terça-feira, novembro 19, 2024

PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

 

Imagem: Foto AcervoLAM.

Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira.

 

Lua de Maceió... - Não era a desejada de Morango, ah, tem nada não. Fazer o quê? Inadvertido quase deixei passar a do Castor que fugia das nuvens naquela manhã quase nublada. A surpresa: nela a deusa Ya-cy levada pelo raio de Aram e quase escondida pelos galhos abundantes. Era ela, sim. E me viu ali, vigilante. Fez a volta e lá vinha em minha direção. E eu: prestes a me sentir levado pelo estrondoso impacto do asteroide Apophis dentro de mim. Aproximou-se rutilante a levitar lenta e elegantemente, como quem desce emoldurada pela constelação da Anta, um convite para a festa. Achegou-se como se fosse a bela estrela Naiá incendiando a solidão primaveril dos meus sonhos insensatos – um frio na barriga, vertigem nas ideias e agora o que poderia fazer, sei lá. E dei fé ali, olhos nos meus e o sorriso ensolarado: Awê! Tudo fiz para manter a lucidez, segurava a onda como podia. Abriu-me os braços como quem regia a vida marinha no meu sangue em pororoca. Já quase amanhecia e ali chegou para danação de tudo nas minhas entranhas, revolvendo as mais remotas memórias do que sequer sabia. Retribuí seu efusivo contentamento. Fiz-lhe as honras e já me tinha por Jáxi, o caçula irmão do Guaraci, embalado por verdadeira celebração de ritual pataxó. Logo o clarão do dia e ela então deitou-se nua, minguante, na palma da minha mão. E me reluzia crescente para ser nova todo dia. E a palavra nela fez-se vela acesa e no seu corpo escrevi o tempo inventando de nunca se extinguir. Só tinha um lugar para levá-la no meio das minhas clandestinas emoções – era ela todo espaço, onde mais afora meu coração desamparado. Dei-lhe meu sorriso como se fosse a flor que não tinha às mãos e nela a vindoura consagração estival da mulher avalovara no perigeu. Por gratidão fez-se amor na Alvorada. Até mais ver.


Arundhati Roy: Não existe realmente algo como "os sem voz". Existem apenas os deliberadamente silenciados, ou os preferencialmente não ouvidos.... O problema é que, uma vez que você vê, não consegue deixar de ver. E, uma vez que você viu, ficar quieto, não dizer nada, se torna um ato tão político quanto falar. Não há inocência. De qualquer forma, você é responsável... Veja mais aqui.

Marjane Satrapi: A vida é absolutamente insuportável. E nós vamos morrer... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, & aqui.

Connie Palmen: A cada nascimento, uma morte é dada... Veja mais aquí.

 

LIÇÃO

Imagem: AcervoLAM.

A minha vizinha no amor \ disse-me: \ Por que há tanta janela iluminada \ no teu corpo? \ Por que tantas flores as envolvem? \ Que são essas numerosas luas? \ Quem te ofereceu esses céus? \ A minha vizinha no amor \ ignora \ o amor.

Poema da poeta, artista plástica e repórter marroquina Widad Benmoussa, autora de obras como: Tenho uma raiz no vento (2001), Entre duas nuvens (2006), As janelas que abri sobre ti, Rabat (2006) e Tempestades do corpo (2008).

 

TENHAM CUIDADO, CRIANÇAS… - […] Uma pergunta que começa com o porquê é uma pergunta preguiçosa. […] Há algo de gentil no movimento das obsessões à medida que elas se deslocam para o mar. Eles param de incomodar você noite e dia. Isto não é uma capitulação nem um abandono. Eles estão ganhando tempo. [...]. Trechos extraídos da obra Soyez imprudents les enfants (Thélème, 2017), da escritora francesa Véronique Ovaldé. Veja mais aqui.

 

NEUROFILOSOFIA & FILOSOFIA DA MENTEO que posso e não posso imaginar é um fato psicológico sobre mim. Não é um fato metafísico profundo sobre a natureza do universo. Pensamento da filósofa canadense Patricia Smith Churchland, que no seu livro Touching a Nerve: The Self as Brain (W. W. Norton & Company, 2013), ela expressou que: […] Você se tornou consciente exatamente do que inconscientemente pretendia dizer apenas quando o disse. Você modifica seu discurso dependendo se está falando com uma criança, um colega, um aluno ou um reitor. Não conscientemente, provavelmente. Paradoxalmente, a fala é geralmente considerada um caso de comportamento consciente – comportamento pelo qual responsabilizamos as pessoas. Certamente, requer consciência: você não pode conversar durante o sono profundo ou em coma. No entanto, as atividades que organizam a produção da sua fala não são atividades conscientes. Falar é um negócio altamente qualificado, que depende do conhecimento inconsciente de precisamente o que dizer e como [...]. Já em El cerebro moral: Lo que la neurociencia nos cuenta sobre la moralidad (Paidós, 2020), ela considera que: […] A hipótese predominante é que o que nós, humanos, chamamos de "ética" ou "moralidade" é uma estrutura de comportamento social em quatro dimensões que é determinada pela inter-relação de diferentes processos cerebrais: (1) cuidado ou atenção aos outros (enraizado no apego aos membros da nossa família e preocupação com o seu bem-estar),11 (2) reconhecimento dos estados psicológicos dos outros (com base nas vantagens de prever o comportamento de terceiros), (3) resolução de problemas num contexto social (por exemplo, como devemos distribuir bens quando eles são escassos, como resolver disputas territoriais [...]. E no seu livro Neurophilosophy: Toward a Unified Science of the Mind/Brain (Bradford, 1986), ela conclui que: […] Se você se enraizar no chão, poderá se dar ao luxo de ser estúpido. [...]. Veja mais aqui.

 

PERIFERIA DAS PERIFERIAS, DE GIVA SILVA

[...] Reconhecer que os povos indígenas estão periferizados historicamente e que muitos corpos indígenas estãos periferizados e periferizados das suas identidades e que sofrem todo tipo de violências do colono-capitalismo, sem sequer ser estatística – já que formalmente não existem, logo, não fazem parte dos indicadores negativos aos quais a classe trabalhadora tem exposto as mazelas que sofre de um sistema perverso -, e são encarcerados e enterrados sem sequer ter tido acesso à sua memória ancestral [...].

Trecho de Na periferia das periferias, de territórios e corpos: povos indígenas e corpos indígenas, uma luta de mais de 500 anos!, do educador e comunicador Givanildo M. da Silva, extraído do volume Periferias no plural (Fundação Perseu Abramo, 2023), organizado por Paulo Cesar Ramos, Jaqueline Lima Santos, Victoria Lustosa Braga e Willian Haverman. Veja mais aqui.

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USINA DE ARTE: EXPO ROBÓTICA

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segunda-feira, novembro 11, 2024

LAUREN ELKIN, AKSINIA MIHAYLOVA, VANESSA NAKATE & BRENDA BAZANTE

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Fruto (2004), Candeias (2009), Faces (2016) e Inzu (2019), da pianista, compositora e pesquisadora Heloísa Fernandes.

 

O que dizer nada a mais... - Uma palavra dentro da outra a tecerem ventos peito aberto às verdades que nunca disse: o que restou da pedra o pó à face lívida dos olhos dilatados. Onde estou perdi a hora e uma só palavra salvou o poema da alma no porão pelas ruas ermas de invisíveis refúgios tortos e tortuosos. O que havia depois de feito combatia a secura com esperança de chuva, o que admito talvez: a minha vida é o escombro da casa destruída. Ainda bem que não há pústulas na janela perdida nem a alma remendada no telhado que desabou. Restam passos pelas esquinas crepusculares com suas vidraças espelhadas: haverá tempo para indecisões e enfrentamentos, ao que parece, a máquina do mundo emperrou enferrujada, parece mesmo, quebrou-se cediça no lixo rente às paredes revogadas. E haverá tempo adivinhando caminhos na penumbra entre o legado e o estorvo, pesares de suspensos rumos vazios, só porque mãos trêmulas titubeiam afeto à espera do milagre duma chuva draconídea trazendo ouro e kyawthuite. E as sereias cantam luzes e ofertas, são muitas e me afogam, porque pertence a mim o dia e nada se anuncia no terreno baldio do ridículo. Pertence a mim esta tarde e o que é demais no regresso inquieto de quantas maçanetas se perderam da memória. Pertence a mim esta noite de quantos remorsos insepultos pelos sortilégios lunares, amontoando entulhos e retalhos por aí afora. Tempos loucos. Epistemicídios e quantas práticas desumanizadoras de violentar destinos dissipados, com todos delitos cínicos de postiças virtudes, o sorriso vacilante de reputações enlameadas, pusilanimidades, tudo porque o escravo serviu a rainha e ela o desdenhou. Nem havia por aí quem escutasse com atenção o lampejo de um drama no sangue das palavras, somente a órbita de espedaçado vórtice. Nunca tive medo e isso pouco importa. Graças à vida encontrei pessoas dois espíritos pelo trajeto perdido, a me falar de Indeus e que me dizem respeito poéticos mistérios, para quem perdida mestiçagem a bendizer das quedas, com louvores aos martírios da morosa morte. Não acredito na vingança de Gaia, mas no revide de nossa própria estupidez. O que passou está presente há muito tempo para todos amanhãs, porque o que foi é e continuará sendo infinitamente. Até mais ver.

 

James Baldwin: Há tantas maneiras de ser desprezível que dá até dor de cabeça. Mas a maneira de ser realmente desprezível é desprezar a dor dos outros... Veja mais aqui.

Liane Moriarty: Aqueles que amamos não vão embora, eles sentam-se ao nosso lado todos os dias... Veja mais aqui.

Carol Ann Duffy: A poesia, acima de tudo, é uma série de momentos intensos – o seu poder não está na narrativa. Não estou lidando com fatos, estou lidando com emoções... Veja mais aqui.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

1 - Nós extraímos as paisagens mais profundas e escondidas \ de nós mesmos, empilhá-los sobre a mesa\ como duas pessoas se encontrando pela primeira vez\ e da última vez—libertado do futuro.\ Nós fumamos meio maço,\ procure na pilha,\ conte os ossos\ criando raízes em nossas almas,\ e ainda não consigo encontrar\ a palavra que faz isso.\ Talvez seja culpa\ das diferentes profundidades dos nossos abismos,\ como eles ressoam com uma linguagem \ ininteligível para a pele.

2 - Então compramos toranja, \ passeie pelo bairro judeu\ becos estreitos, e ele me leva\ pela mão, ele me esquece\ nas livrarias, ele diz olha,\ há tanto céu nas janelas esta noite,\ me apertando contra seu peito\ então não consigo ler em seus olhos:\ a palavra,\ a palavra que faz isso\ As toranjas rolam pela calçada.\ Suas mãos tão febris—\ como se tivesse medo de me perder,\ como se tivesse medo de que eu pudesse ficar.

Poemas da escritora, educadora e tradutora húngara Aksinia Mihaylova, autora dos livros Ciel à Perdre (Gallimard, 2014) e Le Baiser du Temps (Prix Max-Jacob, 2020), e é a fundadora do jornal literário Ah, Maria.

 

MULHERES CAMINHAM... [...] Eu caminho porque isso confere - ou restaura - um sentimento de lugar... Eu caminho porque, de alguma forma, é como ler. Você tem acesso a essas vidas e conversas que não têm nada a ver com as suas, mas você pode ouvi-las. Às vezes está superlotado; às vezes as vozes são muito altas. Mas sempre há companheirismo. Você não está sozinho. Você anda na cidade lado a lado com os vivos e os mortos. [...] Todos nós temos nossos próprios sinais que estamos atentos ou tentando não ouvir. [...] Caminhar é mapear com os pés. Ajuda a juntar as peças de uma cidade, conectando bairros que, de outra forma, poderiam ter permanecido entidades discretas, planetas diferentes ligados uns aos outros, sustentados, mas remotos. Gosto de ver como, de fato, eles se misturam, gosto de notar os limites entre eles. Caminhar me ajuda a me sentir em casa. [...] Queremos fazer escolhas, e ter alguma agência para nos perdermos, e sermos encontrados. Queremos desafiar a cidade, e decifrá-la, e florescer dentro de seus parâmetros. [...]. Trechos extraídos da obra Flâneuse: Women Walk the City in Paris, New York, Tokyo, Venice and London (Farrar, Straus and Giroux, 2017), da escritora, ensaísta e tradutora francesa Lauren Elkin, que no seu livro No. 91/92: A Diary of a Year on the Bus (Semiotext(e)/Les Fugitives, 2021), ela expressou que: […] Com o tempo, o Evento se entrelaça ao cotidiano. Pessoas que vemos no ônibus podem ter estado no Bataclan ou conhecer alguém que esteve; a mulher no canto pode ter sofrido um aborto espontâneo no mês passado. Outras pessoas são um imenso mistério. Não podemos clicar com o botão direito nelas e baixar seu histórico. Não sabemos onde elas estiveram ou para onde estão indo. Mas que elas estejam indo juntas, enquanto se ignoram amigavelmente, parece de suma importância. Acredito que isso se chama comunidade. […]. No seu livro Art Monsters: Unruly Bodies in Feminist Art (Chatto & Windus/FSG, 2023), ela menciona que: […] Ser gênero feminino é ser pego entre a beleza e o excesso: obrigado a escolher. Ser um monstro é insistir em ambos [...]. E no seu livro Scaffolding (Chatto & Windus/FSG, 2024), ela expressa que: […] é menos sobre você criar uma narrativa que explique e cure seus sintomas e mais sobre o que pode ser sugerido durante o processo terapêutico, como a maneira como falamos sobre nossas vidas codifica a maneira como pensamos sobre elas, as coisas que queremos, nossos desejos, como podemos aprender a viver com eles em vez de sermos guiados por eles. Você nunca será curado, por assim dizer. Não há cura para ser humano. [...].

 

É HORA AGORA... - Chega de promessas vazias, chega de cúpulas vazias, chega de conferências vazias. É hora de nos mostrar o dinheiro. É hora, é hora, é hora. E não se esqueçam de ouvir as pessoas e os lugares mais afetados... Sempre acreditei no poder de uma ação, de uma voz e de uma história para mudar o mundo, mas aprendi que a verdadeira transformação é uma responsabilidade coletiva; estamos trabalhando juntos para tornar este mundo um lugar melhor... Pensamento da ativista ambiental ugandesa Vanessa Nakate, que ainda se expressa: Você não pode se adaptar à extinção. Por quanto tempo vamos vê-los morrer de sede nas secas?

 

A ARTE DE BRENDA BAZANTE

Quando fui aprovada eu vibrei e me emocionei, pois percebi a importância de minha presença numa pós-graduação no campo das artes. Momento no qual poderei cooperar com a erradicação dessa ausência de visualidades que representem os corpos trans e consequentemente causar impressões inclusivas em outras visitantes trans. Pessoas que, ao adentrarem museus ou outros espaços destinados às artes visuais, poderão encontrar corpos como os seus retratados entre as peças expostas. Mas além destes lugares pretendo adentrar locais como ONGS, expandindo o alcance do conhecimento que produzi para além dos espaços institucionais. Desta forma, chegando mais perto do público que pretendo atingir, as pessoas pertencentes à comunidade LGBTIAP+.

Palavras extraídas da entrevista concedida à jornalista Andrea Sobreira de Oliveira (UFPE), no periódico Cartema - Revista do Programa de pós-graduaçăo em Artes Visuais UFPE/UFPB (2021), pela artista visual e professora de Arte, Brenda Bazante, em referência à sua dissertação de mestrado sobre a temática Trava Transcorpocinética: narrativas (auto)biográficas e práticas artísticas de/sobre travestis, transexuais e dissidentes sexuais e de gênero (UFPE, 2022), pela qual obteve o título de mestre em Artes Visuais pelo PPGAV (UFPE/UFPB). Ela também é especialista em Metodologia do Ensino de Arte pela Faculdade Educação de São Luís e Licenciada em Artes Visuais pela UNOPAR, trabalhando na produção de múltiplas linguagens nas quais destacam-se as técnicas do bordado, papietagem, escultura, pintura e desenho. Veja mais aqui.

 

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segunda-feira, novembro 04, 2024

NADYA TOLOKONNIKOVA, ANNA KATHARINE GREEN, EMMA GONZALEZ & THALYTA MONTEIRO

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Terra adentro (A Casa Produções, 2011) e Luares (2023), da violonista, compositora, produtora, orquestradora e professora francesa Elodie Bouny, autora de obras como a peça para quarteto de violões Déja Vu (2019), da ópera Homens de papel (2022), da peça para orquestra Eclipse (2022), da peça para clarone solo, Touro (2022), da peça Um abraço pro Waldir (2023) e a peça Resiliência (2023), entre outras.

 

Das feridas, poesia em flor... - Uma e outra vez passou o equinócio da primavera e quase perdia a hora porque colhia flores na Linha do Equador. Nunca é demais qualquer desencontro e lá se foi o que pensava no barulho das águas. Não vacilei porque fui salvo desde o tempo em que ríamos muito. Hoje não mais e, se não tivesse segurado desde anteontem as mãos do futuro, com certeza despencaria diante da incontrolável geração das surpresas. Nem sempre a verdade talvez. Foi preciso mais que um pôr do Sol para que soubesse que não morri na solidão. Foi mais preciso sorrir pras incertas lembranças, amores inconclusos. Só não mais esperarei por boas novas, foi-se o tempo. Deus nunca me deixou mentir: o cristianismo solapou a alma de todos, restaram lutos e festejos hediondos. Vão daí vagotonias. Demoliram os sonhos, mas não faltará tempo para pecar, graças! Para onde vão me levaram pelo avesso e, o melhor, é nem entender. Tampouco viu-se o que aconteceu, ignorou-se pela suposta sanidade. Outros desvaneceram - os frívolos não duram um aceno fugaz. Quando muito sorriem e, às vezes, me deixam em paz para que amanheça ileso: os bruxedos do mundo perderam a graça, tudo se estragou com as coisas engaioladas, promessas, máscaras, exterioridades e o efêmero. A vida não é só desmoronamentos: ainda se vive no escuro o profundo silêncio. Cumpre amar sobretudo por qualquer meio necessário para vencer o mar agitado das ocasiões. Sou agora o que sempre fui e serei: caçador de luas em pleno equilux. Não mais o mesmo e outro, palavrersos entre a imprecisão e a eternidade: das feridas, poesia em flor. Pés descalços, mãos vazias, confesso celebrações: uma palavra a cada emoção, um verso a cada instante. Até mais ver.

 


Marie Curie: A vida não é fácil para nenhum de nós. Mas e daí? Devemos ter perseverança e, acima de tudo, confiança em nós mesmos. Devemos acreditar que somos dotados para algo e que essa coisa deve ser alcançada... Veja mais aqui, aqui e aqui.

Erika Mann: Agora que a liberdade desapareceu em tantos lugares e a paz está ameaçada de tantos lados, as palavras paz e liberdade recuperaram seu brilho. O presente exige de nós um amor magistral pela paz... Veja mais aqui.

Marie Bregendahl: Quanto mais sombrias as perspectivas e mais difícil ter esperança, mais firmemente deve-se agarrar à esperança quando ela insurgir... Veja mais aqui.

 

VIDA

Imagem: Acervo ArtLAM.

Ah, o que é a vida! \ É apenas um toque passageiro no mundo; \ Uma impressão nas praias da terra \ A próxima onda que flui irá lavar; uma marca \ Que algo passou; uma sombra em uma parede, \ Enquanto procura pela substância, a sombra se afasta; \ Uma gota da vasta nuvem espiritual de Deus \ Que circula sobre um tronco, uma pedra, uma folha, \ Um momento, então exala novamente para Deus.

Poema da escritora estadunidense Anna Katharine Green (1846-1935). Veja mais aqui e aqui.

 

GUIA DE ATIVISMO – [...] A arte é um reino que nos ajuda a combater forças que tentam mecanizar as pessoas, forças que veem os humanos como coisas que precisam de instruções de uso e devem ser colocadas na prateleira de uma loja de shopping. [...] Precisamos de um milagre para sair daqui. E milagres são reais; eles já aconteceram comigo antes. Amor incondicional, por exemplo, ou solidariedade, ou ação coletiva corajosa. Milagres sempre acontecem no momento certo na vida daqueles com uma fé infantil no triunfo da verdade sobre a falsidade, daqueles que acreditam na ajuda mútua e vivem de acordo com a economia do presente. Você não pode comprar a revolução, você só pode ser a revolução. [...] Quando nos faltam forças para agir, é preciso encontrar palavras que nos inspirem. Por isso, lembre-se de um ponto fundamental: nada de deixar sua confiança arrefecer. O poder está nas suas mãos. Juntos, como comunidade ou como movimento, podemos fazer milagres. E faremos [...] Se você quer mudar algo, precisa saber como as coisas funcionam. Um ativista deve saber disso. Você está aprendendo sobre como as coisas funcionam praticando-as. [...]. Trechos extraídos da obra Read & Riot: A Pussy Riot Guide to Activism (Coronet, 2020), da artista conceitual, musicista, escritora e ativista russa Nadya Tolokonnikova (Nadejda Andreevna Tolokonnikova), que foi membro do grupo anarquista feminista Pussy Riot, que em 2012 foi condenada por vandalismo e ódio religioso, caso que foi considerado por grupos de direitos humanos como julgamento parcial. Na ocasião ela invadiu a Catedral de Cristo Salvador, em Moscou, para uma performance de protesto contra Putin, sendo, por isso, sentenciada a dois anos de prisão. Em 2013 ela foi solta por cumprimento da Constituição russa e por ser reconhecida como prisioneira política. Em 2016 ela publicou o livro autobiográfico How to Start a Revolution e fez canções, em 2018/19 para a turnê Riot Days. No livro epigrafado ela defende: Seja um pirata! Faça com que o governo se borre de medo! Retome a alegria!, apresentando 10 regras para a revolução, ilustrado com desenhos e centrado na ação direta, que ultrapassa ideias de militância e professando a desobediência civil.

 

RESPONSABILIZAÇÃO POLÍTICA - Estamos absolutamente determinados a garantir que o mundo pare de ver os políticos como seres humanos e comece a vê-los como máquinas que precisam ser responsabilizadas... Nós nos recusamos a ser silenciados pela mídia, pela NRA ou pelos políticos que falharam conosco por muito tempo... Já tivemos o suficiente de promessas vazias e da falta de ação. É hora de uma mudança real. Temos que lembrar que nossa história não é só nossa, é a história de um movimento que mudará o mundo... Pensamento da ativista estadunidense Emma Gonzalez, defensora do controle de armas. Ela surgiu após o trágico tiroteio na Marjory Stoneman Douglas High School em Parkland, Flórida, em 14 de fevereiro de 2018, quando ela e seus colegas de classe foram submetidos a um ato horrível de violência realizado por um atirador solitário, resultando na perda de 17 vidas e deixando inúmeras outras fisicamente e emocionalmente marcadas. Durante um discurso, Emma chamou a atenção de políticos e legisladores por sua inação, transmitindo uma mensagem carregada de emoção que exigia mudanças e prometendo que: Seremos o último tiroteio em massa. Ela e seus colegas cofundaram o grupo de defesa Never Again MSD, para fazer campanha pela reforma do controle de armas, realizando o monumental protesto March for Our Lives, em Washington, DC, que atraiu centenas de milhares de apoiadores de todo o país. Suas palavras ecoam: Acredito que ser destemido é ter uma profunda preocupação com a humanidade e colocar os outros antes de si mesmo... Não basta lamentar as vidas que perdemos, temos que lutar para salvar as vidas que ainda estão aqui... Temos que continuar avançando, não importa o quão difícil seja, porque temos uma responsabilidade com as gerações futuras... Fortaleça sua mente em qualquer lugar e a qualquer hora...

 

A ARTE DE THALYTA MONTEIRO

Caminho por diversas linguagens como pintura, gravura e experimentação em performance.

A arte da artista visual, arte educadora, pesquisadora, oficineira e trabalhadora da cultura Thalyta Monteiro, que realiza extraordinário trabalho de processo manual e ritualístico da pintura e da lenoleogravura, além de fotoperformances. Veja mais aqui.

&

SETECENTOS PENSAMENTOS

No próximo dia 6 de novembro, nos horários das 16 e 20h, será lançado no Festival do Livro da Mata Sul, na sede da Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, em Palmares, o livro Setecentos pensamentos (CriaArt, 2024), do poeta e professor Admmauro Gommes. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

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segunda-feira, outubro 28, 2024

CHRISTINA VASSILEVA, KATHERINE JOHNSON, MARTÍN-BARÓ, JOÃO CABRAL & MATA SUL INDÍGENA

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Mistérios do Rio Lento (The Voice of Lyrics, 1998), Santiago de Murcia: a portrait (Frame, 2007) e Dreams (GSP, 2011), da violonista, compositora, professora e pesquisadora musical Cristina Azuma. Veja mais aqui & aqui.

 

A foto do bode pelo voo do que não era Foolyk... - Naquela hora Bodinho passava aos esculachos de bronca! Pela rua apertada arengava com a invisível matrona Branca, chamando na grande os Cabeças de Touro, desafetos que azedavam o seu angu. Quase todo dia ouvia os passos trôpegos dele elucubrando as galhadas carburantes das ideias tresloucadas, as quais viviam imersas com galos cantando no juízo, calombos na testa, pescoço troncho pelo peso da tonta cachola insegurável, um quengo pra lá de injuriado com pilhérias e pulhas na ponta da língua. Era ele, todo santo dia. Sim, é que ele vivia às voltas com a marvada Teibei e, nessa noite, parece, assim soube, ele inventou de misturar com a cachaça Maria Joyce. Aí deu o créu! Testemunhou-se que ele se dizia ali na hora podre de rico, sacando dos bolsos para quem quisesse ver um punhado de pó de kyawthuite. Vôte! Ninguém levou a sério, nunca levava. E não demorou muito e lá se viu ele pelos ares, aos berros segurando no rabo duma nuvem para nunca mais. Foi ser prefeito lá no céu, dizem. A cena levou-me à biblioteca – local em que se juntava todo tipo de personagem saído das páginas dos livros, afora todo tipo de biruta que resolvia dar as caras assim do nada. Sim e foi lá mesmo que pude numa manhã para lá de festiva reviver os Retalhos em Detalhes, do memorável amigo Mendes Givanilton – sujeito da mais profunda estima e doutras tantas dos pileques na mangação pelo malogro do teatro de Fenelon, das tardes domingueiras no Clube dos Ferroviários com a Escolinha do Professor Língua de Trapo, dos tropicões nos anseios inglórios, das viradas de noite por altos papos sem bater pestana nem piscar o olho, das muitas e tantas até o dia depois da maior viagem dum show de Hermeto Pascoal, com a notícia de que ele tinha ido sem um mínimo aceno de adeus. Quarentanos se passaram e tudo isso só pra vê-lo ressurreto no ensolarado meio dia de sábado do Pintando na Praça. Era como se estivesse numa das viagens de Gulliver – muitas hestórias pra contar, mas aqui nunca foi Foolyk do Desfontaines, nem nunca será. Essas coisas mexem com o coração nesses tempos loucos: o que de sonho se fez real, o que de chão no voo da vida. Até mais ver.

 

Sylvia Plath: Comigo, o presente é para sempre, e o para sempre está sempre mudando, fluindo, derretendo. Este segundo é a vida. E quando ele se vai, ele morre. Mas você não pode recomeçar a cada novo segundo. Você tem que julgar pelo que está morto... Veja mais aqui, aqui & aqui.

Denise Levertov: O que ouvi foi todo o meu ser dizendo e cantando o que sabia: eu posso... Veja mais aqui.

Delmira Agustini: Às vezes eu tremia com o horror do meu abismo... Veja mais aqui & aqui.

 

DESPEDIDA

Imagem: Acervo ArtLAM.

O tempo estava agradável \ O dia estava ensolarado \ As esquadras passavam \ Homens e mulheres com mochilas e \ roupas camufladas \ Primeiro meu marido saiu com um grupo \ Depois deixei a menina com a esquadra seguinte \ Uma jovem virou-se e disse-me para não me preocupar, que eu iria cuidar dela \ Então fui em direção à coluna do meu grupo \ Pensei em como avisar meu marido para não voltar \ Bom já tínhamos todos ido embora \ Alguns amigos ficaram \ Atrás na calçada esperando seus esquadrões \ Era hora de paz \ Não houve guerra \ Os pássaros cantavam nas copas das árvores \ O dia ensolarado.

Poema da poeta, tradutora e cantora de câmara búlgara Christina Vassileva.

 

MINHA JORNADA NOTÁVEL - […] Fiquei perplexo que tantos alunos não gostassem de matemática e tivessem dificuldades com ela. Imaginei que eles tinham um pai que não gostava de matemática e dizia que era difícil ou um professor que não tinha paixão ou paciência para tornar a matemática relevante para suas vidas. Em casa, nunca deixei minhas meninas me dizerem que matemática ou qualquer outra matéria era difícil. Desde que eram bem pequenas, sempre tentei incorporar o aprendizado, fosse matemática, ortografia ou atividades criativas, como costurar e montar quebra-cabeças, em suas vidas. Tentei mostrar a elas como o que estavam aprendendo na escola se conectava às nossas vidas fora da escola. Claro, eu as fazia contar tudo — as estrelas no céu, os degraus do fundo ao topo da mansão Carson ou as pessoas na igreja em qualquer domingo. Em viagens de carro, eu as fazia somar os números nas placas dos carros que passavam na nossa frente. Ou eu as fazia cobrir os olhos e soletrar o estado. Se eles estivessem ajudando na cozinha, eu poderia escrever uma receita, entregá-la a eles e pedir que calculassem quanta quantidade de cada ingrediente precisaríamos se eu quisesse fazer metade daquele lote de biscoitos ou bolachas. [...]. Trechos extraídos da obra My Remarkable Journey: A Memoir (Amistad Press, 2021), da matemática, física e cientista espacial estadunidense Katherine Johnson (Katherine Coleman Goble Johnson 1918-2020), uma das primeiras afro-americanas a trabalhar como cientista na NASA, expressando-se: Eu ficava animada com algo novo, sempre gostei de coisas novas, mas dou crédito a todos que ajudaram. As meninas são capazes de fazer tudo o que os homens são capazes de fazer. Às vezes, elas têm mais imaginação do que os homens. Precisávamos ser assertivas como mulheres naqueles dias – assertivas e agressivas – e o grau em que tínhamos que ser assim dependia de onde você estava. Eu tinha que ser. Você perde a curiosidade quando para de aprender. Goste do que faz e então fará o seu melhor.

 

LIBERTAÇÃO PELA PSICOLOGIA – [...] não é uma questão de intencionalidade: colocar uma ciência fundamentada em termos individualistas e viciados a serviço da comunidade, só resultaria na reintrodução ou manutenção das necessidades e vivências do homem "capitalista". A questão é transformar os próprios esquemas de compreensão e de trabalho a partir da perspectiva do povo salvadorenho. Dito de outra maneira, devemos redefinir os próprios fundamentos da ciência psicológica. [...]. Quem deve, então, determinar as necessidades "verdadeiras" e "falsas"? A quem cabe diferenciar o que há de autêntico e o que há de alienante no interior da consciência popular? Por acaso, deverá o psicólogo social se converter em "intérprete" das necessidades populares? Problema que não é de fácil solução, nem mesmo para aqueles que, surgidos do próprio povo, se convertem em sua vanguarda política, mas que, ao chegarem nesse lugar, frequentemente, perdem o contato existencial com suas bases e tendem a assumir como voz do povo o que não é mais do que a sua própria voz. [...]. Trechos do estudo O psicólogo no processo revolucionário (Vozes, 1980), do psicólogo e filósofo Ignacio Martín-Baró (1942-1989). Veja mais aqui.

 

JOÃO CABRAL DE MELO NETO

O sertanejo fala pouco: as palavras de pedra ulceram a boca e no idioma pedra se fala doloroso; o natural desse idioma fala à força... Escrever é estar no extremo de si mesmo...

A obra do poeta e diplomata João Cabral de Melo Neto (1920-1999). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

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O II Seminário A Presença Indígena na Zona da Mata de Pernambuco ocorrerá na Biblioteca Pública Municipal Felenon Barreto, em Palmares-PE, no dia 09 de novembro. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

 

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