trágica, empunhando o bastão de Hércules no embalo
dos nossos beijos, não conteve a empolgação e expôs seus seios apetitosos para
que eu redivivo saísse do marasmo enlouquecedor. Irrompe Adorno com seus olhos esbugalhados naquele flagra, chama a polícia
que a reprime e a todos da multidão, e uma bala abate desamparada Labibe no primeiro de abril da nênia. Nossa dança rechaçada
levou-a dos meus braços e eu na escolta como a um endríago demudado,
recolhidos na infecta cela do presídio Brasil. Não há como sorrir, o amor
sucumbe ao ódio para que eu seja a voz de canção nenhuma. Até mais ver.
MOACIR SANTOS, O OURO NEGRO DO PAJEÚ
No beabá, na cartilha, aí eu voo; talvez
ninguém mais possa voar. Aí, eu vou ser condor... A música é como
a rosa, tudo tem que ser perfeito. Você encontra tudo com um desenho. É uma
beleza. É uma coisa... quem souber venerar uma rosa, é uma beleza, como a
música popular. A música erudita é compara com um jardim, no sentido que tem o
festim, tem a garça, tudo... Você vê de longe assim, e quando vai se
aproximando, vai enchendo de coisas. É preciso coisas que o compositor tem que
gravar...
Trechos extraídos da obra Moacir Santos: o ouro negro do Pajeú (Comunigraf, 2004), da
jornalista, historiadora, professora e escritora, Marilourdes Ferraz, tratando
sobre o maestro, compositor, arranjador e multi-instrumentista Moacir Santos (1926-2006) e Seara Vermelha, Ganga Zumba, Ouro Negro não brilha em
casa, Os fuzis, Lamento astral, O Criador e a Criação, salsamania: el saoco
latino, a estrela do nordeste, Nanã, Coisas, Saudades do Pajeú, do Rio Pajé ao
Pacífico, De repente estou feliz, A Serra – Emygdio de Miranda, Hino de Vila Bela,
entre outros assuntos. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.