DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... CATÁBASE... - Milhares de mortos nublaram o meu sorriso e a
vida o meu país nas trevas, era Frank Zappa me dizendo: a estupidez é o
elemento básico do universo. Não havia como prever Fecamepa tão medonho e estou só como se fizesse a trilha de
Lidenbrock dos manuscritos do alquimista Saknussem na viagem de Verne ao som de Wakeman, a descer pela cratera do vulcão
islandês Sneffels para não sei onde. Na verdade, parece mais no aqui e agora, baixava
ao inferno e não foi a minha primeira vez, nem a última, porque sou argonauta e,
tal Orfeu solitário, mereço Eurídice. Lá que é aqui, a ninfa Estige era um rio do Hades e logo me
veio o barqueiro Caronte carregado
das almas que abandonavam seus sonhos, desejos e deveres no Aqueronte. Ele fez a vez do psicopompo
e me revelou: o inferno não é onde estou, mas onde você está que era o paraíso Hy-Breazil. Não sabia e ainda estou
vivo.
DUAS VEZES VIVO MUITO MAIS! - (ao
som da Symphony nº 1 – The Triumph of heaven, de Victoria Borisova Ollas – Imagem art by Rodolfo Ledel) - Tem
horas que voo na vida. Noutras, ela me leva. À espera do Sol e da hora de ir
para não mais voltar, penso e sou o homem de Jung na raça de Vasconcelos Calderón enquanto Gloria Anzaldúa
me dizia o verso do Útero sem túmulo: Padeço
de um mal: a vida, / enfermidade recorrente / que me purga da morte. E era
ela, luz&ar, nua e linda do
inopinado como se rufassem todos os tambores da paixão com uma orquestra atacando
a overture da sinfonia dos seus encantos para me embriagar pela indelével dança
do amor e me fizesse de uma vez por todas esquecer pretéritos e crástinos
porque tudo era agora e não mais que isso valesse a pena viver eternamente. Sou
duas vezes vivo nela e muito mais.
TRÊS MIL VEZES A VIDA! - (Imagem art by Rodolfo Ledel) - Com a
colagem das três decepções em cima da
bucha & a resiliência em dia, persigo a vida e persevero, mesmo que o
potencialmente perigoso asteroide Apolo 2020 QL2 mude de rota, errante de rumo e
faça a danação de vez numa colisão que seja para que se diga que era só o que
faltava este ano, enquanto Richard Sennett ironizasse a invisível tragédia que vige ao nosso redor: Não há mais o medo de
violência entre "tribos", o que acontece é mais sutil, é um recuo em relação
ao outro, como se o outro simplesmente não existisse. Nem me dera conta, muito embora soubesse da indiferença de todos apagando
toda capacidade de indignação e nos desumanizando. Acabei de crer: indubitavelmente
o inferno é aqui, só pode ser mesmo. Até mais ver.
LUIZ QUEIROGA, O HUMILDE IMENSO
Eu num tenho bicicreta / num tenho jipe, nem carro, nem caminhão / mái,
no meu jegue, nas estrada eu disparo / e até já me apelidaro, Fittipardi do
sertão. / O meu jumento deixa muita gente zônza / eu já quis corrê em Monza / e
ía fazê figura / mái, reparei que o bicho tem até buzina / mái num usa gasulina
/ e lá num tem capim gordura. / Prá passa marcha a gente aperta nas urêia / o
jumento se aperrêia e voa feito um avião / cum uma isporada ele rônca na
trasêra / deixa tudo na puêra, meu jumento é campião!
Fittipárdi do sertão, extraído da obra Luiz Queiroga, o humilde imenso – o criador do Coronel Ludugero
(Autor, 2006), da cantora e pesquisadora Mêvinha
Queiroga, reunindo a biografia e textos de Lula Queiroga, José Mário de
Austragésilo e Lúcio Mauro, Luiz Maranhão Filho, além de depoimentos de Arnaud
Rodrigues, Carlos Fernando, Maciel Melo, Brivaldo Franklin – Zé do Gato, José
Teles, Luciano Jacinto, Detto Costa, Jorge de Altinho, Coroné Caruá, entre
outros. Veja mais aqui.