TUDO CERTO, FABO! - Pra Fabo que se preze está tudo bem, tudo
certo. Não passa em branco pelas quatro festas do ano: carnaval, maior folião,
bronca pra lá, da sexta de Zé-Pereira emendada até só depois do meio dia da
quarta-feira de cinzas, aí é que encara – pra ele, o Reino do Momo deveria ser
a semana toda, aliás, o mês de fevereiro completo, ora. No São João, de
primeiro de junho, passando por SantAntonho, até o final do mês de SumPedinho,
maior rastapé – pensar na vida, pra quê? Simbora. No Natal obra caridade e faz
cara feia, Deus é brasileiro; e no Ano Novo, pula onda, faz promessa, projeto
de vida, simpatia pra enricar e seja lá o que Deus quiser! Isso sem contar que
é festa pra todo final de semana: boca de ponche pega arrego até em festa
infantil. Durante a semana, da segunda de ressaca começa a dar seus pulos pra
chegar na sexta de pé na goela, vôte! Se não deu, parte pra outra, promove maus
rótulos: uma boquinha aqui, um ajeitado ali, tudo na base da cama de gato e
toque de arrodeio. Completamente imoderado, manguinhas de fora: dá-se uma mão,
quer levar logo os pés. Farejador manhoso, rói caladinho pelas beiradas, se
aproveita das catástrofes e passa por dignitário. Deprimiu com a angústia de corno,
mata ou não mata, bola pra frente e haja mola no trampo, só corre atrás do
troco, da sorte e da oportunidade. Passa recibo e paga pra ver. Vacila e paga
mico, sai de mansinho: pega o beco. Pra tudo tem jeitinho, ora, ora. Ah, se
soubesse! Aprende na marra magoando a pereba da canela, ai, cada raladura só
carne viva, fratura exposta, mandíbula deslocada, clavícula fraturada, ai o
calo do dedo mindinho quando o sapato aperta, acocha o cinturão, se vira com a
dor de dente, gel nas olheiras e ronchas, arranhou o pau da venta, levou puxão
de orelha, um safanão aqui, cutucada no espinhaço acolá, eita, descompostura!
Pede pra São Lunguinho achar o que perdeu da vergonha, cara mais lisa; lavou,
está novo, ora. Puxa o carro. E se a coisa empena, lá vem o enterro voltando. O
ruim é espragatar a verruga quando cai de joelhos, valha-me! Está nem aí se a
educação é da pior qualidade – uma fábrica de moldes só pra servir o mercado,
que é que tem? -, se quiser da boa que pague e olhe lá! Nem esquenta se não tem
atendimento médico ou saúde – se quiser, ora, pague plano de saúde. E paga de
novo. Quando precisa: seis meses pra ser atendido, xinga a mãe do guarda e faz um
auê aos esporros na maior saia justa, desce do tamanco e fecha pra balanço,
quando não o quarteirão. Nem liga se não tem direitos, Justiça só pra proteger
quem detém poder – e sobrevive à força de lambidas e babações, cada qual que
emboneque seu padrinho, meu! Aí fura fula, mexe os pauzinhos, sombra de
costa-larga vale. Se aparecer emprego, só serve se não der trabalho. Se está na
reta, desinreta; depois quer enretar, maior bronca. Quem quiser que fique pra
trás, vai de venta empinada e beiço virado. Pensa que está abafando, o vulgo condena:
só faz merda. Como se acha o supra sumo dos perspicazes, alimenta grandíssimas
ambições, esquisitices e extravagâncias. Ah, quando veste
a camisa da seleção, civismo ufano e bairrismo chauvinista, maior garra e
torcida, todo mundo junto e pra frente – mesmo que seja o maior ré-pra-trás no
revestrés! Na hora de construir um país melhor, é cada um por si, o outro que
se foda! E vamos aprumar a conversa! © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais abaixo e aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música da saudosa cantora argentina Mercedes Sosa (1935-2009) – La Negra, A Voz dos Sem Voz: Concierto
em el Rosedal, Trinta Años, Festival Viña del Mar & Volver a los 17 com
Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso & Gal Costa & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog
& nos 35 Anos de Arte
Cidadã. Para
conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui & aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Estamos entrando numa fase nova e perigosa.
Estamos entrando na fase das terapias ‘estimulantes’: ligando-nos em cura
instantânea, em consciência sensorial instantânea. Estamos entrando na fase dos
homens charlatães e de pouca confiança, que pensam que se vocês obtiverem
alguma quebra de resistência estarão curados, sem considerar qualquer
necessidade de crescimento, sem considerar o potencial real, sem considerar o
gênio inato em todos vocês. [...]. Trecho
extraído da obra Gestalt-terapia explicada
(Summus, 1976), do psicólogo, psicoterapeita e psiquiatra alemão Fritz
Perls (1893-1970), que em outra de suas obras, Fome e agressão: uma revisão da teoria e do
método de Freud (Summus, 2002),
expressou: O conflito mais importante que
pode levar a uma personalidade integrada ou a uma neurótica é o conflito entre
as necessidades sociais e as biológicas do homem [...] com muita frequência o autocontrole exigido socialmente pode ser alcançado
apenas à custa da desvitalização e do enfraquecimento das funções de grandes
partes da personalidade humana — à custa da criação de neurose coletiva e individual
[...]. Veja mais aqui.
CORPO A CORPO – [...]
A propriedade
privada tornou-nos tão estúpidos e unilaterais que um objeto só é nosso quando
o temos, quando existe para nós como capital ou quando é imediatamente
possuído, comido, bebido, vestido, habitado, em resumo, utilizado por nós. [...] Em lugar de
todos os sentidos físicos e espirituais apareceu assim a simples alienação de
todos esses sentidos, o sentido do ter. O ser humano teve que ser reduzido a
esta absoluta pobreza, para que pudesse dar à luz a sua riqueza interior
partindo de si. [...]. Trecho extraído da peça teatral Corpo a Corpo (Vozes. 1999), do dramaturgo, ator e diretor de
teatro e televisão Oduvaldo Vianna Filho
– Vianinha (1936-1974), que sobre a peça expressou: Corpo a Corpo não é uma experiência formal nova. É tradicional. Mas a
sensação de ir descamando a realidade, de ir tirando pedaços e pedaços de sua
superfície para chegar mais e mais até a sua intimidade, seus núcleos, foi o
meu propósito. A tonteira da razão. O nunca acabar de relações que dão ao indivíduo,
tiram-lhe a razão, formam novas sínteses, desbordam de novo. Uma sanfona de
Luís Gonzaga, esticando, tocando, tocando sempre. Noutro texto do autor Um pouco de pessedismo não faz mal a ninguém,
recolhido da obra Vianinha: teatro,
televisão e política (Brasiliense,1999), de Fernando Peixoto, o dramaturgo
expressa: [...] Estamos convencidos de
que o trabalho cultural, como todo trabalho, tem por exigência básica a
qualidade. Mas, sobre o conceito de qualidade, pesam inúmeros equívocos. Do
nosso ponto de vista, a qualidade de uma obra resulta da formulação adequada da
experiência na complexidade de suas contradições, isto é, na sua natureza
dialética. Conclui-se daí que uma visão estreita do mundo não pode produzir boa
obra, pelos simples fato de que, na sua limitação, é incapaz de revelar o
verdadeiro conteúdo da realidade de que trata. Assim como não basta estar
teoricamente armado de uma visão justa para obter resultados artisticamente
positivos, pode um escritor alienado criar boa arte, desde que, no processo
formulativo — no fazer —, consiga ampliar sua visão o suficiente para abranger
as contradições inerentes a ela. O que não quer dizer que as obras estejam despidas
de caráter ideológico ou de classe, mas que elas podem ter qualidade apesar disso.
A liberdade é, portanto, condição necessária do trabalho criador. Numa entrevista
recolhida da mesma obra, Vianinha trata que: Para reduzir uma sociedade de mais de cem
milhões de pessoas a um mercado de vinte e cinco milhões de pessoas é preciso
um processo cultural muito intenso, muito elaborado e muito sofisticado, muito
rico, para manter, para fazer com que as pessoas aceitem ser parte de um país fantasma,
um país inexistente, de um país sem problemas,
[...] porque parece que realmente precisa, para circunscrever a minha visão de
existência social a esse círculo muito fechado, da duplicação dos produtos de
consumo. [...] Veja mais aqui e aqui.
ILUMINEMOS PEQUIM! – [...] O
Imperador sentou-se no trono e assim falou: - A nossos ouvidos chegou a voz de
que as grandes cidades habitadas pelos bárbaros de pele branca, quando a noite
desenrola das alturas do céu os véus da sombra, são iluminadas por milhares de
luzes em cada rua e em cada praça. [...] Tomai do nosso tesouro um milhão de taels, e que as ruas de Pequim
sejam iluminadas como pela luz do sol. – A cidade será iluminada – respondeu o
Camareiro-Mor, e, executando o Kolow, abandonou a audiência imperial. [...]
Ali esperava o seu ajudante. - Chame o
Grande Eunuco – ordenou. [...] – Saiba,
Grande Chefe dos Eunucos, que o Filho dos Céus (que reine por dez mil anos),
pela bondade de sua alma, me entregou mil taels a fim de que as ruas de Pequim
resplandeçam à noite como de dia. Que as ruas da cidade sejam portanto
imediatamente iluminadas. – Ouvir é obedecer! – respondeu o outro,
inclinando-se e cumprimentando, conforme o ritual. [...] – O Augusto Imperador – disse o Grande Eunuco –
em sua magnanimidade, estabeleceu duzentos e cinquenta mil taels para que as
ruas de Pequim sejam iluminadas à noite! Providencie. – O Filho do Céu só
concebe o que é justo. Nossa cidade será a maior do mundo. Apresso-me a
executar a vontade do Filho do Céu – respondeu o Governador Militar, que voltou
imediatamente a seu yamen e mandou chamar o Chefe dos Magistrados. [...] – Tenho o prazer e a honra de informa Vossa
Excelência que a Sublime Serenidade, o Filho do Céu, resolveu gastar cem mil
taels para que Pequim seja iluminada à noite. Vossa Excelência providencie. –
Obedeço incontinente – foi a resposta. E subindo no palanquim, o Chefe dos
Magistrados fez-se levar ao escritório dos Vigilantes da Cidade. [...] – O Filho do Céu deu-me cinquenta mil taels
para que Pequim seja iluminada à noite. Providencie até amanhã ou receie o seu
rigor! Grande foi a surpresa da população de Pequim quando deparou, na manhã
seguinte, afixado por todos os cantos da cidade, com este manifesto: “A Serena
Sublimidade, o Filho do Céu, o Augusto Imperador, Soberano do Império do Meio,
Senhor dos Países Bárbaros, Vassalos e Tributários, decretou que todas as ruas
e praças de Pequim sejam e permaneçam iluminadas desde a primeira hora da noite
até o romper da aurora. Todo chefe de família, todo artesão, todo mercador,
providenciará, portanto, para que seja aceso um lampião fora da porta externa
de sua casa, de sua oficina, de sua loja. Perderá a vida quem transgredir a
ordem, que será cumprida com o máximo rigor. E foi assim que o Imperador, na
noite seguinte, olhando pelas janelas do sétimo andar do pagode de porcelana construído
sobre a colina artificial do jardim imperial, pôde ver a cidade iluminada como
por milhões e milhões de vagalumes, animais diminuídos que devoram a vasta
escuridão, mas não souve jamais de que forma tinha sido gasto o milhão de taels
que orçara para aquele fim. Trechos do conto do escritor chinês Ka-Lao-Yeh, recolhido de Maravilhas do
conto humorístico (Cultrix, 1969), organizado por Mariano Torres.
BRASI DE CIMA E O BRASI DE BAXO – Meu compadre Zé Fulô, / Meu amigo e companhêro, / Faz
quage um ano que eu tou / Neste Rio de Janêro; / Eu saí do Cariri / Maginando
que isto aqui / Era uma terra de sorte, / Mas fique sabendo tu / Que a misera
aqui no Su / É esta mesma do Norte. / Tudo o que procuro acho. / Eu pude vê
neste crima, / Que tem o Brasi de Baxo / E tem o Brasi de Cima. / Brasi de
baxo, coitado! / É um pobre abandonado; / O de Cima tem cartaz, / Um do ôtro é
bem deferente: / Brasi de Cima é pra frente, / Brasi de Baxo é pra trás. / Aqui
no Brasil de Cima, / Não há dô nem indigença, / Reina o mais soave crima / De
riqueza e de opulença; / Só se fala de progresso, / Riqueza e novo processo / De
grandeza e produção. / Porém, no Brasi de Baxo / Sofre a feme e sofre o macho /
A mais dura privação. / Brasi de cima festeja / Com orquestra e com banquete, /
De uísque dréa e cerveja / Não tem quem conte os rodete. / Brasi de baxo,
coitado! / Vê das casa despejado / Home, menino e muié / Sem achá onde mora / Proque
não pode pagá / O dinhêro do alugué. / No Brasi de Cima anda / As trombeta em
arto som / Ispaiando as propaganda / De tudo aquilo que é bom. / No Brasi de
Baxo a fome / Matrata, fere e consome / Sem ninguém lhe defendê; / O desgraçado
operaro / Ganha um pequeno salaro / Que não dá pra vivê. / Inquanto o Brasi de
cima / Fala de transformação, / Industra, matéra-prima, / Descoberta e
invenção, / No Brasi de Baxo isiste / O drama penoso e triste / Da negra
necissidade; / É uma cousa sem jeito / E o povo não tem dereito / Nem de dizê a
verdade. / No Brasi de Baxo eu vejo / Nas ponta das pobre rua / O descontente
cortejo / De criança quage nua. / Vai um grupo de garoto / Faminto, doente e
roto / Mode caçá o que comê / Onde os carro põem o lixo, / Como se eles fosse
bicho / Sem direito de vivê. / Estas pequena pessoa, / Estes fio do abandono, /
Que veve vagando à toa / Como objeto sem dono, / De manêra que horroriza, / Deitado
pela marquiza, / Dromindo aqui e aculá / No mais penoso relaxo, / É deste Brasi
de Baxo / A crasse dos marginá. / Meu Brasi de Baxo, amigo, / Pra onde é que
você vai? / Nesta vida do mendigo / Que não tem mãe nem tem pai? / Não se
afrija, nem se afobe, / O que com o tempo sobe, / O tempo mesmo derruba; / Tarvez
ainda aconteça / Que o Brasi de Cima desça / E o Brasi de Baxo suba. / Sofre o
povo privação / Mas não pode recramá, / Ispondo suas razão / Nas colunas do
jorná. / Mas, tudo na vida passa, / Antes que a grande desgraça / Deste povo
que padece / Se istenda, cresça e redobre, / O Brasi de Baxo sobe / E o Brasi
de Cima desce. / Brasi de Baxo subindo, / Vai havê transformação / Para os que
veve sentindo / Abandono e sujeição. / Se acaba a dura sentença / E a liberdade
de imprensa / Vai sê lega e comum, / Em vez deste grande apuro, / Todos vão te
no futuro / Um Brasi de cada um. / Brasi de paz e prazê, / De riqueza todo
cheio, / Mas, que o dono do podê / Respeite o dereito aleio. / Um grande e rico
país / Munto ditoso e feliz, / Um Brasi dos brasilêro, / Um Brasi de cada quá,
/ Um Brasi nacioná / Sem monopólo estrangêro.
Poema extraído da obra Cante lá que eu canto cá: filosofia de um trovador
nordestino (Vozes,1 984), do poeta popular, compositor, cantor e
improvisador Antônio Gonçalves da Silva, mais famoso como Patativa do Assaré
(1909-2002). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
BIOGRAFIA DO FABO & FECAMEPA
O
brasileiro é só um CPFabo arrodeado de golpes por todos os lados!
Veja mais
(é só clicar sobre os títulos):
Abundâncias fabísticas - quando um Fabo faz das suas, valham-me todos os santos,
é uma tragédia: não prevê a descarga e, muito menos, a enrabada geral!!
Dicionário Tataritaritatá: o Pai dos Fabos
Burros, apedeutas graduados e intelectuais de
sovaco
&
Os milagres de Alagoinhanduba, A
história secreta de Donna Tartt, a dança
de Ana Botafogo, a música de Toquinho,
Rosa Passos, João Bosco & Paula Morelenbaum; a arte de Artemisia
Gentileschi & a poesia de Edjane Leal Cruz aqui.
APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São
Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo.