TRILCE – No livro Trilce (1922 - Philobibliom, 1984), do poeta vanguardista e
dramaturgo peruano César Vallejo
(1892-1938), destaco o poema XXXV,
traduzido por Thiago de Mello: O encontro
com a amada, / tanto de uma vez, é um simples detalhe, / quase um programa
hípico violeta, / de tão comprido não se pode dobrar bem. / O almoço com ela
que servira / o prato que ontem estava tão gostoso / e se repete agora / só que
com um pouco mais de mostarda; / o garfo absorto, seu galanteio radiante / de
pistilo em maio, e seu pudor / de um centavo, por dá cá aquela palha, / e a
cerveja lírica nervosa / zalada por seus dois mamilos sem lúpulo, / e que não
se deve beber em demasia. / E os tantos outros encantos da mesa / que aquela
núbil companha borda / com suas próprias baterias germinais / que funcionaram
toda a manhã, / segundo me consta, a mim, / amoroso tabelião de suas
intimidades / e com as dez varinhas mágicas / de seus dedos pancreáticos. /
Mulher que, sem pensar em outra coisa, / solta o melro e começa a nos falar /
com palavras ternas ; como lancinantes alfaces recém-colhidas. / Outro copo e
me vou. E vamos, / agora sim, trabalhar. / Entretanto, ela se enfia / entre os
cortinados e, oh agulha dos meus dias / desgarrados!, senta-se à beira / de uma
costura, a me costurar as costas / as suas costas, / a pregar o botão dessa
camisa / que tornou a cair. Mas já se viu! Veja mais aqui.
Imagem da pintora realista francesa Rosa Bonheur (1822-1899)
Ouvindo o Recital (1995), do compositor clássico vienense Franz Joseph Haydn (1732-1809) pela mezzo-soprano espanhola Teresa Berganza, sob a regência de Raymond Leppard na Scottish Chamber Orchestra.
SALVE DIONISO, EVOÉ BACO! – Imagem: O jovem Baco e seus seguidores (1885) do pintor acadêmico francês William-Adolphe Bouguereau (1825-1905) - Longe de ter uma visão sectária ou maniqueísta do mundo por entender que há dualidades que são, na verdade, unidades ou trindades que se tornam quartetos e outras multiformes e polimorfas expressões, e, também, para não mergulhar apenas no canhestra mundo apolíneo & Fabos & umbigocentristas, salve Dioniso, evoé Baco! Hoje, na mitologia greco-romana, é consagrado o primeiro dia do Bacanal, o Festival de Dioniso/Baco, deus do vinho, dos grãos, da fertilidade e da alegria. É a prova de que a vida prossegue. Poucos dias atrás estávamos sob o reino dionisíaco, o nosso maravilhoso carnaval: tudo alegria, paz, satisfação. Mal acabou a festa, já viramos panelaços, protestos, batendo no peito & mandando ver! Tudo isso no reino do Fecamepa! Vamos aprumar a conversa & tataritaritatá. Veja mais aqui.
EXERCÍCIOS E JOGOS DO
TEATRO – No livro 200 exercícios e jogos para o ator e
não-ator com vontade de dizer algo através do teatro (Civilização
Brasileira, 1983), o dramaturgo, ensaísta e escritor brasileiro Augusto Boal (1931-2009), trata a
respeito da história do teatro Arena de São Paulo, abordando sobre jogos e
exercícios, aquecimento físico, ideológico, vocal e emocional; jogos de
integração do elenco, exercícios de máscaras e rituais; quebra da repressão,
exercícios gerais sem texto; ensaios de motivação com texto, sequencia e
ensaios pique-pique, entre outros assuntos. Da obra destaco: [...] começamos a estudar metodicamente os
trabalhos de Stanislawsky. A nossa primeira proposta foi esta: que a emoção
seja prioritária, que ela possa determinar, livremente a forma final. Mas como
poderíamos esperar que as emoções se manifestassem livremente através do corpo
do ator, se precisamente tal instrumento (o corpo) está mecanizado,
muscarlarmente automatizado e insensível em 90% das suas possibilidades? Uma
nova emoção descoberta corria o risco de ser canalizada pelo comportamento
mecanizado do ator. Por que é que o corpo do ator está mecanizado? Pela enorme
capacidade que têm os sentidos para registrar sensações, aliada a uma igual
capacidade para selecionar e hierarquizar essas emoções. [...] Quando começamos com os Laboratório de
Interpretação no Teatro Arena ainda não pensávamos nas máscaras sociais,
naquela época, a mecanização era entendida sob uma forma puramente física: ao
desenvolver sempre os mesmos movimentos, cada pessoa mecaniza o seu corpo para
melhor os efetuar, privando-se então de uma atuação original em cada
oportunidade. Podemos rir de mil maneiras diferentes, mas quando nos contam uma
piada não nos pomos a pensar num modo original de rir, portanto, fazemo-lo
sempre da mesma maneira. Veja mais aqui.
MÉTODO PERIGOSO – A psiquiatra e psicanalista russa Sabina Spielrein (1885-1942), tornou-se
uma personagem romanesca que adquiriu celebridade, vez que sua história é
singular e reveladora de todos os móbeis transferenciais do movimento
psicanalítico. Desde criança que ela apresentava problemas, sendo vitima de
alucinação por angustias e fobias, desordem mental, sentava-se nos calcanhares
a ponto de fechar o ânus impedindo a defecação por duas semanas seguidas,
entregou-se à masturbação, tudo durante a infância até aos oito anos de idade,
quando a situação piorou. Aos dezoito anos foi atingida por crises de
depressão, teve surtos psicóticos, passando a ser tratada na Suíça, por Jung
com um caso de histeria e que ficou finalmente curada. Esse tratamento resultou
em uma paixão incontrolável entre o terapeuta e a paciente. Simultaneamente
polígamo, sedutor e obcecado pelo pecado e a loucura, Jung sempre teve uma
atração particular pelo tipo de feminilidade encarnado por ela que foi
aconselhada por Freud e por seu pai a encontrar uma solução sozinha. O que ela
fez. Fez então estudos de medicina e orientou-se para a psiquiatria. Diplomada
em 1911 com uma tese sobre a esquizofrenia, trabalhou depois com intensidade,
apresentando uma exposição da sua tese sobre a pulsão de destruição, na qual
Freud se inspiraria para escrever Muito além do princípio do prazer. Ao mesmo
tempo paciente e estudante de psiquiatria, ela participou do debate sobre
esquizofrenia no início do século XX. Depois experimentou o principio da
transferência e do tratamento pelo amor, tornando-se a testemunha privilegiada
da ruptura de Jung e Freud. O primeiro, seu amante e analista, o segundo, seria
o seu mestre. Mais tarde inventou a noção de pulsão destrutiva e sádica, da
qual nasceria a pulsão de morte. Enfim, atravessou as duas grandes tragédias: o
genocídio dos judeus na Europa e a transformação do comunismo em stalinismo na
Rússia. Durante dez anos ela continuou seus trabalhos e atividades clínicas na
Alemanha, na Suíça e na Áustria, tendo por aluno Jean Piaget (1896-1980). Seus
últimos artigos foram destinados aos temas da linguagem infantil, à afasia e a
origem das palavras papai e mamãe, ocupando-se na Rússia de pedologia,
afirmando ser capaz de curar Lenin de sua doença. Em 1935 foi apanhada, com
toda a sua família, pela engrenagem do sistema totalitário. Seu marido morreu
de infarto e seus dois irmãos levados pelos expurgos e desaparecendo no Gulag.
Em 1942, ela foi massacrada com as suas duas filhas na ravina de Viga da
Serpente, em meio a cadáveres coberto de sangue. O seu envolvimento amoroso com
Jung virou tema da peça teatral The talking cure, de Cristopher Hampton,
e transformada pro cinema num drama e suspense dirigido por David Cronenberg, A Dangerus Method (Um método perigoso,
2011), destacando-se o papel da atriz e modelo inglesa Keira Knightley. Veja mais aqui e aqui.
Veja mais sobre:
Pablo Neruda, Modigliani, Björk, Teixeira
Coelho, Zinaida Evgenievna Serebriakova, Elsa Zylberstein, Rubens da Cunha
& Uma mulher por cem cabeças de gado aqui.
E mais:
Com quantos desaforos se faz uma eleição, Howard Chandler & Luciah Lopez aqui.
A poesia de Valéria Tarelho aqui.
Primeira Reunião, Patativa do Assaré, Heitor Villa-Lobos
& Turíbio Santos, Cicero Dias, Rosa Luxemburg, Pier Paolo Pasolini, Bárbara
Sukowa, Rubem Braga & José Geraldo Batista aqui.
Lev Vygotsky, Gabriel García Marquez,
Flora Purim, Elizabeth Barrett Browning, Cyrano de Bergerac, Andrzej Wajda,
Michelangelo & Anna Mucha aqui.
É pra ela – Crônica de amor por ela, Carlos Gomes & Silviane Bellato,
Neila Tavares, Heloneida Studart, Giuseppe Tornatore, Piet Mondrian, Edwin
Landseer, Maria Esther Maciel, Monica Bellucci & A lenda Mundurucu Quando
mandavam as mulheres aqui.
Crônica de amor por ela, Sylvia Plath, Safo, Helena Blavatsky,
Maria Bonita, Eurípedes, Carole Bayer Sager, Andrômaca & As troianas,
Antonio Maria Esquivel, Mulheres no Mundo & O espelho em que os rostos se
dividem aqui.
Crônica de amor por ela – poemas &
canções, Juana de
Ibarbourou, Camille Claudel, A Literatura Ocidental de Otto Maria Carpeaux,
Ornette Coleman, Juliette Binoche, Johann Kaspar Füssli & Iacyr Anderson
Freitas aqui.
Mil sonhos na cabeça e o amanhã nas mãos, João Cabral de Melo Neto, Omar Ortiz, Sean Seal& Gary Jackson aqui.
A vida em risco e o veneno à mesa, Amartya Kumar Sem, Roberto Fernandez
Balbuena & Kadee Glass aqui.
Aos quatro cantos e ventos minha vida, Jacob Boehme, Esther Scliar, Tamara de Lempicka, Jo Ansell,
Jonathan Charles & Dene Ramos aqui.
Solilóquio na viagem noturna do sol, Educação no Brasil, Maria Esther Pallares,
Paula Águas, Sêneca, Terry Miura & Amenaide Lima aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.