BIBLIOTECA – A primeira biblioteca foi a do meu
pai. Ainda menino, eu passava horas e horas todos os dias remexendo nos livros –
aprendi a ler por volta dos cinco anos e adorava procurar figuras nas coleções.
Depois de ler as coleções de Machado, Graciliano, Érico, Dostoiévski, Dickens,
Lobato, entre outros, passei a bisbilhotar na Biblioteca Pública Fenelon
Barreto, na qual a professora e bibliotecária Jessiva Sabino de Oliveira sempre acolhedora, atenciosa e duma
afetiva bondade de incentivo à leitura, me deu espaço para mergulhar de cabeça
no universo maravilhoso que é o livro. Foi ela que me iniciou na leitura das
peças teatrais e romances de Hermilo Borba Filho, na poesia de Ascenso
Ferreira, os clássicos, os malditos & proibidos, os vanguardistas e os da
torre de marfim, afora dispor todo o acervo para o meu prazer. Por causa disso
virei consumidor compulsivo de bibliotecas e livrarias, mantendo sempre o
hábito de pregar os olhos em páginas e páginas de um bom livro. Veja mais aqui.
Imagem: Naked woman ink drawing, do pintor italiano Gino Severini (1883-1966)
Ouvindo: o álbum ao vivo Lenine Acústico (MTV Brasil, 2006).
AS FLORES DO MAL – O poeta, crítico de arte e tradutor
francês Charles Baudelaire
(1821-1867) possui uma história para lá de instigante. Órfão de pai, foi
repudiado pela família por sua precoce vocação literária. Enviado para a Índia
em 1841, com a intenção de frustrar suas veleidades artísticas, regressou à
França no ano seguinte, dedicado a entregar-se definitivamente à literatura. Dissipou
seus bens nos meios boêmios, com bebida, narcóticos e mulheres, ocasião em que
conheceu a mulata Jeane Duval, inspiração de muitos poemas. Outras musas de
poesia foram Mme. Sabatier e a atriz Marie Daubrun. Ao publicar As flores do mal (1857), foi processado
por haver veiculado blasfêmias e obscenidades através de suas poesias. Desse
livro destaco O letes, na tradução de
Jamil Almansur Haddad: Vem ao meu
coração, surda alma irada, / tigre adorado, meu monstro indolente; / quando
afundar a minha mão tremente / na tua espessa crina tão pesada. / Nas tuas
saias perfumadas, junto / ao teu colo, enterrar fronte saudosa, / e respirar,
como fanada rosa, / doce bolor do meu amor defunto. / Quero dormir! O sono em
vez da vida! / Num sono doce como a morte eu posso / estender os meus beijos
sem remorso / nesta carne de cobre tão polida. / Para engolir os meus mudos
arquejos / nada me vale o abismo de teu leito; / tens nos lábios o olvido mais
perfeito / e o Letes vai fluindo nos teus beijos. / Ao meu destino que é doçura
e vício, / servo serei como um predestinado; / mártir sem culpa, dócil
condenado, / porém cujo fervor chama o suplício. / Depois para afogar minha
aflição / cicuta eu sugarei como nepentes / nas pontas de teus seios tão
trementes / onde nunca bateu um coração. Veja mais aqui e aqui.
O ESTANDARTE DA AGONIA – No livro O estandarte da agonia (Nova Fronteira, 1981), da escritora,
jornalista, teatróloga e militante política Heloneida Studart (1932-2007), destaco o seguinte trecho: [...] O Fusca parou no sinal vermelho de um
cruzamento: um garotinho se adiantou e ofereceu ao motorista uma minúscula
tartaruga [...]. Argemiro sentiu
súbita vontade de rir: encontrava-se num mundo em que se vendiam tartarugas nas
esquinas, quebravam-se os dentes de um adolescente a murros e uma donzela
protestante vestida em seu uniforme de nácar, era capaz de delatar o médico
imprudente. Dona Delfina, esposa do general, detestava barulho. [...] Acordava à noite, dizendo que haviam ligado
uma sirene à sua cama. Andava pela casa com um dedo nos lábios, dois chumaços
de algodão nos ouvidos. [...] – Já se passaram vinte anos desde que perdeu o
filho único – disse a empregada, suspirando. Vesti uma calça comprida e uma
blusa e saí para a rua. Algumas donas de casa passavam com suas sacolas. No
pardieiro da rua fronteira, os rádios de pilha estavam ligados. A doçaria onde
meu filho fora preso já abrira a porta de aço e moça manca talvez estivesse
tentando dizer aos primeiros fregueses que os doces não eram os mesmos da
véspera. Veja mais aqui.
O JECA MAZZAROPI – Toda minha infância e adolescência foi
marcada pela arte do ator, diretor e comediante brasileiro Amácio Mazzaropi (1912-1981). Não perdia um filme dele que
estivesse em cartaz no Teatro Cinema Apolo ou no Cine São Luiz. Aparecesse ele
na tela, lá estava eu, primeiro da fila, ancho para ver suas presepadas. Desde
o Sai da Frente (1952) até o Jeca e a égua milagrosa (1980) – salvo
engano, ao todo trinta e dois filmes -, o que passou nos cinemas da minha
terrinha boa, assisti. Ainda hoje quando ligo a TV que ele aparece, não faço a
menor cerimonia e me aboleto para rever. Por isso a minha homenagem a esse
grande artista. Veja mais aqui.
FOTO DO DIA
Imagem do fotógrafo inglês Eadweard Muybridge (1830-1904)
Veja mais sobre:
Ganhar o mundo no rumo das ventas, O mito e a política de Jean-Pierre Vermant, a literatura de Cesare Pavese, a
pintura de Eugène Delacroix & Caroline Vos, a música de Wagner & Hélène Grimaud aqui.
E mais:
Brincarte do Nitolino, o Tratado Lógico-Filosófico de Ludwig
Wittgenstein, o Teatro Futurista de Filippo Marinetti, a literatura de Azar
Nafisi, a pintura de Eugène Delacroix, a música de Nelson Freire, a fotografia
de John De Mirjian, Augustine de Charcot, a arte de Stéphanie Sokolinski, a
cangaceira Dadá & Maria Iraci Leal aqui.
Do espírito das leis, de Montesquieu aqui.
Caxangá, a literatura de Cervantes & Lima
Barreto, o Abstracionismo & Vassili Kandinsky, a música de Sainkho
Namtchylak, o cinema de Anthony Minghella & Gwyneth Kate Paltrow, a pintura
de Guido Cagnacci, a arte de Adelaide Ristori & Clara Sampaio aqui.
A poesia de Gabriela
Mistral & William Wordsworth, a literatura de
Gregório de Matos Guerra & Ana Miranda, o cinema de Krzysztof
Kieslowski & Irène Jacob, a música de Ravi Shankar & a pintura de
Almada-Negreiros aqui.
Brincarte do Nitolino & Lendas do
Nordeste, Buda, O
caso Anna O de Freud & Bertha Pappenheim, A fenomenologia de Edmund
Husserl, a poesia de Basílio da Gama, o teatro de Edmond Rostand, a pintura de
Sergei Semenovich Egornov, a música de Steve Howe & a arte de Anne Brochet aqui.
O que deu, deu; o que não deu, paciência,
fica pra outra, A
teoria das emoções de Jean- Paul Sartre, a literatura de Dyonélio Machado, O
fim da modernidade de Gianni Vattimo, a pensamento de Friedrich Nietzsche,
Neurofilosofia & Neurociência, a música de Laurence Revey, a pintura de
Fernando Rosa & Jonas Paim, a fotografia de Faisal Iskandar & O
sisifismo na segunda de outra semana aqui.
Para quem vai & para quem vem, A filosofia da linguagem de Mikhail Bakhtin, a Fenomenologia
& o fenômeno de Armando Asti Vera, A gaia ciência de Friedrich Nietzsche, a
música de Djavan, a fotografia de Gal Oppido, a pintura de João Evangelista
Souza, A pancada insólita se alastra na culatra: viver, a arte de Luciah Lopez
& Elciana Goedert aqui.
Se o sonho pra se realizar está custoso
demais, paciência..., As origens da vida de Jules Carles,
Elementos da dialética de Alexander Soljenítsi, a poesia de Gilka Machado, a
música de Álbaro Henrique, a fotografia de Camila Vedoveto, A gaia ciência de
Friedrich Nietzsche, As torturas prazerosas de Quiba, Aos futuros poetas de J.
Martines Carrasco, a arte de Fernando de La Rocque & Fernando Nolasco aqui.
Quando a poluição torna o ar
irrespirável, a vida vai pro beleleu, O mundo de Albert Einstein, a literatura de Imre Kertész,
a Educação de Dermeval Saviani, A gaia ciência de Friedrich Nietzsche, a música
de Mafalda Veiga, A pluralidade cultural de Manuel Diégues Júnior, a fotografia
de Eustáquio Neves, a pintura de aqui. Cida Demarchi & Os erradios catimbós de Afredo
Quem, nunca aprendeu a discernir entre o
que é e o que não é, jamais aprenderá a votar, a literatura de Marguerite Duras &
Stanislaw Ponte Preta, o pensamento de Friedrich Nietzsche, O combate à
corrupção, a música de Miriam Ramos, o Conhecimento de Cipriano Carlos Luckesi,
a arte de Lenora de Barros, a fotografia de Ed Freeman, Luciah Lopez & O
amor é tudo no clarão dos dias e na escuridão das noites aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Art by Walter Levy
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.