A SEDUÇÃO DE LORNA – Quando a
conheci era Barbara Ann e sua altivez infantil enfeitiçou minha adolescência.
Seus olhos vivos seguiam os pulos de sua alma inquieta levantando ânimos com
sua saia esvoaçante. Na ponta dos pés alcançava todos os lugares que quisesse, carregando
o peso dos olhares perseguidores de seus tornozelos às bem torneadas pernas
alvoraçadas, dobrando um dos joelhos à escolha de qual direção que levava às
suas voluptuosas coxas, na exibição do lance de sua calcinha estufada de
desejos e aromas de rosas livres ao vento, escandalizando credos, razões e
compromissos. Virava-se com o solavanco dos seus ímpetos para pedir ajuda com
voz meiga – não havia quem resistisse aos seus lábios sedutores atordoando juízos
e lógicas, nem sua língua saliente a cada sílaba pronunciada pela boca
esplendorosamente devoradora. A cada impulso os mamilos se insinuavam pelo
decote de seus seios apetitosos, revolvendo a paz com o toque de sua mão acetinada
ao pedido irrecusável. Alcancei-lhe, então, o braço e deslizei meus dedos por
sua pele sedosa. Ela sentiu a quentura de minha mão e fixou-me o olhar flagrando
o meu em petição implacável. Sorriu-me. Envolvi sua cintura dançante, aos
requebros das ancas pronunciadas com a dança de suas coxas voluptuosas inquietas.
Tomei-lhe o pulso e a beijei ternamente. Abriu-me os olhos arregalados e correu
para dentro de casa. Fiquei ali paralisado. Não demorou muito e ela era a bela
Lorna nua na janela: uma mulher demais para um homem... Sim, parecia
mesmo aquela do desperdício de Proust. Insinuava-se vestindo uma camisola
transparente, zanzando pela casa inquieta. O tédio a angustiava e desejava
passear pelos arredores. Fui até a janela e ela, com ar de manhosa, convidou-me
à beira do rio. Saiu correndo seminua, despindo-se por completo a se banhar impunemente.
Lá mergulhei em sua perseguição. Ela me fugia, até à margem em nova carreira.
Fui ao seu encalço e a deparei Clara Belle no Mudhoney: as pernas se
sobressaiam por trás do tronco, contornando-a logo para o flagra da minissaia improvisada
e o pronunciado decote dos fartos seios na toalha, alisando um gatinho com mimo
no biquinho da boca e olhos agateados. Investi para capturá-la e já era Lorna
novamente no Mondo Topless, desfilando sensualmente como uma das peitudas
do Russ Meyer. Nela me engalfinhei e fui premiado saboreando sua carne
caudalosa de musa inalcançável. Viva Lorna Maitland (Barbara Ann Popejoy)!!!
Veja mais abaixo & mais aqui, aqui & aqui.
DITOS &
DESDITOS - Ser um bom ser humano é ter
um tipo de abertura para o mundo, uma habilidade de confiar em coisas incertas
além do seu próprio controle, que podem levá-lo a ser destruído em
circunstâncias muito extremas pelas quais você não foi culpado. Isso diz algo
muito importante sobre a condição da vida ética: que ela é baseada em uma
confiança no incerto e em uma disposição de ser exposto; é baseada em ser mais
como uma planta do que como uma joia, algo bastante frágil, mas cuja beleza
muito particular é inseparável dessa fragilidade... Pensamento da filósofa estadunidense Martha Nussbaum, que no seu
livro Political Emotions: Why Love Matters for Justice (Belknap Press, 2013),
expressou que: […] Na verdade, as crianças
começam como Bauls malucos, cheios de amor, desejo e alegria na presença da
natureza. Seu amor pela brincadeira e seu espírito questionador precisam ser
fortalecidos, não esmagados. Mas as escolas geralmente esmagam tudo o que é desordenado
[...].
Em seu outro livro, Not for Profit: Why Democracy Needs the Humanities (Princeton
University Press, 2010), ela assinala que: […] O conhecimento não é garantia de bom comportamento, mas a ignorância é uma
garantia virtual de mau comportamento [...] Outro problema com pessoas que não se examinam é que elas muitas
vezes se mostram facilmente influenciáveis. [...]. Na sua obra The Fragility of Goodness: Luck and Ethics in
Greek Tragedy and Philosophy (Cambridge University Press, 2001) , ela
evidencia que: […] Você deve se importar com as
coisas de uma forma que torne possível que uma tragédia aconteça com você. [...] Pois uma escolha é sempre uma escolha entre
alternativas possíveis; e é raro um agente para quem tudo é possível. A agonia
especial dessa situação é que nenhuma das possibilidades é sequer inofensiva.
[...]. Por fim, na sua obra Sex and Social Justice
(Oxford University Press, 2000), ela expressa que: […] Aqui, acredito, estava a misericórdia; e, muito próxima dela, a raiz da
arte do romancista. A estrutura do romance é uma estrutura de suggnômê — da
penetração da vida de outro na própria imaginação e coração. É uma forma de
receptividade imaginativa e emocional, na qual o leitor, seguindo a liderança
do autor, passa a ser habitado pelas complexidades e lutas emaranhadas de
outras vidas concretas.54 Os romances não retêm todo julgamento moral e contêm
vilões, assim como heróis. Mas para qualquer personagem com quem a forma
convida nossa identificação participativa, os motivos para a misericórdia são
engendrados na própria estrutura da percepção literária. [...]. Veja mais aqui & aqui.
ALGUÉM FALOU: O realismo especulativo é uma denominação que não designa
em si nada importante, mas como o qual me tornei associado. Não corresponde
exatamente ao meu empreendimento, pois também compreende a opção que busco
combater... Pensamento do filósofo francês Quentin
Meillassoux, que no seu livro After
Finitude: An Essay on the Necessity of Contingency (Continuum, 2010), expressa que: […] Se olharmos
através da abertura que abrimos para o absoluto, o que vemos ali é um poder
bastante ameaçador — algo insensível e capaz de destruir coisas e mundos, de
trazer absurdos monstruosos, mas também de nunca fazer nada, de realizar todos
os sonhos, mas também todos os pesadelos, de gerar transformações aleatórias e
frenéticas, ou, inversamente, de produzir um universo que permanece imóvel até
seus recessos finais, como uma nuvem carregando as tempestades mais ferozes,
depois os feitiços brilhantes mais assustadores, mesmo que apenas por um
intervalo de calma inquietante. Vemos uma onipotência igual à do Deus
cartesiano e capaz de tudo, até mesmo do inconcebível; mas uma onipotência que
se tornou autônoma, sem normas, cega, desprovida das outras perfeições divinas,
um poder sem bondade nem sabedoria, mal disposto a tranquilizar o pensamento
sobre a veracidade de suas ideias distintas. Vemos algo semelhante ao Tempo,
mas um Tempo que é inconcebível para a física, uma vez que é capaz de destruir
sem causa ou razão, toda lei física, assim como é inconcebível para a
metafísica, uma vez que é capaz de destruir toda entidade determinada, até
mesmo um deus, até mesmo Deus. Este não é um tempo heraclitiano, uma vez que
não é a lei eterna do devir, mas sim o eterno e sem lei possível devir de toda
lei. É um Tempo capaz de destruir até mesmo o próprio devir ao trazer à tona,
talvez para sempre, fixidez, estase e morte. [...] Em vez de rir ou sorrir de perguntas como "De onde
viemos?", "Por que existimos?", deveríamos ponderar o fato
notável de que as respostas "Do nada. Para nada" realmente são
respostas, percebendo assim que essas eram realmente perguntas - e excelentes.
Não há mais mistério, não porque não haja mais problema, mas porque não há mais
razão. [...] A racionalidade, durante o iluminismo, teve que lutar
contra a religião; e eles lutaram contra a religião com a ciência mais
atualizada: a física. Eles lutaram contra ela com a necessidade de leis
físicas. O problema — Hume viu isso, ele viu muito bem — é que a necessidade de
leis não é algo que você pode demonstrar, mas apenas algo em que você pode
acreditar: então é uma crença contra outra crença. E, de fato, eu acho que a crença
na necessidade de leis é necessariamente uma crença em Deus, porque você
acredita no que não pode demonstrar, você acredita em uma ordem que garante
leis. De fato, você pode não acreditar mais em Deus, mas acredita na solidez
divina das leis. [...].
HISTÓRIA DA LITERATURA
BRASILEIRA – A coleção História
da literatura brasileira, do advogado, jornalista, critico literário e escritor
sergipano Silvio Romero (1851-1914),
aborda no primeiro volume os trabalhos estrangeiros e nacionais sobre a
literatura brasileira, teorias da história do Brasil, a filosofia, fisiologia,
a nação brasileira como grupo etnográfico e produto histórico, as contribuições
para o estudo do folclore brasileiro, o Brasil social e os elementos que o
plasmaram, da crítica e sua exata definição, primeira época ou período de
formação, período de desenvolvimento autonômico, período de transformação
romântica, diversas manifestações na prosa e relações antirromânticas. No
segundo volume trata sobre o período de formação e o período de desenvolvimento
autonômico – escola mineira. No terceiro volume trata sobre a transição entre
os clássicos e os românticos – período de transformação romântica. O quarto
volume trata do período de transformação romântica atinente à poesia, teatro e
romance. O quinto e último volume trata do período de transformação romântica,
as diversas manifestações na prosa, história, publicistas e oradores, reações
antirromânticas, artigos esparsos e quadro sintético da evolução dos gêneros na
literatura brasileira. Veja mais aqui, aqui & aqui.
PROGRAMA TATARITARITATÁ – O programa Tataritaritatá que vai ao ar todas terças, a partir das
21 (horário de Brasilia), é comandado pela poeta e radialista Meimei Corrêa na Rádio Cidade, em Minas Gerais.
Confira a programação desta terça aqui. Na programação: Nando Lauria, Tavito, Yes, Geraldo Azevedo, Djavan, Milton Nascimento, Chico Buarque, Elis Regina, Maria Bethania, Oswaldo Montenegro, Maria Rita, Caetano Veloso, Marisa Monte, Celso Viáfora & Ivan Lins, Sonia Mello, Júlia Crystal, Mazinho, Sonekka, Ricardo Machado, Elisete Retter, Nilson Chaves & Felipe Cerquize, Monsyerrá Batista, Dery Nascimento, Franco do Valle, Marisa Serrano, Mirianês Zabot, Cikó Macedo, Ozi dos Palmares, Zé Linaldo, Azymuth, Vale das Maçãs, Leno Azevedo & Lílian Knapp, Daniel Johns & muito mais numa programação repleta de novidades com desfile de grandes nomes da música nacional e internacional, sempre destacando novidades no cenário musical. Confira mais aqui.
A ESFERA ESTÉTICA – No livro Ensaios de sociologia (LTC, 1982), do sociólogo e econômica alemão,
Max Weber (1864-1920), na parte Rejeições religiosas do mundo e suas
direções, encontrei a esfera estética debatida pelo autor, a qual destaco o
seguinte trecho: A ética religiosa da
fraternidade situa-se em tensão dinâmica com qualquer comportamento
consciente-racional que siga as suas próprias leis. Em proporções não menores,
essa tensão também ocorre entre a ética religiosa e as forças de vida “deste
mundo”, cujo caráter é essencialmente não-racional, ou basicamente
anti-racional. Acima de tudo, há tensão entre a ética da fraternidade religiosa
e as esferas da vida estética e erótica. A religiosidade mágica está numa
relação muito íntima com a esfera estética. Desde seu início, a religião tem
sido uma fonte inesgotável de oportunidades de criação artística, de um lado, e
de estilização pela tradicionalização, do outro. Isso se evidencia em vários
objetos e processos: ídolos, ícones e outros artefatos religiosos; na
padronização das formas comprovadas magicamente, o que constitui um primeiro
passo na superação do naturalismo por uma fixação de “estilo”; na música, como
meio de êxtase, exorcismo ou mágica apotropaica; em feiticeiros que eram
cantores e dançarinos mágicos; em relações de tom comprovadas magicamente e
portanto magicamente padronizadas — as primeiras fases preparatórias na
evolução dos sistemas tonais; nos passos de dança magicamente provados como uma
das fontes de ritmo e como uma técnica de êxtase; nos templos e igrejas, como
as maiores de todas as edificações, com sua tarefa arquitetônica estereotipada
(e, com isso, formando um estilo) como consequência de finalidades
estabelecidas de uma vez por todas, e com formas estruturais que se tornam
estereotipadas através da eficiência mágica; em paramentos e implementos de
igreja de todos os tipos, que serviram como objetos da arte aplicada. Todos
esses processos e objetos foram classificados de acordo com a riqueza das
igrejas e templos oriunda do zelo religioso. [...] O desenvolvimento do intelectualismo e da racionalização da vida
modifica essa situação. Nessas condições, a arte torna-se um cosmo de valores
independentes, percebidos de forma cada vez mais consciente, que existem por si
mesmos. A arte assume a função de uma salvação neste mundo, não importa como
isto possa ser interpretado. Proporciona uma salvação das rotinas da vida
cotidiana, e especialmente das crescentes pressões do racionalismo teórico e
prático. Com essa pretensão a uma função redentora, a arte começa a competir
diretamente com a religião salvadora. [...] Para o artista criador, porém, bem como para a mente esteticamente
excitada e receptiva, a norma ética, como tal, pode parecer facilmente como uma
coação à sua criatividade autêntica e ao mais íntimo de seu eu. [...] Na realidade empírica, histórica, essa
afinidade psicológica entre a arte e religião levou a alianças sempre renovadas,
bastante significativas para a evolução da arte. A grande maioria das religiões
participa, de alguma forma, dessas alianças. Quanto mais desejavam ser
religiões universalistas de massa, e assim se voltavam para a propaganda
emocional e os apelos de massa, tanto mais sistemáticas eram as suas alianças
com a arte. Mas todas as religiões virtuosas autênticas continuaram muito
tímidas frente à arte, em consequência da estrutura interior da contradição
entre a religião e a arte. Isso ocorre na religiosidade virtuosa em sua
manifestação ascética ativa, bem como em sua manifestação mística. Quanto mais
a religião ressaltou a supramundanidade de seu Deus, ou a ultramundanidade da
salvação, tanto mais duramente rejeitada foi a arte. Veja mais aqui & aqui.
COM OS MEUS OLHOS DE CÃO – O livro Com os meus olhos de cão (Globo, 2006), da escritora e dramaturga
brasileira Hilda Hilst (1930-2004),
traz a historia do protagonista da novela Amós Kéres que possui apenas duas
opções na busca de Deus: o deboche – a mais pura abjeção e afronta dos
costumes; e o abando e o despojamento pessoal de tudo – a entrega à vida
experimentada como pura vivência animal, sem qualidades. Da obra destaco o
trecho: [...] Dou várias cambalhotas.
Espelho e botas. Sou náufrago de mim mesmo e jardineiro. Estou no fundo mas
semeio como se estivesse fora. Sou verdugo numa sala de aula. Se me perguntam
não respondo. Este sou eu. Cambalhota, afago, peixe, sedas na cauda, água
reboliço de nuvens neste aquário. Os olhos me olham. Os rostos encostam seu
narizes no meu espaço. Mudo continuo rolando pela sala. Há entre nós um círculo
de vidro. Há muita gente no vestíbulo: aquele é o professor? O ipê. Revisito a
janela nos seus amarelos. Perguntas são nós de um extenso barbante
inconclusivo. Deito-me sobre o fio, o barbante me aninha, se faz côncavo, se
alarga, se faz rede, durmo ouvindo gemidos e queixas. Os que me veem estão
muito aborrecidos. Um homem atravessa a sala, senta-se, peida sobre minha
cadeira negra. Pergunto: disse o seu nome, senhor? Há risos nas carteiras mais
no fundo. Alguém me entrega um jasmim. Entedio-me mudo. As perguntas crescem e
formam cubos no ar. Se entrechocam. Estico-me no liso das esteiras. Um cubo
fere-me o cotovelo gasto. Um outro se abate sobre a testa, testeia meu osso
pardo de peias. Mulheres invadem a sala. Pisoteiam-me com seus saltos.
Sádico-lúbrico estou suando e rindo. Grotesco me esparramo. Há sangue
respingando as paredes do circulo. Um avalanche de cubos recobre meus tecidos
de carne. Estou vazio de bens. Pleno de absurdo. Levanta-me, Luminoso, até a
opulência do teu ombro. Com meus olhos de cão paro diante do mar. Tremulo e
doente. Arcado, magro, farejo um peixe entre madeiras. Espinha. Cauda. Olho o
mar mas não lhe sei o nome. Fico parado em pé, torto, e o que sinto também não
tem nome. Sinto meu corpo de cão. Não sei o mundo nem o mar a minha frente.
Deito-me porque o meu corpo de cão ordena. Há um latido na minha garganta, um
urro manso. Tento expulsá-lo mas homem-cão sei que estou morrendo e que jamais
serei ouvido. Agora sou espírito. Estou livre e sobrevivo meu ser de miséria,
meu abandono, o nada que me coube e que me fiz na Terra. Estou subindo, úmido
de névoa. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
O TEATRO DA CRUELDADE:
PRIMEIRO MANIFESTO/A TÉCNICA
– No primeiro manifesto do Teatro da
Crueldade – a técnica (Estética Teatral, 1980), o escritor, dramaturgo e
diretor de teatro francês de aspirações anarquistas Antonin Artaud (1906-1948), manifestou-se assim: O teatro não poderá voltar a ser ele
próprio, quer dizer, constituir um meio de ilusão verdadeira, a menos que
proporcione ao espectador precipitados verídicos de sonhos, em que o seu apreço
pelo crime, as suas obsessões eróticas, a sua selvageria, as suas quimeras, o
seu sentido utópico da vida e das coisas, o seu canibalismo até, transbordem,
num plano que não é suposto nem ilusório, mas interior. Por outros termos, o
teatro deve empenhar-se, por todos os meios, em repor em causa não só os
aspectos do mundo objetivo e descritivo externo, mas do mundo interno, quer
dizer, do homem considerado metafisicamente. Unicamente assim, cremos,
poderemos falar de novo, em teatro, dos direitos da imaginação. Nem o humor,
nem a poesia, nem a imaginação, significam coisa alguma, a não ser que, por uma destruição anárquica geradora duma
poderosa descarga de formas que constituirão todo os espetáculos, consigam
voltar a por em causa organicamente o homem, as suas ideais sobre a realidade,
e a sua situação poética na realidade. Considerar o teatro uma função
psicológica ou moral de segunda mão, e crer que os próprios sonhos apenas são
também uma função de substituição é diminuir o alcance poético profundo tanto
dos sonhos como do teatro. Se o teatro é, como os sonhos, sanguinário e inumano
é assim, muito mais do que por isso apenas, para manifestar e enraizar
inesquecivelmente, em nós, a ideia dum conflito perpetuo e dum espasmo em que a
vida é entrecortada de minuto a minuto, em que tudo na criação se eleva e se
exerce contra o nosso estado de seres constituídos, é assim para perpetuar duma
maneira concreta e atual as ideais metafisicas de certas Fábulas cuja precisa
atrocidade e cuja energia chegam para revelar a origem e o teor em princípios
essenciais. Sendo assim, compreende-se que pela sua proximidade em relação aos
princípios que lhe comunicam poeticamente a sua energia, esta linguagem nua do
teatro, linguagem não virtual, mas real, deve permitir, pela utilização do
magnetismo nervoso do homem, a transgressão dos limites habituais da arte e da
fala, para realizar ativamente, quer dizer, magicamente, em termos verdadeiros,
uma espécie de criação total onde nada mais resta ao homem senão retomar o seu
lugar entre o sonho e os acontecimentos [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
O HOMEM, DEIXA & NÓS – A poeta e professora de Itapeninga
(BA), Iramar Freire Guimarães reúne
seu trabalho poético no Recanto das Letras que comporão o seu livro Ira explícita, ainda inédito. Dela
destaco primeiramente o seu O homem: A
força e beleza do mistério que nos faz existir e me prende... / Que ao som de
qualquer bicho solto me embala / tem cheiro gostoso que me narcotiza... / É
estranha e divinamente / tua presença rara. / Aparecestes com origem e sem
destino / deixando minha carne ávida e minha esperança fugaz. / Sinto vontade
de fulminar esse fremir gigantesco / que é tua ausência pertinaz. / Que vontade
animalesca de beijar-te a boca / lamber tua carne de aspirar teu cheiro
afrodisíaco / que incita meu tino e aguça meus desejos sexuais mas meu medo
insano / me confunde e atormenta agigantando meu fogo / pelo mais lindo dos mortais.
Também merece destaque o seu Deixa: Deixa
eu te ver apalpar-te sentir teu cheiro apertar teu cheiro contra o meu forte,
bem forte como se quisesse tatuar-te em mim beijar-te como se quisesse
fundir-me em ti. Deixa eu ir pra cama contigo e agir como se tu fosses
"meu" primeiro ou último homem ou minha primeira ou última vez quero
ir pra cama contigo e vou saciar minha fome da tua carne minha sede da tua
saliva do teu suor, do teu sêmen, das tuas "lágrimas"... e sentir
doer-me as entranhas como se "um bicho as rasgassem". Deixa eu te
sentir antes que morra em mim a essência humana. Deixa. Amanhã? Não sei se
apenas minha saudade-vontade terá que recordar-te. Deixa? Por fim, destaco
o seu Nós: Eu vou te olhar eu vou tirar
tua roupa eu vou te cheirar eu vou te apalpar teu corpo inteiro lamber eu vou
me deliciar com teu sabor eu vou açular teu juízo despudorar nossas carnes
nossas vontades eu vou tocar cada reentrância da tua geografia como se deve
tocar um recém-nascido fazendo latejar minha derme, epiderme e alterar meu
relógio biológico. Sentirei o teu fogo incitando minha libido sentirei tua
virilidade jorrando teu néctar seminal dentro de mim e ainda dentro de mim teu
gozo nutritivo e na tua cara, teu sorriso atrativo nossos corpos descobrirão
juntos e ao mesmo tempo a satisfação única de sem pressa nem cansaço gozar... E
com muita disposição reiniciar... Conheceremos a grandeza de sermos fêmea e
macho mulher e homem meu e você nós! Veja mais aqui.
LORNA – O drama erótico e gótico independente Lorna (1964), produzido e dirigido pelo
cineasta e fotógrafo estadunidense Russ
Meyer (1922-2004), escrito pelo diretor e por James Griffith, é o primeiro
dos três filmes com Barbara Popejoy,
popularmente conhecida por Lorna Maitland. Conta a história de uma esposa
insatisfeita com seu casamento, envolvendo-se com outros homens na ausência do
marido até ser descoberta por suas traições. É segundo o seu diretor, o exame
brutal das realidades importantes de poder, profecia, liberdade e justiça na
sociedade atual, num contexto de luxúria e violência, onde a simplicidade é
apenas uma fachada. Destaque para a atriz estadunidense Lorna Maitland. Veja mais aqui.









