A ARTE PARA IMORTAL AMADA – Imagem: art by Boz Vakhshori. - Os tons e a surdez:
restava mais nada, a vida era só um detalhe de Deus. Desde muito jovem condenado
por Albrechtsberger: nunca aprendeu nem aprenderá, é um caso perdido. Jovem
leão enjaulado, nada mais que um louco espanhol do gênio fogoso e língua mordaz:
um campônio que desbancava a etiqueta da nobreza à custa de suas próprias mãos:
príncipes, muitos; gênio, só eu. Umas poucas mordidas de mosquitos jamais
poderão sofrear um garanhão, mesmo com os sintomas da surdez à flor da idade: a
solidão é a minha religião. Saía à conquista das damas do remoinho social de
Viena, com as cartas de plebeu e suas queixas inconsoláveis para
Amada Imortal que pedia fizesse tudo para que ela pudesse viver com ele. Harmonias
e melodias cresceram: Für Elise – à cantora
de ópera Elisabeth Röckel do pedido de casamento malogrado; a frágil Antonie
Brentano, Madalena Willmann, Josephine Brunsvik, outras tantas e muitas, elas
sabiam: não se flerta com um Deus feio e surdo. Para ele, devia viver como
exilado: vagar para longe sem rumo, até que possa voar em teus braços, e possa
dizer que estou inteiramente em casa contigo, permanecendo meu fiel e único
tesouro. Eis daí o cântico da liberdade Fidelio baseado
em Bouilly; as sonatas, ao Luar no Lago Lucerna suíço, quase uma fantasia
melancólica; a Patética, Appassionata, trinta e duas ao todo, mais Concertos, Oratórios, Missas, Quartetos, Septeto, Trios,
Missas, Fantasias, Bagatelas, Lieds à amada longínqua, todas com tragicidade
profunda e humorismo exuberante. Vieram sinfonias, a primeira, a gênese; a
segunda, o horrível dragão que se retorce negando-se a expirar; a revolução
ternária da terceira, interpretando as
ideias de Deus; o eterno mistério da quarta, o amor, a paixão e a dúvida
existencial; a do Destino, Eroica, em memória de um grande homem e sua obsessão Liberté, Égalité, Fraternité; a
sexta Pastoral, o citadino que vai para o campo e mergulha em sentimentos
bucólicos, a tempestade e o Hino de Ação de Graças; a poética sétima explorando
todos os níveis da consciência de si mesmo; a emancipação da oitava, a
transformação; a sublime elevação fraternal da nona: foi para isso que Deus criou o mundo! Com os versos da Ode à Alegria de
Schiller e a chegada da fictícia copista Anna
Holz, o segredo. Se não fosse A raiva pelo tostão perdido - rondó em sol maior,
e o Testamento de Heiligenstadt para Caspar e Nicolaus, nunca enviado e
guardado na gaveta, a depressão e suicídio que levaram o eremita rebelde na casca da rudeza, um hipocondríaco:
devo a mim mesmo, ao gênero humano e ao Todo-Poderoso, a arte apenas me
susteve. É que a felicidade não foi feita para ele: não fui feito pra
felicidade, quem sente intensamente, sofre intensamente. A felicidade do
artista está dentro dele mesmo porque a arte justifica o sofrimento da vida: Sede
abraçados pelo amor, milhões! Aí vai um beijo para o mundo inteiro, a tônica da
vida é o amor. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do compositor alemão Arnold Schönberg (1874-1952): Pierrot Lunaire, Transfugured Night for
String Sextet op. 4, Verkl&arte Nacht op 4 & Pélleas und Melisande op 5
& muito mais nos mais de 2
milhões & 500 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja
mais aqui, aqui e aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Onde
e como se produz esse descentramento como pensamento da estruturalidade da
estrutura? Para designar esta produção, seria algum tanto ingênuo referirmo-nos
a um acontecimento, a uma doutrina ou ao nome de um autor. Esta produção
pertence certamente à totalidade de uma época, que é a nossa, mas ela já começou há muito a anunciar-se e a
trabalhar. [...] Se a totalização não
tem sentido, não é porque a infinidade de um campo não possa ser coberta por um
olhar ou um discurso finitos, mas porque a natureza do campo – a saber, uma
linguagem e uma linguagem infinita – exclui a totalização. [...] Este campo permite estas substituições
infinitas porque, em vez de ser um campo inesgotável, como na hipótese
clássica, em vez de ser demasiado grande, lhe falta alguma coisa, a saber, um
centro que detenha e funde o jogo das substituições. [...]. Trechos
extraídos da obra A escritura e a diferença
(Perspectiva, 2002), do filósofo francês Jacques Derrida (1930-2004). Veja mais aqui.
AVANÇOS & RETROCESSOS: CIÊNCIA & RELIGIÃO - [...]
Desde o início de 2004, as notícias sobre
células-tronco têm sido animadoras: pacientes são tratados, pesquisadores
coreanos têm sucesso na clonagem terapêutica, células-tronco embrionárias
formam neurônios. Enquanto a ciência avança a passos gigantescos no exterior, o
Brasil luta para conseguir iniciar pesquisas com células-tronco embrionárias.
Conseguiremos recuperar o tempo perdido? [...] O que precisa ser desmistificado? Por que as células-tronco
embrionárias são tão importantes? Somente as células-tronco embrionárias são
pluripotentes. [...] A esperança é
que inúmeras condições, muitas delas letais na infância ou no início da idade
adulta, tais como algumas doenças neuromusculares, diabetes, mal de Parkinson,
lesões de medula possam ser tratadas pela substituição ou correção de células
ou tecidos defeituosos. [...]. Mas,
para chegar lá, ainda temos inúmeros obstáculos a vencer. [...] Utilizar células-tronco de embriões
congelados equivale a um aborto, afirmam alguns grupos religiosos.
Definitivamente não! No aborto provocado, interrompe-se a vida de um feto que
está dentro do útero da mãe. Já no caso de embriões congelados em um tubo de
ensaio nas clínicas de fertilização, não há chance de vida se não houver
introdução do embrião dentro do útero. Na prática, esses embriões ficam
congelados por anos, tornam-se inviáveis e são descartados. Do ponto de vista
científico, a grande vantagem das células-tronco retiradas de um embrião
congelado é que, até a fase de cento e poucas células, elas são pluripotentes.
[...] A expectativa de um tratamento para
inúmeros pacientes condenados deve estar acima de dogmas religiosos. [...].
Trechos extraídos de Conseguiremos
recuperar o tempo perdido? (Folha de São Paulo, 2005), da bióloga molecular
e geneticista Mayana Zatz, Veja mais aqui.
CENAS DA VIDA – [...] Na verdade, acho
que não existe povo no Brasil. Somos um bando de bois e vacas infestados por
bernes gordos que não saem de nossas costas. Santo Agostinho disse que “povo é
um conjunto de pessoas racionais unidas pelo mesmo sonho”. O Geraldo Vandré
disse a mesma coisa, com poesia diferente: “Caminhando e cantando e seguindo a
canção”. É isso: há de haver uma canção que todos cantam e que indica o
caminho. O Chico, nos anos de ditadura, esperto como ele só, falou de um jeito
que os milicos não entenderam (milicos e cientistas são duros de entender
metáfora. Sobre os milicos eu já sabia. Sobre os cientistas aprendi na última
reunião da SBPC). Falou de uma Banda.
“Estava à toa na vida, o meu amor me chamou, pra ver a banda passar, cantando
coisas de amor”. Aí ele desanda a falar do faroleiro que contava vantagem, da
namorada que contava as estrelas, do homem rico que contava o dinheiro, da moça
feia debruçada na janela, cada um com o seu sonho pequeno. Mas foi só a Banda tocar para que cada um deles se
esquecesse dos sonhos pequenos por amor ao sonho grande. Começaram a seguir a Banda: viraram povo. Um povo nasce quando as pessoas
trocam seus sonhos pequenos (individuais) por um sonho grande (comum). Um líder
político é aquele que ajuda um povo a nascer. Mas um povo só nasce quando os
indivíduos são seduzidos por um sonho de beleza. A beleza do sonho é a comida
que mantém a vida do povo. [...] Que sonho temos? Moeda estável, sem
inflação? Mas isso não é sonho que chegue para formar um povo. É verdade que
inflação é barco furado. Com barco furado não se navega. Verdade é também que
moeda estável é barco sem furo. Mas barco sem furo não basta pra navegar. Pra
navegar é preciso sonhar com um porto. Esse porto, na linguagem da política, tem
o nome de utopia. Vão me dizer
que utopias são inatingíveis.
[...] A mágica presença das estrelas! É
isso que os políticos nos roubaram. Os povos estão sempre dispostos a passar
pelas mais duras provações, desde que essas mesmas provações tenham um sentido:
as dores de parto são bem-vindas pelo filho que vai nascer. O presidente se
esqueceu do povo. O povo não é o seu “outros significantes”. Por isso ele não
gasta tempo para fazer o povo sonhar. Estamos “desgarrados e errantes como
ovelhas que não têm pastor…”. O tempo da ditadura era noite. Mas no céu havia
estrelas. Eu sonhava. Veio o dia. Mas a noite continuou. Céu sem estrelas. Já
não sonhamos. Resta-nos a dura vida sem sonhos. [...]. Trechos da crônica O fim da banda, extraído da obra Cenas
da vida (Papirus/Speculum, 1997), do
psicanalista, educador, teólogo e escritor Rubem Alves (1933-2014). Veja
mais aqui e aqui.
DOIS POEMAS – CANTIGA: Eu cantar, cantar, cantei; / a graça não era muita, / pois nunca por meu
pesar, / fui eu menina graciosa. / Cantei como foi possível, / dando voltas e
mais voltas / assim como quem não sabe / perfeitamente uma cousa. / Porém
depois de mansinho / e um pouco mais alto agora, / fui soltando essas cantigas
/ como quem não quer a cousa. / Eu bem quisera, é verdade, / que elas fossem
mais bonitas; / eu bem quisera que nelas / bailasse o sol com as pombas, / as
brancas águas com a luz, / e os ares mansos com as rosas. / Que nelas claras se
vissem / a espuma das verdes ondas, / do céu as brancas estrelas / da terá as
plantas formosas, / as névoas de cor sombria / que lá nas montanhas voam; / os
pios do triste mocho, / as campainhas que dobram / a primavera que ri, / e os
passarinhos que voam. / E canta que canta, enquanto / os corações tristes
choram. / Isto e ainda mais quisera / dizer com língua graciosa; / mas onde a
graça me falta, / o sentimento me sobra. / Entretanto isto não basta / par
explicar certas cousas / que, às vezes, por fora um canta / enquanto por dentro
chora./ Não me expliquei qual quisera: / sou de pouca explicação; / se graça em
cantar não tenho, / o amor da terra me afoga. / Eu cantar, cantar, cantei, / a
graça não era muita, / mas que fazer — desgraçada! — / se não nasci mais
graciosa. AONDE IREI COMIGO? ONDE ME ESCONDEREI? - Aonde irei comigo?
Onde me esconderei, / que já ninguém me veja e eu não veja ninguém? / A luz do
dia assombra-me, pasma-me a das estrelas, / e os olhares dos homens na alma me
penetram. / Pois o que guardo dentro em mim penso que ao rosto / me sai, como
do mar ao fim um corpo morto / Houvesse, e que saísse!...; mas não, te levo
dentro, / fantasma pavoroso dos meus remordimentos! Poemas
da escritora espanhola Rosalia de Castro
(1837-1885)
LOJA DE RÉPTEIS
O curta-metragem Loja
de Répteis, do cineasta Pedro Severien, é um drama psicológico que conta a
história que se passa no Recife, de horror expressionista vivida por um casal,
um dono de loja de repteis e sua esposa, que é quieto e mantem uma estranha
conexão com os animais, e ela está disposta a se livrar daquilo
O Centro
Cultural Vital Corrêa de Araujo informa:
Os livros
ID & A poesia salva a alma & muito mais na Agenda aqui.
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Ele via a
mulher como um ser superior, uma figura dominante que estava acima dos homens.
As mulheres retratadas quase sempre são poderosas – mesmo quando as retrata aparentemente
submissas, parece uma concessão que a mulher fez como um gesto nobre a fraqueza
masculina em resistir ao seu poder.
A arte
do pintor simbolista austríaco Gustav Klimt (1862-1918) e sua eterna
musa inspiradora, a designer de moda e empresária austríaca Emilie Louise Flöge (1874-1953) aqui.
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Porque era sábado no Una, Mal de Arquivo de Jacques Derrida, Guido Bilharinho, o teatro
Oficina de José Celso Martinez Correa, a arte de Hamid Zavareei, a música de Paulo Moura, Eugénia Melo e Castro, Pat Metheny & Tomoko Mukaiyama aqui.
APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São
Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo. Fone: 11 98499-2985.