A arte cinética do artista Sérvulo Esmeraldo (1929-2017).

PENSAMENTO DO DIA – A gente
nasce com um montão de palavras na barriga. Na vida, vai galando e gastando o
estoque. Quando todas acabam, a gente morre. Provérbio africano.
NÃO É
IMIGRAÇÃO É EXPULSÃO –[...] O momento da
expulsão é o momento de uma condição familiar que se torna extrema. Você não é
simplesmente pobre, você está com fome, perdeu sua casa, vive em barraco. Ou
com a terra e com a água: não são simplesmente degradadas, terras ou águas
insalubres. São mortas, acabadas. Nós tendemos a parar no extremo. Não entrar nele.
O extremo é muito, muito feio e não temos conceitos para capturá-lo. Trecho da
entrevista concedida pela socióloga
holandesa Saskia Sassen para a
Revista Ponto & Vírgula (PUCSP, 2015).
EDUCAÇÃO,
APRENDIZADO, ESCOLA NO BRASIL - [...] O
problema é que, no Brasil, somente um percentual muito baixo de estudantes
atinge o patamar adequado. Apenas 5,3% dos estudantes apresentam um nível de
proficiência condizente com onze anos de escolarização, constituindo-se
leitores competentes em relação a diversos tipos de texts. Considerando o
rendimento em atividades de leitura e interpretação de textos, os concluintes
do ensino médio concentram-se no nível intermediário, sendo capazes de ler com
relativa desenvoltura, mas não aquela projetada para a série na qual estão.
[...] Outros 42% não podem sequer ser
considerados bons leitores, mesmo depois de terem chegado ao final do ensino
médio, vencendo as séries da educação básica. Estes últimos são aqueles que
estão nos níveis crítico e muito crítico. [...] Trechos extraídos de Letramentos múltiplos, escola e inclusão
social (Parábola, 2009) de Roxane
Rojo, autora também de Alfabetização e letramento: sedimentação de práticas
e (des)articulação de objetos de ensino (Perspectiva, 2006).
AULA DE INGLÊS — Is this
an elephant? Minha
tendência imediata foi responder que não; mas a gente não deve se deixar levar
pelo primeiro impulso. Um rápido olhar que lancei à professora bastou para ver
que ela falava com seriedade, e tinha o ar de quem propõe um grave problema. Em
vista disso, examinei com a maior atenção o objeto que ela me apresentava. Não
tinha nenhuma tromba visível, de onde uma pessoa leviana poderia concluir às
pressas que não se tratava de um elefante. Mas se tirarmos a tromba a um
elefante, nem por isso deixa ele de ser um elefante; mesmo que morra em
conseqüência da brutal operação, continua a ser um elefante; continua, pois um
elefante morto é, em princípio, tão elefante como qualquer outro. Refletindo
nisso, lembrei-me de averiguar se aquilo tinha quatro patas, quatro grossas
patas, como costumam ter os elefantes. Não tinha. Tampouco consegui descobrir o
pequeno rabo que caracteriza o grande animal e que, às vezes, como já notei em
um circo, ele costuma abanar com uma graça infantil. Terminadas as minhas
observações, voltei-me para a professora e disse convincentemente: — No, it's
not! Ela soltou um pequeno suspiro, satisfeita: a demora de minha resposta a
havia deixado apreensiva. Imediatamente perguntou: — Is it a book? Sorri da
pergunta: tenho vivido uma parte de minha vida no meio de livros, conheço
livros, lido com livros, sou capaz de distinguir um livro a primeira vista no
meio de quaisquer outros objetos, sejam eles garrafas, tijolos ou cerejas
maduras — sejam quais forem. Aquilo não era um livro, e mesmo supondo que
houvesse livros encadernados em louça, aquilo não seria um deles: não parecia
de modo algum um livro. Minha resposta demorou no máximo dois segundos: — No,
it's not! Tive o prazer de vê-la novamente satisfeita — mas só por alguns segundos.
Aquela mulher era um desses espíritos insaciáveis que estão sempre a se propor
questões, e se debruçam com uma curiosidade aflita sobre a natureza das coisas.
— Is it a handkerchief? Fiquei muito perturbado com essa pergunta. Para dizer a
verdade, não sabia o que poderia ser um handkerchief; talvez fosse hipoteca...
Não, hipoteca não. Por que haveria de ser hipoteca? Handkerchief! Era uma
palavra sem a menor sombra de dúvida antipática; talvez fosse chefe de serviço
ou relógio de pulso ou ainda, e muito provavelmente, enxaqueca. Fosse como
fosse, respondi impávido: — No, it's not! Minhas palavras soaram alto, com
certa violência, pois me repugnava admitir que aquilo ou qualquer outra coisa
nos meus arredores pudesse ser um handkerchief. Ela então voltou a fazer uma
pergunta. Desta vez, porém, a pergunta foi precedida de um certo olhar em que
havia uma luz de malícia, uma espécie de insinuação, um longínquo toque de
desafio. Sua voz era mais lenta que das outras vezes; não sou completamente
ignorante em psicologia feminina, e antes dela abrir a boca eu já tinha a
certeza de que se tratava de uma palavra decisiva. - Is it an ash-tray? Uma
grande alegria me inundou a alma. Em primeiro lugar porque eu sei o que é um
ash-tray: um ash-tray é um cinzeiro. Em segundo lugar porque, fitando o objeto
que ela me apresentava, notei uma extraordinária semelhança entre ele e um
ash-tray. Era um objeto de louça de forma oval, com cerca de 13 centímetros de
comprimento. As bordas eram da altura aproximada de um centímetro, e nelas
havia reentrâncias curvas — duas ou três — na parte superior. Na depressão
central, uma espécie de bacia delimitada por essas bordas, havia um pequeno
pedaço de cigarro fumado (uma bagana) e, aqui e ali, cinzas esparsas, além de
um palito de fósforos já riscado. Respondi: — Yes! O que sucedeu então foi
indescritível. A boa senhora teve o rosto completamente iluminado por onda de
alegria; os olhos brilhavam — vitória! vitória! — e um largo sorriso
desabrochou rapidamente nos lábios havia pouco franzidos pela meditação triste
e inquieta. Ergueu-se um pouco da cadeira e não se pôde impedir de
estender o braço e me bater no ombro, ao mesmo tempo que exclamava, muito
excitada: — Very well! Very well! Sou um homem de natural tímido, e ainda
mais no lidar com mulheres. A efusão com que ela festejava minha vitória me
perturbou; tive um susto, senti vergonha e muito orgulho. Retirei-me
imensamente satisfeito daquela primeira aula; andei na rua com passo firme e ao
ver, na vitrine de uma loja,alguns belos cachimbos ingleses, tive mesmo a
tentação de comprar um. Certamente teria entabulado uma longa conversação com o
embaixador britânico, se o encontrasse naquele momento. Eu tiraria o cachimbo
da boca e lhe diria: -- It's not an ash-tray! E ele na certa ficaria muito
satisfeito por ver que eu sabia falar inglês, pois deve ser sempre agradável a
um embaixador ver que sua língua natal começa a ser versada pelas pessoas de
boa-fé do país junto a cujo governo é acreditado. Extraída
da obra Um pé de milho (Autor, 1964),
do escritor Rubem Braga (1913-1990). Veja mais aqui.
O MONTEPIO - Que
herança transmite / o pai a seu filho? /Não lhe deixa casa / ou sombra de
apólice/ nem tampouco o sujo/ de seu colarinho./ Não lhe lega a velha / mala
das viagens/ nem os seus amores/ e as suas bagagens./ E as roupas do pai/ que a
chuva encolheu/ no filho não cabem./ Com pau seco e fogo/ o pai de resina/ arma
seu legado./ Deixa a fogueira/ que ele fez sozinho/ no escuro da mata./ (Borboletas
em/ seus ombros pousavam)/ E também menino/ na pele do vento/ solta para o céu/
o seu papagaio./ E antes de mudar-se/ de suor em musgo/ o pai dá ao filho/ como
pé-de-meia/ algo da paisagem/ - sobra de pupila,/ moeda de lágrimas./ Deixa-lhe
o balaio/ cheio de apetrechos/ e o jeito de andar/ com as mãos às costas./ Para
o filho, passa/ todo o seu cansaço/ suas promissórias/ e seu olhar baço./ Da
árvore do povo/ deixa-lhe o grito/ de espantado amor/ que gritou na praia./ De
agrestes gravetos/ faz o fogo e esquenta/ na palhoça ao vento/ a comida fria/ de
sua marmita./ O pai dá ao filho/ o ninho vazio/ achado no bosque/ e a raposa
morta/ por sua espíngarda./ Dá-lhe a sua anônima/ grandeza do nada./ Sua
herança é o frio/ que sentiu rapaz/ quando impaludado./ Dá-lhe a lua imensa/ na
noite azulada./ Estende-lhe as mãos/ sujas de carvão/ molhadas de orvalho./ Fala-lhe
da dor/ que sente nos calos./ Dá-lhe a verde e rubra/ pimenteira em flor./ Mostra-lhe
o tambor/ de salitre e brisa/ que rufa sozinho/ entre arquipélagos/ de sua
pobreza./ Mostra-lhe o cadarço/ de espuma no mar/ cheio de mariscos./ Ser pai é
ensinar/ ao filho curioso/ o nome de tudo:/ bicho é pé de pau./ Que o pai,
quando morre,/ deixa ao filho/ o seu montepio/ - tudo o que juntou / de manhã à
noite / no batente,dando/ duro no trabalho./ Deixa-lhe palavras. Poema extraído
da obra O sinal semafórico (José
Olympio/INL, 1974), do poeta, jornalista, escritor e ensaísta alagoano Ledo Ivo (1924-2012). Veja mais aqui.
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Friel, Julia Lemmertz, Paolo Sorrentino, Ismael Nery, Bruno
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DE AMOR POR ELA
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CANTARAU: VAMOS
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