PROSINHA PARAMIOLÓGICA – Imagem: A
jangada e o céu amarelo, art by Liu
Kojima. - Igarapeba de rio, ubá pelo mar. Ou vice-versa. Pescador de
respeito, não deixa o barco virar. Quem me ensinou a nadar eu não sei, nunca
aprendi. O que é que o rei vê só uma vez, o homem toda vez e Deus nenhuma?
Dá-me só uma, pão-por-Deus! Um pé lá, outro cá: pés em duas canoas. Quem por
gosto corre não se cansa. É só livrar de boca ruim, praga rolou, capaz de pegar
mesmo, avalie, que se espalha feito um rastilho de cobra. É, coisa malfazeja
nunca vem sozinha. Melhor guardar do bem, cumulado de votos amáveis. E a
mula-sem-cabeça? Ah, moça donzela, bonita de se ver. Perdeu-se tão jovem, caiu
na falação. Por causa disso, não pode mais casar. Como é que pode? Foi feito a
comadre e o compadre. Vixe! Pior aquela que se perdeu com o padre e virou
burrinha. Isso é lá coisa que se conte? Oxe, toda sexta-feira, meia noite em
ponto, é a hora dela. Não diga isso. Esconda as unhas e os dentes, senão ela
ataca, chupa os olhos, começa por aí. Se passar correndo por uma cruz, ela logo
aparece. Deite-se de bruços e esconda as mãos. Quando chegar em casa, não
acenda as luzes; espere o dia nascer. Eita, isso é coisa de Trancoso. Minha
porta está aberta, ninguém vem me ver, da janela estreita, tudo ao redor, rumores
de passos na rua, as palavras voam: conversa vai, conversa vem, as parlendas na
boca da noite. Nenhum motivo pra queixa, a farra loquaz: eu quero que me venha
contar o que foi que viste ontem na feira! Deixe de vexame, ora, parece mais
que vai tirar o pai da forca! Eu, não. Esse não entende patavina, não sabe
pataca de qualquer coisa. E a feira tem de tudo, de fruta ao que ver, de tudo
que quiser! Não visse mais nada? Só a mulher buchuda com a barriga pela boca.
Se ela soprar no cangote do marido, ele que enjoa. Não diga isso. E pra
melhorar a situação, ela deve ficar de cócoras e o marido tem que dar três
voltas no oitão. Segura o fandango: caindo no goto de todo mundo! E bate o
coco: Papai me dê dinheiro pra comprar um cinturão que a vida de solteiro é
andar mais Lampião! Não é coisa que se diga: pior do que pé com calo em sapato
novo! Mindinho falou pro Seu Vizinho: jangadeiro de rio veleja pro mar! A pipa
pinga, o pinto pia, quanto mais o pinto pia, mais a pipa pinga! Orvalho não
enche poço, rapaz! E se procuram porcos até as moitas roncam! A voz do
populário dos rincões bafejados pelo ditos e sobreditos, destravou a língua com
os adágios a desforra de trancoso: mande lá adivinhação! Uma anedota que seja,
homem! Seu Vizinho falou pro Maior de todos: Coco pelado, caiu no melado!
Quando Deus andou no mundo onde pôs as mãos na mulher? Segura a munheca, lá vem
travalíingua: corrupaco papaco, a mulher do macaco, ela pita, ela fuma, ela
toma tabaco debaixo do sovaco! Ah, morena, eu apago os faróis e teu fogo. Una,
duna, trena, catena, bico de pena, essa sim, essa não. Escolha muito não. Maior
de Todos pro Fura Bolos: Conheço o pau pela casca, a mulher peça feição, eu
sei, olhando a fumaça, que pau que deu o tição! O infortunado de fadiga no seu
eito penoso, no ponto mais alto do verão: que Deus torne a vida fácil, chuva para
a plantação. Fura Bolos pro Cata-Piolhos: Sou lá pau de dá em doido, hem!
Enquanto isso o papa-figo corre solto no matão. Soa acalanto altas horas,
entonações melífluas da beira do rio para ultramar. Uma noite dentre as noites,
as águas calmas escondem o remexido do fundo. Parece mais cavilação. Não é
isso, não. Reme direito, ué! Eu remo que remo e torno a remar, um dia esse rio
vai me levar além mar. Vai que se perde pelas parêmias. Quer que conte outra
vez? Ah, era uma vez pra quem vai, um filho de qualquer pai, vai pelo mundo sem
fim: ganhará a sorte quem disser sim, a sorte pra quem só diz sim. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música da cantora, violonista e violeira Adriana Farias: Beleza rústica, Viola minha viola, Canarinho do peito
amarelo & Galopeira & muito mais nos mais de 2 milhões &
500 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja
mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Nos
centros urbanos se dramatiza uma tensão chave: entre totalizações do saber que
as descrições das ciências sociais duras produzem e as destotalizações que
geram o movimento incessante do real, as ações imprevistas, aqueles ocos ou
fraturas que obrigam a desconfiar dos conhecimentos demasiadamente compactos
oferecidos pelas pesquisas e estatísticas. [...]. Trecho de Imaginários culturais da cidade:
conhecimento/espetáculo/desconhecimento (Iluminuras, 2008), do antropólogo
argentino Nestor Garcia Canclini.
A TÉCNICA, A COMUNICAÇÃO & A VIDA – [...] Desde
o começo da humanidade sonha-se com isso. Nunca sofrer e nunca morrer. Ou seja,
obter a imortalidade. É o que precisamente a técnica pretende poder dar ao
homem. [...]. Trecho de
entrevista concedida pelo escritor e professor tunisiano Lucien Sfez à Revista Famecos (abril, 2008), que em sua obra
Crítica da comunicação (Instituto Piaget, 1994), assinala que: [...] A comunicação morre por excesso de
comunicação e se acaba em uma interminável agonia de espirais [...], ao
denunciar que um Frankstein tecnológico está ameaçando por se viver num mundo
de máquinas, para fabricar, transportar, pensar, contando-se com a comunicação,
vista como um conceito mágico, um agente invasor ou uma nova ciência litúrgica
do século XXI, para evitar a catástrofe iminente. Para o autor, na sociedade
atual já não se sabe comunicar consigo mesma, por conta dos valores alterados
cujas leis se dissipam e cuja coesão interna é posta em questão. Para ele, o
fator comunicação assume uma relevância inédita em termos históricos por ter a
tarefa desesperada de religar os diversos setores da sociedade mergulhados na
cegueira da especialização, da fragmentação e da confusão dos valores.
O RETRATO DO REI
– [...] Nenhuma mulher devia temer um
homem [...] juntou um arsenal que
daria para prover um grande exercito. Estão todos armados. Não há mais
autoridade. Sem comando não há paz. Prenuncia-se ali o fim da sociedade humana.
[...] isso ainda vai acabar em
desgraça. [...] Vista de longe,
parecia uma cidade limpa, inocente, em estado de graça, sem seus moradores,
seus pecados, suas intrigas. [...] Sua
vida era uma sucessão de perdas. [...] Muitos
homens acreditavam ser pecado manter conversação com mulheres. E talvez fosse
mesmo. [...] Desde criança Francisco
demonstrara vocação religiosa [...] dissera
a mão que queria ser padre. Mas não sonhava apenas ser padre. Queria ser bispo,
quem sabe arcebispo, cardeal, ou até mesmo papa. O pai, ao ouvir a expressão
dos desejos do menino, dissera: És apenas uma fruta podre nos galhos da nossa
família. [...] ajoelhou-se ao lado da
cama, postou as mãos e rezou, piedosamente, pedindo a Deus que realizasse seu
maior desejo: mandar todos os paulistas para o inferno. [...]. Trecho
extraído da obra O retrato do rei
(Companhia das Letras, 1991), da escritora Ana Miranda. Veja mais aqui e aqui.
COPLAS – A tudo, em minha boca, / um sabor de lágrimas se
acresce; / a meu pão cotidiano, a meu canto / e até à minha prece. / Eu não
tenho outro oficio, / depois do silente de amar-te, / que este oficio de
lágrimas, duro, / que tu me deixaste. / Olhos apertados / de candentes
lágrimas! / Boca atribulada e convulsa, / em que prece tudo se tornava! / Tenho
um vergonha / deste modo covarde de ser! / Nem vou em tua busca / nem consigo
também te esquecer! / E há um remoer que me sangra / de olhar um céu / não
visto por teus olhos, / de apalpar as rosas / sustentadas pela cal de teus
ossos! Poema da poeta
chilena Gabriela Mistral (1889-1957), Prêmio Nobel de Literatura
em 1945. Veja mais aqui, aqui e aqui.
A POESIA DE ARTAUD
[...] Se sou poeta
ou ator, não o sou para escrever ou declamar poesias, mas para vive-las. Quando
recito um poema, não é para ser aplaudido mas para sentir os corpos de homens e
mulheres, disse os corpos, tremer e rodar em uníssono com o meu, rodar como se
roda da obtusa contemplação do Buda sentado, pernas cruzadas e sexo gratuito,
para a alma, quer dizer para a materialização corporal e real de um ser
integral de poesia [...] tornem-se
verdadeiros, e que a vida saia dos livros, das revistas, dos teatros ou das
missas que a retêm e a crucificam para captá-la, e que passe para o plano desta
imagem interna de corpos [...].
Pensamento do escritor, dramaturgo e
diretor de teatro francês de aspirações anarquistas Antonin Artaud
(1906-1948), extraído da obra Valise de cronópio (Perspectiva, 2008), de Júlio
Cortázar. Imagem: Evocation d’Antonin Artaud, de Masson Andre (1886-1987). Veja
mais aqui, aqui e aqui.
Jornadas de Economia Política, História
Econômica e Social (III Jephes) & muito mais na Agenda aqui.
&
A arte do pintor ítalo-brasileiro Antonio Rocco (1880-1944) aqui.
&
Renascer
na manhã, a poesia de Manoel de Barros, a universidade de José Arthur Giannotti, a arte de
Marcel Gromaire, a música de Toninho Horta, Badi Assad, Max Richter e Charlotte Gainsbourg aqui.
APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São
Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo. Fone: 11 98499-2985.