segunda-feira, julho 02, 2018

ASHBERY, THOMAS PYNCHON, VIRILIO, MOUNIER, ALCEU VALENÇA, DIANA DOMINGUES & ESTER ROSA


MARIA FULÔ, OROPA, FRANÇA & BAÍA – Toda vez que Maria aparecia com toda pujança buliçosa arrepiando as peles, coisas e ventos na primeira esquina ao descer a ladeira, o coração de Manuel saudava os seus requebros aos pipocos, acompanhando a música dos seus pés, a festa do seu riso, ah coisa bonita medonha, chega dá gosto vê-la toda faceira no rebolado de mexer no juízo e endoidar de vez. Pronde tu vai, Maria? Vou encher o mundo de pernas, seu Manuel! Eita, danada, coisa mais melhor de bom! Ela forrava cama, penteava cabelos, quando não ajeitava enxame, abanava nas quenturas e causava calafrio. Muitos misteres outros ela era capaz, desde alinhar os planetas, cortar unha do pé e da mão, fazia cafuné de deixar o sujeito molinho, tal mucama Nega Fulô, a flor mais apreciada daquela redondeza, toda cheirosa e cheia de feitiços, oh nega tinhosa essa, toda enfeitada e mimosa. Quando se ajeitava, era toda perdição. Pior se tirava o xale e a saia, era uma danação. E lá ia ela e Manuel atrás: Oh, Maria! Vem cá, moléstia dos cachorros! Lá ia ela com o solo da sanfona manhosa nos olhos, um sapecado triângulo na fala cantada a animar os mais mortificados, uma zabumba cadenciada na firmeza da pisada dançante, e Manuel todo arreado aos encantos dela: Vem cá, Maria, que eu quero me achegar. Vou não, seu Manuel, que tu só quer me pegar. Para onde ela ia, Manuel babava atrás: Chega, Maria, deixa da tua ruindade, mulher! Vou não, seu Manuel, sou moça pra casar. E Maria ia com um e com outro, de Manuel endoidar: Dou-te o que quiseres, Maria, vem comigo ficar. Ah só vou se tu me der as naus dos sonhos de Oropa, França e Baía. E onde diabos vou isso buscar, mulher? Se isso me der, contigo hei de casar! E Manuel mais afundava, escravo de grande paixão. No quengo dele ecoava a voz maviosa dela: Eu só quero as naus dos sonhos de Oropa, França e Baía. Tudo fez para que ela entregasse a ele o seu coração. Maria tripudiava: quero isso e aquilo, e Manuel mais pirava: era chita e brebotes, presente daqui e dali, sandálias e vestes aos montes, paparicado de beija-pés até deixá-la montar na cacunda, ele cão sem dono, ela rainha do céu e da terra. E ele só queria com ela a maior chambregação. Mas ela de dengosa, chantageava o cristão: O que é que tu me dá? Tudo que quiseres, princesa! Ainda não me desses a primeira que te pedi! E com isso ela se fazia de difícil, fechava as pernas e o sexo, dele sair enlouquecido, pra superar tanta resistência, o que faço, meu Deus, quanto tormento. Ele então fez promessa de levá-la pra Portugal se com ele se casasse, e quando lá chegasse daria de presente as naus dos sonhos de Oropa, França e Baía. Maria iluminou-se e toda engalanada com ele casou-se. Veio a lua de mel, muitas noites e tantos dias, meses e anos se passando, Manuel em Maria se divertia. Até ela bater o pé na cobrança da promessa. Amanhã ou depois de amanhã, um ano e mais se passou, nada de Manuel cumprir o ajustado. Maria insatisfeita, não diminuiu no badalo, saía de casa três dias, só voltava quando ele apalavrasse o que havia prometido. E assim viviam, vez em quando ela desaparecia, às vezes pra mais de mês, de louco ele sair pelas ruas: Maria, ó Maria! Você viu Maria? Ninguém dela o paradeiro, ele troncho de saudade, trocava a noite pelo dia, cadê aquela nega do cão! Lá vinha Maria, mal chegava e já saía, toda sapecada e apetitosa, dele babar de cair: Vem cá, minha nega sestrosa, vem cá que eu quero amar. Vou não, só quando cumprir o devido. Manuel desfalecia de quase morrer do coração. Não tinha outra escolha, desconfiado contratou um patrício detetive: Descubra se Maria anda a me trair. Pois, pois. E ficava ele esperando, toda vez que ela sumia. Pra mais de ano chega o contratado: E aí, patrício, o que é que tu viste? Ah, não vi nada não: só vi um cu enterrado e outro pulando chão. Só. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do cantor e compositor Alceu Valença: Oropa, França & Baía ao vivo, Sol e Chuva, Maracatus, batuques e ladeiras & seus grandes sucessos com muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui & aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Quando já não tivermos possibilidades de sucessão, resta-nos testemunhar. Não se perde a vida daqueles que souberam dar largo testemunho. Conhecemos a fragilidade de nossas forças e do sucesso, mas conhecem também a grandeza do nosso testemunho. Eis por que conduzimos sem hesitação a nossa tarefa na certeza da nossa juventude. [...]. Pensamento do filósofo francês Emmanuel Mounier (1905-1950).

O HUMANO & O DIVINO - [...] As referências místicas são as únicas que permitem compreender as teletecnologias, já que tocam a ubiquidade, ao imediato, ao instantâneo, a omnividência, que são atributos do divido e não do humano. [...]. Pensamento extraído de Rato de laboratório (L’Autre Journal), do filosofo, arquiteto, urbanista, pesquisador e polemista francês Paul Virilio. Veja mais aqui.

CONTRA O DIA - [...] Por toda a extensão verdejante que se descortinava abaixo, à luz declinante da tarde, por entre as formas estelares dos sacos de areia estourados, correndo a todo vapor, como se por um firmamento terreno, seguia um cavalheiro corpulento de paletó esporte e calções de golfe, apertando o chapéu de palha contra a cabeça com uma das mãos e com a outra mantendo equilibrada no ombro uma câmara fotográfica presa a um tripé. Logo atrás dele vinha a mulher que fora vista por Blundell, carregando uma trouxa de roupas femininas, embora no momento trajasse pouco mais que uma espécie de diadema floral, vistosamente inclinado em meio à farta cabeleira loura. A dupla parecia dirigir-se a um bosque próximo, dirigindo de vez em quando um olhar apreensivo ao enorme invólucro de gás do Inconveniência, que descia, como se fosse ele um imenso globo ocular, talvez o próprio olho da Sociedade, sempre a vigiar do alto, num espírito de censura construtiva. Quando Lindsay conseguiu arrancar o instrumento óptico das mãos úmidas de Miles Blundell e induzir o jovem consequentemente frustrado a lançar fateixas e ajudar Darby a afixar o grande aeróstato à “Mãe Terra”, o casal indecoroso já havia desaparecido em meio à vegetação, tal como em breve toda essa parte da República haveria de desaparecer na escuridão crescente. [...]. Trecho extraído da obra Contra o dia (Companhia das Letras, 2012), do escritor estadunidense Thomas Pynchon.

TAPEÇARIA - É difícil separar a tapeçaria / Do lugar ou tear que a antecede. / Pois deve ficar sempre de frente ainda que pendendo para um lado. / Ela insiste nesse retrato da “história” / Por fazer, porque não há como escapar do castigo / Que ela propõe: a visão cega pelo sol. / A vista é engolida com o que é visto / Numa explosão da consciência súbita de seu esplendor formal. / A visão, vista como interior, / Registra sobre o impacto de si mesma / Recebendo fenômenos e, nisso, / Traça um esboço ou uma planta / Do que estava lá agora há pouco: certo na risca. / Se tem a forma de um cobertor, isso é porque / Ansiamos, ainda assim, por nos enrolarmos nela: / Esse deve ser o lado bom de não experienciá-la. / Mas, em alguma outra vida, que o cobertor retrata, de qualquer modo, / Os cidadãos mantém um com o outro um comércio agradável / E beliscam as frutas sem empecilhos, como querem, / E as palavras choram por si próprias, deixando o sonho / Revirado numa poça em algum lugar / Como se “morto” não passasse de mais um adjetivo. Poema do poeta estadunidense John Ashbery (1927-2017).

ABRIU-SE A BIBLIOTECA... MITOS, RIMAS, IMAGENS, MONSTROS GENTES E BICHOS
A biblioteca é um lugar de encontros. Encontros com histórias, encontro com leitores.
Neste final de semana tive acesso ao livro Abriu-se a biblioteca… mitos, rimas, imagens, monstros, gente e bichos (UFPE-2014), organizado pelas professoras Ester Calland de Sousa Rosa e Maria Helena Santos Dubeux, contendo relatos de sequências didáticas com a temática do desenvolvimento da leitura literária nas escolas, um trabalho desenvolvido pelo Centro de Estudos de Educação e Linguagens (CEEL). Da psicóloga e professora mestre em Educação pela UFPE e doutora em Psicologia pela USP, Ester Calland de Sousa Rosa, tive acesso a outras de obras e publicações por ela coordenadas, a exemplo de O fazer cotidiano na sala de aula: A organização do trabalho pedagógico no ensino da língua materna, com Andréia Tereza Brito Ferreira, Ler e escrever na educação infantil: Discutindo práticas pedagógicas, com Ana Carolina Perrusi Brandão, e Os saberes e as falas de bebês e suas professoras, com Tacyana Karla Gomes Ramos.
IX Colóquio Internacional de Filosofia e Educação (CIFE) & muito mais na Agenda aqui.
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A arte da professora, pesquisadora e artista multimídia Diana Domingues.
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Freyaravi & o circo dos prazeres, Cultura de consumo de Mike Featherstone, Kama Sutra de Vātsyāyana, Contos brasileiros de Julieta de Godoy Ladeira, a fotografia de Ralf Mohr, World Peace Flame Humanitarian Projects, a música de Marisa Monte, a arte de Crystal Barbre & Luciah Lopez aqui.
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Lualmaluz, De segunda a um ano de John Cage, Técnica e ciência de Jürgen Habermas, a literatura brasileira de Nelson Werneck Sodré, a escultura de George Kurjanowicz, a música de Sally Seltmann, a arte de Théodore Géricault, Moisés Finalé, Marni Kotak & Luciah Lopez aqui.
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Apologia à mentira, Jogo dos possíveis de François Jacob, a escultura de Pierre-Nicolas Beauvallet, a música de Alceu, Tavito, Joyce, Eliane Elias, Maria Rita, Yuja Wang, Arrigo & Marcus Vianna; a arte de Axel Zamudio & John Harding aqui.

APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo.


CHRISTINA VASSILEVA, KATHERINE JOHNSON, MARTÍN-BARÓ, JOÃO CABRAL & MATA SUL INDÍGENA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Mistérios do Rio Lento (The Voice of Lyrics, 1998), Santiago de Murcia: a portrait (Frame,...