DE VÍTIMAS &
MACHADO! - Gentamiga, na croniqueta de hoje, pelo menos para mim
(ninguém escapa à ignorância, há sempre coisas novas por aí), duas novidades: a
primeira, incontestavelmente boa demais, risível. Trata-se do livro 13 vítimas da política brasileira, ou
seja, a primeira vítima (ou vítimo ou todas as) da vitória de cada um dos presidenciáveis
no pleito de 2018. Já pensou? Se fosse eleito presidente o Daciolo do Pode Olê
Olá que nasceu do “milagre termodinâmico
do foda-se. Ou foi obra do demônio de
Maxwell... Mas alguém vai se foder. Disto não se tem dúvida”. Simplesmente arretado,
já imaginou? Mas se o eleito fosse o Avaro que Pode Dias espelhando todos os
banheiros públicos com as tintas para disfarçar as reivindicações dos doidos
todos! Rir é pouco, eu gargalhei! Ou o Amoêdo Novo Banca Velha e o prisioneiro
resistente e libertário do sistema que ameaçava as estruturas do poder! Ora,
bote engenho! A do Ciro Denorex – esse nunca me enganou! – e a violência
grassando tudo. Que coisa! A do Dindin Meirelles que só tinha paulista na
porratoda! O vítimo da Marina que afinal rede não é latrina diante do
assassinato de um trabalhador por sua mulher! Impagável. Ah, a posse do cristão
Ei-ma-é, é? Sim, e a carta branca pro físico ateu que virou ministro do demônio
em pessoa! A do Alckmin Walkman e a “péssima
combinação de grande poder e pequenos poderes”; a do Goularzinho Pátria
Livre – com o cu na mão do Putin e que ninguém quis pagar pra ver! Ah, a da
Vera que caiu com a determinação de encerramento das redes sociais! Sim, a do Haddad
nos Trinques do estranho Brasil das funkadas e outras umbigadas de respostas
embutidas; ou a do Boulos Fofo dos boatos não confirmados; tudo muito bom, até
demais. Pense numa narrativa de criação engenhosa, simplesmente: ótima. Só a do
Coiso respondendo ao tarado agente X: “No
da mulher deus deixa” ficou por menos. Calma lá! Deixa explicar, ora! Claro,
não porque pimenta no furico dos outros não seja só refresco, nada disso. A história
está boa demais, no grau mesmo! Só que, para mim (deixo isso bem claro), faltou
à posse uma milícia com uns skinheads
aloprados, uns hooligans fuderosos e
um ressurreto Osama bin Laden de pau duro, dançando com panos azuis e rosa, e se
passando por Jesus para a ministra atrepar na goiabeira. Aí sim, estava de bom
tamanho, tintim por tintim, do mesmo tope, isso pra mim, tá? Mas, considero: mesmo
que ele comesse bosta de cigano todo dia ou qualquer unguento adivinhatório das
previsões escalafobéticas, quem adivinharia mesmo no que ia dar a posse real? Estava
na casa do imprevisível, todo mundo careca de saber, mas deixa isso pra lá, só detalhe
de pirraça dum linguarudo cheio das pregas. Destá. Por fim, ainda, a primorosa Carta
ao Homem Futuro que, como o próprio autor diz ser um conto bônus, com toda
História de Museu que virou “Papel velho
e ressecado, foi uma das primeiras coisas a queimar”. Esse o primeiro livro,
nada melhor. Já o segundo, Contos do
Machado, uma publicação criativamente bem feita: contos medievais com
tratamento gráfico competente de historias em quadrinhos, tudo sobre um
legendário machado. Do volume, destaco de chapa a primeira narrativa: Da madeira torta que é feito o homem. Muito
bom. E a última: O espírito do Machado:
“Da batalha por uma vida que olha nos
olhos da morte e diz: Leva-me, eu basto”. Li tudo e digo: gostei e muito. Os
contos são ótimos e tratam da cobiça e das quedas humanas, excelentes. Aí fui
ver o autor, tanto no primeiro como no segundo: Maurizio Ruzzi. Quem? Ele assim se apresenta no primeiro: “Este autor dispensa apresentações. Não por
que seja extremamente conhecido (muito pelo contrário), mas porque ele próprio faz
questão de dispensá-la”. Não me dei por satisfeito, né? Que se esconda ou
não, descobri: trata-se de um bacharel que é doutor em Física com vários livros
publicados na área. Certo. Essas publicações que trato aqui são a sua incursão pela
Literatura, e digo: começou bem e em dose dupla. Outra coisa, no segundo, ele
tem uma parceria: Juno Nedel, um
artista gráfico que se apresenta como “Dissidente
de gênero, criatura de ficção e realidade social”. Uma parceria feliz que
deu um bom e suculento caldo. Parabéns e aplausos. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] Nas sociedades do espetáculo, só valem os
sentimentos que prostram às imagens adequadas do discurso midiático. Os
“sentimentos desprovidos de mídia” não tem reconhecimento, não tem expressão.
Os sofrimentos normais da vida, os lutos, as perdas, as fases da timidez, de
desânimo, os momentos de recolhimento necessários à reflexão e à contemplação
não encontram lugar, não são respeitados – ou então se tornam imediatamente
alvo da medicina psiquiátrica. [...].
Trecho
extraído de O que é o corpo (Itaú
Cultural, 2005), da poeta, psicanalista, jornalista, ensaísta e crítica
literária Maria Rita Kehl.
A ESCULTURA DE JULIETA DE FRANÇA
A arte
da premiada escultora e professora Julieta de França (1870 – 1951), uma
das pioneiras da arte no Brasil. Um fato registrado na sua vida foi o de haver
sido recusada à participar de um concurso que escolheria um monumento
comemorativo à República, o que a revoltou levando a obra para ser submetida
aos mestres franceses, entre eles Rodin, todos favoráveis pela técnica e
qualidade do trabalho. Com isso ela retornou ao Brasil, solicitando a
reconsideração da decisão da comissão de reprová-la, o que gerou um escândalo,
por colocar em questão os critérios e decisões da Academia de Belas-Artes, o
que foi tida como afronta ao esperado “recato feminino”. A decisão não foi
revista, prejudicando a carreira da artista mãe solteira que sustenha sua filha
sozinha. A partir disso seu nome caiu em esquecimento. Ela deixou em livro, “Souvenir de ma carrière artistique”, com
recortes de jornais, cartas pessoais e fotos de seu trabalho, numa tentativa de
documentar uma carreira que carecia de reconhecimento do meio artístico
nacional. Texto e imagens recolhidas do estudo Souvenir de ma carrière artistique: Uma autobiografia de Julieta de
França, escultora acadêmica brasileira (Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, vol. 15, nº 1,
São Paulo, Jan/Jun, 2007) de Ana Paula Cavalcanti Simion. Veja mais aqui.
LES AMANTS, DE LOUIS MALLE
O drama Les Amants
(1958), do cineasta francês Louis
Malle (1932-1995), conta a história de uma jovem esposa de um diretor de
jornal, entediada com a desconfiança de que é traída pelo marido, começa a
fazer visitas frequentes a uma amiga de infância e, por meio dela, conhece um
playboy que se torna amante. O lançamento à época do filme causou bastante
polêmica entre os setores conservadores e a fúria católica em todo mundo, tendo
problemas para ser exibido em diversos países, inclusive o Brasil, onde foi
alvo de processo criminal promovido pela Confederação de Famílias Cristãs, que
conseguiu proibir o filme. Destaque para atuação da atriz francesa Jeanne Moreau. Veja mais aqui e aqui.
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