sábado, março 21, 2015

JANE HIRSHFIELD, MIRABAI, ŽIŽEK & PETER BROOK

 


O AMOR DE MEERA, MIRABAI... – De uma nobre família da região de Rajasthan, ela nasceu em Kudki e passou sua infância em Merta. Desde muito jovem dedicou seu profundo amor e devoção intensa e apaixonada. Seu pai era um guerreiro valente que enfrentava os mogóis. Por sua valentia ganhou de um sadhu uma bela boneca de Deus, com bênçãos especiais. Ela tinha apenas 3 anos e ambicionava a boneca, ao que foi negada pelo pai, porque queria preservar as bênçãos. Ao ver recusado seu desejo, ela fez greve de fome. O pai então cedeu e lhe deu a boneca. Ela, então, cresceu e todos os dias conversava com a boneca e com ela vivia: Deus estava dentro da boneca. Foi então que preocupados decidiram logo por seu casamento. Casou-se involuntariamente com o príncipe herdeiro, recusando-se a seguir as convenções sociais e a cumprir as obrigações de esposa. Ela sonhava com Gopala Giridhara – o jovem pastor que tocava Sua flauta às margens do rio Jamuna em Brindaban. Dedicou-se a esse amor divino. Por isso enfrentou desafios e oposições pelo abandono às normas sociais tradicionais. Foi tratada por uma rebelde pela sua busca profunda de dasiya bhav pela divindade do seu coração, o que era considerado um insulto à casta superior. Tentaram assassiná-la várias vezes e safou-se de todas as tentativas, desafiada e perseguida pelo caos político e pelos conflitos militares. Eis que o rei dos mogóis, inimigos do seu reino, foi visitá-la disfarçado no templo. Ele ouviu-a e ficou comovido; como sinal de gratidão presenteou um colar de diamantes aos pés da sua boneca. Todos os presentes ficaram surpresos. Poucos dias depois todos tomaram conhecimento de aquele pobre pedinte era o rei muçulmano inimigo que o admirara. O seu marido ficou furioso e ordenou-lhe afogar-se no rio. Ela cumpriu reunindo todos os seus escritos devocionais repletos de alma e foi ao rio acompanhada por admiradores. Ela mergulhou e pronta para morrer boiou nas águas até Bridaban. Seu nome rapidamente tornou-se conhecido em todos os lugares. Seu marido foi até Brindaban e a trouxe de volta para o palácio. Pouco depois ele foi ferido na guerra com o Sultanato de Delhi, sucumbiu aos ferimentos. Enviuvou e fugiu em peregrinações: um símbolo do sofrimento das pessoas e um desejo por uma alternativa. A sua mensagem de liberdade na sua linguagem de amor, a sua determinação e direito de perseguir sua devoção espiritual. Apaixonada por música, ela entoava bhajans, canções e poemas, compondo milhões de hinos com louvor apaixonado e sua insatisfação com o mundo: Recebi a riqueza da bênção do nome de Deus... Suas padas líricas, poética mātric, formavam suas Rāgas, tomando o seu lugar ao lado do amante: a bem-aventurança conjugal espiritual, o êxtase da união, a sua rendição completa. Seguia seu coração e viajou extensivamente por lugares sagrados, acompanhada por seus admiradores. Meerabai retirou-se para Vrindavan para sua contemplação espiritual. E desapareceu como uma lenda desde então, sua memória no Forte Chittor e a pegada gravada de Ravidas no templo de Chittorgarh: Eu obtive um guru na forma de Sant Ravidas, obtendo assim a realização da vida... Veja mais abaixo e mais aqui & aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Não se esqueça do amor, ele trará toda loucura que você precisa para se desdobrar pelo universo... Pensamento da poeta e mística hindu, Mirabai, também conhecida como Meera (1498-1546), autora dos poemas: I - Meu escuro foi para uma terra alienígena. \ Ele me deixou para trás, ele nunca retornou, ele nunca me enviou uma única palavra. \ Então eu tirei meus ornamentos, joias e adornos, e cortei meu cabelo da minha cabeça. \ E vesti vestes sagradas, tudo por conta dele, buscando-o em todas as quatro direções. \ Mira: a menos que ela encontre o Escuro, seu Deus, ela nem quer viver. II - Depois de me fazer apaixonar por você tão fortemente, para onde você vai? \ Até o dia em que eu te ver, sem repouso: minha vida, como um peixe levado à praia, se debate em agonia. \ Por sua causa, farei de mim uma yogini, me atirarei à morte na serra de Kashi. \ O Deus de Mira é o inteligente Levantador de Montanhas, e eu sou dele, um escravo de seus pés de lótus. III - Eu dancei diante do meu Giridhara. \ Uma e outra vez eu danço \ Para agradar aquele crítico perspicaz, \ E colocar Seu antigo amor à prova \ Eu coloquei as tornozeleiras \ Do amor de Shyam, \ E eis que! Meu Mohan permanece fiel. \ A vergonha mundana e os costumes familiares \ eu lancei aos ventos. \ Não esqueço a beleza do Amado \ Even por um instante. \ Mira é tingida profundamente na tintura de Hari. IV - Estou louco de amor \ E ninguém entende minha situação. \ Somente os feridos \ Entendem as agonias dos feridos, \ Quando o fogo arde no coração. \ Somente o joalheiro sabe o valor da joia, \ Não aquele que a deixa ir. \ Na dor, eu ando de porta em porta, \ Mas não consegui encontrar um médico. \ Diz Mira: Ouça, meu Mestre, \ a dor de Mira diminuirá \ Quando Shyam vier como o médico. V - A estação chuvosa está no exterior \ E a saia do meu vestido está molhada. \ Você foi para terras distantes, \ E meu coração acha isso insuportável. \ Continuo enviando cartas ao meu Amado \ Perguntando quando Ele retornará. \ O Senhor de Mira é o cortês Giridhara: \ Ó Krishna, Ó Irmão de Balram, \ Conceda-me a tua visão. VI - ESTRANHO É O CAMINHO QUANDO VOCÊ OFERECE AMOR - Não mencione o nome do amor, \ ó meu companheiro de mente simples. \ Estranho é o caminho \ Quando você oferece seu amor. \ Seu corpo é esmagado no primeiro passo. \ Se você quer oferecer amor \ Esteja preparado para cortar sua cabeça \ E sentar-se nela. \ Seja como a mariposa, \ Que circunda a lâmpada e oferece seu corpo. \ Seja como o veado, que, ao ouvir a trombeta, \ Oferece sua cabeça ao caçador. \ Seja como a perdiz, \ Que engole brasas \ Em amor à lua. \ Seja como o peixe \ Que rende sua vida \ Quando separado do mar. \ Seja como a abelha, \ Presa nas pétalas de fechamento do lótus. \ O senhor de Mira é o cortês Giridhara. \ Ela diz: Ofereça sua mente \ A esses pés de lótus.

 

ALGUÉM FALOU: Você pode fazer isso, eu lhe digo, é permitido. Comece novamente a história da sua vida... Como somos frágeis, entre os poucos momentos bons. Poemas nos dão permissão para sermos inseguros, de maneiras que devemos ser se quisermos aprender algo que ainda não sabemos. Se você olhar com os olhos abertos para sua vida real, sempre será o tipo de problema de divisão longa que não funciona perfeitamente uniformemente. Poemas permitem que você aceite a multiplicidade e a complexidade do real, eles nos permitem navegar pelas partes inavegáveis e insolúveis de nossos destinos individuais e existência compartilhada... O Zen se resume a três coisas: tudo muda; tudo está conectado; preste atenção... Pensamento da poeta, ensaísta e tradutora estadunidense Jane Hirshfield, que foi responsável pela tradução de alguns bhajans de Meera, Mirabai, para o inglês.

 

COMO LER LACAN – O livro Como ler Lacan (Zahar, 2010), do sociólogo, filósofo e crítico social esloveno Slavoz Žižek, trata acerca da psicanálise lacaniana a partir da abordagem de gestos vazio e performativos, o sujeito interpassivo, de Che vuoif à fantasia, dificuldades com o real, ideal de eu e supereu, "Deus está morto, mas Ele não sabe", o sujeito perverso da política, entre outros assuntos. Destaco esse trecho da obra: [...] Talvez a maneira adequada de terminar este livro seja mencionar 0 caso de Sophia Karpai, a chefe da unidade cardiológica do hospital do Kremlin no fim dos anos 40. Seu ato, o oposto da elevação perversa de si mesmo a um instrumento do grande Outro, merece ser chamado de um verdadeiro ato ético no sentido lacaniano. Seu infortúnio foi ter sido incumbida duas vezes de fazer eletrocardiogramas em Andrei Zhdanov, em 25 de julho de 194s e novamente em 31 de julho, dias antes de ele morrer por falência cardíaca. O primeiro ECG, feito depois que Zhdanov manifestou alguns sintomas cardíacos, foi inconclusivo (não foi possível nem confirmar nem excluir um ataque cardíaco), ao passo que o segundo, surpreendentemente, mostrou um quadro mais favorável (o bloqueio intraventricular tinha desaparecido, uma clara indicação de que não havia ataque cardíaco). Em 1951, Sophia foi presa sob a acusação de que, em conluio com outros médicos que tratavam de Zhdanov, havia falsificado dados clínicos, apagando as claras indicações de que um ataque cardíaco havia ocorrido, e assim privando Zhdanov dos cuidados especiais requeridos pela vítima de um ataque cardíaco. Após maus-tratos, incluindo surras brutais contínuas, todos os outros médicos acusados confessaram. "Sophia Karpai, a quem seu chefe Vinogradov havia descrito como nada mais que 'uma típica pessoa comum com a moral da pequena burguesia', foi mantida numa cela refrigerada sem dormir para que confessasse. Ela não 0 fez”. O impacto e o significado de sua perseverança não podem ser superestimados: sua assinatura teria encerrado definitivamente a causa do promotor sobre "a conspiração dos médicos", pondo imediatamente em movimento mecanismos que, uma vez desencadeados, teriam levado à morte de centenas de milhares de pessoas, talvez até a uma nova guerra europeia (segundo o plano de Stálin, a "conspiração dos médicos" pretendia demonstrar que as agências ocidentais de informação tinham tentado assassinar altos líderes soviéticos, e assim fornecer uma desculpa para um ataque à Europa ocidental). Karpai resistiu por tempo suficiente para que Stálin entrasse em seu coma final, depois do que todo o caso foi imediatamente abandonado. Seu heroísmo simples foi decisivo na série de detalhes que, "como grãos de areia nas engrenagens da enorme máquina que havia sido posta em movimento, evitou mais uma catástrofe na sociedade soviética e na política em geral e salvou as vidas de milhares, se não milhões de pessoas inocentes". A simples persistência contra todas as probabilidades é em última análise a matéria de que a ética é feita - ou, como Samuel Beckett o expressa nas últimas palavras da obra-prima absoluta da literatura do século XX, O inominável, uma saga da pulsão que persevera sob o disfarce de um objeto parcial morto-vivo, "no silêncio você não sabe, você deve continuar, eu não posso continuar, eu continuarei". Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aquiaqui, aqui e aqui.

Imagem do premiado fotógrafo Tan Ngiap Heng

Ouvindo Pictures at an Exhibition, do compositor russo Modest Mussorgsky (1839-1881), in Grand Hall of Moscow Conservatory 1993, Russian State Symphony Orchestra, Director Valeri Polyansky. Veja mais aqui.

O TEATRO E SEU ESPAÇO - O livro O teatro e seu espaço (Vozes, 1970), do diretor de teatro e cinema britânico Peter Brook, trata do tema do teatro sob a perspectiva do morto, do sagrado, do rustico e do imediato. Da obra destaco o seguinte treco: À medida que você lê este livro, ele já está ficando antiquado. É para mim um exercício, agora congelado no papel. Mas, diferente do livro, o teatro tem uma característica especial. É sempre possível recomeçar. Na vida isto é um mito; nunca podemos voltar atrás em nada. Folhas novas nunca retornam, relógios nunca andam para trás, nunca podemos ter uma segunda chance. No teatro é possível passar a borracha e começar de novo o tempo todo. Quando somos persuadidos a acreditar nesta verdade, então teatro e vida são uma só coisa. Este é um objetivo elevado. Evoca um trabalho árduo. Representar exige muito trabalho. Mas quando experimentamos o trabalho como brincadeira, então ele deixa de ser trabalho. A play is play, uma peça é um jogo, representar é uma brincadeira. Veja mais aqui, aqui, aquiaqui e aqui.

A PRIMEIRA CANÇÃO DE CAIM – O poeta, ensaísta e crítico alagoano Cicero Melo é autor de diversos livros e edita o blog Pequena Reunião Poética. A excelência da sua poesia tem se destacado, fazendo dele um dos nomes mais representativos da poesia contemporânea. Dele destaco o poema A primeira canção de Caim: Vendo em mim mesmo o meu contrário, / Erguer-me as armas como um serafim. / Cansado do combate, agora agrário, / Revestindo de sangue meu jardim, / Só quero o dormir dos condenados, / Em terra escura, junto ao pó do irmão. / Apagados desta terra e vindimados / Por uma mão tirana e sem paixão. / Ainda nem dormira a minha espada / Do sangue dos que ferem minha casa / Quando uma voz descendo de uma escada / De sangue cintilante e voz em brasa / De pombos afogados me recordam / Os ossos dos meus medos. Meu irmão / Com rendeiras do tempo já me bordam / Coleante e sem sombras pelo chão. / Desperto o pesadelo, em nuvem vejo / Leviatã ascendendo desonesto, / E sempre escondido no desejo / Da eterna maré do grande incesto / Entre deuses e homens sob vinho. / E vomita curvas e nos afasta / Em separados orbes e torvelinho / Do tempo que assassina e nos arrasta. / Combato Leviatã no labirinto, / Recantos tortos desta escura guerra. / Até que um sol de fogo, fel e absinto / Com o sangue de Elias queime a Terra. Veja mais aqui e aqui.


MA CHÉRIE – A comédia Ma Chérie (1980) dirigido pela cineasta e escritora francesa Charlotte Dubreuil com roteiro de Édouard Luntz, conta a história da divorciada Joanne que direciona sua vida para a sua filha de quinze anos, Sarah. Essa relação mãe e filha terá uma tensão mais acentuada quando sonham com uma vida independente e nenhuma das duas vai admitir isso. Destaque para a interpretação da atriz francesa Marie-Christine Barrault. Veja mais aqui.



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Uma ou outra coisa que eu sei de mim, Rio Una, Fernando Pessoa, Robert Delaunay & Anikeev Sergey aqui.

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É preciso respeitar as diferenças, A gaia ciência de Friedrich Nietzsche, a História do Brasil de Angela de Castro Gomes, o pensamento de Bernard Stiegler,  a cidade de Marshal McLuhan, a música de Jards Macalé, a literatura de Monica Ali, o cinema de Wong Kar-Wai & Maggie Cheung, a arte de Artur Barrio, a fotografia de Luiz Filho & Annie Leibovitz, . A gravura de DiMagalhães, Teatro na Rua, o cartun de Harvey Kurtzman & Canto paródia de mim aqui.
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Judicialização do SUS: pra que saúde se não tem nem onde cair morto, Os objetivos da educação de Alain Touraine, A gaia ciência de Friedrich Nietzsche, Contos de Genji de Murasaki Shibuku, A educação escolar, a música de Hans-Joachim Koellreuter & Sérgio Villafranca, a pintura de Carlos Scliar, a charge de Latuff, As Meninas do Conto, a escultura de João Sotero, o cinema de Frances François Ozon, a fotografia de Eduardo Ramirez & Juan Esteves aqui.
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