segunda-feira, maio 06, 2024

ASCENSO FERREIRA, HAGAR PEETERS, NITA FARAHANY & KRISTÍN ÓMARSDÓTTIR

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Para os que foram e os que ficaram (2012), Ressonâncias (2016) e Rascunhos (2019), da pianista e compositora Louise Woolley.

 

VOU DANADO COM ASCENSO... - Navegante errante voo do lugar donde venho e quanto mais rodo por aí e acolá não saio do lugar. Inventei desde menino de singrar tão vasto pelo mundo afora, mas pronde fui findei mesmo foi de volta, parece até que nem saí. Estou por aqui e queria era correr distâncias a desbravar quebradas insólitas, mas fui reduzido entre os filhos da cana que enterraram meus ancestrais e só no pé do ouvido Anne Carson: É mais fácil contar uma história de como as pessoas ferem umas às outras do que daquilo que as une... Mesmo assim a todos saudei e o mais perto que pude foi do que não mais havia, porque era só desolação. É que nunca tive medo de nada, mesmo que tudo se parecesse tão amedrontador quanto imoral ou obscuro. Nem de envelhecer de véspera, porque da janela eu sei quanto maio fez parte duma história e nada mais se completava na mudez do silêncio. Aprendi com Conceição Evaristo: Combinaram de nos matar. Mas, combinamos de não morrer... E apanhei o que restou sem deixar a tarde desaparecer de vez pela escuridão insone, com suas flores acesas em oferenda, guardando os que nem me despedi ao partir e que era quase um poema de amor na manhã em que o vento dançava com os que nasceram e nem sabiam dos que padeceram sobre tantos nomes que não diziam nada. Quando havia depois era sempre esquecer e tudo não parava de acabar tão depressa e nada mais demorava porque na noite doía muito acordar e, no fim das contas, valia Geraldine Brooks: Se há uma classe de pessoa em quem nunca confiei totalmente, é daquele que não conhece dúvidas... E se o tempo urgia nos meus passos supostamente fugitivos a tecerem caminhos entre destroços e ausências, recusas e aceitações, as minhas pegadas estavam na minha pele roubada do chão que pisei, pedras e palavras nos talhos dos sentimentos, sílabas alvoroçadas pelas voçorocas da carne na imprecisão do verso perdido. Já era bem tarde os arranhões pelo corpo e o sangue no muro que jamais reconheci, porque amanhecia e estava só com tudo incerto e o tempo se rasgava nas vozes que eram de todos e viviam em mim. Até mais ver.

 

LOCAL DE ANTECIPAÇÃO

Imagem: Acervo ArtLAM.

A casa do exílio \ é uma casa com portas \ que se abrem e fecham em ambas as direções, \ de modo que a chegada e a partida \ ocorrem num único movimento fluido, \ como acontece com uma porta giratória, \ no centro da qual o exilado \ espera para ser encerrado. \ A casa não é uma morada, \ mas um lugar de antecipação. \ Todas as salas são salas de espera. \ O sofá da sala de estar \ oferece apenas uma breve pausa \ para andar de um lado para o outro. \ A literatura nas estantes \ é feita de formas \ e não contém poesia, \ apenas ordenanças \ Por mais finais que sejam as ordens, \ tão indefinidos são os dias. \ As janelas são janelas \ através das quais se traça uma paisagem \ que em breve deixará de ser visível \ e onde \ se trai a vista de origem. \ Quando o exilado sai de casa \ segue as placas que indicam 'saída', \ que encontrará onde quer que chegue.

Poema da escritora holandesa Hagar Peeters, autora de obras poéticas: Genoeg gedicht over de liefde vandaag (Podium, 1999), Koffers zeelucht (De Bezige Bij, 2003), Nachtzwemmen (Perdu, 2005), Loper van licht (De Bezige Bij, 2008), Wasdom (De Bezige Bij, 2011) e De schrijver is een alleenstaande moeder (De Bezige Bij, 2019).

 

POVOS DOS CISNES - [...] Um livro que não trata de nada nunca o decepciona. Livros que buscam conclusão e encerramento correm o risco de decepcionar seus leitores. As conclusões amortecem o impulso de inovar e de imaginar. [...]. Trecho extraído da obra Swanfolk (Harvill Secker, 2022), da escritora e dramaturga islandesa Kristín Ómarsdóttir, autora do poema Manhã sem cabeça, extraído do livro Waitress in Fall (Carcanet & Partus Press, 2018): Certa manhã, você recebe no correio \ a cabeça de um homem \ molhado de sangue \ na soleira da porta \ como o leite aqui antes, \ como os jornais matinais de tempos passados, \ como as cartas nos envelopes \ e o som do motor de um carro fica distante \ quem me deseja mal? \ você pensa ao mesmo tempo que \ toca seu pescoço \ o sol e os cantos matinais dos pássaros \ esvaziam o que resta da consciência.

 

BATALHA PELO CÉREBRO - [...] uma sociedade interessada em uma liberdade cognitiva robusta provavelmente buscaria proteger seus cidadãos contra a detecção injustificada de evidências automáticas, memorizadas e proferidas no cérebro [...]. Trecho extraído da obra Incriminating thoughts (Stan. L. Rev., 2012), da neurocientista, pesquisadora e professora iraniana Nita Farahany, que no seu livro The Battle for Your Brain: Defending the Right to Think Freely in the Age of Neurotechnology (St. Martin's Press, 2023), expressa: [...] Em 2019, o Wall Street Journal informou que uma escola primária em Jinhua exigia que os seus alunos do quinto ano usassem auscultadores EEG, que forneciam dados aos seus professores, pais e ao estado. O fabricante e fornecedor dos dispositivos com sede nos EUA, BrainCo, já havia enviado mais de vinte mil deles para a China. Com cerca de uma polegada de largura e feitos de plástico preto, os fones de ouvido Focus 1 (ou Fu Si) são usados pelos estudantes. Uma luz no meio brilha em vermelho, amarelo ou azul para sinalizar o envolvimento do aluno. Dados mais intensos das ondas cerebrais são enviados em tempo real para o computador do professor, cujo software gera alertas em tempo real sobre os níveis de atenção dos alunos. Os professores que supervisionam o programa acreditavam que a monitorização do cérebro melhorava substancialmente o envolvimento dos seus alunos. Um aluno concordou, dizendo que “ficou mais atento nas aulas. Todas as minhas tarefas retornam com notas perfeitas.” Outros alunos são menos otimistas, tendo sido punidos pelos pais por seus baixos índices de atenção. [...] Imagine o futuro do trabalho quando a monitorização do cérebro se tornar mais omnipresente se estas leis e normas não estiverem em vigor. Depois de um ano marcante na empresa, a gerente de divisão Sue liga para a funcionária Pat para oferecer-lhe uma renovação de contrato com um aumento salarial de 2%. Sue sabe que a empresa poderia facilmente pagar e estaria disposta a pagar até 10% para mantê-la, mas espera que Pat aceite menos. Pat atende a ligação de Sue usando os fones de ouvido intra-auriculares de EEG fornecidos pela empresa. Pat mantém a voz uniforme durante toda a ligação para não revelar suas emoções e promete conversar com Sue no dia seguinte. O tempo todo, Sue observa a atividade cerebral de Pat e decodifica sua reação emocional às notícias. A atividade cerebral de Pat revelou alegria ao saber do aumento salarial de 2% e permaneceu alegre durante todo o dia. No dia seguinte, Pat liga para Sue e diz que esperava um aumento maior. Mas Sue não pode ser enganada; ela sabe que Pat ficou feliz com o aumento de 2%; além disso, ela agora vê que Pat está com medo ao fazer seu pedido por um maior. Sue responde que 2% é o melhor que a empresa pode fazer e Pat aceita a oferta. A tentativa de Pat de negociar um salário melhor terminou antes de começar. Mesmo o mais convicto libertário da liberdade contratual questionaria a justiça desta negociação. [...] Algum dia, os empregadores poderão eliminar a organização do trabalho pela raiz, monitorizando a crescente sincronia cerebral dos funcionários. Um estudo recente acompanhou os sinais EEG de estudantes do ensino secundário ao longo de um semestre e descobriu que a sua actividade cerebral tornou-se mais sincronizada à medida que se concentravam em tarefas colectivas.106 Por outras palavras, apenas observando os padrões de actividade cerebral entre os funcionários, poderia ser possível para saber quem está planejando algo juntos, como organizar um sindicato. Aqueles que estão menos envolvidos com o grupo podem ser identificados de forma semelhante pela sua menor sincronia entre cérebros. [...] Os programas de bem-estar oferecem benefícios importantes, mas estas políticas de dados sublinham os riscos de privacidade menos visíveis e mais perigosos que representam. A maioria está isenta das regulamentações tradicionais de privacidade de dados de saúde. A Lei de Portabilidade e Responsabilidade de Seguros de Saúde de 1996 (conhecida como HIPAA), por exemplo, protege as informações de saúde identificáveis dos indivíduos nos Estados Unidos. Mas não se aplica quando os empregadores oferecem programas de bem-estar no local de trabalho diretamente, e não em conexão com os seus planos de saúde coletivos. Sem leis que os impeçam de utilizar os dados recolhidos através de programas de bem-estar, os empregadores podem explorar os dados que recolhem, o que muitos fazem com abandono. Os empregadores aprendem tudo o que os funcionários partilham nos questionários e inquéritos online que completam como parte destes programas, do que medicamentos prescritos que utilizam para saber se votaram e quando pararam de aviar as suas receitas de controlo de natalidade. E os empregadores estão a utilizar esses dados de formas cada vez mais intrusivas. [...] À medida que a neurotecnologia e os algoritmos que a decodificam continuam a melhorar, os sistemas baseados em EEG se tornarão o padrão ouro no monitoramento da fadiga no local de trabalho. Não apenas os empregadores, mas a sociedade como um todo poderão em breve decidir que os ganhos em segurança e produtividade compensam bem os custos na privacidade dos funcionários. Mas o quanto ganhamos com os wearables cerebrais no local de trabalho depende em grande parte de como os empregadores aproveitam a tecnologia. Os funcionários receberão feedback em tempo real dos dispositivos para que possam agir por conta própria? Os gestores monitorarão diretamente a incidência de fadiga dos funcionários? Em caso afirmativo, utilizarão essas informações para melhorar as condições no local de trabalho? Ou justificará ações disciplinares, cortes salariais e demissões de funcionários que sofrem de fadiga com mais frequência? [...]. Um relatório recente afirma que o governo chinês já está a utilizar IA e neurotecnologia de ponta para analisar expressões faciais e ondas cerebrais para ver se uma pessoa está atenta ao “pensamento e à educação política” [...]. Os estudos da autora se debruçam sobre as ramificações das novas tecnologias na sociedade, no direito e na ética, defendendo o direito de pensar livremente na era da neurotecnologia.

 

VOU DANADO COM ASCENSO...

Poema Ao Povo, extraído da obra Eu voltarei ao Sol da primavera (FCCHBF/SEC/DSE/DC, 1985), com a poesia de Ascenso Ferreira (1895-1965), organizado pela bibliotecária e professora Jessiva Sabino de Oliveira. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

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segunda-feira, abril 29, 2024

SAM HARRIS, DANIELA CAMACHO, CHO NAM-JOO & CRIANÇAS PERNAMBUCANAS

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som do grupo instrumental MaKaMo, formado pelas instrumentistas e compositoras Moema Macêdo (bandolim), Maíra Macêdo (cavaquinho), Karol Maciel (acordeon) e Gabi Carvalho (violão).

 

UM DIA NOUTRO DE AMANHÃS & ONTENS... – Naquela do quando chove ou estia, a boia embalada pelo vaivém dos sonhos em redemoinhos trazia a surpresa da véspera pra reinvenção de outro amanhã. Nem havia senão e sem precisar o porquê dos quando nem onde as coisas do fim. Mas quem nunca tremeu diante do perigo, quem jamais se aperreou com adversidades: a felicidade urgente adoecendo cada vez mais gente, enquanto livros intactos de alta literatura na biblioteca do telecentro de Campestre são jogados no lixo das Alagoas. A indignação em dia ressoava como se tomasse vulto pelas acrobacias dos ventos ecoando Han Kang: O tempo era uma onda, quase cruel na sua implacabilidade... Então, se um doido bateu à sua porta é só atinar pro ditado do remédio de um é o outro, afora afastar todo mau olhado, com a irrecusável oportunidade de se habilitar à sabedoria e, de quebra, ganhar um salvo conduto para a sorte grande, afinal todo louco é amigo de Deus. É só voar com uns versos de Maria Negroni: A vida é uma jornada rumo ao nada e escrever é um atalho... mortalmente infinito \ sonhamos que somos... Como o nome chama as coisas é preciso ter cuidado, falar baixo para não acordá-las e saber que tudo acontece do impensável: falar pode trair a alma, como diz a lição nativa. E isso vale também para quem tem posses que vão dali pracolá e a perder de vista, mesmo que tenha perdido no tempo o que seja de dentro de si mesmo e restar só o perecível do lado de fora pra valer as rezas de infinitas velas na morte inevitável. Nunca é demais aprender com Niède Guidon: O que eu quero é olhar os outros nos olhos. É não ter que esconder nada. Tudo o que fiz aqui, procurei fazer o melhor possível... Se já perdia a conta de quantos recomeços, não será além da conta reinventar a vida uma vez mais, até que chegue a hora, quem sabe, da remissão neste primitivo tempo em que vivemos... Até mais ver.

 

OS NOMES DOS DEFINITIVOS

Imagem: Acervo ArtLAM.

Um único objeto: \ soco de palavras ilegíveis em papel branco \ carcinoma diz em letras pretas \ (… tempo parou um dois vinte e quatro segundos \ parado. tempo …) \ câncer de flor impreciso no local da língua da \ glândula parótida \ (… trezentos e dezenove segundos e assim por diante \ até o final dos números …) \ engolir saliva pela última vez. muito lentamente \ na cama do hospital está nevando \ tumor pérola milagre minúsculo \ tumor substantivo propenso à multiplicação \ como a palavra floresta \ Há uma floresta em chamas na floresta: \ flor textual ereta convallaria não morra \ parasita cefalantera sem sentido fuja da fumaça \ arraste sua coroa \ afunde a espada fugaz neste corpo para sempre \ cirurgicamente docemente \ á aberto, anestesiado em outro mundo, \ estabelecerei a ordem dos instrumentos \ diante do esplendor do sangue, as mãos dos homens são mais graciosas \ (… seis sete quando aquele pavor parcimonioso parou …) \ O perigo que não se vê não existe. até que alguém, \ no momento menos esperado, \ ordene que você coloque uma máscara que se pareça com você. \ nêutrons prótons frutos da vertiginosa \ rapidez crianças vêm até mim \ lentamente tremo e fico com o rosto muito branco \lentamente a ferida está desperta \ para o animal que estou curando não é um hábito terrestre\ —ir ao local da música para fugir do medo \ —não. música da madrugada é falsa \ Deixei-me cair na mesa \ odeio o ausente que deixou seus cavalos \ amarrados ao meu sonho \ as cordas do violino \ o colar de salamandra da enforcada \ Eu digo que a doença vai me ajudar a viver \ Eu digo que a seca contém a floresta \ gaultheria insana evergreen combate \ a catástrofe humilhação punição é felicidade \ o tumor, um choque, uma vontade de dizer coisas horríveis.

Poema da premiada poeta e tradutora mexicana Daniela Camacho, fundadora da revista El Puro Cuento e autora das obras En la punta de la lengua (2007), Aire seria (2008), Plegarias para insomnes (2008), Pasaporte (2012) e Experiencia Butoh (Amargord, 2018), entre outros.

 

NASCIDA EM 1982 – [...] O mundo mudou muito, mas as pequenas regras, contratos e costumes não, o que significa que o mundo não mudou nada. [...] As garotas burras são burras demais, as garotas inteligentes são muito espertas e as garotas comuns são muito comuns? [...] Enquanto os infratores temiam perder uma pequena parte de seus privilégios, as vítimas corriam o risco de perder tudo [...] Você tem razão. Num mundo onde os médicos podem curar o cancro e fazer transplantes de coração, não existe um único comprimido para tratar as cólicas menstruais. ‘O mundo quer que nosso útero esteja livre de drogas. Como terrenos sagrados numa floresta virgem. [...] Não sei se vou me casar ou se vou ter filhos. Ou talvez eu morra antes de fazer isso. Por que tenho que negar a mim mesmo algo que quero agora para me preparar para um futuro que pode ou não chegar? [...] cresceu ouvindo ordens para ser cautelosa, para se vestir de maneira conservadora, para ser “elegante”. Que é sua função evitar lugares, horários do dia e pessoas perigosas. A culpa é sua por não perceber e não evitar. [...] Pessoas que tomam um analgésico ao menor sinal de enxaqueca, ou que precisam de creme anestésico para remover uma verruga, exigem que as mulheres que dão à luz suportem com prazer a dor, a exaustão e o medo mortal. Como se isso fosse amor maternal. Esta ideia de “amor maternal” está se espalhando como um dogma religioso. [...] As mulheres assumem todas as tarefas menores e complicadas sem serem solicitadas, enquanto os homens nunca o fazem. Não importa se são novos ou os mais novos - eles nunca fazem nada que não lhes seja dito para fazer. Mas por que as mulheres simplesmente assumem as responsabilidades? [...]. Trechos extraídos da obra Kim Jiyoung, Born 1982 (Intrínseca, 2022), da escritora sul-coreana Cho Nam-joo.

 

ACORDANDO PARA ESPIRITUALIDADE SEM RELIGIÃONós temos uma escolha. Temos duas opções como seres humanos. Temos uma escolha entre conversação e guerra. É isso. Conversa e violência. E a fé é um obstáculo à conversa. Teologia é ignorância com asas... Pensamento do escritor, filósofo e neurocientista estadunidense Sam Harris, que na sua obra Waking Up: A Guide to Spirituality Without Religion (Simon & Schuster, 2015), expressa que:  [...] Nossas mentes são tudo o que temos. Eles são tudo o que já tivemos. E são tudo o que podemos oferecer aos outros. Isso pode não ser óbvio, especialmente quando há aspectos da sua vida que parecem precisar de melhorias – quando seus objetivos não são alcançados, ou você está lutando para encontrar uma carreira, ou tem relacionamentos que precisam ser reparados. Mas é a verdade. Cada experiência que você já teve foi moldada por sua mente. Todo relacionamento é tão bom ou tão ruim por causa das mentes envolvidas. Se você está perpetuamente irritado, deprimido, confuso e sem amor, ou se sua atenção está em outro lugar, não importa o quão bem-sucedido você se torna ou quem está em sua vida – você não desfrutará de nada disso. [...] Minha mente começa a parecer um videogame: posso jogá-lo de maneira inteligente, aprendendo mais a cada rodada, ou posso ser morto no mesmo lugar pelo mesmo monstro, repetidas vezes. [...] Se, como muitas pessoas, você tende a ser vagamente infeliz a maior parte do tempo, pode ser muito útil criar um sentimento de gratidão simplesmente contemplando todas as coisas terríveis que não aconteceram com você, ou pensando em quantas pessoas o fariam. considere suas orações respondidas se eles pudessem viver como você está agora. O simples fato de você ter tempo para ler este livro o coloca em companhia muito rara. Muitas pessoas na Terra neste momento nem conseguem imaginar a liberdade que vocês atualmente consideram garantida. [...] Por um lado, a sabedoria não é nada mais profundo do que a capacidade de seguir os próprios conselhos. [...] Não há nada passivo na atenção plena. Poderíamos até dizer que expressa um tipo específico de paixão – uma paixão por discernir o que é subjetivamente real em cada momento. É um modo de cognição que é, acima de tudo, sem distrações, receptivo e (em última análise) não-conceitual. Estar atento não é uma questão de pensar mais claramente sobre a experiência; é o ato de vivenciar com mais clareza, incluindo o surgimento dos próprios pensamentos. Mindfulness é uma consciência vívida de tudo o que aparece na mente ou no corpo – pensamentos, sensações, humores – sem se apegar ao que é agradável ou recuar diante do que é desagradável. [...] Algumas pessoas ficam satisfeitas em meio à privação e ao perigo, enquanto outras ficam infelizes, apesar de terem toda a sorte do mundo. Isto não quer dizer que as circunstâncias externas não importem. Mas é a sua mente, e não as próprias circunstâncias, que determina a qualidade da sua vida. Sua mente é a base de tudo que você vivencia e de cada contribuição que você dá à vida de outras pessoas. Diante desse fato, faz sentido treiná-lo. [...] A espiritualidade deve ser diferenciada da religião – porque pessoas de todas as religiões, e de nenhuma, tiveram os mesmos tipos de experiências espirituais [...] A forma como prestamos atenção ao momento presente determina em grande parte o caráter da nossa experiência e, portanto, a qualidade das nossas vidas. Os místicos e os contemplativos têm feito esta afirmação há muito tempo – mas um corpo crescente de investigação científica confirma-a agora. [...] todos nós buscamos a realização enquanto vivemos à mercê de experiências mutáveis. Tudo o que adquirimos na vida se dispersa. Nossos corpos envelhecem. Nossos relacionamentos desaparecem. Mesmo os prazeres mais intensos duram apenas alguns momentos. E todas as manhãs somos expulsos da cama pelos nossos pensamentos. [...] O sentimento que chamamos de “eu” é em si o produto do pensamento. Ter um ego é a sensação de estar pensando sem saber que você está pensando [...] Simplesmente aceitar que somos preguiçosos, distraídos, mesquinhos, facilmente provocados pela raiva e propensos a desperdiçar nosso tempo de maneiras das quais nos arrependeremos mais tarde não é um caminho para a felicidade. [...] Cada momento do dia – na verdade, cada momento da vida – oferece uma oportunidade de estar relaxado e receptivo ou de sofrer desnecessariamente. [...] A realidade da sua vida é sempre agora. E perceber isso, veremos, é libertador. Na verdade, acho que não há nada mais importante para entender se você quiser ser feliz neste mundo. [...]. Ele é autor das obras Free will (2012), Lying (2013) e The moral landscape: how science can determine human values (2010). Veja mais aqui.

 

POR AMOR ÀS CRIANÇAS PERNAMBUCANAS

[…] E eu fico apenas a refletir que as amizades políticas são sempre e naturalmente passageiras. Mas as que se firmaram sobre um ideal, no serviço de uma causa nobre, vão buscar, na eternidade de seus motivos, a força e a sobrevivência, que os interesses humanos não sabem e não podem encontrar [...]

Trecho da crônica Por amor às crianças pernambucanas, extraída da obra Assuntos pernambucanos (Fundarpe, 1986), do jornalista, advogado, escritor, historiador e ensaísta Barbosa Lima Sobrinho (1897-2000), tratando acerca de temas como Guerra dos Mascates, dos engenhos centrais às usinas de açúcar, a Revolução Praieira, Nelson Chaves, Antonio Carneiro Leão, a pernambucanidade de Freyre, Mauro Mota, Joaquim Nabuco, Urbano Sabino, Oliveira Lima, o socialismo de Abreu e Lima, o separatismo e a restauração pernambucana, missões de capuchinhos franceses, Capitania de Pernambuco, a nêmesis de Capistrano de Abreu, entre outros assuntos. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

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segunda-feira, abril 22, 2024

FABIENNE BRUGÈRE, WARSAN SHIRE, FATOU DIOME, ANTÔNIO MADUREIRA, POEMA & POESIA NA ESCOLA!

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Sirens (Zone Records, 1994), Passionate Voice (2004), Rough and Steep (2006), The Ten Thousand Steps (Biomusique, 2008), Journey (Sony, 2012), Eternal Om (Hearts of Space, 2016) e Calm and Comfort (Hearts of Space, 2022), da compositora, multi-instrumentista, vocalista e produtora estadunidense de origem armênia, Lisbeth Scott. Veja mais aqui.

 

PROSCRITO MIGRANTE DO MEU PRÓPRIO CHÃO: QUANTUM MUTATUS AB ILLO... – A minha vida entre parêntesis topadas & pontapés, sequioso então pelos inumeráveis devires das ensolaradas noites dos meus crebros breus infindos. Ainda tive bons motivos para rir tão à toa, empolgado demais para baldes enormes de água fria, resiliente demais para mais uma queda, otimista demais para mais um contratempo. Mesmo assim enfrentava o implacável, como se insistentemente ouvisse Barbara Oakley: A Lei da Serendipidade: a sorte favorece quem tenta... A persistência costuma ser mais importante que a inteligência...Tantas expectativas, oh não, quantos disparates, desempenho para um inconsequente – algumas vezes mergulhado em conflitos crônicos, ônus da própria natureza. Outras, péssimo humor, pouco animador - tão desencorajadoras situações aversivas, episódios nada atraentes soavam caus&feito no plausível, quando o mais era tão falso, pretextos e comiseração. A contragosto, frustrações e deixa pra lá, mais ouvia Aniela Jaffé: O homem é a única criatura com o poder de controlar o instinto pela sua própria vontade, mas também é capaz de suprimi-lo, distorcê-lo e feri-lo - e um animal, para falar metaforicamente, nunca é tão selvagem e perigoso como quando é ferido... Ah, como urrava pelas constâncias dramáticas, outras nem lembro - também desapontei muito, confesso. Vulgaridade e a reputação quase nenhuma, anonimato esparramado, davam vida desinteressante e sem sentido. Era só o eco de Agnès Bertholet-Raffard: Somos todos vulneráveis porque todos podemos precisar de cuidados, mas, ao mesmo tempo, somos todos interdependentes porque todos beneficiamos dos bons cuidados dos outros e, para que a sociedade funcione, é importante ter cuidados... Nenhum, olvidava os que tinha, nem os dei. Um tanto descascado, ainda pueril no meio de tempestades arrebatadoras explodindo minha cabeça e o envelhecimento precoce: eu e o meu país cambaleante, quão mudado se fez, até certo ponto mais que desagradável, e sabia - a ingenuidade mata: viver mais um dia do que resta e seguir em frente. Até mais ver.

 

A CASA

Imagem: Acervo ArtLAM.

1 - A mãe diz que dentro de todas as mulheres há quartos trancados; cozinha da luxúria, \ quarto da dor, banheiro da apatia. \ Às vezes os homens vêm com chaves. \ e às vezes os homens vêm com martelos.

2 - Nin soo joog laga waayo, soo jiifso aa laga helaa, \ Eu disse Pare , disse Não e ele não ouviu.

3 - Talvez ela tenha um plano, talvez ela o leve de volta para a casa dela \ só para ele acordar horas depois em uma banheira cheia de gelo, \ com a boca seca, olhando para seu novo e elegante procedimento.

4 - Aponto para o meu corpo e digo: Ah, essa coisa velha? Não, eu apenas coloquei.

5 - Você vai comer aquilo? — digo para minha mãe, apontando para meu pai que está deitado na mesa da sala de jantar, com a boca cheia de uma maçã vermelha.

6 - Quanto maior é o meu corpo, quanto mais quartos trancados há, mais homens vêm com chaves. Anwar não foi até o fim, ainda penso no que ele poderia ter aberto dentro de mim. Basil veio e hesitou na porta por três anos. Johnny de olhos azuis veio com uma sacola com ferramentas que usara em outras mulheres: um grampo de cabelo, um frasco de alvejante, um canivete e um pote de vaselina. Yusuf gritou o nome de Deus pelo buraco da fechadura e ninguém respondeu. Alguns imploraram, alguns subiram na lateral do meu corpo em busca de uma janela, alguns disseram que estavam a caminho e não vieram.

7 - Mostre-nos na boneca onde você foi tocado, disseram. \ Eu disse que não pareço uma boneca, pareço uma casa. \ Eles disseram: Mostre-nos a casa. \ Assim: dois dedos no pote de geleia \ Assim: um cotovelo na água do banho \ Assim: uma mão na gaveta.

8 - Devo contar a vocês sobre meu primeiro amor, que encontrou um alçapão sob meu peito esquerdo há nove anos, caiu nele e não foi visto desde então. Todo \ de vez em quando sinto algo subindo pela minha coxa. Ele deveria se dar a conhecer, eu provavelmente o deixaria sair. Espero que ele não tenha \ topei com os outros, os meninos desaparecidos de cidades pequenas, com mães simpáticas, que faziam coisas ruins e se perdiam no labirinto de \ meu cabelo. Eu os trato muito bem, uma fatia de pão, se tiverem sorte, um pedaço de fruta. Exceto Johnny de olhos azuis, que arrombou minhas fechaduras e entrou. Garoto bobo, acorrentado ao porão dos meus medos, toco uma música para afogá-lo.

9 - TOC Toc. \ Quem está aí? \ Ninguém.

10 - Nas festas aponto para o meu corpo e digo: É aqui que o amor morre. Bem-vindo, entre, sinta-se em casa. Todo mundo ri, acham que estou brincando.

Poema da premiada escritora, editora e professora Somali, Warsan Shire.

 

OS VIGILANTES DE SANGOMAR - [...] Ser mãe é viver a serviço de um ser em formação, mesmo quando você não quer mais existir para si mesmo. Sem Bouba, Coumba tinha perdido a mulher que tinha sido, deixando apenas a mãe de Fadikiine para se agarrar. Ser mãe é respirar por uma vida diferente da sua, Coumba descobriu isso. [...] é o que um olhar atento pode detectar nos olhos dos homens, quando a curva dos seus ombros protege as mulheres e as crianças contra a violência do mundo. [...] Toda criança sabe que sua mãe é o mastro sólido sobre o qual erguer a esperança, quando o moral está a meio mastro. [...] A liberdade total, a autonomia absoluta que exigimos, quando acaba de lisonjear o nosso ego, de nos provar a nossa capacidade de nos responsabilizarmos, revela finalmente um sofrimento tão pesado como todas as dependências evitadas: a solidão. O que significa a liberdade, senão o nada, quando já não é relativa aos outros? O mundo se oferece, mas não abraça ninguém e não se deixa abraçar. [...]. Trechos extraídos da obra Les Veilleurs de Sangomar (Hachette, 2021), da escritora senegalesa Fatou Diome.

 

ÉTICA DO CUIDADOTodas as vidas são iguais e os mais vulneráveis precisam de atenção... Estamos num capitalismo patriarcal: a economia e a política, globalmente, estão nas mãos de uma ordem masculina até manifestações preocupantes como o questionamento do direito ao aborto nos Estados Unidos. As desigualdades de género fazem, portanto, parte desta ordem, embora desde o movimento #MeToo as mulheres tenham exigido justiça de género. A ética do cuidado questiona as razões e a história destas desigualdades, enfatizando a natureza central de atividades como o cuidado dos corpos, o trabalho emocional e a resposta às necessidades vitais. O cuidado tem valor; deve ser pago tanto quanto possível e partilhado entre homens e mulheres. As mulheres são delegadas às tarefas de cuidado porque isso lhes foi imposto ao longo da história, a ponto de fabricar a perspectiva de uma natureza feminina amorosa! Agora, ninguém, por exemplo, é mãe em nome de um instinto. Criamos papéis, binários que prejudicam a nossa vida, que poderia ser muito mais livre. Da mesma forma, criamos profissões “femininas” que são menos remuneradas porque são consideradas fáceis. No entanto, cuidar de pessoas muito idosas em lares de idosos exige conhecimentos, experiência e competências, tanto quanto o trabalho de alvenaria. A ética do cuidado reside numa atitude aberta com a perspectiva de Carol Gilligan de uma “voz diferente”, de escuta do outro, em grande parte atribuída às mulheres ao longo da história. A atenção à singularidade de uma situação complexa onde as pessoas se relacionam, reabilitando o lugar das emoções e da racionalidade dialógica, é muitas vezes desvalorizada, ao contrário de uma moralidade que exibe princípios. No entanto, é disso que precisamos hoje... Pensamento da filósofa francesa Fabienne Brugère, autora da obra L'Éthique du “care ” (PUF, 2021), considerando o cuidado como uma ética com rosto humano, contextual e renovada na abordagem da razão e dos sentimentos, na atenção ao outro, nas formas de responsabilização. A fundamentação teórica é uma antropologia da vulnerabilidade, a possibilidade de tornar audível a voz das mulheres e dos vulneráveis. Esta ética está enraizada em debates da psicologia moral, da filosofia prática, da sociologia e da política. Hoje, a transição da ética para a política se faz graças à exigência do cuidado como filosofia social, voltada para enfrentar um ciclo político de desregulamentação e a crise dos estados de bem-estar social, razão pela qual as filosofias do cuidado apreendem através das vidas comuns ligadas ao cuidado, estes exércitos de populações invisibilizadas e marginalizadas na atual estrutura do mercado. Cuidado, ou como entender a interdependência e as dependências hoje, nas relações baseadas na solidariedade e na partilha de recursos.

 

COMPOSIÇÕES PARA VIOLÃO, DE ANTONIO MADUREIRA.

[...] Há artistas cuja música reverbera, de forma amplificada, muito mais que o significado isolado das notas e dos ritmos. Eles não seguem uma tendência, eles criam valores. Elas carregam no âmago de sua criação toda uma cultura, uma história, um modo de vida, um anseio expresso por um povo. Eles criam vínculos entre o universal e o regional, entre o rural e o urbano, entre uma cultura milenar e o hoje [...].

Trecho da apresentação do violonista, regente, escritor, comunicador e professor, Fabio Zanon, para o songbook Composições para violão Antonio Madureira (Autor, 2016), do músico Antônio Madureira, vinculado ao Movimento Armorial e integrante do Quinteto Armorial. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

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